Discurso no Senado Federal

EXALTANDO A CIDADE DE SOUSA, NO ESTADO DA PARAIBA. AGILIZAÇÃO DA CONCLUSÃO DO CANAL DE IRRIGAÇÃO, QUE LIGARA OS AÇUDES DE CUREMAS E MÃE D'AGUA.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • EXALTANDO A CIDADE DE SOUSA, NO ESTADO DA PARAIBA. AGILIZAÇÃO DA CONCLUSÃO DO CANAL DE IRRIGAÇÃO, QUE LIGARA OS AÇUDES DE CUREMAS E MÃE D'AGUA.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/1996 - Página 19655
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUTORIDADE FEDERAL, AGILIZAÇÃO, CONSTRUÇÃO, OBRA PUBLICA, CANAL, MUNICIPIO, SOUSA (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), IRRIGAÇÃO, TERRAS, REGIÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, CIDADE.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cada um de nós pertence a alguma coisa. Triste daquele que não sente pertencer a coisa alguma. O pertencer é uma coisa tão importante, tão significativa, que, por exemplo, quando estamos no exterior e temos dificuldades com alguma língua vemos o quanto é importante pertencermos a um país e conhecer uma língua.

Imagino um estrangeiro querendo aprender Português e aqui no Brasil topar com a expressão "pois sim": ele vai pensar que é sim, quando na verdade é não; ou por exemplo com a expressão "pois não", que parece não, mas, na verdade, é sim.

Pertencer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é ter a sua ligação com algum lugar, com alguma área geográfica.

Trago a esta tribuna hoje exatamente um tema muito caro à noção de cidadania que estamos tentando construir neste País. Por mais cosmopolita que se sinta uma pessoa, sempre existirá nela um sentimento de pertencer a um lugar, a uma região, a um país. Com certeza, cada um de nós traz consigo a sua afinidade geográfica, como um elo que remete a raízes, a antepassados, à história de cada um.

Penso que o orgulho que as pessoas têm da terra natal está diretamente relacionado ao empenho com que foi instituída a comunidade e à luta para mantê-la ao longo dos tempos.

Desejo evocar particularmente hoje a cidade de Sousa, no meu Estado natal, a Paraíba. É um desses recantos do mundo do qual os filhos têm muito que se orgulhar, não importando se lá nasceram e viveram toda a vida ou se migraram para outras terras. Um sousense sempre se reporta a seu torrão natal com muito gosto.

Mas, afinal, o que tem Sousa de tão especial? De que tanto se orgulham seus filhos? De que tanto se ufanam? Não é apenas mais uma cidade do imenso Nordeste? Um ponto no sertão?

Para responder a essas questões não basta indagar aos atuais habitantes ou aos cidadãos do mundo nascidos nessa cidade e que hoje habitam em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em tantos outros lugares para onde o outrora Patrimônio do Jardim do Peixe mandou seus desbravadores.

Para responder, teríamos que perguntar aos índios cariris, que, com tanto afinco, defenderam suas terras dos primeiros bandeirantes portugueses, na Confederação dos Cariris, movimento que passou à história pela brava resistência que, por mais de dez anos, os índios ofereceram ao domínio português.

Para saber quão especial é o outrora Jardim Nossa Senhora dos Remédios, é preciso interrogar os primeiros desbravadores que, à força de armas, penetraram nesses sertões, vencendo os nativos e ali estabelecendo sua cultura.

Para saber quão forte é o sentimento de luta dos sousenses, seria necessário perguntar ao Padre Luiz Correia de Sá, que, em 1817, levantou o sertão numa revolta, sendo preso quando se dirigia ao Crato para se juntar ao Padre Martiniano de Alencar.

Talvez encontremos o testemunho desse destemido sacerdote na Fazenda Acauã, valioso monumento barroco que ainda hoje pode ser visitado pelos turistas.

Para melhor sabermos a natureza guerreira dos nativos daquelas bandas, precisaríamos ouvir o testemunho do Marechal José de Almeida Barreto, que, além de voluntário na Guerra do Paraguai, participou da Proclamação da República e faleceu servindo ao País, como senador.

Obviamente poderíamos saber mais do amor às letras que dedicaram os cidadãos sousenses, ao observarmos a trajetória de Celso Mariz, Lucíola Marques Pinto e Julieta Pordeus Gadelha, ambas escritoras, ou de Otávio Mariz, jornalista e fundador do primeiro jornal da cidade.

Do amor à política, temos o exemplo do ex-Deputado Clarence Pires de Sá, do ex-Vice-Governador André Avelino de Paiva Gadelha e do ex-Governador e ex-Senador, nosso colega, Antônio Marques Mariz, que se destacaram oferecendo a contribuição de Sousa para a administração do Estado e do País.

Poder-se-ia dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que Sousa tem o que se chama de tradição cívica. Sendo um simples território de exploração comercial, em 1723, com a aldeia dos Icós, lutou para obter a condição de vila, no que logrou êxito em 1776.

Uma vez vila, quis-se fazer cidade, condição que foi alçada em 1854. Como cidade, quis ter prefeito, tendo-o pela primeira vez em 1895. Conquistado esse direito, dele nunca quis abrir mão, lutando para restituí-lo quando subtraído, como aconteceu em 1904. Daí em diante, só foi privada desse instituto durante o Estado Novo.

Ao que parece, não foram os portugueses e os paulistas os primeiros a encontrar na fertilidade das terras de Sousa um motivo para ali se estabelecerem.

Bem antes, ainda no período jurássico, os dinossauros ali faziam morada, como bem atestam as pegadas gravadas profundamente nas rochas, encontrando-se ali a chamada "Passagem das Pedras", a mais extensa trilha fossilizada do mundo. As inscrições rupestres, na Serra Branca, ainda a exigir maior análise, atestam que os primeiros homens da América também ali se fixaram.

Muitos lugares se destacam pela fertilidade da terra; outros, por lutas travadas. Alguns ficam famosos por conterem registros de um passado distante, enquanto outros, pela capacidade com que modificam o presente. Em alguns, os milagres servem de atrativo; noutros, as obras dos homens. Quis a Providência que Sousa tivesse todos esses atrativos. Pois, não obstante esse passado brilhante, com todas as dificuldades impostas pelo mundo moderno, mantém-se extremamente ativa.

Enquanto muitas cidades viram-se inchadas de repente, sem poder atender com dignidade seus habitantes, Sousa tem tido um crescimento equilibrado. Se alguns municípios de viram de uma hora para outra despovoados, Sousa conserva, há mais de trinta anos, a mesma posição como um dos seis maiores da Paraíba.

Sousa, que tem tantas lições de cidadania a dar, pelo seu passado, continua perseguindo os ideais que levará seus habitantes a ter uma maior qualidade de vida. Isso pode ser atestado pelo serviço de saúde ali prestado. O Hospital Regional e o Hospital de Pronto-Socorro e Maternidade Municipal oferecem atendimento ambulatorial, de emergência e internamento em diversas especialidades médicas.

Quase três dezenas de postos e centros de saúde cuidam no dia-a-dia da saúde da população, inclusive com atendimento odontológico e posto móvel. Algumas campanhas são comoventes, como a que operou de catarata as pessoas carentes do Município, restituindo-lhes a visão.

Quem conhece o Nordeste, quem sabe das dificuldades de se construir uma estrada, de se instalar um poste de luz e de se implantar uma rede de água vai-se admirar ao ver como Sousa é bem servida de estradas, tanto as municipais quanto as que a ligam às cidades vizinhas, à capital do Estado e a outras unidades da Federação.

Oferece Sousa, também, um razoável serviço de iluminação e de água nos domicílios.

As manifestações culturais da cidade, expressas pelas suas bandas de música, grupos de teatro, festas folclóricas e religiosas ou pelos magníficos trabalhos de artesanato, podem indicar aos visitantes a singularidade dessa cidade encravada no meio do sertão e que sabe, apesar da seca, ser tão produtiva e tão fértil.

Visitar as igrejas e os monumentos religiosos, que mais que sinais da fé do povo sousense são testemunhos de sua história, pode ser um reconfortante passeio pela alma simples e generosa dessa gente.

Refrescar-se nas águas do Açude São Gonçalo pode ser, além de um prazer, uma constatação de quanto laboriosa e teimosa tem sido essa gente, ao não se conformar com o flagelo da seca e procurar manter fértil essa terra.

A existência de uma quantidade razoável de pequenos proprietários de terra demonstra que, também em Sousa, eles são os principais responsáveis pela produção de alimentos e que, como em outros cantos do País, reclamam maior assistência técnica e crédito acessível.

Sendo a agricultura uma das principais fontes de renda do Município, encontramos produtores ansiosos por melhorar seu desempenho, o que pode ser constatado pelo número de contratos de empréstimos assinados com produtores e cooperativas, não só para a agricultura, mas também para a pecuária.

Plantações de algodão, arroz, feijão, milho e frutas atestam a existência de uma agricultura ligada à vida das famílias que a usam para consumo próprio e para venda nas cidades mais próximas.

Mesmo com sua histórica vocação agrícola e sua localização, Sousa mantém-se entre os seis municípios mais industrializados, com uma variedade que vai das beneficiadoras de produtos alimentícios até às têxteis e às metalúrgicas. Como escoador dessa produção, um vigoroso comércio atesta a importância dessa cidade para o sertão.

Mas há um ponto que Sousa preza muito e que eu particularmente também estimo: trata-se da educação. Esse cuidado não se revela apenas nas mais de 500 salas de aula com que conta o Município, para abrigar seus quase 15 mil alunos, ou nos 200 dias letivos, que já são uma realidade em Sousa.

Essa preferência pode ser observada, por exemplo, na assistência escolar, que fornece equipamentos e orientação odontológica e oftálmica.

Vê-se que educação é prioridade quando observamos que muitos dos alunos contam com transporte público gratuito para se deslocar para as escolas de primeiro, segundo e terceiro graus.

Treinamento e valorização dos professores completam a outra ponta da qualidade buscada na educação.

E vemos que essa qualidade será tanto maior quanto mais conquistas forem efetivadas, como a ampliação da educação pré-escolar, já existente em 35 estabelecimentos de ensino.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como bem acabei de dizer, essa é uma comunidade combativa, organizada e lutadora. A Paraíba e o Nordeste reclamam dois grandes investimentos. O primeiro é a transposição das águas do São Francisco, que fará uma grande modificação em Pernambuco, na Paraíba, no Rio Grande do Norte e no Ceará; e a segunda mais importante reivindicação da Paraíba é exatamente o canal de irrigação que ligará os grandes açudes de Curemas e Mãe D´água. Ao norte e ao sul dessa cidade há dois grandes reservatórios: Curemas e Mãe D'água. Eles existem há dezenas de anos. Há dezenas de anos não têm utilidade prática.

Essa cidade está fazendo um grande canal, com o apoio do Governo Federal, embora seja um apoio lento, que vai tornar essa terra fértil em terra altamente produtiva. E nessa hora em que está se planejando o ano seguinte, venho pedir ao Governo Federal que, nesse planejamento, não descuide do canal de Curemas e Mãe D'água. Isso fará desse povo, que tem essa trajetória histórica, que tem essa garra, um oásis no Nordeste, um exemplo para todos nós.

O povo de Sousa, Sr. Presidente e Srs. Senadores, merece essa ajuda, merece esse crédito de confiança, merece a conclusão, no mais curto espaço de tempo possível, do canal Curemas e Mãe D'água.

Esse é o nosso pedido às autoridades federais. Vamos enviar esse discurso às várias autoridades, pedindo que façam justiça a essa comunidade, agilizando, da melhor maneira possível, a realização deste sonho, que é o de ter essa fertilíssima terra irrigada.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/1996 - Página 19655