Discurso no Senado Federal

SENTIMENTOS DE S.EXA. PELO TRANSCURSO, HOJE, DE MAIS UM ANIVERSARIO DE MORTE DO DR. TEOTONIO VILELA.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • SENTIMENTOS DE S.EXA. PELO TRANSCURSO, HOJE, DE MAIS UM ANIVERSARIO DE MORTE DO DR. TEOTONIO VILELA.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/1996 - Página 19146
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, TEOTONIO VILELA (AL), EX SENADOR, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB/RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, hoje transcorre mais um aniversário da morte de Teotônio Vilela. Quero apenas transcrever nos Anais do Senado o meu sentimento.

Nada mais difícil do que traçar o perfil de Teotônio Vilela, apesar de ter convivido com ele durante tanto tempo na resistência democrática e na luta pelos direitos mais fundamentais de todos os brasileiros. É que Teotônio parecia transcendental. Ele inspirava algo de divino. Pudera, ele incorporava o poder de Deus até no próprio nome! Talvez seja por isso que o seu reino parecia não ser, também, deste mundo. Como alguém que encarnou, no seu tempo, a imagem de semeador, ele plantou idéias e exemplos. E não partiu para a eternidade sem, antes, nos ensinar todos os passos da colheita.

Talvez não fosse necessário resgatar a sua biografia, porque a vida dos verdadeiros amigos é transparente. Imagine-se, então, a dele, Teotônio Vilela, que dedicou a sua existência a todos os que pouco ou nada tinham e têm além da própria vida. Teotônio era onipresente. A dor do excluído era, para ele, sempre maior do que a de seus cânceres. E ele pregava que a fome, a miséria e a injustiça são tumores malignos, mas, ao contrário dos dele, são tumores curáveis.

Suas muletas pareciam ser, na verdade, batutas. Como um maestro, dava o tom e marcava as entradas, dos cárceres, dos templos invadidos pelos vendilhões e dos corações petrificados pelo ódio, pela discriminação e pela omissão.

Apesar de, ainda hoje, sentir a sua presença viva, como uma verdadeira luz, eu, às vezes, imagino Teotônio caminhando no planalto do céu, de braços dados com Ulysses, com Tancredo, com Pasqualini e com tantos outros. Parece-me até que nenhum deles está a desfrutar do merecido descanso. Também imagino que Teotônio continua inquieto com o que está acontecendo nestas terras acidentadas do Brasil. Quem, como eu, tantas vezes caminhou ao seu lado, sabe que ele, onde quer que esteja, não descansará, nem no céu, enquanto faltar pão na terra onde ele ensinou a plantar e a colher. Por isso, para o seu verdadeiro descanso eterno, ele quer a salvação de todos aqueles que ainda ardem no inferno da fome, da desnutrição, da miséria, da doença, do analfabetismo, da injustiça, da discriminação e da omissão.

Teotônio Vilela é o outro nome de todas as ruas e praças deste País, porque em todas elas ele fincou a sua bandeira da esperança. Ele dizia ser um homem de muita sensibilidade e de muita ilusão e que "é preciso acreditar no amanhã, mesmo sabendo que, até lá, é preciso muito esforço e tenacidade. A gente sentir lá dentro que é capaz de ultrapassar a adversidade é uma forma de ilusão. É o meu caso. E não é uma coisa vã, desprovida de qualquer apoio, porque eu sinto isso. É um problema de sensibilidade.

Pois é, Teotônio Vilela não morreu. Deus lhe pediu um aparte!

Trago a minha homenagem a Teotônio Vilela. Não tenho nenhuma dúvida que, das figuras que passaram por esta Casa, talvez, ele tenha sido a que mais a dignificou. Com quatro cânceres, muletas, sem cabelos pelo efeito da quimioterapia, carregado em cadeiras de rodas, andávamos pelo Brasil inteiro. E o Brasil, por onde ele andava, delirava com sua presença, porque lá estava lutando pelo resgate das quatro dívidas do Brasil: liberdade, justiça social, democracia e a construção da brasilidade.

Lembro-me até hoje a viagem a Fortaleza, quando acompanhamos Teotônio numa visita ao último preso político.

Lembro-me de Teotônio se dirigindo ao povo de Porto Alegre, ao jovem de Porto Alegre dizendo: "Você, jovem, tem diante de si um homem com quatro cânceres, a quem os médicos dizem que a morte pode ocorrer a qualquer momento. Os médicos me orientaram para ficar em casa esperando. Nego-me a esperar em casa. Nego-me a ir para a Europa descansar ou passear ou ficar em casa com meus filhos, como querem meus médicos. Percorro o Brasil para chamar a atenção da minha gente, de meu povo, que ele deve se unir para defender as bandeiras sociais. Você, meu jovem, que tem dois olhos para ver, dois ouvidos para escutar, pernas para caminhar, braços para lutar, você está fazendo sua parte? Está desempenhando seu papel?"

Sr. Presidente, muitas e muitas vezes, com os olhos fechados, vejo Teotônio Vilela, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, vejo aquele auditório delirar e aquelas pessoas com lágrimas nos olhos responderem a Teotônio: "Faremos a nossa parte". Quando ele diz que gostaria que levantassem a mão aqueles dispostos a dar a sua colaboração, todos se manifestaram.

Acho que essa pergunta continua: quem está disposto a fazer a sua parte? Meu amigo Teotônio, lá onde tu estás, dando um abraço no Tancredo, um abraço no Ulysses, acreditas: são muitos, Teotônio, são muitos os brasileiros, desde a gente mais simples à mais importante, que aqui, no Brasil, continuam fazendo a sua parte.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/1996 - Página 19146