Discurso no Senado Federal

ELOGIOS AO JORNAL SE7E DIAS DA SEMANA. APELO AO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PARA QUE LIBERE PROPAGANDA GOVERNAMENTAL PARA O REFERIDO JORNAL, FACE A NEGATIVA DO SR. JOSE ABRÃO, RESPONSAVEL POR ISSO, COM O ARGUMENTO DE QUE O JORNAL TEM MA VONTADE COM O GOVERNO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • ELOGIOS AO JORNAL SE7E DIAS DA SEMANA. APELO AO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PARA QUE LIBERE PROPAGANDA GOVERNAMENTAL PARA O REFERIDO JORNAL, FACE A NEGATIVA DO SR. JOSE ABRÃO, RESPONSAVEL POR ISSO, COM O ARGUMENTO DE QUE O JORNAL TEM MA VONTADE COM O GOVERNO.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/1996 - Página 19777
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCESSÃO, LIBERAÇÃO, PROPAGANDA COMERCIAL, GOVERNO, JORNAL, SE7E DIAS DA SEMANA, DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, já ocupei esta tribuna para felicitar o aparecimento do jornal Se7e Dias da Semana. É um jornal criado por jornalistas, a maioria amigos nossos, que trabalham no Senado, na Câmara dos Deputados; são homens do mais alto gabarito da grande imprensa brasileira, que passaram por todos os cargos, nos mais variados jornais, e agora houveram por bem fazer um jornal semanal que se chama Se7e Dias da Semana.

Vejo agora, Sr. Presidente, uma matéria que me chama a atenção. O Jornalista Tarcísio Holanda, conhecido nosso, levou o jornal ao Sr. Sérgio Amaral, porta-voz do Presidente. Entregou a ele o jornal e solicitou, dizendo que era um jornal novo, alguma publicidade do Governo.

Sérgio Amaral respondeu-lhe que esse assunto não era com ele, que toda publicidade do Governo, direta, indireta, estatal, era com o Sr. José Abrão, encarregado disso.

Então, o Jornalista Tarcísio Holanda vai falar com o Sr. José Abrão, que, diz a notícia, é seu amigo, e que inclusive ele, em programa de televisão, entrevistou-o várias vezes. O diálogo que teria havido está transcrito no jornal:

      José Abrão é um paulista de talento, economista, foi diretor financeiro da TV Bandeirantes. Suplente do PSDB de São Paulo, assumiu o mandato na legislatura passada. Muito amigo de Fernando Henrique.

      Tarcísio telefonou para ele. José Abrão marcou uma audiência. Quando Tarcísio chegou lá (3º andar da Secretaria de Comunicação da Presidência, na Esplanada dos Ministérios), o jornal já estava no terceiro número. Os dois já há muito se conheciam. Tarcísio fez o Jornal de Amanhã da TVE e um programa na TV Nacional, e muitas vezes convidou e entrevistou o então Deputado José Abrão.

      Abrão abriu os exemplares do jornal na mesa:

      - Tarcísio, o jornal tem muita má vontade com o Governo. Esta matéria aqui do José Rios sobre o resultado das eleições é a favor do Maluf.

      - Foi o resultado das urnas. Não temos compromisso com ninguém.

      - Tarcísio, se vocês tiverem uma ligação com o Sarney ou o Maluf, isso é corrupção. O jornal foi criado para combater o Governo.

      - Não há isso, Abrão. Somos todos jornalistas. Cada um escreve o que quer e assina embaixo. Uns criticam o Governo, outros não.

      - Tarcísio, não pode sair nada, nenhuma propaganda do Governo no jornal. Se dermos um anúncio, vamos fazer papel de bobo. Não vamos fazer papel de bobo dando anúncio a jornal que combate o Governo.

Shiro Matsugaki.

      José Abrão chamou seu assessor, o japonês Shiro Matsugaki (respeitado profissional de mídia em São Paulo, que foi da McCan Erikson).

      - Veja aqui, Shiro. Eles querem entrar na mídia do Governo. Não estou querendo mudar a linha do jornal. Mas eles criticam, combatem o Governo.

      O japonês olhou o jornal, leu os títulos, analisou, disse a Tarcísio:

      - O jornal de vocês está melhor do que muitos jornais diários que recebem propaganda do Governo. Mas uns dois ou três colegas seus têm má vontade com o Governo.

      - Não é má vontade. É liberdade, independência. Cada um de nós escreve o que pensa. Não somos empresários, somos jornalistas. De todo o Governo, até agora só saiu no jornal................................

      ..................................................

      - Pois é, Tarcísio, isso aí não se repetirá mais. São ordens do Presidente. Mesmo assim, vou conversar lá em cima e tentar ao menos um anúncio para o jornal de vocês.

      No dia seguinte, Abrão telefonou:

      - Tarcísio, não deu. O pessoal disse que não dá para pôr propaganda do Governo no jornal de vocês, porque assim o emprego deles no Governo ficaria em jogo."

Dirijo-me ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Colocada, como está aqui, esta matéria fica muito mal para o democrata Fernando Henrique Cardoso. Peço, como amigo do Presidente, amigo de verdade: libere a publicidade para esse jornal, que tem sei lá quantas assinaturas e quantas vendas avulsas; deixe o jornal que possa falar mal do Governo respirar. Mas que não faça o que diz o seu assessor, porque não havendo propaganda do Governo não sai propaganda de empresário e o jornal deixa de circular, é um estilo que conhecemos. E conhecemos isso na época do Estado Novo e na época do Movimento de 64. E o Sr. Fernando Henrique Cardoso conheceu do lado de cá, conheceu nas horas difíceis e amargas. Sua Excelência sabe o que é isso.

Nego-me a acreditar que esse cidadão esteja falando em nome do Presidente. Nego-me a acreditar que ele tenha dito que o Presidente disse para não dar propaganda ao jornal porque o jornal fala mal do Governo. Mas, de qualquer maneira, é uma argumentação muito séria.

Faço um apelo ao Presidente da República: Senhor Fernando Henrique Cardoso, determine, para a sua biografia, a propaganda no jornal Se7e Dias da Semana.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/1996 - Página 19777