O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, honra-me ocupar hoje esta tribuna para homenagear um dos segmentos mais importantes na sociedade brasileira, que é a imprensa escrita, registrando nesta ocasião a passagem dos cinqüenta anos de atividade do Jornal O Liberal.

Quero aqui registrar a presença do Jornalista Ossian Brito, diretor da sucursal de Brasília, de Silvana Scossim, gerente executiva, e da nossa brava companheira, jornalista Sônia Vinhas; também quero registrar a presença dos Deputados Federais do meu Estado, Hilário Coimbra, Olávio Rocha, Vic Pires Franco, Anivaldo Vale, Elcione Barbalho e Raimundo Santos, todos somando-se nesta justa homenagem.

Como salientei no requerimento para a realização desta homenagem, a História do Estado do Pará está umbilicalmente ligada à trajetória de O Liberal, não podendo deixar de verificar algumas coincidências com a própria História do País.

Exatamente no dia 15 de novembro de 1946, quando a Nação lembrava mais uma passagem comemorativa da Proclamação da República, o Jornal O Liberal circulou, em sua primeira edição, pelas ruas de Belém. Naquele mesmo dia, o País ganhava uma nova Constituição, marcada pelo espírito liberal, que acabou por inspirar o nome do novo jornal.

Iniciando suas atividades com circulação vespertina, O Liberal foi fundado sob a égide política do Partido Social Democrata - PSD -, numa época em que a organização político-partidária brasileira admitia a organização de Partidos regionais, como era o caso do PSD, cuja principal liderança destacava a figura do então Interventor Joaquim de Magalhães Cardoso Barata. Constituía, portanto, um órgão panfletário, cujo principal objetivo era exatamente o de propagandear as idéias e as propostas políticas do PSD e de seu maior Líder, Magalhães Barata, diretamente envolvido na disputa das eleições para o Governo do Estado, conforme dispunha a nova ordem institucional originada no processo de redemocratização do País.

Mais do que simplesmente fazer campanha em favor da candidatura do Major Moura Carvalho, apontada pelo PSD de Magalhães Barata para sua sucessão, O Liberal deveria servir de trincheira contra os ataques desferidos pela Folha do Norte, outro importante jornal que, na época, circulava em Belém, traduzindo assim as paixões que aproximavam a imprensa escrita da política partidária.

Já em sua primeira edição, O Liberal antecipava uma atuação marcante na vida paraense, esclarecendo em seu editorial que entrava "para a luta cotidiana com o espírito adulto e o coração tranqüilo. Nosso patrimônio é cívico e moral... Somos fortes, portanto, generosos... Nossa conduta é serena e elevada..."

É de se notar que esses princípios, defendidos desde a primeira hora, não envelheceram nos últimos 50 anos. Muito pelo contrário, testemunham o que se pode considerar como uma grande conquista do povo paraense, que hoje se orgulha de possuir um dos maiores e mais modernos jornais do País.

Voltando um pouco à história de O Liberal, convém mencionar que um longo caminho foi percorrido até que a primeira edição pudesse chegar às ruas. Em 1945, Magalhães Barata, antevendo a necessidade de um veículo de propaganda de seu partido político, reuniu alguns correligionários para discutir a fundação de um jornal que cumprisse este objetivo. Estava lançada, assim, a idéia de formar uma sociedade anônima que seria a mantenedora do empreendimento.

Barata e seus seguidores acreditavam que um partido político que se pretendia forte não poderia existir sem um jornal que se dedicasse à sua propaganda.

Formado o capital do empreendimento com o primeiro grupo de acionistas, O Liberal instalou-se em prédio próprio à rua Santo Antônio, esquina com a Praça Dom Macedo Costa, fazendo frente para a rua Gaspar Viana, em imóvel que na época custou Cr$100 mil. Menos de um ano depois de instalado, O Liberal punha para circular sua primeira edição.

A primeira diretoria do jornal foi constituída pelo redator-chefe, Lindolfo Mesquita; pelo secretário, Paulo Eleutério Filho, que veio a ser assassinado por motivos políticos na própria redação do jornal; e pelo gerente, José Camargo.

Apesar de ter a seu favor o peso de um jornal que já nascera grande, Magalhães Barata não conseguiu seu principal intento e foi derrotado nas eleições de 1950 pelo então candidato adversário, o General Zacharias de Assumpção.

A derrota, fruto de uma onda de insatisfação popular com os grupos políticos que naquele momento histórico detinham o poder e persistiam em mantê-lo, calou fundo entre os chamados "baratistas" e trouxe graves reflexos para a vida empresarial de O Liberal, uma vez que naquele período eram comuns as perseguições e retaliações políticas dos vencedores sobre os vencidos.

Desde então, o jornal passou a enfrentar sérias dificuldades, ficando, por diversas ocasiões, à beira da falência, situação essa que não foi nem mesmo possível equacionar de todo com a volta de Magalhães Barata ao poder.

Para evitar a derrocada total, o jornal foi vendido, em pleno fervilhar do ano de 1964, ao Jornalista Ocyr Proença, que apesar de todo o esforço não conseguia recompor a vitalidade do empreendimento.

O destino, porém, senhor de todas as circunstâncias, não poderia permitir que uma iniciativa originada na vontade de fazer com que o Pará e seu povo ocupassem lugar de merecido destaque na vida brasileira pudesse sucumbir.

Corria o ano de 1966, quando O Liberal passou às mãos de Rômulo Maiorana. Estava iniciada uma nova fase na vida do jornal e da imprensa em nossa terra.

Filho do casal de imigrantes italianos, Francisco Maiorana e Angelina Chiappeta Maiorana, Rômulo nasceu aos 20 dias de outubro do ano de 1922, na cidade de Recife/PE. Dinâmico e inquieto desde cedo, logo Rômulo partiu para o enfrentamento de grandes desafios, indo para a Itália dar continuidade aos estudos iniciados em dois colégios religiosos do Recife.

De volta ao Brasil, Rômulo chega à Belém do Pará em 1953, acompanhado de seu sócio Nelsindo Valença. Jovens e empreendedores, os dois perseguiam novas oportunidades de negócios para a empresa Duplex Publicidades, que foi o primeiro empreendimento de uma série de tantos outros na carreira vitoriosa de Rômulo Maiorana.

O primeiro negócio de sucesso da dupla Rômulo e Nelsindo, em Belém, foi a instalação de placas indicativas nas paradas de ônibus, uma novidade necessária que deu certo.

Com o retorno de Nelsindo Valença para o Nordeste, Rômulo decidiu permanecer em Belém. Ficou, porque aprendeu a amar o solo e a gente daquela terra, da qual dizia ser "uma terra e um povo que não se definem. A gente os sente. E gosta de senti-los..."

Várias foram as incursões de Rômulo Maiorana no meio empresarial paraense, alguns até de destaque tão relevante que acabaram por se tornar referência no meio empresarial, como a cadeia de lojas RM Magazine, que implantaram uma nova concepção na vida comercial da cidade, além de outros empreendimentos como a Pan Publicidade, Confecções Strassi, Poliboliche e a Transamazon, empresas que, apesar de pequenas, traziam sempre a marca visionária do grande empreendedor que foi Rômulo Maiorana, cuja visão de futuro permitiu, entre outras coisas, tornar-se um dos fundadores do Clube de Diretores Lojistas de Belém.

A visão do homem de negócios não se desviava, no entanto, da vocação do homem de imprensa.

Em 1958, servindo aos jornais O Liberal e Folha do Norte como contato comercial através da Duplex Publicidades, o empresário teve seu tino jornalístico reconhecido através de um convite para ser colunista social de O Liberal, ocupando, mais tarde, a chefia do departamento de publicidade do jornal. Além de a coluna social "Flagrantes Sociais", Rômulo passou a escrever também uma página semanal denominada "Sempre aos Domingos".

A cumplicidade entre Rômulo Maiorana e O Liberal registra fatos pitorescos, como a estratégia para o crescimento do volume de anúncios, cujo objetivo era consolidar em nome do jornal, mediante iniciativas como, por exemplo, a campanha para a venda de apartamentos no Edifício Manoel Pinto da Silva, então o maior edifício construído no Norte do Brasil.

Neste mesmo ano de 1958, O Liberal não se dizia mais "órgão informativo do PSD". Hélio Gueiros, atual Prefeito de Belém, ocupava a chefia de redação do vespertino, que passou a caracterizar-se por uma linguagem mais dinâmica de jornalismo, acompanhando assim as mudanças e evoluções observadas na imprensa mundial, cujo boom se deu exatamente naquele período em que triplicou o número de emissoras de rádio, surgiram novas agências de notícias, e consolidou-se uma revolução nos meios de comunicação de massa com o advento da televisão.

Embora voltando-se para assuntos de interesse geral como esportes, cultura, segurança pública, dentre outros, O Liberal não conseguia, contudo, manter-se afastado do cenário político. E foi exatamente nesse ambiente que se deu o maior desafio da carreira de Rômulo Maiorana, com a proposta que lhe foi feita para a compra do Jornal O Liberal.

A exemplo de outras tantas investidas audaciosas, Rômulo comprou o jornal sem nenhum centavo no bolso, apenas com a palavra empenhada e sua assinatura em dez notas promissórias, todas posteriormente resgatadas nos prazos previstos.

O jornal passou, então, por profundas mudanças, a começar pela circulação que foi antecipada para o horário de meio-dia. Assim, à hora do almoço, os belenenses passaram a ter nas mãos todas as informações do dia. O jornal circulava, naquela época, com um número não superior a 500 exemplares por edição.

Desde então, O Liberal, agora caracterizado como "vespertino independente", desvencilhou-se por completo de suas conotações políticas. O novo diretor e proprietário passou a assinar a coluna "Rômulo Maiorana informa", que era dividida em duas partes. A primeira, com notas avulsas das personalidades e fatos da vida paraense, e a segunda, que existe até hoje na coluna "Repórter 70", denominada "Em poucas linhas". Essa ainda é, até hoje, a coluna mais lida e comentada, dentre todos os jornais, nos meios políticos e é elaborada pelo sempre bem-informado Jornalista Edson Salame.

Nessa nova concepção editorial, destacaram-se o colunismo social, com Vera Cardoso, e a crônica política, assinada pelo Jornalista Odacyl Catette.

Entusiasmado com a receptividade do público para as mudanças promovidas no jornal, Rômulo criou estratégias ousadas visando ganhar o mercado jornalístico do Estado. Aumentando a comissão dos jornaleiros de 20 para 40% sobre o valor da venda; a circulação subiu vertiginosamente, pois era mais vantajoso vender O Liberal do que qualquer outro dos jornais então existentes. Além de aumentar a circulação do jornal, essa medida obrigou as demais empresas do ramo a reverem toda a sua atuação, tanto jornalística quanto comercial.

O passo seguinte foi aposentar a velha rotativa rotoplana, que impedia uma tiragem maior, já então exigida pelo aumento das vendas, passando a operar uma rotativa mais moderna, adquirida de um jornal carioca.

Acompanhando a evolução tecnológica, O Liberal iniciou no norte do País a era da impressão no sistema off set.

Dado o impulso inicial, a trajetória de sucesso não poderia ter mais retorno... Em 1969, Rômulo Maiorana adquire a Rádio Liberal AM, colocando-a no ar, naquele mesmo ano, com o dobro de sua potência. Quatro anos depois, em 1973, o empresário incorpora um de seus principais concorrentes, adquirindo a empresa Folha do Norte Ltda., mediante a qual teria sob seu comando os jornais Folha do Norte e Folha Vespertina. Essa aquisição simbolizou um marco na história de O Liberal, que passou a ocupar, desde então, o tradicional prédio do Boulevard Castilhos França, no Bairro do Comércio, antiga sede da Folha do Norte, cuja arquitetura de linhas neoclássicas fez do edifício um dos símbolos da cidade de Belém.

Os jornais O Imparcial e Flash são as aquisições posteriores daquele que, pouco a pouco, vinha se consolidando como um dos maiores empreendimentos do setor de comunicações no norte do Brasil.

Em aproximadamente dez anos, uma verdadeira revolução tinha se dado na imprensa paraense.

Corria o ano de 1976, quando Rômulo Maiorana presenteia o povo paraense com a TV Liberal - Canal 7 -, que passa a ser a primeira e única televisão em todo o Norte, Nordeste e Brasil Central a transmitir, em cores, a programação da Rede Globo de Televisão.

Demonstrava-se novamente o poder de realização personificado por Rômulo Maiorana, que não precisou de mais do que oito meses para percorrer o caminho desde a aquisição do terreno onde seria montada a emissora de TV até a ida das primeiras imagens ao ar.

Com a implantação, em 1982, da Rádio Liberal FM e da empresa Liberal Vídeo Produções, às quais veio a somar-se, em 1984, o primeiro jornal eletrônico do Norte, estava finalmente consolidado o Sistema Rômulo Maiorana de Comunicações.

Fácil entender, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a ansiedade e a rapidez imprimidas pelos empresários Rômulo Maiorana às suas iniciativas. Tanta obstinação e garra pareciam demonstrar que o tempo era por demais escasso para quem tinha muito a fazer, surpreendendo às vezes aqueles que com ele partilhavam os seus sonhos e foram também responsáveis por tantas realizações.

No dia 23 de abril de 1986, Rômulo Maiorana falecia, aos 63 anos de idade, mais da metade dos quais dedicados ao nosso Estado do Pará...

Seu desaparecimento precoce, todavia, longe de desnortear a trajetória por ele mesmo traçada para seus empreendimentos, transformou-se numa força inspiradora que permitiu à família Maiorana dar continuidade à tarefa iniciada.

A solidariedade e sensibilidade para com os problemas sociais foram sempre marcantes na personalidade de Rômulo Maiorana e esses valores do homem, empresário, pai de família, e amigo permanecem orientando as ações da Fundação Rômulo Maiorana, que se dedica a continuar vencendo desafios como fez em vida aquele que lhe emprestou o nome.

Passaram-se os anos. O Liberal cresceu e se transformou num dos maiores jornais do Brasil, fazendo parte de um conglomerado de outras 14 empresas que compõem o Sistema Rômulo Maiorana de Comunicações.

Atualmente, a diretoria de O Liberal é formada pela Srª Lucidéa Maiorana - Presidente: Rômulo Maiorana Jr. - Vice-Presidente; Rosângela Maiorana Kzan - Diretora Administrativa; Rosemary Maiorana Monteiro - Diretora Comercial; Ronaldo Maiorana - Diretor-Editor Corporativo; João Pojucan de Moraes - Diretor Industrial; Walmir Botelho D´Oliveira - Diretor Redator-Chefe; Ossian Brito - presente no plenário -, Diretor da Sucursal Brasília e ainda os diretores José Edson Salame, Carlos Alcantarino e José Luiz Sá Pereira.

Muitos sonhos foram perseguidos e hoje são realidade, dentre os quais destaca-se a construção da nova sede de O Liberal. Inaugurada em outubro de 1995, as novas instalações do jornal da Amazônia, como é conhecido O Liberal, funcionam hoje em um moderno e suntuoso prédio com estruturas de alumínio e vidro, ocupando cerca de 60% de uma área de 16 mil metros quadrados na Av. 25 de setembro, às proximidades do Bosque Rodrigues Alves, cujo projeto é assinado pelo Escritório de Arquitetura Aurélio Meira & Edson Meira.

Embora marcadamente peculiar a essa nova fase do jornal, a modernidade não se limita apenas ao aspecto físico. É de se destacar que O Liberal possui hoje o que existe de mais moderno em termos de parque gráfico no País, como a rotativa Uniman, equipamento raro no Brasil, que permite a impressão de 70 mil exemplares por hora; além de um complexo jornalístico de última geração, dotado de uma rede de computação toda interligada para a elaboração de textos, tratamento de fotos, editoração e paginação, a partir do sistema Novel 4.1, implantado em rede como programa Network.

Todo o vigor e energia de O Liberal, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cujo impulso dado por Rômulo Maiorana hoje tem a continuidade da sua família, são fruto de um trabalho de equipe, tendo à frente o dinamismo da Srª Lucidéa Maiorana, Presidente do Sistema Rômulo Maiorana de Comunicação e, repito, os seus filhos Rômulo Maiorana Júnior, Rosana, Ângela, Rosemary, Rosângela, Roberta e Ronaldo Maiorana.

Convém lembrar, ainda, os inúmeros colaboradores que fazem, dia a dia, com que o jornal O Liberal chegue aos mais recônditos cantos do Pará e às principais capitais do Brasil.

O Sr. Bernardo Cabral - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Com muita alegria, Senador Bernardo Cabral.

O Sr. Bernardo Cabral - Em primeiro lugar, quero pedir desculpas por interromper o seu discurso denso, histórico, não repetitivo, para trazer o meu testemunho, já que vizinho do Pará, da figura que foi Rômulo Maiorana. Eu o conheci por intermédio de um velho amigo seu, meu companheiro de jornal, o saudoso, como ele também, Humberto Calderaro Filho. Já se vai muito tempo que fomos apresentados. Quando alguém caminha na fantasia acaba tropeçando na realidade. Rômulo sempre foi um homem que caminhou na realidade. Os seus sonhos foram transformados em tudo aquilo que ele idealizara. Agora, quando V. Exª lembra o passado, que deve ser tomado como ponto de partida para o futuro, está aí concretizada a sua obra. A Srª Lucidéa Maiorana e os seus filhos dão seqüência àquilo que é mais importante no jornal. O que caracteriza um bom jornal? A sua independência, a sua ética jornalística, o seu respeito para com os leitores, o que foi, pouco a pouco, sendo desenvolvido por O Liberal. Não é a primeira vez que ouço V. Exª fazer a defesa de O Liberal. Quando fomos Constituintes - e já se vão quase dez anos -, acompanhei o trabalho de V. Exª relatando a figura dos que continuavam a obra de Rômulo Maiorana. No instante em que a sua figura é lembrada, em que o seu jornal está aí firme, quero cumprimentar V. Exª pelo seu discurso. Quero levar a minha solidariedade à família Maiorana, na pessoa da Srª Lucidéa Maiorana, e dar o meu abraço a um velho amigo, o Jornalista Ossian Brito, que aqui se encontra. Conte com essas pálidas palavras na solidariedade que seu discurso encerra.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª, Senador Bernardo Cabral e aproveito para mostrar o caráter do homem Rômulo Maiorana, contando um fato do passado. Fui Deputado, hoje sou Senador, e V. Exªs conhecem as minhas posições, sempre duras, radicais. Já eleito Deputado e, apesar de estar há oito anos na política, não tinha nenhum conhecimento com Rômulo Maiorana. Aquele era ainda um tempo de bastante rigor. Um dia, houve uma reunião da Bancada Federal do Pará com os três donos dos jornais do Pará, O Diário do Pará, A Província do Pará e O Liberal. Lá estava Rômulo Maiorana. No momento em que ele me conheceu, perguntou ao Brabo de Carvalho, que era um outro Deputado colega nosso, se eu era seu filho. O que quero mostrar com isso é que eu sempre fui um Deputado de esquerda, um Deputado combativo, um Deputado duro nas suas posições contra o Governo, mas sempre cresci tendo espaço dentro do jornal e sem ter nenhuma intimidade com ele, o que demonstra a abertura do jornal às pessoas que realmente faziam política, porque as minhas posições políticas, as minhas manifestações eram divulgadas no jornal como fatos políticos. Isso mostra a abertura que o jornal tinha a todas as forças políticas do Estado do Pará, e o espaço que ocupávamos. E é graças à imprensa, sabe muito bem V. Exª, que crescemos na política, pois se a imprensa não noticiar o que produzimos, o que fazemos, a população fica sem o conhecimento do nosso trabalho e das nossas idéias. Então, essa é uma demonstração clara do que foi o homem Rômulo Maiorana.

O Sr. Jefferson Péres - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço, com satisfação, o Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres - Senador Ademir Andrade, nós, do Amazonas, não podemos ser alheios ao que ocorre no Pará, dada a contigüidade geográfica e a identidade regional. Agora mesmo, ao ouvir o relato de V. Exª, com minúcias que eu desconhecia, lembrava-me das trajetórias semelhantes seguidas por O Liberal e o Jornalista Rômulo Maiorana, e pelo jornal A Crítica e o Jornalista Humberto Calderaro Filho. O Jornal A Crítica, de Manaus, está prestes a completar 50 anos; surgiu, portanto, à mesma época de O Liberal. Começou a circular ao final da manhã e por isso mesmo ficou conhecida pelo neologismo de ""onzeorino"", porque circulava às 11 horas para evitar a concorrência com os grandes jornais da época. O jornal cresceu, e, hoje, a família de Humberto Calderaro detém também um império de comunicação, com o Jornal A Crítica, que é o maior do meu Estado, uma estação de televisão e uma emissora de rádio. O Liberal, além de ser hoje um grande jornal, firmado em sólidas bases empresariais, segue, como V. Exª salientou, a tradição de independência da imprensa do Pará. Para dar um exemplo, A Folha do Norte, do saudoso Paulo Maranhão, que sofreu na carne prisões, agressões físicas e humilhações, nunca se curvou à prepotência dos donos do poder. O Jornalista Rômulo Maiorana não sofreu as mesmas vicissitudes porque os tempos são outros, mas manteve essa linha de independência inerente a tantos jornais da sua terra. Por tudo isso, Senador Ademir Andrade, congratulo-me com V. Exª e com o Senador Coutinho Jorge pela iniciativa da homenagem ao Jornal O Liberal. Tenho certeza de que interpreto o sentimento do povo de minha terra ao me solidarizar com V. Exª nesta homenagem.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª e ao Senador Bernardo Cabral pelos apartes; V. Exªs são dois bravos Senadores do maior Estado do Brasil, o nosso Amazonas. É uma alegria ter o aparte de V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço, com satisfação, o Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma - Senador Ademir Andrade, peço permissão para interferir no pronunciamento de V. Exª. Em razão do discurso que V. Exª profere e dos apartes que recebe, bem como do discurso do Senador Coutinho Jorge e dos Representantes da Região Norte do País, eu me permito, como Representante de São Paulo, cumprimentar V. Exª não para me referir ao Jornal O Liberal - com o qual já tive contatos quando na direção da Polícia Federal, e ao qual concedi entrevistas claras, sinceras, em que sempre repercutiu a palavra do entrevistado -, mas principalmente pelo teor do discurso de V. Exª e do Senador Coutinho Jorge, e pela independência na linha editorial e na liberdade que a imprensa impõe mediante a conduta dos dirigentes de O Liberal. Essa é a demonstração da força da democracia: quanto mais independente a imprensa se sentir, mais o cidadão terá meios de saber o que se passa pelo País. E esta Casa tem a obrigação, que V. Exª e o Senador Coutinho Jorge fazem cumprir, de enaltecer a figura dos grandes jornalistas da Nação brasileira. Meus cumprimentos a V. Exª e ao Senador Coutinho Jorge, como Representante de São Paulo.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª, Senador Romeu Tuma.

Esqueci de citar a presença do também Senador pelo Estado do Amazonas, Gilberto Miranda.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço V. Exª com muito prazer.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Apenas para dar um apoio total ao discurso de V. Exª e dizer que o aniversário de 50 anos de um jornal é motivo de festa, sobretudo de um jornal da coerência e do valor de O Liberal, que não pode se restringir apenas à imprensa do Pará; é motivo de festa para a imprensa brasileira. Daí por que esta homenagem é extremamente justa. Quero dizer também - quero dar um testemunho como Ministro das Comunicações que fui - que tive contato e pude fazer algo em benefício do Pará. Não do Complexo de Rômulo Maiorana, porque ele foi um empresário criador, um empresário de muito valor, de quem tive a honra de desfrutar da sua amizade - por pouco tempo, é verdade -, mas senti que estava diante de um empresário sério, competente. Daí o êxito de sua empresa e o valor maior ainda do seu jornal. O pronunciamento de V. Exª e dos Representantes do Pará merecem o respeito, a admiração e o apoio de toda a Casa.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a manifestação de V. Exª e a incorporo com muita alegria ao meu pronunciamento.

O Sr. Gilberto Miranda - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ademir Andrade?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço, com prazer, o aparte do nobre Senador Gilberto Miranda.

O Sr. Gilberto Miranda - Senador Ademir Andrade, em primeiro lugar, queria cumprimentar V. Exª, dar-lhe os parabéns por ter proposto esta sessão. Os Senadores Bernardo Cabral e Jefferson Péres já falaram pelo Amazonas, e falaram muito mais do que eu conseguiria dizer. Falar de O Liberal, que diretamente também está ligado ao Jornal A Crítica, é estar falando do Norte, é estar falando da Amazônia. O trabalho de Rômulo Maiorana é conhecido no Brasil inteiro. V. Exª, como o Senador mais jovem desta Casa, que compõe a Bancada do Pará juntamente com Jader Barbalho e Coutinho Jorge, brilhantes Senadores, tem conseguido demonstrar e falar, durante todo este período de dois anos em que está aqui, sobre o que o jornal faz: pelo Estado, pela democracia e pelo País. Fazer um jornal é o mesmo que fazer e criar um filho todos os dias. A imprensa escrita sofre hoje com o custo do papel, com a falta de recursos, com todas as dificuldades por que passa toda a imprensa, de um modo geral, no Brasil. Colocar um jornal todos os dias nas ruas é só para homens bravos. Quero parabenizar V. Exª, a direção do jornal e fazer votos de que continue, porque é uma voz de alerta na Amazônia, principalmente no Pará. Muito obrigado, Senador.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Eu que agradeço a V. Exª, nobre Senador Gilberto Miranda, pelo aparte. É uma satisfação para nós.

A Srª Marluce Pinto - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Ademir Andrade?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço, com prazer, o aparte da Senadora Marluce Pinto.

O Sr. Nabor Júnior - Senador Ademir Andrade também me coloco na fila para apartear V. Exª e homenagear o Jornal O Liberal pelo transcurso dos 50 anos.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Será uma alegria.

A Srª Marluce Pinto - Meu nobre Senador Ademir Andrade, não poderia, como Representante de um Estado do Norte, o Estado de Roraima, deixar de me congratular, nos 50 anos do Jornal O Liberal, com V. Exª, pela homenagem que presta, e com todo o Grupo Rômulo Maiorana. Além de representar o Estado de Roraima, morei durante muitos anos em Belém, acompanhando diariamente a publicidade do jornal O Liberal, da televisão, enfim, de todo aquele grupo, um grupo bastante conceituado. Podemos dizer que, além do desempenho dos representantes, dos Parlamentares e das autoridades políticas estaduais, o Grupo Rômulo Maiorana prestou e presta grande contribuição àquele Estado. Por meio de divulgações sérias, do trabalho sério daquele grupo é que o desempenho das autoridades políticas tem sido visto não só na própria Região como em todo o Brasil. É uma cooperação bastante produtiva. Conheço pessoalmente alguns dos representantes daquele grupo e por isso quero me congratular com V. Sªs que estão aqui presentes porque realmente a contribuição ao Estado tem sido muito grande. Tenho certeza de que, assim como a morte de Rômulo Maiorana não desfez esse grupo - seus filhos e esposa deram continuidade ao trabalho honesto que foi implantado por seu pai e esposo - não serão apenas esses 50 anos que serão comemorados, outros tantos haverão de vir na vida desse jornal do Pará. Tenho certeza de que o exemplo implantado por Rômulo Maiorana, a quem tive o prazer de conhecer pessoalmente por ser grande amigo do meu esposo, haverá de perdurar naquele Estado, através de seus descendentes. Quero congratular-me com V. Exª, com o Senador Coutinho Jorge, do seu Estado, e, mesmo na ausência do Senador Jader Barbalho, congratular-me também com S. Exª, pois sei do seu desempenho, como Parlamentar e como Governador daquele Estado, com vistas ao progresso e desenvolvimento do Pará.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª e aproveito para registrar a presença do Deputado Federal pelo Pará, Messias Ribeiro, que também participa desta homenagem.

Ouço, com alegria, o nobre Senador Nabor Júnior.

           O Sr. Nabor Júnior - Senador Ademir Andrade, desejo manifestar a minha solidariedade e apresentar os mais efusivos cumprimentos ao jornal O Liberal, que, no dia 15 deste mês, completou 50 anos de existência. Cumprimento também V. Exª e o Senador Coutinho Jorge pela iniciativa de proporem a realização desta sessão especial, em homenagem ao importante arauto dos interesses amazônicos, cuja atuação transcende às divisas do grande Estado do Pará.

           Essa comemoração cresce em alegria para quem, como eu, teve o privilégio de privar da amizade pessoal de Rômulo Maiorana, o impulsionador do jornal O Liberal, que, como V. Exª disse e o Senador Jader Barbalho teve oportunidade de ressaltar em aparte, foi fundado para divulgar o programa e as atividades do antigo Partido Social Democrático, PSD; depois, foi vendido para um outro grupo e, finalmente, adquirido por Rômulo Maiorana, que eu conheci desde os primeiros tempos, em que ele tinha a cadeia de lojas RM, em Belém.

           Comandado por Rômulo Maiorana, o jornal tomou novo impulso, padrão de modernidade que não fica a dever a nenhum dos grandes órgãos da imprensa nacional, como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Estado de Minas, O Diário de Pernambuco, O Povo, de Fortaleza, etc. O Liberal é hoje um paradigma não apenas da imprensa do Pará - faria sucesso em qualquer outra parte do País, por ser um jornal moderno e com excelente apresentação, além de contar com a colaboração de grandes jornalistas de seu Estado e uma equipe de articulistas e comentaristas nacionais e do Exterior. É, realmente, notável a contribuição de grandes vultos da imprensa nacional e internacional no "Liberal"!

           Também quero apresentar cumprimentos ao meu conterrâneo e amigo Ossian Brito, diretor da sucursal de O Liberal, em Brasília, pelo trabalho que tem feito, divulgando as atividades do Congresso Nacional nas páginas do jornal.

           Sinto-me muito à vontade, feliz, mesmo, em falar da trajetória da família Maiorana, também por causa da amizade fraterna que me unia ao saudoso Francisco Maiorana, irmão de Rômulo Maiorana, que faleceu recentemente, aqui em Brasília. As nossas famílias têm muitas afinidades.

           De modo que me integro à legião de leitores e de amigos que festejam, com a direção e os profissionais que fazem o sucesso de O Liberal, o transcurso dos 50 anos do grande órgão da imprensa nacional - e cumprimento V. Exª pelo excelente e emocionado discurso com que registra esse meio século de sucesso. Muito obrigado.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Iris Rezende - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço com muita alegria o aparte do Senador Iris Rezende.

O Sr. Iris Rezende - Muito obrigado, Senador Ademir Andrade, pela concessão do aparte, oportunidade em que tenho a satisfação de cumprimentar V. Exª pelo brilhante pronunciamento, como também o Sr. Senador Coutinho Jorge, enfim, a Bancada do Pará nesta Casa, pela iniciativa de prestar esta homenagem a um jornal, a uma empresa, a uma família que, realmente, ao longo de décadas, tem prestado relevantes serviços à cultura e à informação, principalmente do Norte, mas de todo o País. Sinto-me no dever, como Representante do Estado de Goiás, de trazer as nossas homenagens e os nossos reconhecimentos, porque O Liberal, durante muito tempo, exerceu uma forte influência sobre o Estado de Goiás, contribuindo para o desenvolvimento da nossa cultura, nos informando. Quando ainda não existia a Belém-Brasília, quando o contato de Goiás com São Paulo e Rio de Janeiro era um tanto difícil, através das águas do Tocantins e do Araguaia, chegava O Liberal permanentemente, representando um instrumento de informação forte e válido para a população de Goiás, principalmente do norte do Estado, que hoje compõe o Estado do Tocantins. De forma que ficam as nossas homenagens ao Jornal O Liberal, à sua equipe e os nossos cumprimentos aos dignos Representantes do Estado do Pará por essa iniciativa, porque é admirável o reconhecimento de representantes do povo a um jornal que tem prestado grandes serviços, grandes benefícios ao Estado de V. Exª e ao nosso País.

O Sr. Francelino Pereira - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª, Senador Iris Rezende. Ouço com alegria o Senador Francelino Pereira, de Minas Gerais.

O Sr. Francelino Pereira - Senador Ademir Andrade, farei uma rápida participação no seu pronunciamento, representando aqui a voz de Minas, exatamente para transmitir à direção e aos jornalistas de O Liberal a nossa admiração, o nosso respeito pelo sucesso, pela independência e pela própria lucidez do jornal de conduzir-se, nestes tempos ásperos, sempre com galhardia e defendendo os interesses do Pará, à semelhança de outros órgãos, como é o caso do Jornal Estado de Minas, do meu Estado. Quero, portanto, transmitir a toda a equipe, de ponta a ponta, de O Liberal, inclusive aos seus dirigentes que estão aqui conosco, o abraço sincero de felicitações pelo sucesso, conduta e desprendimento que os seus diretores têm em defender os interesses de um Estado tão importante da Federação, assemelhando-se muito ao papel da imprensa no Brasil. Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. Pedro Simon - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Agradeço a V. Exª, Senador Francelino Pereira.

Ouço o nosso brilhante Senador pelo Rio Grande do Sul, Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon - Prezado Líder, não haveria como justificar, no momento em que todo o Brasil está se manifestando, pelos seus Estados - e nós representamos a Federação -, que o Rio Grande do Sul também não trouxesse, através de V. Exª e do Senador Coutinho Jorge, o seu abraço ao povo do Pará, ao povo de Belém pelo cinqüentenário de O Liberal. Não há dúvida alguma de que num país com as dificuldades por que passa o Brasil, com os atrasos culturais que temos, festejar o cinqüentenário de um jornal é um acontecimento realmente nacional. A história que V. Exª está apresentando, a biografia de luta e de garra desse jornal é uma demonstração muito positiva e grande do seu desempenho e da sua competência. Vejo uma certa ligação, quando V. Exª fala no desenvolvimento de O Liberal, da família que o dirige, com o que acontece no Rio Grande do Sul com a RBS, com a Zero Hora. Seu grande líder e chefe também faleceu, mas a família Sirotsky, sob a coordenação da viúva, tendo o Nelson como Presidente-Executivo e o Jayme como Presidente do Conselho, estão desenvolvendo no Sul, também com grande competência, um complexo de rádio, jornal e televisão. Para nós, Senado da República e Congresso Nacional, não há como deixar de reconhecer a grande vinculação que existe entre nós e a imprensa. É verdade que ambas as partes têm de se aprimorar; é verdade que imprensa e Congresso Nacional têm um caminho a percorrer. Somos aliados, somos irmãos; portanto, não pode haver uma grande imprensa se não houver um grande Congresso - e o contrário é verdadeiro. Temos de percorrer esse caminho. O fato de um jornal como O Liberal atingir o prestígio, a garra, a biografia, o cinqüentenário, é marcante. Repare V. Exª que são 50 anos! O Partido mais antigo que temos no Brasil, de vida permanente e constante, é o PMDB, com 30 anos. O Partido de V. Exª, o Partido Comunista, tem uma longa atividade e algumas interrogações. Não temos no Brasil vida permanente de partidos políticos. O nosso Congresso é uma instituição de interrogações permanentes; já foi fechado e já viveu, como na época do Regime Militar, uma vida meio fictícia de aparências, e não de realidade. A imprensa brasileira também sofreu e sofreu muito a falta da liberdade, quando não podia andar, viver e respirar. Foi muito bem lembrada a dificuldade de se manter o jornal, de mantê-lo diariamente, porque ele é uma obrigação. A um jornal que se preze, deve-se dizer: "ele nunca faltou nas bancas, ele nunca deixou de circular". Não é como uma empresa, onde, de repente, falta a matéria-prima; pode-se até dizer que vai parar por 15 ou 30 dias, que haverá férias coletivas. Mas um jornal não pode se dar a esse luxo, pois ele tem a obrigação de circular. Não há dúvida nenhuma de que o jornal também viveu as suas dificuldades. Como disse V. Exª em seu pronunciamento, naquela época, um jornal com este nome, com a preocupação de se tornar independente, pagava um preço elevado. Esta é uma festa de O Liberal, sim; esta é uma festa do Estado do Pará, sim; esta é uma festa da imprensa, sim; mas é também de todos nós. E, paralelamente à festa, devemos fazer uma profunda reflexão, pois não temos muitos grupos como O Liberal, com essa força, com esse peso, com essa tradição, com essa biografia. V. Exª é um homem combativo - às vezes, alguns entendem que de forma até exagerada - e enfatizou bem que nunca deixou de haver, nas páginas dos jornais, o destaque necessário do seu pensamento, ainda que com restrições do jornal, mas que permitisse à sociedade conhecer as suas idéias. Esse conceito é muito importante e muito difícil, nobre Senador. Estou sendo muito sincero, pois tenho muito apreço por dirigentes como esse a que V. Exª se refere. Empresas como as que temos no Rio Grande do Sul e como essa a que V. Exª se refere, que têm um complexo jornalístico e que, de certa forma, têm um poder tão fantástico nas suas mãos, o poder de controlar, de ver, de dirigir e, de certa forma, de mostrar os fatos à opinião pública, devem ser incentivadas. Isso dá a essas pessoas uma responsabilidade tão grande quanto o poder. Por isso, é importante que pessoas como V. Exª e como o Senador Coutinho Jorge compareçam à tribuna para enaltecer um trabalho de 50 anos, cuja direção, ao longo desse período, usou o seu extremado poder com dignidade, com correção e com credibilidade. Isso é muito importante, isso é tremendamente importante. Felicito V. Exª. E lá, no outro canto, no nosso extremo Sul, participamos da alegria com o ilustre Diretor, que nos honra com a sua presença, e com os ilustres Representantes do Pará. Que bom sentir a alegria e a emoção dos senhores por terem um jornal tão importante quanto O Liberal! Meus cumprimentos ao querido amigo.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Muito obrigado, Senador. Eu é que cumprimento V. Exª pelo brilhante aparte.

O Sr. Artur da Távola - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ADEMIR ANDRADE - Ouço, com alegria, o Senador Artur da Távola.

O Sr. Artur da Távola - Nobre Senador Ademir Andrade, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Representantes do Jornal O Liberal, não poderia um jornalista, momentaneamente Senador, deixar de trazer uma palavra, numa data de homenagem tão importante, a um jornal do significado de O Liberal. Pessoalmente, sou daqueles que gostam muito dos jornais que têm esses nomes bem definidos e bem claros: O Liberal, O Imparcial, que é um outro nome interessante. São jornais que nascem de modo oracular, ou seja, eles já propõem nos seu título uma atitude de vida. Essa proposta de atitude de vida, no caso da idéia de um jornal liberal, parece-me muito importante. As pessoas podem não ser liberais, mas os meios de comunicações devem ser. O liberal é uma posição, é um espaço livre entre as paixões; um liberal, ou o liberal, é alguém que milita também no espaço livre entre os interesses; o liberal é aquele também capaz de viver num espaço livre entre preferências de natureza político-partidária, estética, etc. De maneira que a proposta de uma postura liberal, diante desse ofício tão complexo quanto informar, é profunda, é séria. Não creio que os jornais, na contemporaneidade, sejam, na maioria dos casos, liberais; hoje em dia, os jornais são partes de negócios muito maiores do que eles mesmos e, portanto, perdem a condição da posição liberal. Os jornais hoje são grandes organizações, grandes empresas - refiro-me aos grandes -, com implicações de toda ordem, imbricadas em outras linhas que não exclusivamente as jornalísticas, o que dificulta enormemente a postura liberal. Há também, por causa da concorrência infrene do rádio e da televisão, uma tendência da corrida para a notícia como espetáculo, em lugar da notícia como informação. Os jornais, portanto, vivem hoje essa disjuntiva trágica: eles são os órgãos de consulta da população, devem ser o recanto de resistência de pensamentos independentes; no entanto, são bombardeados, pela sua própria sobrevivência, pela velocidade do rádio e da televisão, dando a notícia antes, e pela sua própria necessidade do que se chama em jornalismo "um aquecimento do noticiário", no sentido de fazer com que ele possa competir de maneira mais eficaz. Aquecimento esse que é até exigência da própria população eleitora, que acaba por preferir jornais que, de certa forma, reproduzam um clima realista-ficcionista ou fíccio-realista, que é o clima da própria televisão. Se V. Exª observar os noticiários de televisão hoje em dia, verificará que, pelo conteúdo da matéria, nada mais são do que a continuação da mecânica emotiva presente na ficção, na rádio-novela. A notícia, portanto, está hoje em dia cercada por todos os lados. Daí por que é exemplar, é heróico, é merecedor de todo o apoio o esforço dos jornais brasileiros no sentido de informar devidamente, no sentido de manterem-se eqüidistantes das paixões políticas, como é a proposta de O Liberal. Tive a oportunidade de, como jornalista, ter um artigo reproduzido durante muitos anos em O Liberal. Nessa época, minha crônica saía no referido jornal, distribuída pela agência do jornal onde eu trabalhava à época. Quando deixei de trabalhar no jornal, evidentemente a agência deixou de distribuir a minha matéria. Perdi então a chance de fazer parte do corpo de escol dos colunistas de O Liberal. Desse período guardo uma recordação formidável do ponto de vista da repercussão do trabalho, do volume de cartas recebidas e do contato que conseguia manter com um Estado distante do meu, mas que se unia através de uma identificação de natureza, como diria, afetiva, espiritual, empática, de afinidade. Foi um período extremamente brilhante, durante o qual ocorreram episódios até muito curiosos, que não cabe - ou cabe? - aqui lembrar. Recordo que, certa vez, fiz uma crônica sobre a tragédia das frutas na contemporaneidade. Não se podia comprar uma fruta no Rio de Janeiro. A crônica se chamava "Uma manga, pelo amor de Deus!" e mostrava como as frutas são vendidas verdes, estragadas, caras e como esses processos modernos de frigorificação acabaram com o simples prazer de se comer uma fruta. Pois bem, essa crônica, transcrita em O Liberal, fez baixar, na redação do jornal onde eu trabalhava, caixas de manga do Pará, da melhor qualidade - aliás, o Pará é conhecido pela qualidade das suas mangas. Eu não sabia o que fazer com tanta manga. Muitas vezes, até açaí recebi diretamente, graças ao tempo em que tive a honra de pertencer aos quadros, ainda que indiretamente, do jornal O Liberal. Por essa razão, pelo fato da proposta de ser eqüidistante entre as paixões, a proposta liberal, e pelo fato de que ele representa a resistência do jornal escrito, que quer dizer a resistência da palavra escrita, e a resistência da palavra escrita quer dizer a resistência do pensamento diante de um mundo avassalador, no qual o pensamento vai perdendo lugar diante das imagens que se sucedem, da sedução das imagens. Por tudo isso, temos que saudar a iniciativa de V. Exª, Senador Coutinho Jorge, e dos Senadores do Pará, e trazer também a palavra de um profissional da matéria que se identifica com esse aniversário, desejando mais 50 anos de atitude liberal, de qualidade gráfica, de qualidade editorial e de tudo aquilo que transformou O Liberal no grande jornal que é. Agradeço a V. Exª pela gentileza do aparte.

O SR. ADEMIR ANDRADE - Sou eu quem agradeço, Senador Artur da Távola, pelo seu testemunho. O seu brilhante aparte mostra a justeza da homenagem que estamos fazendo no dia de hoje.

Eis, portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o registro que faço de uma das mais brilhantes trajetórias verificadas na vida da imprensa nacional.

Encerro este pronunciamento, Sr. Presidente, afirmando que homenagear os 50 anos do Jornal O Liberal, através da lembrança inesquecível de Rômulo Maiorana, artífice dessa obra grandiosa que permite hoje ao Estado do Pará ocupar lugar de merecido destaque na imprensa brasileira, antes de ser uma honra, é, na verdade, um dever de reconhecimento para com todos aqueles que, desde o início da trajetória de O Liberal, jamais permitiram esmorecer ou quebrantar-se a grandeza do Pará e de seu povo.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.