Pronunciamento de Romeu Tuma em 28/01/1997
Discurso no Senado Federal
TRANSCURSO, NO DIA 25, DOS 443 ANOS DA CIDADE DE SÃO PAULO. HOMENAGEM A MAIOR METROPOLE DO BRASIL.
- Autor
- Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- TRANSCURSO, NO DIA 25, DOS 443 ANOS DA CIDADE DE SÃO PAULO. HOMENAGEM A MAIOR METROPOLE DO BRASIL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/01/1997 - Página 3280
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, "São Paulo é magna, tudo nela existe no superlativo. Ela nada tem de minúsculo e é por isso que mostra em plenitude o que existe de bom e o que existe de ruim".
Medito há dias sobre esse pensamento do consagrado ator Gianfrancesco Guarnieri. Vi-o externá-lo na TV e senti-me comovido ao perceber como conseguira ele compor perfeitamente, com apenas três pinceladas, um quadro fiel de tudo o que se passa nos 1.500 quilômetros quadrados de minha cidade natal, onde mais de dez milhões de pessoas de todos os credos, de todas as raças e de todas as condições sociais fazem viver, vibrar e crescer a segunda maior metrópole do mundo, a metrópole de todos os brasileiros, a síntese deste nosso imenso e belo Brasil.
Estávamos a 25 de janeiro corrente, aniversário de São Paulo. Como diria o grande Caetano Veloso, pai de Tom, o novo baiano que iria nascer naquele dia, "alguma coisa acontece no meu coração" quando relembro imagens da cidade mais cosmopolita existente abaixo do Equador. O pensamento de Guarnieri teve o dom de desencadear, nos limites da minha memória e aos olhos de minha imaginação, uma reprise de muitas das cenas de pujança, de estoicismo, de luta, de solidariedade e de realizações que eu já presenciara em solo paulistano. Mas também me fez recordar o panorama de miséria, egoísmo, violência, abandono e marginalização que se contrapõe àquelas felizes imagens da São Paulo de Primeiro Mundo. Tudo era superlativo, como afirmara o ator. Lastimo hoje as enchentes em São Paulo atingindo sempre as camadas mais pobres, que perdem o pouco que possuem.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, desculpem-me pelo excesso emocional que não consigo conter, pois sinto-me ainda vibrando com as comemorações do dia 25, quando São Paulo completou 443 anos de existência. Mergulhei em manifestações oficiais e populares que reverenciaram a saga dos indômitos pioneiros - missionários, navegantes, bandeirantes e índios catequizados - que deram o sopro de vida inicial à minha amada cidade para depois, preservando-a como abrigo seguro, seguir adiante por rios, serras e matas. Foi assim que desbravaram o solo pátrio para legá-lo a nós, não como uma diminuta faixa costeira de cinquenta léguas de largura demarcada pelo Tratado de Tordesilhas, mas sim em portentosas dimensões com as quais felizmente hoje o temos.
As comemorações deste ano foram além da simples reedição das anteriores. Um novo aspecto destacou-se desta feita, isto é: o aniversário de São Paulo deu início às manifestações com as quais, até junho próximo, de norte a sul do País, será celebrado o 4º centenário da morte do Beato Padre José de Anchieta, cuja vida e obra ligam-se inseparavelmente à existência da megalópole de Piratininga, assim como a muitas outras cidades brasileiras, além de se inserirem nos primórdios da nossa literatura, do nosso teatro, da nossa educação, da nossa brasilidade.
Tive a honra de assistir à missa oficiada por Sua Eminência Reverendíssima, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no mesmo local - o Pátio do Colégio -, onde, na manhã de 25 de janeiro de 1554, acontecera a primeira missa paulistana, que o Padre Manoel de Paiva, jesuíta como José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, ali presentes, celebrara para inaugurar a Casa daquela Ordem religiosa, depois transformada em Colégio e centro irradiador do novo povoado. Sorvi as palavras, degustei os pensamentos ali expostos por Dom Paulo, com a elegância e o altruísmo que lhe são próprios, na presença de uma colorida delegação das Ilhas Canárias, torrão natal de Anchieta. Essa delegação trouxe de Tenerife a imagem de Nossa Senhora da Candelária, entronizada na Igreja do Pátio do Colégio, junto à qual funciona um Museu que ganhou a pedra fundamental da Praça Ilhas Canárias, com inauguração programada para 9 de junho, data da morte de Anchieta.
Foi lida mensagem que o Papa João Paulo II enviou a Dom Paulo Evaristo Arns pelo aniversário da cidade e pelo 4º centenário do falecimento do Beato professor, catequista, poeta, lingüista, teatrólogo, médico, padre, diretor de colégio, pregador, confessor, provincial, diplomata e fundador de cidades. Aquele que se ordenou na Bahia, pacificou nossos índios e participou da expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, além de protagonizar muitos outros episódios épicos nos seus 63 anos de vida, dos quais 44 servindo o Brasil. Aquele que faleceu em santidade e cujo corpo está sepultado em Vitória do Espírito Santo, para onde o levaram mais de três mil índios em cortejo fúnebre, chorando ao longo dos 90 quilômetros que separam a antiga Reritiba, hoje Anchieta, da capital capixaba. Aquele que só tivera uma ambição na vida: a cristianização do Brasil.
Mas esta é uma longa história, que terei prazer em lembrar em junho, quando - se assim V. Exªs permitirem, nobres pares - nossa Casa de Leis poderá reverenciar a memória do Beato numa sessão especial que estamos requerendo à Mesa, o nobre Senador José Ignácio Ferreira e eu. Proponho que esta homenagem seja realizada no dia 9 de junho em comemoração do 4º centenário de sua morte.
Nas solenidades do Pátio do Colégio, diversos oradores, notadamente S. Exªs o Governador Mário Covas e o Prefeito Celso Pitta, enalteceram a figura de Anchieta. Coube, porém, a Dom Paulo Evaristo Arns emocionar a todos - povo e autoridades - com sua pregação de fé, esperança e caridade a partir do exemplo do Beato. Para ele, Anchieta cumpriu uma missão divina comparável, na dimensão do seu tempo, àquela executada pelo Apóstolo São Paulo para a salvação das almas através da fé e dos princípios cristãos. Legou-nos a mensagem do entendimento como único caminho para que possamos viver e progredir em paz.
Muito obrigado, Sr. Presidente