Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM OS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ENSINO DE SEGUNDO GRAU, TANTO DAS ESCOLAS PUBLICAS QUANTO DAS PARTICULARES, EFETUADA PELO MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • PREOCUPAÇÃO COM OS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ENSINO DE SEGUNDO GRAU, TANTO DAS ESCOLAS PUBLICAS QUANTO DAS PARTICULARES, EFETUADA PELO MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/1996 - Página 19116
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, ORADOR, RESULTADO, AVALIAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), QUALIDADE, ENSINO, ESCOLA PUBLICA, ESCOLA PARTICULAR, PAIS.
  • DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO.
  • ELOGIO, INICIATIVA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), VINCULAÇÃO, DESEMBOLSO, PAGAMENTO, QUANTIA, FAMILIA, ALUNO, MATRICULA, ESCOLA PUBLICA.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, quero apenas fazer um comentário sobre matéria que saiu na Imprensa referente à avaliação do Ministério da Educação em relação à qualidade do ensino de segundo grau no Brasil, tanto de escolas públicas quanto de particulares. A conclusão trouxe alguns dados importantes e foi obtida a partir de uma pesquisa realizada sob o patrocínio do Ministério da Educação.

A Drª Maria Helena Guimarães Castro, do Ministério da Educação, diz - em entrevista publicada no Jornal da Tarde de ontem: "O ensino secundário está uma tragédia". Manchete: "Alunos brasileiros reprovados pelo MEC".

O resultado da avaliação dos alunos de primeiro e segundo grau mostra pouco aproveitamento em Português e Matemática. Segundo a pesquisa do MEC, os alunos concluem o segundo grau sem saber escrever um bilhete. Quer dizer, há dificuldade de apreensão, de coordenação, de expor uma idéia por escrito.

O Sr. Jefferson Péres - Trata-se do analfabeto funcional!

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Exatamente, analfabeto funcional - socorre-me o Senador Jefferson Péres, com uma definição precisa.

Quais foram os pontos levados em consideração nessa avaliação?

      Até 150 pontos

      Português: têm compreensão apenas literal do texto, com leitura fragmentada.

      Matemática: identificam grandezas, trabalham com frações e conhecem unidade de medida.

      De 151 a 225 pontos

      Português: lidam com leituras práticas, como telegramas, mas a interpretação fica restrita a informações contidas no texto.

      Matemática: têm conhecimento consolidado das quatro operações e interpretam gráficos de barra.

      De 226 a 300 pontos

      Português: sintetizam a idéia principal, relacionam informações com vivência pessoal e compreendem o texto.

      Matemática: resolvem equações de 1º grau e aplicam propriedade de progressão aritmética.

      De 301 a 375 pontos

      Português: localizam a seqüência lógica do texto, estabelecendo relação de causa e efeito.

      Matemática: dominam conceitos relativos à equação do 2º grau e trabalham com funções simples.

O jornal publica também um ranking dos Estados. Parabéns ao Distrito Federal, que está em primeiro lugar, de acordo com o percentual de acerto das questões, 51,8%; Minas Gerais, com 49,4%; Rio Grande do Sul, com 48,2%; São Paulo e Paraná, com 47,8%; Santa Catarina, com 47%; Goiás, com 46,7% e assim se segue até o último: Maranhão, com 38% de acertos.

É interessante examinarmos o fato de que essa avaliação foi aplicada nas escolas públicas e nas particulares.

      Desempenho das escolas:

      Avaliação da 8ª série do 1º Grau das redes pública e particular, numa escala de 150 a 375 pontos.

Na rede federal, o teste foi realizado em 10 Estados. Matemática, 314 pontos; Português, 290 pontos. Na rede particular: 291 pontos para Matemática, e Português, 277. Rede estadual: 241 pontos para Matemática e 248 para o Português. Rede municipal: 246 para Matemática e 242 para o Português.

Há um outro ponto importante: nem sempre a escola particular é melhor do que a pública. Existem boas escolas particulares, porque podem pagar melhor os professores, o ambiente educacional é melhor do que o da escola pública, mas não é totalmente verdadeiro que a escola particular seja sempre melhor. Esse fato é demonstrado com clareza na avaliação do Ministério. Portanto, não podemos descrer da escola pública.

Essa avaliação é muito importante, na medida em que nos dá o conhecimento da dimensão da catástrofe que é o ensino de 1º e 2º Grau no Brasil. Quem, como eu, teve o privilégio de ser aluno da escola pública pode atestar, com toda a segurança, que ela é um elemento inclusive de coesão social. Ali estão presentes, muitas vezes, alunos de diversos Estados, de diversas categorias econômicas, de diversas condições sociais; conseqüentemente, trata-se de um ponto de socialização, de melhor convívio entre alunos que provêm de diferentes pontos, seja no que se refere ao aspecto econômico, social, religioso e outros.

Foi importante para mim ter cursado a escola pública, porque cedo tive a percepção da realidade da vida no Brasil, das suas desigualdades. Lembro-me, por exemplo, do último ano do antigo Científico, que cursei à noite no Liceu do Ceará. Eu era o que se poderia chamar de aluno profissional, porque vivia tão-somente para estudar. Convivi com pessoas que saíam diretamente do balcão de lojas, de repartições públicas e de corporações militares, às vezes sem jantar, para assistirem às aulas, à noite. Na demonstração de um esforço muito grande, procuravam, com seus próprios méritos, o caminho da informação, do aprendizado e da ascensão social. Muitos deles se formaram, são hoje grandes profissionais das diferentes áreas do conhecimento humano.

Faço esse registro para, mais uma vez, chamar a atenção - trata-se de uma repetição até monótona de outros pronunciamentos - para a necessidade de se investir em educação. Felizmente no Brasil estão em curso vários projetos, principalmente nos Municípios e aqui, no Distrito Federal. Devo registrar a iniciativa da concessão da bolsa-escola por parte do Governo do Distrito Federal, por intermédio do qual se vincula o desembolso de uma determinada importância à família do aluno matriculado nas escolas públicas.

Além de medidas como essa, estamos avançando na aprovação de alterações constitucionais que dizem respeito a esse tema. Como bem disse o nobre Senador Jefferson Péres, o Ministro Paulo Renato tem sido um homem altamente preocupado com isso, inclusive tem levado várias propostas ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, das quais algumas têm o apoio do Congresso Nacional, que já as transformou em propostas de emendas constitucionais. Estamos na fase de aprovar a regulamentação dessas alterações constitucionais, bem como de uma nova Lei de Diretrizes e Bases e de um novo sistema de financiamento da educação. Tudo isso alimenta a nossa esperança em que esse Governo e os que a ele sucederem possam perseverar no caminho do investimento na educação, única forma de aparelhar as pessoas para que elas encontrem na sociedade seu local para viver com dignidade e cidadania.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/1996 - Página 19116