Discurso no Senado Federal

SOMANDO-SE AO PROTESTO FEITO PELA SRA. MARINA SILVA, POR TER O BANCO CENTRAL OCULTADO INFORMAÇÕES DE REQUERIMENTO DE AUTORIA DO SR. EDUARDO SUPLICY.

Autor
Lauro Campos (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES. REGIMENTO INTERNO.:
  • SOMANDO-SE AO PROTESTO FEITO PELA SRA. MARINA SILVA, POR TER O BANCO CENTRAL OCULTADO INFORMAÇÕES DE REQUERIMENTO DE AUTORIA DO SR. EDUARDO SUPLICY.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/1996 - Página 18452
Assunto
Outros > MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES. REGIMENTO INTERNO.
Indexação
  • PROTESTO, OMISSÃO, INFORMAÇÃO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • CRITICA, REGIMENTO INTERNO, SENADO, REDUÇÃO, ATUAÇÃO, SENADOR, PARTIDO POLITICO, MINORIA.

O SR. LAURO CAMPOS (PT-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não poderia calar-me, antes do encerramento desta angustiante sessão, sem somar o meu protesto àquele feito pela eminente Senadora Marina Silva.

Realmente, Sr. Presidente, cheguei aqui com 66 anos de idade - um calouro de 66 anos -, completamente ingênuo. Passei a vida inteira num só emprego, que para mim não era trabalho: o de professor universitário. Não exerci mais nada na vida.

Ao final da vida, eis-me aqui nesta Casa política, eu que nunca fiz política, que não tinha a menor noção de como exercer esta atividade, completamente calouro, ingênuo. Custou-me entender as sutilezas, as engrenagens, o maquiavelismo, o caráter conservador da estrutura, o autoritarismo silencioso presentes no Regimento Interno, nas instituições que presidem esta Casa e que nos transformam em Senadores de terceira categoria.

Hoje, pela primeira vez, eis-nos como maioria nesta Casa. Maioria de três! E, ao nos transformarmos em maioria, mesmo assim, não conseguimos nada. É a completa consciência da inutilidade do trabalho humano.

Sr. Presidente, V. Exª está trabalhando com toda sua força, com denodo e, no fim, sic vos non vobis, trabalhais mas não para vós. Mais uma vez, o nosso esforço vai resultar em nada.

Não temos acesso à presidência de nenhuma comissão permanente e o Presidente das comissões designa os relatores dos projetos. Os projetos já vêm marcados, o Presidente os encaminha para Relatores adredemente escolhidos. É a ditadura da maioria.

No Supremo Tribunal Federal, no Superior Tribunal de Justiça e em outros tribunais, os relatores são sorteados, Sr. Presidente. Há uma chance para todos. Aqui não. Aqui jamais seremos relatores de um projeto importante. Talvez, um dia, já disse eu, se houver um projeto para controlar o bicho-de-pé, vão lembrar de mim para relatá-lo. Fora isso, só mesmo uma epidemia poderia levar-me a exercer o papel de Relator.

Aqui ficamos. Nós, que não somos líderes, temos um direito ao tempo, direito conquistado a duras penas. Inscrevo-me na segunda-feira, na terça-feira, na quarta-feira e vou falar, neste plenário, somente numa sexta-feira vazia, porque, obviamente, há prioridades, há comunicações urgentes, há discursos de 50 minutos, etc..., e vamos ficando para as calendas.

Sr. Presidente, logo após minha eleição, o calouro queria mesmo ser reprovado e desistir disto aqui. Pensei seriamente em renunciar ao meu mandato inútil. O tempo, porém, cura as feridas e, tendo em vista as conseqüências do meu ato, principalmente o desrespeito que seria aos eleitores que me transformaram no candidato mais votado da história do Distrito Federal, tendo em vista o desrespeito ao esforço, desprovido de dinheiro, movido pela consciência e pela vontade de me verem atuar no Senado, trouxeram-me para cá. Eu me decepciono comigo mesmo e se renunciasse decepcionaria os meus eleitores.

Portanto, vou me calejando. Vou procurando entender. Quando se entende o fenômeno, nós nos tornamos até incapazes de condenar. Se passamos para a pele do criminoso, nós nos tornamos irmãos dele, compreendemos o seu ato e muitas vezes o absolvemos.

Portanto, estou aqui, certo de que essas coisas não acontecem por acaso. O Banco Central, que levantou a lebre e agora esconde, sabe muito bem o que contém esse misterioso documento.

Anteontem, pedi ao Ministro do Tribunal Superior Eleitoral que despachasse um processo em que havia uma liminar, por coincidência, também a favor do Partido dos Trabalhadores, para que fossem desmanchados os outdoors, fossem desfeitas as propagandas que misturam o símbolo da cidade de São Paulo com o trevo de quatro folhas do Sr. Pitta. S. Exª disse que não havia tempo hábil. Sim, na última hora não há tempo hábil, mas isso não devia impedir que uma sentença fosse exarada, proclamando a justiça do pleito. No entanto, deixaram o tempo passar, e mais uma vez o tempo se volta contra a minoria.

Sr. Presidente, francamente, acredito que a nossa ida à Presidência da República seria uma caminhada em vão, porque, como V. Exª já esclareceu, a sua conversa com Sua Excelência o Senhor Presidente já o havia tranqüilizado a respeito do pedido encaminhado por V. Exª. Voltar lá para quê? Para ouvirmos de novo, agora três ou quatro Senadores...

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy) - O Senhor Presidente já saiu do Palácio do Planalto.

O SR. LAURO CAMPOS - Não podemos ficar à cata de Sua Excelência como se estivéssemos realizando um roteiro cinematográfico de um carro correndo atrás do outro. Essa é uma situação esdrúxula, kafkaniana, como lembrou V. Exª. É um processo que seria incompreensível se Kafka fosse incompreensível. Mas é isto mesmo: a realidade é kafkaniana. Nós vivemos em um século kafkaniano, e esse é um governo kafkaniano, ou um desgoverno kafkaniano.

Tendo em vista essa dificuldade de entendermos a realidade em que estamos inseridos, pediria também a V. Exª, Sr. Presidente, que me dispensasse deste trabalho inútil. Sic vos non vobis, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/1996 - Página 18452