Discurso no Senado Federal

ELEIÇÕES DAS MESAS DIRETORAS DO SENADO FEDERAL E DA CAMARA DOS DEPUTADOS.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • ELEIÇÕES DAS MESAS DIRETORAS DO SENADO FEDERAL E DA CAMARA DOS DEPUTADOS.
Aparteantes
Gilberto Miranda, Humberto Lucena, José Eduardo Dutra.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/1996 - Página 20863
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, PROCESSO, ELEIÇÃO, MESA DIRETORA, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • COMENTARIO, TRADIÇÃO, INDICAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, PARTIDO POLITICO, MAIORIA, INICIO, LEGISLATURA, CRITICA, CANDIDATURA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, INEXATIDÃO, APOIO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, CANDIDATURA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR.
  • REGISTRO, DECISÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LANÇAMENTO, IRIS REZENDE, SENADOR, CANDIDATURA, PRESIDENCIA, SENADO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONVITE, IRIS REZENDE, SENADOR, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO, INTERFERENCIA, PROCESSO ELEITORAL, PRESIDENCIA, SENADO.
  • DEFESA, INDEPENDENCIA, SENADO, TRADIÇÃO, ETICA, POLITICA PARTIDARIA, CRITICA, EXCESSO, FALTA, FIDELIDADE PARTIDARIA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, logo haverá a eleição para a Presidência da Câmara e do Senado. É um processo tradicional, quando escolhemos quem haverá de dirigir os trabalhos das duas Casas Legislativas: as Mesas do Senado e da Câmara.

Vejo aqui muitos Senadores que foram Deputados, como, por exemplo, o Senador Lucena, que sabem, portanto, que na Câmara sempre foi muito polêmica a escolha do Presidente. São mais de 500 Deputados, vários Partidos e a eleição sempre foi algo que praticamente se decidiu na última hora. No Senado, não. Aqui, a tradição é de que a eleição do Presidente seja absolutamente tranqüila e serena. Por quê? Primeiro, é claro, porque no Senado são 81 Senadores, portanto um número bem menor; segundo, porque, pelo menos em tese - hoje vemos Senadores jovens que, inclusive, não passaram pela Câmara -, o Senado é um local de pessoas que já tiveram experiência, foram ministros, deputados federais várias vezes, governadores, enfim, têm a experiência necessária para buscar o entendimento.

Como tem sido a eleição do Presidente do Senado? Muito singela. O Regimento da Casa determina que o maior Partido indique o Presidente e, posteriormente, as bancadas seguintes escolhem os demais cargos. O Presidente hoje é do PMDB, Senador José Sarney; a segunda bancada, o PFL, tem a Secretaria-Geral, considerado o segundo cargo; o PSDB, a terceira bancada, tem a Primeira Vice-Presidência, considerado o terceiro cargo. Há quase 16 anos estou na Casa e sempre foi assim; mesmo antes e durante a ditadura sempre foi assim, a não ser uma ou outra vez. E este ano se presume que assim seja.

Sr. Presidente, está havendo um tumulto, já tradicional, na Câmara dos Deputados. Há dois anos, a presidência daquela Casa cabia ao PMDB. Ninguém sabe por que, mas, lá pelas tantas, o Presidente do PMDB, Luiz Henrique, e o Líder da Bancada fizeram um acordo com o Presidente do PFL - hoje Presidente licenciado e Embaixador em Portugal, Jorge Bornhausen - nos seguintes termos:

      "Nós, abaixo-assinados, temos um acordo em que este ano a Presidência vai caber ao PFL, e nos comprometemos que a próxima legislatura vai caber ao PMDB."

Este documento existe, está assinado e a imprensa o tem publicado.

Então, o fato novo em relação as eleições anteriores na Câmara dos Deputados é que existe um documento entre as duas figuras mais importantes - o Líder do PFL e, hoje, Presidente da Câmara, e o Presidente do PFL, hoje Presidente licenciado, Embaixador em Portugal - no sentido de que a Presidência seria deles e, em 1997, seria do PMDB. O PMDB cumpriu a sua parte: o Deputado Luís Eduardo Magalhães foi eleito Presidente da Câmara. Agora, espera-se que o PFL cumpra a sua parte. O Líder do PFL, Deputado Inocêncio Oliveira, uma pessoa da maior competência e por quem tenho muito carinho, dizia o seguinte: "Mas não dá, porque o PMDB não diz quem é o candidato. A bancada diz que escolherá o Sr. Michel Temer. O Sr. Paes de Andrade, que é Presidente do Partido, diz que vai disputar no plenário. Bom, se o PMDB não apresenta o seu candidato, nós, do PFL, não podemos saber quem é o candidato do PMDB. Logo, estamos liberados". No que, diga-se de passagem, o PFL e o Deputado Inocêncio Oliveira estavam certos. Mas eram conjecturas feitas seis meses atrás. A eleição será em fevereiro.

Mas já se vai quase um mês que o Sr. Paes de Andrade, que é Presidente do Partido, com muita responsabilidade e com muita importância, entendeu sua posição: "Retiro a minha candidatura e apóio o candidato do Partido". E a bancada, praticamente por unanimidade, ligou-se ao Sr. Michel Temer. Logo, Michel Temer é o candidato do Partido. Se vai ganhar ou perder, não sabemos. Portanto, o Partido têm em mãos um documento, assinado por Luís Eduardo Magalhães e pelo Presidente do PFL, no sentido de que irão votar nesse candidato. Agora, se vão cumprir ou não esse acordo, eu não sei. Tal documento tem credibilidade? Para mim, tem. Conheço o Sr. Luís Eduardo, um homem de bem, digno, tenho dele as melhores credenciais, sou amigo pessoal do ex-Senador e ex-Ministro Bornhausen, por quem tenho o maior carinho, o maior respeito e penso que cumprem o que dizem. Mas se vão ou não fazê-lo, esse é um problema deles. Aqui termina a Câmara dos Deputados e entra o Senado.

Alguém pretender dizer que a nossa eleição tem alguma relação com a da Câmara é piada. Durante muitos anos, a Arena elegeu o Presidente da Câmara e do Senado, e muitas vezes o PMDB também o fez - o Ibsen e o Mauro Benevides, o Dr. Ulysses e o Lucena. Os dois eram do PMDB, um Presidente da Câmara e outro do Senado. O problema é nosso, do Senado. Nós vamos decidir.

O PMDB reuniu-se e debateu essa matéria, chegando a uma conclusão. Diz o Senador Lucena: "Primeiramente, a tradição diz que é a maior bancada; em segundo lugar, o Regimento da Casa diz que é a maior bancada; e, finalmente, o Regimento diz que é a maior Bancada no início da Legislatura, não no dia da eleição. Já não quero nem falar no início da Legislatura, mas no dia de hoje. Estou aqui na tribuna com a Ordem do Dia de 17 de dezembro, e aqui está: o PMDB tem 23 Senadores e o PFL tem 22. Hoje! Não estou falando do início da Legislatura, em fevereiro. Hoje, o PMDB é a maior Bancada!

Imaginar que, do dia de hoje até a eleição, um senador vai ser aliciado para sair do PMDB e entrar no PFL para dar maioria ao PFL é não acreditar na dignidade e seriedade do senador e de quem vai fazer isso.

Hoje o PMDB é a maior Bancada, com 23 Senadores. Repito, pelo Regimento é a maior Bancada no início da Legislatura. Era o PMDB e é ainda.

Temos o nosso candidato, que é o Senador Iris Rezende.

Tínhamos dois candidatos, dois grandes nomes, o Iris e o Jader, que, num gesto muito bonito e espontâneo, na reunião da Bancada, disse que achava que o assunto viria para disputa no plenário: "Se o nosso direito fosse respeitado, como sempre aconteceu e o nosso candidato tivesse o apoiamento que sempre teve, até concordaria discutir ser o candidato, mas se vai ao plenário para disputa, então, como vou coordenar essa disputa sendo o Líder da Bancada? Não fica bem coordenar o meu próprio nome, é melhor apoiarmos um candidato da seriedade do Iris e assumir a responsabilidade de coordenar essa candidatura."

O PMDB já tem seu candidato, que se chama Iris Rezende. Desnecessário falar da personalidade de Iris Rezende: foi Vereador, Presidente da Câmara de Vereadores, Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa, Governador, Ministro da Agricultura, Governador, Senador e, por dois anos, Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. É o que chamamos de conciliador, o homem do entendimento, o homem do diálogo, o homem que respeita desde o mais importante até o mais simples. Todos sabem que este é o Iris, este é o estilo do Iris. O Iris Rezende tem um sorriso para todos: "Como vai, companheiro? Você vai bem?" Ouve, ajuda - é o estilo dele.

Tanto em sua casa como na sua cidade, ele é assim com o motorista, com a empregada, com a cozinheira. Ele é o estilo da afabilidade, da gentileza. É o homem do diálogo e do entendimento. É difícil encontrar alguém como Iris para ser o homem com que todos nós fiquemos satisfeitos.

Eu não quero nada do Presidente do Senado. Não tenho nada a ver com o Presidente do Senado. Quero apenas que ele cumpra o seu dever e eu cumprirei os meus. Gostaria de ter na Presidência do Senado um homem agradável, simpático, que tratasse todos igualmente e que ninguém precise agradá-lo para obter vantagem ou respeito. E esse é o Iris Rezende. É o nosso candidato.

O Sr. José Eduardo Dutra - Permite V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não. Ouço o aparte de V. Exª, nobre Senador.

O Sr. José Eduardo Dutra - Nobre Senador Pedro Simon, ouço seu pronunciamento com a maior atenção. V. Exª aborda a possibilidade da dança das cadeiras entre parlamentares e isso se dá porque nós, políticos, ainda não nos dispusemos a acabar com isso. No momento em que se fala no aperfeiçoamento da legislação partidária e eleitoral, discute-se apenas uma coisa: a reeleição. É uma emenda que tem nome, endereço, CPF e tipo sangüíneo. E talvez devêssemos estar mais preocupados com outros pontos do aperfeiçoamento da legislação partidária, em que a reeleição possa até estar incluída, mas também questões como a fidelidade partidária, a impossibilidade de parlamentares mudarem partido como mudam de camisa, que deveriam merecer que os Srs. Senadores, os Srs. Parlamentares se debruçassem com mais tempo e mais disposição. Em segundo lugar, a interferência do Presidente da República na eleição do Senado, que espero não aconteça, mas, sinceramente, duvido muito que não aconteça. Muito provavelmente o Presidente da República vai querer se meter aqui nesta eleição. Em relação aos candidatos, penso que essa eleição não deve ser decidida apenas em função da simpatia que tenhamos sobre um ou outro candidato. Os nomes estão na imprensa, mas espero, antes que a eleição aconteça, ouvir as propostas dos candidatos sobre o que pretendem fazer na Presidência do Senado. Será que o Senado vai continuar sendo apenas o cartório em que temos vivido durante esse período? O Senado vai continuar aceitando que projetos importantes fiquem treze, quatorze, quinze meses, dois anos, na Câmara dos Deputados e, de repente, cheguem aqui para serem votados em regime de urgência? Gostaria de ouvir isso dos candidatos a Presidente, até para que possamos orientar o nosso voto. E em pelo menos um ponto o Senado não pode retroceder, a atual prática implantada pelo Presidente José Sarney: chegamos aqui no primeiro dia do mês e já sabemos o que na pauta até o dia 31. Uma prática que considero absolutamente saudável e que entendo não pode ser alterada. Independente do candidato que venha a ser o vencedor, tem que se cumprir o Regimento em relação às matérias que chegam à Mesa e que estão em condições de serem votadas. Se depois os líderes não querem votar, se o Plenário adia, é uma outra história. Mas entendemos que, neste aspecto, não pode haver retrocesso. Não podemos viver numa situação em que vivem hoje os deputados, que chegam na terça-feira; não sabem o que vai ser votado na quarta-feira. Há vários requerimentos de urgência, com as assinaturas regimentais e entregues à Mesa da Câmara para serem votados, mas que ainda não foram colocados em votação. Então, esse é um patamar mínimo que o próximo Presidente do Senado tem que respeitar. É daí para melhor; não podemos retroceder em relação a esse aspecto. Insisto que quero ouvir os projetos e propostas dos dois candidatos. V. Exª, no início da atual Legislatura, se apresentou como anticandidato e ofereceu uma plataforma efetivamente de anticandidato. Agora temos dois candidatos; queremos conhecer a plataforma dos dois, até para orientar a votação. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V. Exª. É claro que ficamos surpreendidos quando, de repente, não mais que de repente, o Senhor Presidente da República convidou o Senador Iris Rezende para ser ministro. Claro que o Sr. Iris Rezende tem todas as credenciais para ser ministro: tem competência e gabarito. Acontece que o projeto do Sr. Iris Rezende, a convite de muitas pessoas de vários Partidos, é ser candidato à Presidência do Senado. Com a elegância que o caracteriza, o Senador agradeceu ao Senhor Presidente e disse: "Estou muito honrado com o convite, mas sou candidato à Presidência do Senado."

A Imprensa interpreta isso como uma forma de interferência do Presidente da República no processo sucessório do Senado. Eu não chegaria a tanto. Eu diria que o convite foi feito; o Presidente precisa de um ministro e está escolhendo os melhores - não há como deixar de reconhecer que o Senador Iris Rezende é um dos melhores candidatos ao cargo.

A Imprensa publica que o Sr. Antonio Carlos teria o apoio do Presidente José Sarney. Isso causou grande mal-estar na Bancada do PMDB. Na reunião da Bancada, eu disse: "A imprensa está noticiando que o Sr. Antonio Carlos já tem o voto do Presidente José Sarney." Numa atitude brava, enérgica, o Presidente José Sarney respondeu: "Sou muito amigo do Senador Antonio Carlos; é uma amizade que vem de longo tempo. Mas nunca faltei ao meu Partido. O candidato do meu Partido é o meu candidato." Tanto que S. Exª fez questão de dar a olhada final e ser a primeira assinatura da Bancada do PMDB. Com a sua assinatura, achávamos que essa questão estaria encerrada. A nossa nota diz: "É da tradição que a maior Bancada dá o Presidente, de acordo com o artigo tal do Regimento Interno."

Se, daqui a pouco, um Senador sai de um partido e vai para outro para discutir esse assunto, haverá um debate pesado; e será cruel para as Câmaras de Vereadores e para as Assembléias Legislativas, ainda mais agora que esse canal de televisão está com tanta audiência. Não sei se V. Exªs repararam, mas é impressionante o número de pessoas no Brasil que assistem a esse canalzinho de televisão!

Podem falar que, na terça-feira, eu disse que, no PMDB, há 23 membros. Não é mais: agora são 21 membros, porque dois saíram. Vejam o exemplo que estamos dando. Como vai ser a primeira eleição das cinco mil novas Câmaras de Vereadores que vão assumir pela primeira vez e eleger o primeiro presidente da Legislatura, se o Senado dá esse exemplo? Pelo amor de Deus, é o mesmo que um pai dizer para o seu gurizinho de 15 anos: "Vem cá, vou te ensinar como é bom beber cachaça". É o mesmo exemplo que estaríamos dando.

Por isso, lançamos a nota, lembrando que a tradição e o Regimento Interno dizem que o Presidente é o da maior Bancada no início da Legislatura. Repito: hoje a maior Bancada é do PMDB. Se amanhã não for mais, não importa, porque no início da Legislatura já era. O Senador Humberto Lucena fez questão de dizer que essa nota deveria ser entregue ao Presidente da República, com muita educação, com muita elegância; mas Sua Excelência, como ex-Senador, deveria tomar conhecimento da nota do PMDB.

O Senador José Sarney fez questão de ser o primeiro a assiná-la. Justiça seja feita: de lá para cá, a Imprensa não tem mais tocado no nome do Sr. José Sarney. S. Exª é eleitor tranqüilo do Sr. Iris Rezende - esse aspecto está claro.

Está em discussão agora a questão do Presidente da República, Senhor Fernando Henrique Cardoso. Acho que é um direito - é bonito até - o Presidente da Câmara dizer para o Presidente da República: "O meu projeto prioritário é eleger meu pai Presidente do Senado". Temos que entender isso como um gesto familiar. É um gesto bonito de dois grandes líderes. Quem de nós não gostaria de ser Presidente do Senado e ter um filho Presidente da Câmara? Com os Andrada foi assim: um veio depois do outro. Mas juntos, na mesma hora e no mesmo momento, é um gesto digno de admiração. O rapaz, diga-se de passagem, é muito competente, tenho por ele o maior respeito. Se ele diz ao Presidente da República que o seu projeto hoje é eleger seu pai Presidente do Senado, quando o Presidente o convidava para ser ministro, esse é um problema dele, e eu respeito. Cheguei a brincar com ele, dizendo: "Sempre vi pai ter projeto para filho, mas filho ter projeto para pai é a primeira vez. Meus cumprimentos." O normal é o contrário. Cansamos de ver pai que tem nome e prestígio ter um projeto para o filho e encaminhá-lo nessa direção, mas não o inverso. Um filho dizer "o meu projeto é o meu pai" é um gesto bonito, diferente, inédito, e eu respeito.

O Senhor Presidente da República que pare para pensar. A Imprensa publicou que o Sr. Antonio Carlos acompanhou o Presidente da República a Tocantins e teria solicitado de Sua Excelência uma nota de simpatia à sua candidatura; S. Exª teria dito que o PFL foi um dos primeiros a dar apoio à candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. A meu ver, está-se criando uma situação de constrangimento para o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Quero dizer a Sua Excelência, em primeiro lugar, que o Sr. Iris Rezende é candidato à Presidência do Senado; S. Exª vai disputar. Não tem Presidente, não tem Ministro, não tem cargo, não tem Deputado, não tem ninguém que vai mudar isso; o seu nome está posto. Esperamos que o PFL indique o 1º Secretário na nossa chapa, como é tradicional; esperamos que o PSDB indique a Vice-Presidência; esperamos que os outros Partidos façam a composição dos outros cargos.

Mas nós vamos até o final, para ganhar ou para perder, não importa. Perder faz parte. É melhor perder com honra do que ganhar sem honra. Agora, se houver intromissão do Presidente da República ou dos srs. ministros "sérgios da vida", pode haver conseqüências. Não estamos pedindo nada: não estamos pedindo um voto do Senhor Presidente e nem a sua simpatia. Poderíamos dizer a Sua Excelência: "Sr. Presidente, V. Exª foi Senador por 12 anos; queremos que Vossa Excelência ajude a cumprir o Regimento que Vossa Excelência cumpriu. Vossa Excelência conhece bem os procedimentos da Casa, sabe o que é o Senado Federal. Portanto, pedimos a Vossa Excelência, Senhor Presidente, que nos ajude a cumprir o Regimento."

Seria normal fazer isso, mas daí a haver interferência do Presidente para dificultar a candidatura do Senador Iris Rezende ou para facilitar quem quer que seja, isso não é bom. Não é bom, porque os dois Partidos, o PMDB e o PFL, compõem a base parlamentar do Governo. É um assunto da mais absoluta economia interna do Senado Federal. O Presidente tem que passar longe; tem que dar sinais e mais sinais da sua independência.

A Imprensa disse que o Ministro Sérgio já estaria se movimentando no sentido de tentar convencer o PMDB a retirar a candidatura. O PMDB não retira a candidatura. Ou que o Ministro Sérgio estaria reunindo os Parlamentares do PSDB, a quem caberia a decisão final pelos votos que detêm. Não acredito que o Ministro Sérgio vai querer fazer uma atividade desta natureza: intervir na Bancada do PSDB para que esta tome uma decisão nesse sentido. Fernando Henrique Cardoso é Presidente da República, tem uma ampla base parlamentar e deve fazer tudo para apoiá-la. Basta o que aconteceu, ou seja, o vazamento das contas no Banco do Brasil dos membros da Executiva do PPB. Esse fato, até agora - perdoem-me -, está muito mal explicado.

Hoje, a Veja deixa o Governo numa situação muito delicada, principalmente porque são dois Ministros que se acusam um ao outro. Não é o Líder do PT ou de outro partido: é um Ministro que diz que o outro é responsável por mandar fazer as investigações. Isso é muito sério.

Meus amigos, falam da reeleição nos Estados Unidos, mas lá nunca se viu um fato como este: mexer com a honra, com a dignidade, com a vida, buscando apetrechos do cidadão. Na véspera da reunião da Executiva do PPB, aparecem os nove como devedores do Banco do Brasil. E agora demitem o Secretário?! O que ele tem a ver com isso? A situação está ficando delicada.

O Brasil é testemunha, assim como o Senado, de que o Presidente da República fez esforços. O Brasil e o Senado Federal são testemunhas disso. Ninguém tem dúvida: se dependesse de Sua Excelência, só haveria um candidato à Presidência do Senado Federal. É claro que a situação atual não é boa para Sua Excelência; não por causa do nosso candidato, mas principalmente pelo Sr. Antonio Carlos, que possui um temperamento complicado. O melhor para Sua Excelência é que houvesse somente um candidato. Não há? Então, que se respeite a decisão desta Casa, sem intervenção.

Já está na hora de o Presidente da República se pronunciar, porque a Imprensa vem repetindo as notícias. Hoje, a Folha de S. Paulo publicou uma série de notícias com relação a Ministros que estariam intervindo no Senado Federal, cobrando dos Deputados do PMDB para que venham falar com o Senado. O Presidente da Câmara dos Deputados vai realizar a eleição para a Presidência dessa Casa depois que fizermos a eleição para a Presidência do Senado Federal. O resultado daqui altera o de lá. É uma situação muito delicada e constrangedora.

Se o Sr. Antonio Carlos é o primeiro amigo do Presidente; se foi S. Exª o primeiro que se apresentou como o grande eleitor do Presidente; e se S. Exª é o grande coordenador da reeleição, o ideal é que S. Exª não crie esse tipo de problema para o Presidente da República. O gesto tinha que ser de Sua Excelência. Há uma coisa interessante: até agora o PFL não se pronunciou. O Sr. Antonio Carlos, até este momento em que estou na Tribuna, é candidato do Sr. Antonio Carlos, porque não houve uma reunião da Bancada do PFL definindo quem é candidato do Partido. Nós do PMDB já realizamos dez reuniões para discutir a questão da Presidência. Até o presente momento, não tomei conhecimento de que tenha havido reunião da Bancada do PFL para decidir o seu candidato.

A verdade é que o normal, o grande gesto seria o Sr. Antonio Carlos declarar: "Eu gostaria de presidir o Senado, pretendo presidir o Senado, eu vou presidir o Senado, mas tenho tempo para esperar." Essa não é a vez. Há um plano importante; estamos no esquema da reeleição do Presidente da República; vem a emenda da reeleição, e isso precisa passar. Será que o Sr. Antonio Carlos, na Presidência do Senado, agirá diferente do Sr. Iris Rezende na Presidência no encaminhamento da emenda da reeleição? Não creio. Nem o Sr. Antonio Carlos poderá coagir, pois terá que agir com isenção, nem o Sr. Iris Rezende deixará de fazer o esforço que puder fazer, dentro das suas teses, pela emenda da reeleição.

Querer dizer que o destino da emenda da reeleição está sendo travado agora e que, se ganhar, o Senador Antonio Carlos garantirá a reeleição; e que, se o Senador Iris Rezende ganhar, a emenda cairá, isso não é verdade.

Portanto, Sr. Presidente, o Presidente Fernando Henrique tem diante de si a responsabilidade de autoridade maior, autoridade que tem que ser respeitada por nós. Tenho o maior respeito por Sua Excelência, até porque já assistimos, no passado, a tanto desgaste de Presidentes, com conseqüências tão ruins para a democracia, que temos que ficar felizes em ver um Presidente com força, prestígio e credibilidade, pois isso fortalece a democracia.

Jamais passa pela nossa cabeça, nós do PMDB, criar qualquer dificuldade, problema ou drama de consciência ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua Excelência conta com o nosso apoio, a nossa presença e solidariedade.

De repente, não mais que de repente, parece que a tradição, o Regimento, a história deixaram de ser eles mesmos e se quer alterá-los. Ficaria muito mal para o PMDB se aceitasse isso! Perdoem-me os meus Companheiros de outros Partidos: ficará muito mal para o Senado se isso acontecer! Se, de repente, não mais que de repente, por mais ilustre, brilhante e simpático e por mais poder de convencimento que possa ter um Senador desta Casa, será difícil vê-lo entrar, sentar-se e alterar a composição das coisas; o que era deixa de ser. Sr. Presidente, isso não fica bem!

Faço um apelo ao Presidente Fernando Henrique Cardoso: o PMDB tem um candidato, o Senador Iris Rezende, que, certamente, irá até o fim disputando voto por voto. Queremos a independência do Poder Legislativo e o Presidente respeitando e não admitindo que, nem o seu nome, nem o nome do Banco do Brasil, nem o nome de Ministro, nem de quem quer que seja tenha qualquer tipo de intromissão neste plenário ou nos gabinetes dos Srs. Senadores. Isso é muito importante, é tremendamente importante. Creio que o Presidente da República haverá de compreender a importância disso.

Eu poderia entrar em mais detalhes e dizer que respeito muito o Senador Antonio Carlos Magalhães, por demonstrar um grande espírito lutador nas suas opiniões, nas suas defesas, nos seus interesses partidários. É verdade que ele tem credibilidade e prestígio na Bahia. É um estilo que admito que respeito, mas penso que o Sr. Antonio Carlos Magalhães poderia ficar um pouco mais no Senado Federal, adaptar-se mais ao convívio no Senado, para, então, aguardar a Presidência desta Casa. Incidentes como o ocorrido com o Senador Ney Suassuna, com o Senador Humberto Lucena, com o nobre Líder do PSB são pertinentes de pessoas que estão acostumadas a viver no local, porque é muito difícil... Claro que a pessoa se adapta logo, mas, quando se é o cacique aqui, para ir a uma reunião onde só há caciques, é necessário um pouquinho de adaptação. Entendo que o Sr. Antonio Carlos Magalhães é um Líder de competência e tenho por ele o maior respeito, mas, até no interesse dele, penso que deveria respeitar a candidatura do Senador Iris Rezende, pois S. Exª tem direito a essa oportunidade.

O Sr. Gilberto Miranda - Senador Pedro Simon, V. Exª me concede um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço V. Exª com prazer, Senador Gilberto Miranda.

O Sr. Gilberto Miranda - Senador Pedro Simon, anteriormente, quando V. Exª subiu à tribuna desta Casa para falar sobre reeleição, ou eleição da Mesa do Senado Federal, eu estava ausente. Lamentavelmente, naquela oportunidade, V. Exª fez declarações levianas a meu respeito, e, por isso, penso que é muito bom estar aqui presente hoje. Tive a tranqüilidade de ligar para o Governador do meu Estado e informar-me se alguma vez havia conversado com V. Exª a respeito da afirmativa de V. Exª, ou seja, de haver eu ajudado financeiramente o atual Governador na eleição para Prefeito de Manaus e que, para isso, S. Exª teria deixado o Senado Federal por um período de seis anos. O Governador disse-me que nunca manteve conversa com V. Exª, entretanto, se V. Exª quiser conversar com ele terá oportunidade de fazê-lo, pois ele está chegando hoje a Brasília. Quando V. Exª fez essas afirmações, eu estava em Nova Iorque, prestigiando um sócio meu, que tinha sido escolhido o "Homem do Ano". Desejo dizer também que a carapuça não me serve. V. Exª faz três afirmações, sendo que uma é verdadeira e duas não são. V. Exª diz que o Regimento da Casa estabelece que a maior Bancada elege o Presidente, e isto não está no Regimento. V. Exª afirma que a maior Bancada, no início da Legislatura, escolhe o Presidente. O Regimento Interno, no seu art. 60, simplesmente dispõe:

      "Art. 60 - A eleição dos Membros da Mesa será feita em escrutínio secreto e a maioria de votos, presentes a maioria da composição do Senado, assegurada, tanto quanto possível, a participação proporcional das representações partidárias ou dos blocos parlamentares com atuação no Senado."

Os art.s 59 e 60 do Regimento Interno, que tratam da eleição, não dizem que a maior Bancada elege o Presidente do Senado. Mas V. Exª tem razão quando diz que é uma tradição escolher como Presidente da Casa um representante do maior Partido. A primeira vez que vim ao Senado, por poucos meses, como Suplente do ex-Senador Carlos Alberto De'Carli, ajudei a votar em Mauro Benevides, representante da maior Bancada, eleito Presidente desta Casa. E foi a maior Bancada, mas por voto secreto, como V. Exª sabe. Considero o companheiro Iris Rezende um homem competente, de um convívio excepcional. Trata-se de um vencedor, de pessoa por quem tenho profunda admiração. Os outros 80 Senadores desta Casa merecem de mim absoluto respeito. O comportamento de cada um é individual. Somos o que somos, mais alegres, mais tristes ou mais agressivos. Se a fidelidade partidária tivesse sido aprovada, talvez parte do discurso de V. Exª estaria fora do script, mas, lamentavelmente, isso não ocorre. Não temos a fidelidade partidária; então, há Senadores que se filiaram a partidos desde o início desta Legislatura, enquanto outros saíram do partido. Quando aqui cheguei, vindo já do PMDB, do qual faço parte há catorze anos, tínhamos 27 Senadores; hoje estamos com 23 Senadores. V. Exª percebe que, só neste ano, muitos Senadores entraram e saíram do Partido. Penso que isso faz parte da democracia e por não haver sido instituída ainda a fidelidade partidária. Então, só para lembrar a esta Casa os dois pontos que V. Exª expõe, um deles falado ao meu respeito quando eu estava fora. Lamento que V. Exª o tenha feito, pois temos um convívio muito bom, eu com V. Exª e com sua família. Dessa forma, não caberia naquele momento tal afirmação, que V. Exª poderia ter feito quando eu estivesse presente nesta Casa. Agradeço o aparte de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Primeiro, agradeço o aparte do companheiro do PMDB, Gilberto Miranda, que está aqui integrando a nossa Bancada, os nossos 23 Senadores. V. Exª poderia ter abordado um outro ponto, pelo qual peço desculpas, o fato de que a imprensa afirmou, insistiu que V. Exª tinha saído do PMDB e que estava no PFL. Em relação a esse fato, falei desta tribuna também e peço desculpas a V. Exª.

A imprensa comete injustiças. Ela tem que ser um pouco mais comedida. Julgo que a imprensa não poderia inventar essas histórias todas. Não, o Senador Gilberto Miranda integra os quadros do PMDB. E eu, naquela ocasião - estou pedindo desculpas, embora V. Exª não tenha falado sobre isso -, afirmei que V. Exª tinha saído, o que fiquei sabendo pelas manchetes dos jornais, o que não era verdade.

Solicito ao Senador Jader Barbalho, pois trata-se de sua responsabilidade como Líder da nossa Bancada, que dê alguma explicação, uma vez que toda a Bancada assinou uma nota - a primeira assinatura é do Presidente José Sarney e a segunda do Senador Jader Barbalho - onde expúnhamos que, segundo a tradição, o Presidente deveria pertencer ao maior Partido e que, de acordo com o Regimento Interno, o Presidente seria um Senador filiado ao maior Partido no início da Legislatura.

Até esse momento, não tinha visto nenhum Senador, jornalista ou comentarista, ninguém, contestar a nota do PMDB. Agora, nosso companheiro Gilberto Miranda faz uma contestação e levanta uma dúvida sobre o assunto. Não serei eu nem o Senador Gilberto Miranda que devemos dar explicações, mas cabe ao Senador Jader Barbalho responder a interrogação que ficou.

O Senador Gilberto Miranda reconhece que se trata de tradição, mas não de Regimento. Pelo que debatemos na reunião e pela nota que assinamos, estamos dizendo que, pelo Regimento, o Presidente eleito seria o da maior Bancada no início da Legislatura - e somos hoje a maior Bancada.

Quando falo algo, faço-o de coração, e quis dizer que V. Exª, como Vice-Líder e como Suplente, colaborou na eleição do prefeito e ficou no lugar dele. Não vejo ofensa alguma. Aconteceu isso com muitas pessoas que estão aqui. Mas, se V. Exª se sentiu magoado, digo, com toda sinceridade, que não foi minha intenção e peço desculpas a V. Exª.

O Sr. Gilberto Miranda - Não me senti magoado em nenhum momento, Senador. A única coisa que não é verdade é que - V. Exª sabe - hoje, para se contribuir numa campanha temos de comprar bônus. E mesmo que quisesse fazer uma doação pessoal, não aceito o sorriso irônico de V. Exª. Quero dizer a V. Exª que não contribuí com absolutamente nada na campanha do ex-Senador Amazonino Mendes.

PEDRO SIMON - V. Exª está sendo cruel.

O Sr. Gilberto Miranda - Quero dizer mais a V. Exª: nosso Partido, naquele momento, tinha um candidato, o José Dutra. Esse, eu apoiei e trabalhei por ele.

O SR. PEDRO SIMON - Na convenção?

O Sr. Gilberto Miranda - Na convenção e fora da convenção. Não tinha nenhum interesse, naquele momento, em passar seis anos no Senado, o que muito me engrandece.

O SR. PEDRO SIMON - Não sabia e peço desculpas a V. Exª. Não houve intenção.

Volto a dizer: vamos ter uma eleição aqui. Meu nobre Líder do PT, concordo com V. Exª - também gostaria de saber como vê o Dr. Iris Rezende: acho que essa questão da pauta foi uma conquista. É o mínimo a ser feito. Defendo muito mais, que tenhamos, uma vez por mês, uma reunião administrativa dos 81 Senadores para discutirmos todas as questões. Tínhamos que ter o direito de discutir se vai colocar granito no corredor, atrás da biblioteca; discutir sobre reformas e alterações as mais profundas; penso que deveríamos ter o direito de discutir sobre o número de pessoas que vão a Moscou ou a qualquer outro lugar. Deveríamos ter uma sessão ordinária dos 81 Senadores, uma vez por mês, para discutir problemas internos. Temos condições de fazê-lo. Perdoe-me, nobre Líder do PT, discordo de V. Exª, isso podemos buscar dos dois candidatos.

Mas V. Exª deixou uma interrogação no ar, já que os dois candidatos terão a oportunidade de expressar seus pontos de vista. Conforme o que falarem, V. Exª apóia um ou outro. Pensei que tínhamos uma liminar e que V. Exª concordasse com ela. Perdoe-me a sinceridade, mas sou de dizer o que penso. Vou fazer apenas um alerta: pelo discurso de V. Exª hoje, se for assim, até fevereiro ou março, V. Exª estará votando no Senador Antonio Carlos Magalhães. Porque se ele resolver abordá-lo como o "Toninho Ternura", não pense V. Exª que, com esse seu tipo, vai resistir. Não resiste. O voto de V. Exª já está conquistado. Por isso é bom esclarecer. Pelo aparte de V. Exª, o Senador Antonio Carlos Magalhães vai começar a agir, o "Toninho Ternura" está agindo. E levanto uma preliminar: antes de saber quais são os propósitos, é necessário saber qual a origem da candidatura.

O Sr. José Eduardo Dutra - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço-o com o maior prazer.

O Sr. José Eduardo Dutra - Senador Pedro Simon, V. Exª está querendo, a meu ver, que eu faça uma declaração de voto nesse momento, mas não vou fazê-lo. O que cobrei, o que quero ver são os projetos dos dois Senadores. Todavia, todos sabemos que, em campanha eleitoral, muitas vezes promete-se aquilo que não se tem a mínima intenção de cumprir; promete-se aquilo que não tem nenhum vinculação com o próprio passado de candidatos. Estamos cansados de ver isso não só em eleições internas, mas também em eleições externas. Não tenha dúvida de que não vamos orientar o nosso voto apenas pelo discurso que os candidatos venham a fazer, pelos compromissos que eles porventura venham a assumir, porque estamos num processo eleitoral e sabemos muito bem o quão fácil é assumir compromissos em processo eleitoral. Mas isso não nos impede de ouvir os projetos dos dois candidatos porque até agora estamos vendo os nomes na imprensa, nas conversas e nos pronunciamentos, mas não ouvimos ainda a plataforma dos dois Senadores. Entretanto, saiba V. Exª que a escolha do nosso candidato não vai, de maneira alguma, apenas se orientar pelo discurso que um ou outro fizer da tribuna desta Casa. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON - Sabia que esse era o pensamento de V. Exª. Só fiz a provocação para ouvir V. Exª, porque, se ficasse só na primeira parte, até ficaria com pena de V. Exª, pelo assédio que V. Exª teve. Agora ficou mais claro, ficou mais esclarecido.

Não tenho nenhuma mobilização de ordem pessoal. Quero dizer a V. Exªs que tenho o maior respeito pelo Senador Antonio Carlos Magalhães. Gosto do estilo de combate, de debate, de ação que S. Exª tem. Mas penso que na vida temos que ter princípios. A classe política brasileira já está tão esvaziada, tão espezinhada, são tão poucas as tradições que temos, são tão mínimas as referências, que não podemos nos dar o direito de, de repente, esquecermo-nos de uma delas.

Há uma tradição no Senado da República segundo a qual o maior Partido indica o candidato. Era assim, faz-se assim. O Sr. Antonio Carlos Magalhães é um grande Líder, uma grande liderança? É. S. Exª movimenta, agita, sacode. É um grande nome? É, mas não é maior do que a tradição, não é maior do que o Senado. S. Exª é um grande nome, o maior, possui todos os adjetivos favoráveis, mas a tradição é a tradição, a história é a história.

Vamos respeitar o PMDB, que é um Partido simples, modesto. Vivemos nossas dificuldades internas, reconhecemos isso e estamos vivendo um instante de readaptação, estamos nos acomodando, buscando um discurso novo. O PMDB não é um Partido que não cumpriu sua parte. Há pessoas que se enganam. Não é aquele Partido que não fez nada. Se analisarmos a História do Brasil veremos que não há Partido político que tenha dado mais contribuição para seu País que o PMDB. Nós lutamos. Fala-se nos grandes momentos do Brasil: anistia, Constituinte, combate à tortura, eleição direta - o PMDB sempre esteve presente. As teses que levaram o PMDB a lutar pelos quatro cantos do Brasil são teses vitoriosas. Temos que buscar nosso discurso de hoje. O que fazer hoje? Penso que é buscar as teses sociais. Olhar para o povo que sofre, que passa fome, que está na miséria, que vive as injustiças sociais. Mostrar ao Presidente Fernando Henrique que o discurso dele de ontem deve ser o de hoje, não é só internacionalização, globalização, economia plural, privatização, são os problemas sociais, os 30 milhões que passam fome são importantes. O PMDB está buscando o seu papel. Queremos respeito.

Não estamos trazendo uma pessoa arbitrária, autoritária, mas uma pessoa à qual se pode perguntar o que quer como candidato do PMDB. Por que o PMDB quer colocar esse candidato na Presidência? Estamos indicando o Senador Íris Rezende, um homem de bem, íntegro, correto, amigo do Presidente - tão amigo que o convidou para ser seu Ministro - um homem digno, uma homem que quer a Presidência do Senado para fazer a coordenação, para conduzir - e é muito melhor, Sr. Fernando Henrique Cardoso -, o processo da reeleição, o homem da bonança, da tranqüilidade, que consegue convencer as pessoas sem precisar bater na mesa. O PMDB não está pedindo a Presidência do Senado e nem tirando o lugar de ninguém, até porque o cargo de Ministro poderia ser mais importante do que o de Presidente do Senado. Não estamos avaliando quantos pontos vale um cargo de Ministro e quantos pontos vale a Presidência do Senado. Não estamos discutindo pesos, estamos discutindo ética.

A Presidência do Senado cabe ao maior Partido, e não podemos nos furtar disso. Eu disse isso aos Deputados do PMDB, e S. Exªs entenderam. É bom que a imprensa saiba disso: que eu saiba, até agora, nenhum Deputado, nenhum Líder, nenhum Parlamentar do PMDB veio ao Senado pedir que retirássemos a candidatura do Senador Iris Rezende. Ou houve alguém? A imprensa publicou que a Câmara dos Deputados assediará o Senado Federal... Eu não vi ninguém aqui fazendo isso. Não vi nenhum Deputado do PMDB que tenha vindo procurar os Senadores para dizer que devem retirar a candidatura do Senador Iris Rezende por causa disso ou daquilo.

São duas questões distintas. Não tenho nenhuma dúvida quanto à eleição do Deputado Michel Temer. Acredito muito nas assinaturas do Deputado Luís Eduardo Magalhães e do Sr. Jorge Bornhausen, porque os conheço, sei quem são. Conheço suas histórias: são pessoas dignas e corretas. É normal que S. Exªs façam o que quiserem. Não pensem que estou discutindo isso. É um direito de S. Exªs lançar uma candidatura, brigar, discutir, debater, forçar, como é direito do Presidente da República convidar o Senador Iris Rezende para ocupar o cargo de Ministro. Sabemos que isso faz parte da política e das eleições. Daqui a pouco, o Senador Iris Rezende poderá aceitar, e, pronto, terminou. Isso faz parte da política. Não vejo nada demais nisso. O Sr. Luís Eduardo dizer que seu projeto prioritário é eleger seu pai Presidente do Senado é absolutamente normal. Pedir voto e dizer que essa Bancada do PMDB é muito fraca, tudo isso é normal. Não seria normal se a nossa Bancada, de repente, tirasse o Senador Iris Rezende da disputa. Não seria normal, de repente, o Presidente da República interferir onde não pode interferir. Se houvesse uma interferência, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que durante doze anos foi Senador, deveria dizer: cumpra-se a tradição, e não fazer o contrário.

O Sr. Humberto Lucena - V. Exª permite-me um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Com a capacidade, com a competência e com a sua história, porque V. Exª é a história do Senado.

O Sr. Humberto Lucena - Agradeço-lhe a referência, nobre Senador Pedro Simon. Desejo cumprimentá-lo pelo seu lúcido pronunciamento como analista político. Devo dizer-lhe que estou lamentando profundamente que a tradição a que se referiu V. Exª esteja prestes a ser quebrada no Senado. É uma tradição de cunho institucional a de não se disputar em plenário a Presidência desta Casa. Aqui, o critério sempre foi esse a que V. Exª se referiu, ou seja, a maior Bancada indicaria o Presidente, e os demais cargos seriam distribuídos proporcionalmente na Comissão Diretora, de acordo com o peso de cada Bancada.

Quem sabe se daqui até o dia 15 de fevereiro ainda não teremos a oportunidade de verificar que o nosso direito será reconhecido mais uma vez? Quero também aproveitar a oportunidade para comunicar a V. Exª que hoje compareci a uma reunião da Comissão Executiva do PMDB, em companhia do Senador Jader Barbalho, Líder do nosso Partido, e houve ali uma manifestação oficial da nossa agremiação partidária de apoio às candidaturas de Michel Temer para a Presidência da Câmara e de Iris Rezende para a Presidência do Senado. De agora em diante nós não temos apenas uma manifestação da Bancada do Senado ou da Bancada da Câmara, mas uma manifestação político-partidária do PMDB em âmbito nacional.

O SR. PEDRO SIMON - Quero interpretar com a Lógica a importante afirmativa de V. Exª: o PMDB fez o seu papel, quer dizer, oficializou uma candidatura na Câmara e uma candidatura no Senado.

Volto a repetir, e que me perdoe o Senador Iris Rezende, eu não sou fanático e não penso que para nós a Presidência do Senado seja questão de vida ou de morte. Essa preocupação não existe para mim. Eu até brincava com o Senador Iris Rezende dizendo-lhe que para mim é até mais simpático ter o Senador Antonio Carlos como Presidente desta Casa. S. Exª seria um Presidente enérgico, rígido. Nós iríamos divergir. Eu iria levantar questão de ordem, S. Exª iria responder. S. Exª iria responder duramente, eu também iria responder da mesma forma. Para mim até que seria bom, porque quando levantamos uma questão de ordem e o Senador Iris Rezende responde, se falamos um pouco mais alto, S. Exª fala como pastor: "Meu filho, vamos com calma". Eu não tenho nada de pessoal. Não tenho nenhuma queixa de nenhum Presidente, nem do Presidente Sarney nem de V. Exª, Senador Humberto Lucena. Sempre recebi, como Senador, o melhor trato. Não tenho, repito, como Senador da República, nenhuma queixa da Mesa do Senado. E não espero nada de pessoal do Sr. Iris Rezende. De outra parte, dizem que para o PMDB é importante. Também não dou importância a isso. Penso, contudo, que é importante para a Instituição, porque se criou - e não fomos nós, mas a imprensa; isso está na imprensa -, primeiro, que o PMDB, que era maioria, iria tornar-se minoria; que iriam sair alguns Senadores, etc. Ficava mal, ficava muito ruim para o Senado, para a política brasileira, dizer-se que dois, três ou quatro Senadores sairiam do PMDB e iriam para o PFL para que este Partido se tornasse maioria. Pelo amor de Deus, eu, que ando pelo interior, vi o que isso significava.

Tem razão o meu querido Senador quando diz que, infelizmente, como não há o instituto da fidelidade partidária, acontecem essas coisas - é verdade. Mas nem por isso vamos exagerar, como trocar de partido na véspera da eleição.

Esse foi o primeiro obstáculo, a primeira questão que foi levantada. Segundo, dizem que tradição não vale, que não é nada, que não tem nada a ver, que vai ser o candidato fulano e pronto. Terceiro, porque o Presidente da República, porque o Ministro das Comunicações, porque não sei mais quem irá intrometer-se para alterar o processo.

Sr. Presidente, a eleição no Senado é uma rotina, não tem maior significado, de repente nos reunimos e elegemos a Mesa Diretora, como aconteceu quando elegemos o Senador José Sarney.

De repente surgiram manchetes e mais manchetes até criar uma crise. Qual é a crise? Que o Presidente da República terá que decidir entre PMDB e PFL. O PMDB tomou a decisão, a Bancada decidiu, a Executiva decidiu, o Regimento decidiu e a tradição decidiu.

Vou dizer a V. Exªs o que penso. Cobrem-me depois. Todos vão se enganar, porque o Senador Iris será eleito por unanimidade. Na hora da eleição, o Senador Antonio Carlos entenderá e fará o grande gesto de retirar a sua candidatura. S. Exª não irá criar uma situação de constrangimento a tal ponto de o Presidente da República ter que decidir, entre duas candidaturas, a sua base.

Seria a renúncia a grande saída. O Senador Antonio Carlos é uma pessoa de grandes gestos, contra ou a favor. Em cima do muro, não é lugar para S. Exª, e nunca foi. Por isso, eu me atrevo a fazer-lhe um apelo: Senador Antonio Carlos, embora a candidatura de V. Exª seja importante, embora V. Exª reúna todas as condições para ser Presidente do Senado, não há dúvida nenhuma nesse sentido, o momento agora é de conjunto; daí a confusão. V. Exª é o grande coordenador da reeleição, o grande nome do Sr. Fernando Henrique Cardoso. Se V. Exª quer ajudar na reeleição do Sr. Presidente da República, se quer ajudar o processo, o grande gesto é o da sua renúncia à Presidência desta Casa.

Há momentos em que avançar é importante, mas há momentos em que parar é importante. Não há nenhum menosprezo, humilhação ou desdoiro em dizer: não causarei esse tumulto, essas alterações, essas dificuldades. E S. Exª terá o respeito e a admiração de todos nós.

Mas a imprensa vem insistindo de uma maneira exagerada. V. Exª comunica, Senador Humberto Lucena, que a Executiva se reuniu para tomar uma decisão, e hoje a imprensa publicou que o Deputado Paes de Andrade procurará o Senador Jader Barbalho, para que S. Exª peça ao Senador Iris Rezende que retire a sua candidatura, a fim de apoiar Antonio Carlos Magalhães. Essa é a principal matéria do "Painel" da Folha de S.Paulo de hoje. Repito: o Ministro das Comunicações convenceu o Deputado Paes da Andrade a procurar o Líder do PMDB, Jader Barbalho, para que S. Exª peça ao Senador Iris Rezende que retire a sua candidatura, porque o candidato do Senado se chama Antonio Carlos Magalhães. Então, veja como a notícia está espalhando-se de maneira irreal e incorreta.

Muitas vezes, Sr. Presidente, para fugir da imprensa, devemos vir para a tribuna. Eu estou mais na tribuna e menos na imprensa. Sou de uma época em que o jornalista mais importante do jornal sentava-se na Tribuna da Imprensa do Parlamento. Na Assembléia Legislativa, os jornalistas mais classificados, mais competentes, mais responsáveis, assistiam aos debates e, no dia seguinte, publicavam aquilo que haviam presenciado.

Neste momento, V. Exªs podem reparar que a tribuna da imprensa está vazia. Se quisermos falar com algum jornalista, devemos nos dirigir ao cafezinho, ao corredor. Hoje o jornalista já sai do jornal com uma pauta elaborada. O que acontece nesta Casa não tem importância; interessa que o jornalista cumpra aquela pauta que recebeu. É lamentável, porque o respeito deveria ser recíproco. A imprensa pode dizer o que quiser do Parlamento ou dos Parlamentares, mas uma rádio que fica no ar 24 horas - a única exceção é a Voz do Brasil, que também querem tirar - ou um jornal que tem 50, 60 páginas têm a obrigação de informar o que está acontecendo de fato e não apenas o que julgam que deva ser informado.

Espero que a imprensa publique amanhã - nada a meu respeito, porque não tenho nenhum significado - o que afirmou o Senador Humberto Lucena: "A Executiva do PMDB reuniu-se e tomou uma posição definitiva. O Senador Iris Rezende é candidato do PMDB à Presidência do Senado Federal, até o fim." Justamente o contrário da notícia de hoje de que o Ministro Sérgio Motta procurou o Deputado Paes de Andrade e este concordou que o Senador Iris Rezende deve retirar a candidatura. Assim não pode ser.

Acredito que podemos viver um grande momento. Dentro do PMDB, já começamos. V. Exª não estava presente, meu nobre Líder, quando iniciei o meu pronunciamento, falando de V. Exª, do gesto de grandeza de V. Exª que, com muito direito, disputava a Presidência do Senado. V. Exª e o Senador Iris Rezende eram nossos candidatos, mas, quando viu que as possibilidades estavam apontando para uma possível disputa em plenário, V. Exª disse que não participaria, pois, como Líder, pretendia comandar o processo.

Começamos com o gesto de grandeza de V. Exª. Nós tínhamos dois grandes candidatos, V. Exª e o Senador Iris Rezende, e ficamos com o Senador Iris Rezende como candidato e V. Exª como coordenador.

Creio que o Senador Antonio Carlos Magalhães vai compreender e terá um grande gesto que marcará sua presença, sua biografia, o que poderá surpreender muito seus adversários, mas não a mim, pois além de advogado, estudei psicologia durante 6 anos e tenho um conhecimento um pouco maior das pessoas. A mim não surpreenderá se o Senador Antonio Carlos Magalhães brigar até o último dia, fizer o que tiver que fazer até o último dia. Mas quando sentir que poderá levar o Presidente a um movimento desses, vai recuar e nesse dia vamos ter uma grande festa democrática com a eleição do Senador Iris Rezende.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/1996 - Página 20863