Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS AO EX-GOVERNADOR E EX-PARLAMENTAR SERGIPANO JOSE ROLLEMBERG LEITE.

Autor
José Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: José Alves do Nascimento
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS AO EX-GOVERNADOR E EX-PARLAMENTAR SERGIPANO JOSE ROLLEMBERG LEITE.
Aparteantes
Josaphat Marinho.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/1996 - Página 2001
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOSE ROLLEMBERG LEITE, EX GOVERNADOR, EX SENADOR, PROFESSOR, ENGENHEIRO, ESTADO DE SERGIPE (SE).
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, OBRA PUBLICA, EX GOVERNADOR, BENEFICIO, ESTADO DE SERGIPE (SE).

O SR. JOSÉ ALVES (PFL-SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, transcorreram, na semana passada, os trinta dias do falecimento do engenheiro e ilustre sergipano José Rollemberg Leite, ocorrido no dia 24 de outubro passado.

Como um dos representantes de Sergipe no Senado Federal, não poderia deixar de reverenciar a memória desse eminente filho da terra que tanto fez pelo nosso Estado, onde deixou também, além de suas obras, um exemplo dos mais edificantes de vida, de trabalho e de dignidade pessoal.

Sempre que se evoca em Sergipe um exemplo de administrador honesto e cidadão íntegro, um dos nomes que podem ser lembrados é o de José Rollemberg Leite, que esta Casa também teve oportunidade de conhecer e conviver no período de 1965 a 1971, quando foi um dos membros da Bancada de Sergipe no Senado, juntamente com Leandro Maciel e Júlio Leite.

José Rollemberg Leite foi o primeiro Governador eleito de Sergipe depois da ditadura de Vargas, quando da queda do Estado Novo na década de 40. Governou o Estado no período de 1947 a 1951 e retornou ao Governo no período de 1975 a 1979.

Era originário de família de importantes políticos de Sergipe, e, entre eles, os seguintes ex-Senadores: Francisco Leite Neto, seu irmão, a quem sucedeu como suplente; seus tios Júlio Cesar Leite e Augusto Cesar Leite, este último avô materno do ex-Senador Albano do Prado Franco, filho de Augusto do Prado Franco, que, por sua vez, é irmão de um outro ex-Senador, Walter do Prado Franco. Esse parentesco político ainda alcança um outro ex-Senador da República, Gonçalo de Faro Rollemberg e chega ao último Governador da Província de Sergipe ao tempo da transição do Império para a República, Thomaz Ribeiro da Cruz.

Como podemos ver, vários foram os membros da ilustre família do Senador José Leite que passaram pelo Senado neste século e que deixaram o rastro luminoso de seus ideais, direcionados sempre para os interesses maiores de nossa Região e do País.

A marca indelével das obras de José Leite em seu primeiro Governo está entranhada como semente na história do desenvolvimento de Sergipe neste século, e, entre algumas, citaria o Colégio Estadual de Sergipe, que vem formando tantas gerações de sergipanos; a Faculdade de Química de Sergipe, considerada uma das melhores do País, e que o diga a Petrobrás, em cujos quadros se encontram muitos dos engenheiros formados nesta Escola; foi um dos fundadores da Universidade Federal de Sergipe e suas faculdades de Direito, Ciências Econômicas e Filosofia, consideradas na época entre as melhores do País.

José Rollemberg Leite foi professor, político e administrador de sucesso. Muito ético, era também um homem prático e objetivo, de raciocínio lógico e de prioridades, assim sempre se empenhou pelo que era mais importante e urgente no momento, mas sem perder a visão do futuro, que sempre foi o horizonte de suas ações, tanto que o conjunto de suas obras vem se valorizando ainda mais com o passar dos anos.

Enalteceu e dignificou, com a sua múltipla vocação e seriedade, senso de dever, espírito público e competência, todos os cargos e funções que exerceu, sem arrogância, com a humildade do espírito cristão que cultivava, mas com indiscutível autoridade intelectual e moral com que honrou estes cargos.

Era um mestre vocacionado, dedicou grande parte de sua vida ao ensino, como professor de matemática e física do Colégio Estadual de Sergipe, antigo Ateneu, e Colégio Tobias Barreto, professor das mesmas disciplinas na Universidade Federal da Sergipe, professor da Escola de Química e da Faculdade de Filosofia. Foi também Diretor do Departamento de Educação, órgão que posteriormente se transformou em Secretaria de Estado.

Como professor, empenhou-se ainda pelo ensino profissional, devendo-se a ele a instalação do Senai em Sergipe, onde foi um dos primeiros Diretores Regionais.

Em 1938, defendeu tese para catedrático em "Ciências Físicas e Naturais", sob um tema de ótica física que denominou "Natureza da Luz".

Como engenheiro, atuou no Departamento Nacional de Obras contra as Secas; foi Diretor do Departamento de Obras Públicas e Estradas de Rodagem, em Sergipe, e Diretor do Instituto de Mineração e Metalurgia da Escola de Minas de Ouro Preto.

Político, filiado ao antigo PSD e, depois, à Arena, voltou ao Governo do Estado quando também realizou importantes obras e, entre elas, foi de sua iniciativa a licitação para o projeto do Porto de Sergipe, uma aspiração centenária do povo sergipano; e do Pólo Cloroquímico, um empreendimento da maior importância para o aproveitamento das ricas reservas do Estado.

Deu grande impulso a industrialização de Sergipe, com a implementação do Distrito Industrial, permitindo que várias novas indústrias se instalassem em Aracaju. Promoveu a construção da Adutora do São Francisco, ou Adutora Sertaneja, com quase 100 km de extensão, visando o abastecimento do Complexo das Indústrias Químicas de Base, na exploração e beneficiamento de amônia, uréia, potássio, magnésio e enxofre, e também o abastecimento de água de Aracaju.

Com o apoio do Polonordeste, promoveu importantes melhorias no desempenho das atividades agrícolas, racionalizando a estrutura de produção e fortalecendo a infra-estrutura econômica e social, com a construção de estradas vicinais, redes de energia elétrica e canalização de água.

Estas obras, da maior importância para o Estado, foram concluídas no Governo João Alves Filho que, nos dois períodos em que ocupou o Palácio Olímpio Campos, o convidou a fazer parte de sua equipe como Secretário de Obras, Transporte e Energia, cargos que exerceu com inexcedível dedicação, lealdade e competência, sem requerer tributos à vaidade de já ter sido anteriormente, por duas vezes, Governador do Estado e Senador da República.

Foi responsável pelo surgimento de importantes lideranças políticas no Estado, a exemplo do Engenheiro João Alves Filho, indicado por ele para ocupar a Prefeitura de Aracaju, em 1975, tornando-se, a partir de então, um dos expoentes da política sergipana.

Era um homem reservado, sincero, prestimoso e, sobretudo, íntegro; uma alma pura sem maldades ou rancores, uma pessoa que nasceu para servir, para ser útil à sociedade e aos seus concidadãos.

Como político sempre valorizou a educação, por saber de sua importância como fator de democratização de oportunidades e de promoção social.

Originário do interior do Estado, nascido no município de Riachuelo, filho de D. Lourença Rollemberg Leite e do médico Silvio Cesar Leite, fez o curso primário em Aracaju - onde também estudou no Salesiano - e concluiu o secundário no tradicional Colégio Antonio Vieira, na Bahia, estabelecimento por onde passaram também outros sergipanos ilustres.

Mas foi na famosa Escola de Minas de Ouro Preto, em 1935, que concluiu o seu curso de engenharia. Assim, tendo cursado boas escolas, foi um patrono da educação no Estado, onde está o velho Ateneu, a Escola de Química e a própria Universidade de Sergipe, que surgiu dos primeiros cursos superiores por ele criados, como parte do seu empenho e de sua contribuição a esta tão nobre causa de emancipação humana: o ensino, a cultura, a educação.

No Senado, foi contemporâneo de Josaphat Marinho, ainda hoje nesta Casa, e de tantos Senadores ilustres daquele período tão agitado da vida nacional.

Integrou as Comissões de Assuntos Sociais, Economia, Educação e Cultura, Finanças, Minas e Energia, Transporte e Comunicações, Redação e a antiga Comissão do Distrito Federal, onde deixou a marca da sua atuação nos diversos pareceres e projetos que lá tramitaram. Por algum tempo, no Senado, foi Presidente da Comissão de Obras Públicas.

Nas vezes em que usou a tribuna, deixou, nos Anais do Senado dois importantes pronunciamentos, resultado de meticuloso estudo técnico sobre temas da maior relevância e complexidade na época, que ainda se refletem, nos dias de hoje, entre as prioridades do desenvolvimento nacional: na Sessão de 24 de setembro de 1968, sobre o "Xisto Pirobetuminoso"; e na Sessão de 29 de setembro de 1970, sobre "Siderurgia no Brasil". Dois estudos que podem ser considerados como trabalho de especialista, estudioso competente e dedicado que era destes assuntos.

Casado com D. Maria de Lurdes Silveira Leite, sua dedicada esposa, amiga e companheira, deixa dois filhos; Dr. Eduardo Leite, Procurador Autárquico e o Dr. Alberto Leite, Auditor do Tribunal de Contas do Estado.

Nasci na década em que José Leite era Governador de Sergipe, cresci ouvindo referências elogiosas a seu respeito, ao seu admirável perfil de homem público e cidadão exemplar, e nos últimos anos, durante os dois períodos de Governo de João Alves Filho, tive a honra de compor com ele a mesma equipe de trabalho, quando fui Secretário de Saúde e depois Chefe da Casa Civil, ocasião em que pude comprovar, na convivência diária e no trato funcional, a consistência e a solidez daquela personalidade de caráter tão firme e sobretudo aquela alma cristã tão rica tão humana.

Na condição de médico, e amigo tive a honra de acompanhá-lo e assisti-lo em sua enfermidade.

O SR. Josaphat Marinho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOÃO ALVES - Com prazer ouço V. Exª.

O SR. Josaphat Marinho - Antes que V. Exª termine, nobre Senador, permita-me solidarizar-me com V. Exª e com o Estado de Sergipe pela perda que acaba de experimentar. Fui companheiro, no meu primeiro mandato, nesta Casa, do Senador José Leite. Quero realçar, com V. Exª, as qualidades que o engrandeciam pela simplicidade, pela cordialidade, pela competência com que opinava sobre os assuntos que discutia. Era um homem tranqüilo. A paixão política não o levava, neste Plenário, a erguer a voz além do natural do seu temperamento. Nas suas manifestações políticas, como no exame dos problemas de interesse nacional ou do Estado de Sergipe, era sempre a mesma personalidade serena, mas examinando sempre os problemas com a competência e, sobretudo, com a racionalidade do engenheiro. No momento em que V. Exª assinala a sua morte, quero manifestar solidariedade, com a minha tristeza - que posso dizer também da Bahia - pelo desaparecimento de tão eminente figura do Estado de Sergipe.

O SR. JOSÉ ALVES - Agradeço as palavras de V. Exª, incorporando-as ao nosso discurso.

Fazendo esse pronunciamento, Sr. Presidente e Srs. Senadores, cumpro um dever de consciência, como cidadão sergipano e representante do meu Estado nesta Casa, de registrar nos Anais do Senado este evento, a passagem deste ilustre conterrâneo e grande brasileiro pela vida, e ressaltar os seus feitos, as suas obras e, sobretudo, o que é mais edificante: o seu grande legado, o exemplo de um homem digno e leal, que muito se preparou e se empenhou em servir aos seus semelhantes, em servir à sua região, ao País e à sociedade, o que sempre fez com admirável serenidade, firmeza e coragem.

Nesta oportunidade quero, também, manifestar, de público, aqui no plenário do Senado, junto com esta homenagem póstuma que presto ao ilustre sergipano, o meu sentimento de pesar e saudade à sua esposa D. Maria de Lurdes, seus filhos e seus irmãos, Fernando Sampaio Leite e Drª. Maria Clara Leite, atual Presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe, e demais familiares.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/1996 - Página 2001