Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR DARCY RIBEIRO.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR DARCY RIBEIRO.
Aparteantes
Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/1997 - Página 4099
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DARCY RIBEIRO, SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma, duas, mil sessões comuns ou especiais... tantas mais fizéssemos, mais teríamos a falar sobre esse ser que se esvai em matéria para incorporar-se, só energia, ao universo das almas. E muito ouviremos falar ainda dele, que foi, com certeza, um dos mais cultos, polêmicos e combativos Senadores da República.

"Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver", como diz Dom Helder Câmara. E, por mil razões, Darcy Ribeiro amou a vida, a ponto de driblar a morte e só consentir em morrer após concretizar muitos dos seus sonhos.

Esse educador, legislador e antropólogo, ao qual a ciência, a cultura e o nosso País tanto devem, gostava do invulgar e chegava a revestir de extravagância tudo o que fazia, numa atitude que o colocou e o susteve naturalmente no centro dos grandes acontecimentos nacionais dos últimos quarenta anos. Com isso, apoiando-se apenas nas qualidades extraordinárias do próprio intelecto, pôde transformar em fatos concretos muito do que acreditava ser bom para o nosso povo. Perseguindo com obstinação seus objetivos de vida, conquistou o respeito e a estima de todos, mesmo de quem, por não conseguir entendê-lo ou ficar sobressaltado ante sua ânsia de reorientar a História, chegara a vê-lo como uma ameaça à paz pública. Darcy Ribeiro teve a felicidade de poder dar tudo de si ao País e à gente que tanto amava. Teve a felicidade de morrer como vencedor.

Valeu a pena? Valeu, valeu sim, porque nem os sonhos e realizações conseguiram refletir toda a grandiosidade de sua alma. E, como diria Fernando Pessoa, "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".

Em duas frases cunhadas por Darcy Ribeiro, podemos ver a síntese do que lhe ia pelo espírito indômito e irrequieto. A primeira diz:

"Estou sempre voltando à Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, o livro mais importante já escrito sobre o Brasil".

A segunda frase é quase segmento da primeira, ou seja:

"A Suíça é um país quase perfeito. Um horror. Prefiro o nosso que está por fazer."

Dizia eu a Roberto D´Avila - que teve oportunidade de fazer uma brilhante entrevista com Darcy Ribeiro, tão reprisada neste momento triste da sua perda -, que horror não era a Suíça; horror era viver num país de Primeiro Mundo. E ele completava a sua frase, Senador Jefferson Péres: "Prefiro o nosso que está por fazer".

Podemos extrair daí o juízo antropológico de Darcy Ribeiro sobre o povo que foi sua paixão e que, incentivando-o, lhe deu forças para continuar existindo quando todos os prognósticos lhe eram desfavoráveis. Mas, apesar de tudo, chegou a hora inadiável, o momento da missão cumprida. A partida.

O Sr. Ney Suassuna -Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROMEU TUMA - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Ney Suassuna - Senador Romeu Tuma, eu queria apartear V. Exª apenas para lembrar que muito se fala da Universidade de Brasília, mas se esquece de que Darcy Ribeiro não só reformulou a UERJ, como também criou a UERJ Norte em várias cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro. Darcy Ribeiro não foi um simples criador de uma universidade, mas sim um criador de universidades. Darcy Ribeiro vai fazer falta a este País. Muito obrigado.

O SR. ROMEU TUMA - Agradeço a V. Exª pelo aparte. Como eu disse no início do meu pronunciamento, em mil sessões como esta, haveria um milhão de coisas a falar sobre a vontade e o trabalho de Darcy Ribeiro.

E, lembrando o que foi, fez e nos legou Darcy Ribeiro, ao recordar a figura desse campeão da cidadania, vem-me à mente o lusitano Afonso Duarte a dizer em seu poema "Lápides", como proclamaria Darcy Ribeiro se aqui estivesse:

      "Não sou um velho vencido!

      Mesmo à beira da morte

      Quero erguer o braço forte

      Da razão de ter vivido.

      Voz de amor por quanto louvo

      Caia-me o coração exangue,

      Mas sem traição do meu sangue

      Que é a voz do meu povo."

Muito obrigado, meu amigo. Muito obrigado, Cidadão Darcy Ribeiro, por ter vivido e pelas lições de bravura.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/1997 - Página 4099