Discurso no Senado Federal

AVALIAÇÃO DO RELATORIO DO SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BASICA, DIVULGADO PELO MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.

Autor
Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • AVALIAÇÃO DO RELATORIO DO SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BASICA, DIVULGADO PELO MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/1996 - Página 20295
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, RELATORIO, SISTEMA NACIONAL, AVALIAÇÃO, EDUCAÇÃO BASICA, DIVULGAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), CONCLUSÃO, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, ENSINO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, ENSINO SECUNDARIO, ENSINO FUNDAMENTAL, REDUÇÃO, DISPARIDADE, APROVEITAMENTO, ALUNO, REGIÃO NORDESTE, COMPARAÇÃO, REGIÃO SUDESTE, MELHORIA, QUALIDADE, CONSERVAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, COMBATE, REPROVAÇÃO POR AVALIAÇÃO, PAIS.

O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Ministério da Educação e do Desporto divulgou, na semana passada, o relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica. O resultado veio comprovar, mais detalhadamente, aquilo que já era do conhecimento geral, ou seja, que o ensino no Brasil apresenta sérias deficiências, constituindo motivo de grave preocupação.

Ante tais deficiências, a própria Secretária de Avaliação e Informação Educacional, Drª Maria Helena Castro, não se conteve e fez um desabafo carregando nas tintas: "O ensino fundamental está melhorando, mas o secundário é uma tragédia".

Em que possa pesar eventual emoção dessa autoridade, no momento do desabafo, o sistema de ensino brasileiro, de fato, precisa ser remodelado. De acordo com o relatório do MEC, os estudantes da Região Norte que cursam a 3ª série do segundo grau tiveram desempenho semelhante ao dos alunos da Região Sudeste que estão concluindo o primeiro grau; os da Região Nordeste, nem isso: seus resultados foram inferiores aos obtidos pelos estudantes de primeiro grau do Sul e do Sudeste.

Tais comparações, evidentemente, são insuficientes para balizar com rigor a qualidade da educação no País. Um diagnóstico preciso exigiria pesquisas a partir de universos mais amplos. Além disso, há que se cotejarem os resultados de uns Estados com os de outros, dada a existência de situações díspares dentro de uma mesma região.

No entanto, Srªs e Srs. Senadores, a avaliação, ainda que falha, tem permitido aos profissionais do setor tirar conclusões preciosas para uma proposta de remodelação do ensino, de forma a reduzir a evasão, a repetência e o baixo rendimento escolar. Há hoje um consenso sobre o currículo do ensino de segundo grau, que, sendo embora "enciclopédico", não oferece ao aluno a oportunidade de optar por matérias condizentes com suas aptidões.

As deficiências do ensino médio começam, a rigor, no ensino fundamental, na opinião do próprio Ministro Paulo Renato. Embora a educação de primeiro grau seja menos caótica que a do segundo, é evidente que o aluno, se não tiver uma boa base, dificilmente compensará suas dificuldades nas etapas seguintes.

De acordo com a Secretária Maria Helena Castro, citada pelo Jornal do Brasil no último dia 26, "quanto maior a distorção entre idade e série pior é o desempenho do aluno". De acordo com a Secretária de Avaliação e Informação Educacional, o índice médio de repetência é de 33% no ensino básico e de 34% no segundo grau. Conclui-se, obviamente, que a melhoria do ensino de primeiro grau, que parece estar ocorrendo, é o primeiro passo para se obter melhor rendimento no segundo grau.

A pesquisa do MEC sobre o ensino público e privado de primeiro e segundo graus revelou também que 54% dos alunos freqüentam escolas com estado de conservação regular ou ruim. A precariedade das instalações extrapola as salas de aula para refletir-se também nos banheiros e nas instalações hidráulicas. A ausência de bibliotecas, igualmente, contribui para a alarmante queda nos níveis do ensino. Faltam bibliotecas para 38,2% dos alunos da quarta série; nas Regiões Norte e Nordeste, esse percentual sobe, respectivamente, para 50% e 62%.

Mesmo nas regiões mais desenvolvidas, o ensino revela carências inadmissíveis. Na rede pública do Estado do Rio, conforme noticiou o Jornal do Brasil do dia 27 último, uma aluna formanda do curso técnico de Secretariado não teve, nos três anos em que freqüentou a escola, sequer noções de datilografia ou informática; e outra, fazendo o terceiro ano de Contabilidade, não teve aulas de Matemática, disciplina indispensável para o curso que escolheu.

Embora grave, a situação do ensino não é insolúvel, e os bons exemplos estão aí a sugerir mudanças. Em Belo Horizonte, antecipando-se à proposta do Ministro Paulo Renato, de evitar a repetência, as 170 escolas da rede municipal aboliram, com excelentes resultados, o sistema de repetência para alunos reprovados em no máximo duas disciplinas. Ao mesmo tempo, o Município obriga os professores a se reciclar, sob pena de serem obrigados a deixar o emprego. Na rede estadual, sistema idêntico começa a ser adotado, abrangendo, por ora, a primeira e a segunda séries.

A avaliação do MEC, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não revelou muitas novidades. Teve o grande mérito, porém, de comprovar e dimensionar, tecnicamente, metodologicamente, as deficiências do ensino brasileiro, especialmente as do ensino médio.

Ao saudar o MEC pela iniciativa de avaliar o ensino, quero deixar claro que essa providência de nada valerá se dela não resultarem os desdobramentos esperados, as ansiadas transformações que façam da educação uma efetiva prioridade nacional, uma alavanca para o desenvolvimento e um instrumento para a promoção da cidadania.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/1996 - Página 20295