Discurso no Senado Federal

REDEFINIÇÃO DO PAPEL FEMININO NO MERCADO DE TRABALHO E NOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE, RESSALTANDO A CONQUISTA PARA AS MULHERES DA INVESTIDURA DA ESCRITORA NELIDA PINON NA PRESIDENCIA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E DA SRA. MADELEINE ALBRIGHT NO DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA.

Autor
Marluce Pinto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Maria Marluce Moreira Pinto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
FEMINISMO.:
  • REDEFINIÇÃO DO PAPEL FEMININO NO MERCADO DE TRABALHO E NOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE, RESSALTANDO A CONQUISTA PARA AS MULHERES DA INVESTIDURA DA ESCRITORA NELIDA PINON NA PRESIDENCIA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E DA SRA. MADELEINE ALBRIGHT NO DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/1996 - Página 20649
Assunto
Outros > FEMINISMO.
Indexação
  • REGISTRO, ESCOLHA, NELIDA PIÑON, ESCRITOR, PRESIDENCIA, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), MADELEINE ALBRIGHT, DIPLOMATA, LIDERANÇA, POLITICA EXTERNA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • ANALISE, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO, MULHER, DECISÃO, POLITICA, REGISTRO, RESULTADO, ELEIÇÕES, BRASIL.

A SRª MARLUCE PINTO (PMDB-RR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo hoje esta tribuna para destacar dois fatos da maior importância para o momento político em que vivemos, onde a mulher ocupa cada vez mais espaços nas decisões que regem os destinos da coletividade.

Trata-se, Sr. Presidente, respectivamente, da escolha, por unanimidade, da escritora Nélida Piñon para a Presidência da Academia Brasileira de Letras e a designação da diplomata Madeleine Albright para ocupar o mais alto posto diplomático dos Estados Unidos.

No caso brasileiro, onde jamais uma mulher ocupara a presidência da Academia, num colegiado onde 90% são homens, essa escolha demonstra, de forma eloqüente, o nível da inferência feminina nas decisões da mais elevada instituição da cultura brasileira.

No caso dos Estados Unidos, pela primeira vez em sua longa história, uma mulher vai liderar a diplomacia norte-americana. Madeleine Albright, que antes já fora embaixadora junto à ONU, foi agora nomeada para o Departamento de Estado, onde terá decisiva participação nos destinos políticos da humanidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, definitivamente, vivenciamos o início de um processo que caminha, irremediavelmente, para seu ápice. A avalanche da efetiva participação feminina nos destinos da raça humana, em todos os níveis, assumiu velocidade impossível de ser controlada.

As mulheres do mundo, onde quer que vivam, seja qual for a língua que falem, e a despeito de todas as diferenças socioeconômicas, culturais e religiosas, têm objetivos, esperanças e preocupações comuns.

Notadamente em nosso País são claros os sinais de que as mulheres adquiriram novos papéis econômicos e políticos.

Vivemos uma redefinição de nossas relações, tanto no interior da família quanto na sociedade.

Os resultados dessa luta se ampliaram até os valores culturais. Questões como o divórcio, o aborto, a independência e tantos outros, até há pouco considerados "tabus" e impróprios à discussão, são hoje naturalmente encarados e debatidos pelas brasileiras.

Não mais amarradas a uma formação cultural ultrapassada de subordinação, as mulheres brasileiras estão investidas em novos papéis na sociedade. Devagar, mas irreversivelmente, estas amaras se soltam. A mulher já representa um dos novos atores políticos, interessadas nas decisões sobre os novos rumos que deverá tomar a sociedade.

Consciente, a mulher abraça novas orientações e realiza novas escolhas, ao mesmo tempo em que mantém valores da antiga ordem social. Em síntese, estamos presentes nos mais diversos setores da sociedade e lutamos por maiores direitos na hierarquia de poder e riqueza, tanto quanto os outros grupos sociais.

Para ilustrar minhas palavras, Sr. Presidente, recordo as eleições recentemente ocorridas em nosso País, onde a presença feminina foi destaque nacional, num universo de, no máximo, 20% das candidaturas postas. Mesmo assim, obteve resultados extraordinários e hoje vemos aumentada nossa representatividade nas prefeituras e vereanças municipais. Se já tínhamos mulheres no exercício dos Poderes Executivos Estaduais e Municipais e Legislativos Federal, Estaduais e Municipais, muito mais agora, a partir de 1º de janeiro de 1997, as teremos à frente destes mesmos Poderes.

Outro fato, Sr. Presidente, é o de que o último censo demográfico brasileiro demonstrou que neste País as mulheres deixaram de ser minoria. Entretanto, esse contingente populacional ainda não se reflete, da maneira como deveria, nas representações e nos cargos decisórios do País. Mas estou certa de que, com a rápida evolução que estamos vivenciando, essa situação não se prolongará. Outras representantes femininas estarão ativamente participando de pleitos futuros e creio que não faltarão, inclusive, candidatas à Presidência da República.

Que o exemplo da Academia Brasileira de Letras, em tão boa hora semeado com a investidura da escritora Nélida Piñon na Presidência daquela Casa, possa projetar-se em outras instituições nacionais, a começar pelo próprio Congresso Nacional, onde nunca tivemos uma mulher na Presidência nem da Câmara nem do Senado.

Quero deixar aqui registrado o agradecimento das Senadoras desta Casa, que temos tido toda a consideração por parte dos Colegas em nossos pleitos. Não queremos que haja diferença entre trabalho feminino e masculino; muito ao contrário, queremos marchar juntas com os nossos Colegas, para que possamos contribuir não só em relação à parte política do País, mas, principalmente, em relação à parte social.

Mesmo que significativas as conquistas até agora verificadas nos campos social, econômico, político e cultural, ainda representam pouco diante do muito que a mulher pode contribuir em prol da humanidade. Afinal, já vivemos o tempo em que homens e mulheres, independente de vontades individuais, têm deveres e responsabilidades iguais no desenvolver das ações que transformam o mundo.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/1996 - Página 20649