O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, em nome da Liderança do PTB, é com imenso pesar que me associo às manifestações desta Casa e de todo o País pelo desaparecimento de nosso ilustre Colega, Senador Darcy Ribeiro.

Os que aqui me antecederam já mencionaram e louvaram as qualidades morais e intelectuais de Darcy, seu admirável espírito público, a obsessão com que se dedicou às causas que elegeu - a educação, sobretudo - e a coragem com que desafiou e combateu a doença que o vitimou, transmitindo a todos nós preciosa lição de vida e de esperança.

Há homens públicos que não se limitam ao papel de agentes ou testemunhas de seu tempo. São personagens seminais, cujas idéias destinam-se a atravessar gerações, transformando-as e aprimorando-as.

A História do Brasil registra a presença de alguns desses personagens, muitos dos quais marcaram indelevelmente sua passagem nesta Casa. Cito, entre outros, Nabuco, Rui Barbosa, Gustavo Capanema, Afonso Arinos e, agora, Darcy Ribeiro.

A biografia de Darcy é das mais densas e admiráveis. Viveu, com intensidade, um dos períodos mais controversos e tumultuados da história republicana brasileira: o Governo João Goulart.

A efervescência da Guerra Fria produzia aqui, nos idos de 1964, um momento de intenso e apaixonado embate ideológico.

Darcy, Chefe do Gabinete Civil do Governo João Goulart, que seria deposto pelo movimento militar, corajosamente lutou por suas crenças, que não cabe aqui discuti-las, pagando o alto preço do exílio e da perseguição.

Viveu anos de ostracismo político, o que lhe custou danos consideráveis à saúde.

A incerteza do retorno, a saudade dos amigos, a solidão do exilado derrubam a muitos; não, porém, a Darcy.

No exílio, intensificou sua produção intelectual, escrevendo romances e aprofundando-se em algumas de suas obsessões de intelectual: a educação e os índios.

Como educador, deixara a esta cidade, antes de partir para o exílio, um precioso legado: a Universidade de Brasília. Por ela lutou quando tudo lhe era adverso.

A própria idéia de Brasília era ainda vista como um delírio pessoal de Juscelino. Enfrentou o ceticismo da comunidade acadêmica de então, que achava um absurdo erguer um complexo universitário em meio à paisagem desértica do Cerrado.

Darcy teve a ousadia de impulsionar esse projeto, tornando a UnB uma realidade.

Em reconhecimento a todos os merecimentos de Darcy Ribeiro, Srªs e Srs. Senadores, é que, ainda ontem, tive a felicidade de tomar a iniciativa de apresentar nesta Casa um projeto de lei propondo a alteração da denominação da UnB, que passará a se chamar "Universidade de Brasília Darcy Ribeiro".

Brasília, sem dúvida alguma, sentir-se-á honrada e confortada ao ver a UnB ostentar o nome imortal de seu idealizador e 1º Reitor.

E era também a ousadia de Darcy que, não obstante a idade e a enfermidade que o acometia, lhe dava aspecto juvenil quando falava.

Quantas vezes aqui nos deliciamos com sua oratória espontânea e magnética, com o virtuosismo de seu verbo, capaz de dobrar mesmo os seus reinantes adversários?

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, recém-sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso - e destinada a transformar o panorama da educação brasileira-, tem as impressões digitais de Darcy Ribeiro.

É sua obra derradeira, um generoso legado intelectual às futuras gerações.

Embora adversário deste governo, soube mostrar sua grandeza de homem público, dispondo-se a colaborar numa causa de interesse coletivo.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso e o Ministro Paulo Renato reconheceram de público a influência decisiva de Darcy Ribeiro na elaboração dessa Lei.

Títulos e obras não faltam a Darcy Ribeiro.

Foi o pai da UnB, o amigo dos índios, o apóstolo da educação.

Prefiro, porém, lembrar-me dele de um modo mais simples e abrangente: um homem público íntegro e integral - um brasileiro exemplar.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.