Pronunciamento de Pedro Simon em 12/12/1996
Discurso no Senado Federal
TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO FEDERAL DO TEOR DO PRONUNCIAMENTO DO DR. ITAMAR FRANCO, ENCAMINHADO AO DEPUTADO ODACIR KLEIN, PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER A PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO 1 - A/95, QUE DA NOVA REDAÇÃO AO PARAGRAFO 5 DO ARTIGO 4 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SOBRE A QUESTÃO DA REELEIÇÃO.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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REFORMA CONSTITUCIONAL.:
- TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO FEDERAL DO TEOR DO PRONUNCIAMENTO DO DR. ITAMAR FRANCO, ENCAMINHADO AO DEPUTADO ODACIR KLEIN, PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER A PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO 1 - A/95, QUE DA NOVA REDAÇÃO AO PARAGRAFO 5 DO ARTIGO 4 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SOBRE A QUESTÃO DA REELEIÇÃO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/12/1996 - Página 20581
- Assunto
- Outros > REFORMA CONSTITUCIONAL.
- Indexação
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- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, OPOSIÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, REELEIÇÃO.
- ELOGIO, ANALISE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REELEIÇÃO, AMBITO, HISTORIA, BRASIL, RISCOS, UTILIZAÇÃO, PODER, MANUTENÇÃO, INTERESSE.
- QUESTIONAMENTO, NECESSIDADE, AUMENTO, PRAZO, MANDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OPOSIÇÃO, RELACIONAMENTO, REELEIÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é com profunda mágoa que venho a este microfone comunicar e trazer o meu voto de pesar ao Presidente Estadual do PMDB do Rio Grande do Sul, o bravo e extraordinário companheiro André Forster. Não tenho nenhuma dúvida em dizer que o Forster era, no Brasil, o grande quadro partidário de qualquer partido, em qualquer nível. Intelectual, sociólogo, professor universitário, um homem de luta, um homem de trabalho, um homem de resistência no PMDB do Rio Grande do Sul. No passado, quando a triste vida partidária brasileira era pior do que hoje, no que tange a sua organização, ele criou o primeiro instituto de formação política de um partido político no Brasil inteiro, o chamado IEPES.
Foi naquele instituto, no Rio Grande do Sul, que, pela primeira vez, um partido começou a debater suas idéias, seu pensamento, seu programa, sua ação. Partido não era uma instituição que se criava às vésperas de eleição, mas era para definir o que era uma prefeitura de oposição, um programa de governo, um programa de ação. Em plena ditadura, em pleno arbítrio, o IEPES, com André Forster na presidência, lançava em Porto Alegre, com a presença do MDB do Brasil inteiro, a chamada Carta de Porto Alegre, onde pela primeira vez, se falava em anistia, em constituinte, palavras proibidas e consideradas subversivas.
André Forster foi este homem, Sr. Presidente. Vereador, Presidente da Câmara, Secretário de Estado. Mas André Forster, sociólogo, intelectual, um homem de profundo conhecimento, foi o primeiro sociólogo que conheço que, ao se falar nele, não era o Assistente Social, mas o que debatia as questões sociais da sociedade. O André Forster foi um homem que se perpetuou no seu trabalho de renúncia e de sacrifício.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, hoje, prestamos uma homenagem a Teotonio Vilela. Teotonio foi o grande amigo de Forster, e Forster foi o grande amigo de Teotonio. André Forster, há sete anos com câncer, debateu-se, lutou contra esse mal e, apesar disso, continuou na presidência do partido, lutando de mangas arregaçadas, fazendo quimioterapia, perdendo cabelo, resistindo, indo para cirurgia, saindo da cirurgia e continuando na sua caminhada, na sua luta, no seu debate.
É muito difícil encontrar um cidadão com a capacidade do Forster. Foi no IEPES, no Rio Grande do Sul, presidido por André Forster que Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo também vindo do exterior, não conhecido na vida política brasileira, pronunciou os seus primeiros discursos fora da cátedra. Ali, naquele momento, o Forster poderia ter crescido, avançado e galgado grandes posições políticas, não fosse o seu espírito de renúncia, de construir, costurar, preparar, independente de buscar para si. Na hora do debate, da coordenação, da discussão, Forster presidia, mas na hora de distribuir os cargos Forster não aceitava. E por isso ele tinha a unanimidade de todos. O que ele dizia era a palavra praticamente final, pelo seu espírito de renúncia e sacrifício.
Triste coincidência essa, Sr. Presidente, porque pretendo semana que vem vir à tribuna prestar a minha homenagem ao livro que foi lançado em homenagem a Teotonio Vilela. À margem dos brilhantes discursos pronunciados pelo Presidente José Sarney, o que mais me emocionou foi o Presidente Fernando Henrique e o nosso colega Senador Teotonio Vilela Filho. Pretendo contar outros fatos que me levaram a pedir que fosse publicado como primeiro livro da Coleção de Grandes Senadores Teotonio Vilela.
Triste coincidência essa que no dia em que se homenageia Teotonio homenageia-se aqui, neste momento, a figura de André Forster, que sofreu do mesmo mal e que teve a mesma capacidade de resistência e que também tinha o mesmo espírito de renúncia.
Quero transcrever nos Anais da Casa, Sr. Presidente, o discurso de André Forster pronunciado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, quando ganhou o título de Cidadão de Porto Alegre. Ele que não era de Porto Alegre, era de Santa Cruz, foi Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e a construiu. Nunca vi uma homenagem como essa, feita por todos os Partidos, em que todas as lideranças e representações fizeram questão de saudar André Forster.
Em seu discurso, feito de improviso, André Forster traça a destinação de um partido político e do futuro do Brasil. Sinceramente, nunca vi nada igual.
Além de pedir a transcrição nos Anais da Casa, Sr. Presidente, entendendo a agitação dos Srs. Senadores em razão da votação que ocorrerá, tomarei a liberdade de fazer xerox desse pronunciamento e mandar ao gabinete de cada um, pedindo-lhes a gentileza que leiam. É muito difícil encontrar uma carta-mensagem, um discurso-radiografia, uma síntese como esta de André Forster.
Perdi um irmão, Sr. Presidente. Ele era jovem quando começou no MDB; eu, já adiantado, presidente do Partido e ele, um guri saindo da faculdade, líder universitário, presidente do Centro Acadêmico da Universidade, tendo antipatia pelo MDB, pela Arena, por toda a classe política. Porque, naquela época, todos nós pagávamos o preço da rejeição do povo: a Arena era o partido que dava cobertura à ditadura e o MDB, o partido que servia para invocar, para dar pretexto à existência da ditadura.
Esse rapaz, representante de uma mocidade que tinha esse pensamento, aceitou a missão. Então, convidei-o para vir sentar à mesa conosco a fim de que pudéssemos apresentar nossas propostas. E esse rapaz mudou uma geração.
No Brasil, na época do AI-5 e o AI-2, o Decreto nº 477 proibia as pessoas de estudarem e o 288 proibia a liderança sindical. Só houve um lugar no Brasil em que se fez política de Oposição: no MDB do Rio Grande do Sul, no IEPES, presidido pelo Forster, onde fizemos reuniões cercados por tropas do Exército.
O próprio Fernando Henrique Cardoso participou de uma dessas reuniões na Assembléia Legislativa cercada pelas tropas do Exército. Mas lá estava André Forster, naquela noite, lembro-me com emoção como se fosse hoje, quando ele disse: "O senhor tem razão, Deputado, pelo menos aqui estamos lutando. Eu estava do lado de lá, só criticando, só vendo um lado e não me dava conta de que inclusive a coitada da imprensa tinha censura total, não podia saber o que acontecia. Agora estou vendo que, ao lado de criticar, temos uma tarefa imensa, onde cada um pode fazer sua parte."
E o André fez a sua parte. André Forster, meu irmão, meu amigo, é dessas pessoas com quem convivi e cuja amizade muito me honra. Alguns homens passaram por minha vida e ajudaram a formar meu caráter, minha maneira de ser. O primeiro foi o Senador Alberto Pasqualini - eu era um guri. E sou o que sou porque Alberto Pasqualini, o grande pensador, nos reunia na Biblioteca da Assembléia Legislativa ou na Biblioteca da casa do seu irmão - Diretor da Folha da Tarde, Sr. Arlindo Pasqualini - aquele homem, aquele gênio, perdia tempo, horas e horas, querendo que nós conhecêssemos com ele o que era a organização da sociedade.
Teve ainda o Arcebispo D. Vicente Scherer; o Irmão José Otão, Professor da PUC; Dr. Ulysses Guimarães; Dr. Tancredo Neves; Teotonio Vilela e a figura de André Forster. Para mim, para minha vida, essas pessoas são um símbolo, porque, com elas, eu muito aprendi. Com elas, eu aprendi muito mais do que recebi. Todos os outros a que me referi, Sr. Presidente, eram pessoas bem mais velhas que eu: Pasqualini, meu líder; D. Vicente Scherer, meu líder religioso; Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela, meus líderes e esse mais moço que eu. Eu já era Presidente de Diretório e Deputado e ele era Presidente do Centro Acadêmico, mas posso dizer que aprendi mais com André Forster do que ele comigo, embora ele sempre me enchesse de elogios com palavras de carinho. No dia-a-dia desses 30 anos, na sua renúncia, na sua grandeza, no seu espírito público, no seu amor para o conjunto da sociedade, na sua língua tranqüila, na sua forma de perdoar, de nem sentir abalo quando queriam desdar a sua personalidade e o seu nome.
Está de luto o PMDB do Rio Grande do Sul, é verdade. Está de luto toda a classe política do Rio Grande do Sul, que, por unanimidade, prestou-lhe o tributo devido. Mas está de luto, diga-se de passagem, Sr. Presidente, a classe política brasileira.
Peço a transcrição nos Anais do Senado do discurso de André Forster e do voto de pesar, deixando a ele, a sua mulher, aos seus filhos e ao PMDB do Rio Grande do Sul a minha tristeza, a minha mágoa e o meu sentimento.
Muito obrigado.