Pronunciamento de Júlio Campos em 29/01/1997
Discurso no Senado Federal
ANUNCIO DA NOVA HABILITAÇÃO OFERECIDA PELO DEPARTAMENTO DE LINGUISTICA, LINGUAS CLASSICAS E VERNACULAS, DA UNIVERSIDADE DE BRASILIA, COM OBJETIVO DE PREPARAR PROFESSORES DE PORTUGUES PARA ENSINAR, COMO SEGUNDA LINGUA, OS QUE FALAM A LINGUA ESPANHOLA, PARA MELHOR APROVEITAMENTO DAS OPORTUNIDADES QUE IRÃO SURGIR COM O MERCOSUL.
- Autor
- Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
- Nome completo: Júlio José de Campos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).:
- ANUNCIO DA NOVA HABILITAÇÃO OFERECIDA PELO DEPARTAMENTO DE LINGUISTICA, LINGUAS CLASSICAS E VERNACULAS, DA UNIVERSIDADE DE BRASILIA, COM OBJETIVO DE PREPARAR PROFESSORES DE PORTUGUES PARA ENSINAR, COMO SEGUNDA LINGUA, OS QUE FALAM A LINGUA ESPANHOLA, PARA MELHOR APROVEITAMENTO DAS OPORTUNIDADES QUE IRÃO SURGIR COM O MERCOSUL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/01/1997 - Página 3460
- Assunto
- Outros > MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
- Indexação
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- ANUNCIO, HABILITAÇÃO, DEPARTAMENTO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), FORMAÇÃO, PROFESSOR, LINGUA PORTUGUESA, OBJETIVO, ENSINO, POPULAÇÃO, LINGUA ESPANHOLA, MELHORIA, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), FACILITAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, PAIS, GLOBALIZAÇÃO, ECONOMIA.
O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a integração traz sucessivos desafios aos povos que a empreendem. Primeiro é a superação das desconfianças. O exercício de convencimento de que, com a união, todos ganham. Segundo, a ultrapassagem dos nacionalismos. Fazer acreditar que as fronteiras da nação se alargaram. Brasileiro, argentino, paraguaio ou uruguaio viraram -- ou virarão -- adjetivos obsoletos. Será vez de um adjetivo pátrio comum. Ainda não sabemos qual é. Mas, na oportunidade, ele aparecerá. Enfrentará resistências como tudo que é novo. Depois, se imporá. A globalização -- sabemos todos -- é, hoje, caminho sem volta.
O êxito da União Européia, que caminha a passos largos no processo de superação de desafios, é prova disso. Aos poucos, foi preparando o terreno para a integração de povos milenarmente inimigos. A História da Europa é a história das guerras. Mesmo assim, a união foi possível.
Tenho para mim, Sr. Presidente, que muito do sucesso experimentado no Velho Continente se deve ao intercâmbio cultural. Mais especificamente: ao extraordinário interesse pela língua dos vizinhos. Londres encheu-se de cursos de francês, espanhol, alemão e português. Berlim, Paris, Madri e Lisboa não ficaram atrás. Abriram suas escolas para tornar familiar o idioma que falam.
Hoje se discute a moeda única. Dentro de pouco tempo na Europa estará circulando a moeda comum. Logo, logo, não mais se falará em libra, franco ou peseta. O euro se imporá como o dinheiro da Europa.
Mas não se fala -- pelo menos em alto e bom som -- numa língua única. Entende-se. A língua de um povo é muito mais que um meio de comunicação. É o veículo do seu espírito, o depósito da sua cultura. Reúne as referências ancestrais das relações com o meio e com os outros.
É por isso, Sr. Presidente, que não se fala em unificação de línguas. Ao contrário. Alemanha e França têm arregaçado as mangas em defesa do idioma nacional. Lutam com todas as armas de que dispõem contra a influência avassaladora do inglês.
E têm razão. A globalização da economia leva à desnacionalização acelerada das empresas e ao crescente predomínio do capital financeiro sobre o capital produtivo. Impõe-se manter os valores espirituais particulares como instrumento de defesa contra delírios imperiais.
O nosso Mercosul avança. Dia após dia ganha credibilidade. Empresários, intelectuais, políticos e o povo em geral descobriram as vantagens do intercâmbio de mercadorias. Daqui a pouco será vez do intercâmbio cultural mais intenso. E aí, Sr. Presidente, o domínio das duas línguas do mercado será peça-chave do processo.
Consciente da importância da língua em toda a caminhada da integração, a Universidade de Brasília deu um passo à frente. Anunciou nova habilitação oferecida pelo Departamento de Lingüística, Línguas Clássicas e Vernáculas. Trata-se da preparação de professores de português como segunda língua.
Há um grande avanço na medida. As universidades brasileiras formam professores de português para falantes de língua portuguesa. Convenhamos. Há uma grande distância entre ensinar português para brasileiros e ensinar português para falantes de espanhol.
Com um agravante. As duas línguas são muito parecidas. A tendência dos novos falantes é cair no "portunhol". Explico-me. O brasileiro entende o espanhol. E pensa que fala. O mesmo se passa com o argentino, o uruguaio ou o paraguaio. Entendem português e pensam que falam.
É tarefa do professor que vai ensinar uma língua para estrangeiro conhecer muito bem os dois idiomas. Saber as dificuldades que uma e outra oferecem. O hispanófono que não fala outra língua, por exemplo, terá enorme dificuldade de pronunciar o z, o é, o ó e todos os fonemas nasais. O professor habilitado terá recursos para contornar esses obstáculos.
Por isso, é mais que oportuna a iniciativa da Universidade de Brasília. Com ela, professores brasileiros terão oportunidade ímpar de se preparar para usufruir do enorme potencial que o Mercado do Sul oferece.
Mais: as editoras têm um promissor mercado de dois milhões de consumidores. É hora de preparar os meios necessários ao ensino da língua. Partir para a preparação de livros didáticos, dicionários e audiovisuais.
O português, lamentavelmente, é carente de boas obras. Os profissionais da língua necessitam de gramáticas sérias, dicionários confiáveis e atualizados, atlas de falares regionais, estudos da língua culta.
Ouso, Sr. Presidente, fazer uma sugestão. Considerando que é irreversível o processo de integração no âmbito do Mercosul, as universidades brasileiras terão que responder aos desafios do mercado na demanda de profissionais bilíngües, preparados para ensinar nossa língua a povos estrangeiros. Por que não antecipar-se ao mercado? Por que não preparar uma elite qualificada para fazer frente às novas necessidades ditadas pela integração?
É a sugestão que faço às universidades do Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Seguir o exemplo da Universidade de Brasília significa prestar relevante serviço ao Brasil. Significa estar sintonizado com seu tempo.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.