Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR DARCY RIBEIRO.

Autor
Sérgio Machado (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: José Sérgio de Oliveira Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR DARCY RIBEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/1997 - Página 4113
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, DARCY RIBEIRO, SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. SÉRGIO MACHADO (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta Casa se reúne, hoje, para prestar uma merecida homenagem ao nosso colega DARCY RIBEIRO.

Homem que exerceu diversas funções públicas neste País e que, com o seu espírito reformador e questionador, deixou sua marca registrada em todas elas, já que encarava como desafios ao seu espírito empreendedor e à sua inesgotável criatividade tudo quanto fosse considerado impossível pela maioria.

Poderíamos passar horas e horas enumerando as realizações deste brasileiro ímpar. Entretanto, o que mais se registra em nossa mente enquanto olhamos para aquela cadeira vazia é o DARCY GUERREIRO. Herança, talvez, da sua estreita relação com os índios.

Estará sempre vivo em nossa memória aquele DARCY que, mesmo tendo à morte como sua sombra, diariamente nos dava lições de o quanto é importante viver. Viver intensamente e lutar pela vida, mesmo que, como no seu caso, enfrentando um mal que ainda não foi debelado pela Ciência.

O Senador Darcy Ribeiro merece todos os nossos elogios e recebeu-os pessoalmente neste Plenário no dia 08 de fevereiro de 1996, quando do encerramento da votação da LDB.

Naquela oportunidade, o Senador Jader Barbalho, referendado por todos os membros desta Casa, registrou que nos sentíamos profundamente honrados de participar desta legislatura como colegas do Senador Darcy Ribeiro. Ressaltou, ainda, que não só o Senado lhe devia por sua participação no processo de elaboração legislativa da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, mas o Brasil deve ao colega Darcy aquela lei esperada por décadas.

Darcy Ribeiro é imortal!

Imortal, não porque a Academia Brasileira de Letras emprestou-lhe este título, mas porque a Academia reconheceu que ele já estava imortalizado pela sua obra.

Imortal, não porque foi o fundador da Universidade de Brasília, mas sim porque teve a coragem de referir-se à sua mais dileta obra como uma filha prostituída pela mesquinhez de homens que comandaram o Brasil num período obscuro de nossa história. Manifestação de indignação paterna.

Darcy Ribeiro é imortal, sobretudo, pela herança que recebeu daqueles a quem chamou de nossos ancestrais viventes, quando se transformou em guerreiro e, com isso, forjou a sua personalidade com a marca indelével dos que lutam para tornar seus sonhos realidade.

A sua passagem para um outro plano, driblada com garra e maestria em diversas ocasiões, desde quando voltou do exílio para "morrer em casa", em 1974, foi implacável na tarde da segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997. Mas este é o destino de todos os seres viventes da face da terra.

Partiu Darcy Ribeiro. Não teremos mais o privilégio de conviver com eles nos salões desta Casa. Mas um homem com uma obra da dimensão da obra de Darcy Ribeiro não morrerá jamais, pois os seus sinais vitais serão sentidos no campo da antropologia, no campo da política, na crítica voraz e fundamentada, na defesa incansável de suas idéias, nas recordações das suas muitas mulheres.

Darcy Ribeiro estará vivo, sobretudo, na memória de todas as pessoas que, como nós, tiveram o privilégio de com ele conviver e aprender que o prazer de viver está em enfrentar com coragem os obstáculos que o destino coloca em nosso caminho.

Gostaria de encerrar essas palavras citando Darcy Ribeiro.

Ainda naquela sessão de votação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, logo após a Ordem do Dia, o Senador Darcy Ribeiro pede a palavra, relata o esforço dispendido na elaboração legislativa da LDB, ressalta a Grandeza do Parlamento e, com a sinceridade de sempre, finaliza:

"Muito obrigado por tudo que foi dito com relação a minha pessoa, e sou sensível a isso. Não somente gosto de elogios, porém o que mais me agrada é ver reconhecido o meu esforço; sou como a minha rainha que está rindo de mim, pois nós dois ficamos muito encantados e muito agradecidos quando ouvimos expressões que poem ser injustas, diga quem quiser, mas adorei ver que vocês gostam de mim."

Nós realmente gostamos muito do Darcy!

Poucos amaram tanto este País como ele!

Poucos acreditaram tanto nesta terra e no seu povo!

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/1997 - Página 4113