Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO DOS 85 ANOS DO COLEGIO DANTE ALIGHIERI, EM SÃO PAULO.

Autor
Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO DOS 85 ANOS DO COLEGIO DANTE ALIGHIERI, EM SÃO PAULO.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/1996 - Página 18454
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESCOLA PARTICULAR, PRIMEIRO GRAU, SEGUNDO GRAU, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz à tribuna desta alta Casa Legislativa são os 65 anos de existência do Colégio Dante Alighieri, um dos marcos na história da educação e da cultura em meu Estado e, certamente, um feito épico dos italianos que começaram a vir para São Paulo no final do século XIX, alguns anos antes de D. Pedro II perder a Coroa para a República.

Meus nobres pares poderiam estranhar esta manifestação e perguntar: mas, afinal, o que faz um descendente de árabes, homenageando um gigantesco feito de origem italiana?

Invoco o testemunho do Novo Testamento para provar uma grande relação entre o Império Romano e as nações árabes. Vou mais além: um romano famoso, São Paulo, em sua segunda e terceira viagens de pregação do Cristianismo, passa pela Síria, de onde meus avós também saíram para o Brasil. E, não bastasse isso, precisamos considerar as influências da Civilização Árabe ao longo de toda a região sul da Europa mediterrânea.

Esses fatos históricos, essas misteriosas coincidências - o nome do vapor que trouxe os primeiros imigrantes italianos ao Brasil chamava-se "Sirius" e, 100 anos mais tarde, muitos bailes de formatura do "Dante" aconteciam no Clube Homs, que leva o nome da cidade de origem dos meus ancestrais - só poderiam resultar nos "oriundi árabes" de São Paulo, que, como eu, sentem necessidade de homenagear permanentemente os pioneiros capazes de erguer uma obra educacional do vulto de um Colégio "Dante Alighieri". Homenagear os pioneiros que deram curso, em nossas terras, ao caudal de cultura desencadeado por um Leonardo da Vinci, um Michelangelo um Galileo Galilei, um Ticiano, um Rafael, um Tintoretto ou - por que não? - um Dante, o político, o diplomata, o filósofo, o ensaísta e, acima de tudo o pai da poesia italiana. Homenagear os empreendedores, que solidificaram, ao longo desses 85 anos, uma obra prima educacional digna do autor de "A Divina Comédia".

Quando, em 1911, começava a história do Colégio "Dante Alighieri", em São Paulo, Emiliano Zapata e Pancho Villa lideravam uma revolução no México; a existência do núcleo atômico tornava-se conhecida; e a capital da antiga Civilização Inca - Machu Picchu - era descoberta no Peru.

Para se ter uma idéia da importância da comunidade italiana na cidade de São Paulo à época, enquanto em todo o Estado de São Paulo já haviam chegado, na virada do século, cerca de 577 mil italianos, a população da capital estava ao redor de 240 mil habitantes! Na década de 20, os italianos e seus descendentes superavam, em número, todos os habitantes não-italianos da capital paulista. Para a maioria, seus filhos não só deveriam aprender a ler e escrever, mas também manter viva a chama da cultura italiana, assim como seus valores clássicos.

Esse pensamento esteve no centro do diálogo, mantido a bordo de um vapor, na viagem da Itália para o Brasil, entre o Professor Arturo Magnocavallo, representante da Sociedade Nacional "Dante Alighieri" de Roma, e o Cavaleiro Rudolfo Crespi, que viria a transformar-se em renomado industrial paulista. O resultado não tardou. Em 1911, surge, no espigão da Avenida Paulista, em dois quarteirões de uma área remanescente da Mata Atlântica, o Instituto Médio Ítalo-Brasileiro, com sessenta alunos, distribuídos em cinco classes, sob a direção do Professor Rodolfo Camuri.

De lá até nossos dias, o colégio constitui larga e sólida ponte entre duas culturas. Representa robusto elo de ligação entre duas nações e reflete a harmonia entre dois povos. Retrata, numa dimensão geograficamente bem definida, importantes períodos da vida paulistana, brasileira e italiana. É uma instituição historicamente jovem, porém, ao mesmo tempo, experiente e consolidada. Uma organização pedagógica e disciplinar de primeira linha, que investe na formação dos seus alunos e na divulgação da língua e cultura dos dois países, buscando uma formação humanística para o futuro cidadão, livre e responsável. Assim é que formou legiões de ítalos-brasileiros e jovens oriundos de outras nacionalidades. Hoje, possui 6.600 alunos e desenvolve suas atividades com a mesma garra de quando começou, em 1911, isto porque seus dirigentes entendem a educação como uma obra que nunca se encerra, daí verem o "Dante" como uma escola para toda a vida.

Portanto, olhar o caminho percorrido por esse colégio, que tanto orgulha o Brasil e a Itália, é lembrar da participação dos italianos e seus descendentes naqueles 85 anos de construção de São Paulo. É lembrar nomes de famílias ilustres, como Crespi, Noschese, Matarazzo, Siciliano, Morganti, Martinelli e tantos outros, presentes na transformação dessa Magna Escola em realidade.

Entre muitos e sem querer cometer injustiças, lembro de dois nomes de ex-alunos: o ilustre pensador e constitucionalista Miguel Reale, que, graças a Deus, nos brinda ainda hoje com seu notável saber e incomparável cultura, e o físico César Lattes, de renome internacional.

Um professor do "Dante" - Jânio da Silva Quadros - marcou profundamente a história brasileira. E o início de sua carreira política, como vereador em São Paulo, aconteceu naquele colégio.

Das salas de aula do "Dante Alighieri", saíram homens e mulheres que honram a dignificam o gênio italiano daquele que empresta seu nome a uma casa de ensino que "quer fazer de cada aluno um indivíduo, um cidadão responsável, um brasileiro que trabalha para construir a História".

Se São Paulo ajudou a construir o Colégio "Dante Alighieri", o "Dante" vem participando da construção da História de São Paulo. Não poderia haver um destino mais glorioso para uma escola e nem glória maior para uma cidade que nasceu no Pátio de um Colégio!

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/1996 - Página 18454