Discurso no Senado Federal

NOTICIARIOS INVERIDICOS DOS JORNAIS, ASSEVERANDO QUE SETORES DA ESQUERDA ESTÃO SE ENTUSIASMANDO COM A CANDIDATURA PRISCO VIANA PARA A PRESIDENCIA DA CAMARA DOS DEPUTADOS.

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • NOTICIARIOS INVERIDICOS DOS JORNAIS, ASSEVERANDO QUE SETORES DA ESQUERDA ESTÃO SE ENTUSIASMANDO COM A CANDIDATURA PRISCO VIANA PARA A PRESIDENCIA DA CAMARA DOS DEPUTADOS.
Publicação
Publicação no DSF de 24/01/1997 - Página 3000
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • APREENSÃO, NOTICIARIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ANUNCIO, APOIAMENTO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, GOVERNO, CANDIDATURA, PRISCO VIANA, DEPUTADO FEDERAL, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS-PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria que tudo isso fosse desmentido, porque é algo que me constrange e causa perplexidade.

Os jornais de hoje anunciam que há entusiasmo de setores da esquerda com uma candidatura do Deputado Prisco Viana à Presidência da Câmara dos Deputados.

Prisco Viana é um homem que merece o nosso respeito do ponto de vista da sua conduta pessoal; mas, do ponto de vista político, nada mais estranho do que um apoiamento da esquerda. Estranho, inclusive, pela sua declaração inicial, numa matéria que me parece que consta do seu discurso, de que "o absolutismo usa de vários meios para calar o povo, para lhe impor a tirania. Um deles é fazer o Parlamento agachar-se mediante vários expedientes". Ele conhece bem isso. Foi Secretário da Arena no tempo do regime militar, conhece todos os expedientes. E mais! Não foi um estafeta qualquer, como o Vice-Presidente da República atual que, quando do Pacote de Abril, veio fechar o Congresso em nome dos militares. Ele não fazia só isso, ele elaborava talvez o fechamento. É um intelectual orgânico da direita e nisso merece o nosso respeito, mas evidentemente não pode merecer o nosso apoio.

E não é pelo malufismo a expressão da direita nacional atual, é pela concepção política conservadora, que não pode apenas acenar que vai modificar o mecanismo de fixação da Ordem do Dia, democratizar a Presidência da Câmara, porque o autoritarismo foi o predominante nesses dois anos do Sr. Deputado Luís Eduardo. Isso é muito pouco! Isso deve ser compromisso de qualquer democrata ou de quem pretende dirigir essas instituições num regime e num Estado de Direito democrático. É evidente, até em respeito aos Srs. Parlamentares.

Quando digo que gostaria que não fosse verdade, é porque algo me preocupa muito. Começamos a ter uma postura de perder a memória. Perde-se a memória da luta do Senador Bernardo Cabral, do Senador Humberto Lucena, do Senador Pedro Simon, a luta que empreendi, a do Senador Lauro Campos, a luta de quem resistiu à Ditadura. Algo que não mexeu nas instituições democráticas porque desrespeitou todas. Não foi apenas não mexer no princípio da reeleição, até porque não precisava, não tinha eleição, ou pelo menos algo que tivesse nome de eleição livre e democrática.

Todos os setores que estão entusiasmados com a candidatura Prisco Viana começam a dizer que hoje estamos pior do que na Ditadura. Até um representante histórico de um partido histórico, o Partido Comunista do Brasil, vem dizer que não foi mexida pela Constituição outorgada essa velha tradição constitucional brasileira da vedação da reeleição. Que instituição democrática de 1937, que nem Congresso tinha, eleição muito menos? Da Ditadura, onde os generais tinham os plantões de quatro em quatro anos, se desejassem, se um não ficasse doente, se não tivesse um ato institucional? Porque respeito à cidadania não existia, muito menos à democracia.

Se fala isso porque se perdeu a memória e, por isso, é que se admitem alianças desse tipo ou se admite o apoiamento a quem foi um dos sustentáculos exatos da anti-democracia, foi contra a democracia, contra os direitos e a liberdade. Desses setores, estranha-me muito o PCdoB, mas o PT... Talvez seja muito apropriado para quem pensa, dentro do PT, que o movimento operário brasileiro só teve início quando Lula começou a fazer greve no ABC, ou passou a existir a esquerda brasileira depois da criação do PT. Esqueceram da história daqueles que lutaram contra a Ditadura e que não querem, não é vincular-se ao passado, mas é não esquecê-lo, até para que não ocorra novamente no futuro.

Queria trazer esta minha preocupação, minha perplexidade e minha esperança de que isso tudo não seja mais do que notícias desencontradas dos jornais.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/01/1997 - Página 3000