Discurso no Senado Federal

RECOMENDANDO AO EX-PRESIDENTE FERNANDO COLLOR TORNAR PUBLICAS AS SUAS DECLARAÇÕES DE RENDA, A PROPOSITO DE REPORTAGENS DO JORNAL NACIONAL DO SABADO PASSADO E DO PROGRAMA FANTASTICO DO ULTIMO DOMINGO, DA REDE GLOBO DE TELEVISÃO, SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMA MANSÃO EM WEST PALM BEACH, MIAMI, ESTADOS UNIDOS, EM NOME DE SEU CUNHADO, O EMBAIXADOR MARCOS COIMBRA. ESCLARECIMENTOS PESSOAIS ACERCA DE NOTA PUBLICADA NA COLUNA 'PAINEL', DO JORNAL FOLHA DE S.PAULO DE HOJE, SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EMPRESAS 'FANTASMAS' E O BANCO DO ESTADO DE RONDONIA - BERON. HOMENAGENS POSTUMAS AO JORNALISTA PAULO FRANCIS, FALECIDO ESTA MANHÃ.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JUDICIARIO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM.:
  • RECOMENDANDO AO EX-PRESIDENTE FERNANDO COLLOR TORNAR PUBLICAS AS SUAS DECLARAÇÕES DE RENDA, A PROPOSITO DE REPORTAGENS DO JORNAL NACIONAL DO SABADO PASSADO E DO PROGRAMA FANTASTICO DO ULTIMO DOMINGO, DA REDE GLOBO DE TELEVISÃO, SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMA MANSÃO EM WEST PALM BEACH, MIAMI, ESTADOS UNIDOS, EM NOME DE SEU CUNHADO, O EMBAIXADOR MARCOS COIMBRA. ESCLARECIMENTOS PESSOAIS ACERCA DE NOTA PUBLICADA NA COLUNA 'PAINEL', DO JORNAL FOLHA DE S.PAULO DE HOJE, SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EMPRESAS 'FANTASMAS' E O BANCO DO ESTADO DE RONDONIA - BERON. HOMENAGENS POSTUMAS AO JORNALISTA PAULO FRANCIS, FALECIDO ESTA MANHÃ.
Publicação
Publicação no DSF de 05/02/1997 - Página 3851
Assunto
Outros > JUDICIARIO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM.
Indexação
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORIGEM, RECURSOS FINANCEIROS, DESTINAÇÃO, CONSTRUÇÃO, HABITAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • EXPLICAÇÃO PESSOAL, NEGAÇÃO, IMPUTAÇÃO, RELACIONAMENTO, BANCO ESTADUAL, ESTADO DE RONDONIA (RO), ODACIR SOARES, SENADOR, PRIMEIRO SECRETARIO, SENADO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, PAULO FRANCIS, JORNALISTA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Rede Globo de Televisão, no Jornal Nacional de sábado e no Fantástico do domingo passado, apresentou dados reveladores a respeito de uma mansão que está sendo construída em West Palm Beach, Miami.

A repórter Sônia Bridi informou aos telespectadores que o ex-Presidente Fernando Collor de Mello foi visto por diversas testemunhas visitando a construção daquela residência, numa freqüência de duas vezes por semana.

A mansão está sendo construída em lote adquirido pelo ex-porta-voz e cunhado, Embaixador Marcos Coimbra. Diante dos fatos e da estimativa de custo de construção da casa, foi próprio, do ponto de vista jornalístico, que a Rede Globo de Televisão perguntasse ao ex-Presidente e ao Embaixador a quem pertence a casa, quem é o responsável pela construção e como está sendo paga.

A primeira reação do ex-Presidente Fernando Collor de Mello foi de não explicar o fato e simplesmente mandar dizer, por terceira voz, que nada tinha a ver com o assunto. O Embaixador Marcos Coimbra informou que a casa não era dele, mas confirmou que o lote era de sua propriedade. Quando a reportagem informou que estava sendo construída uma casa com torneiras de ouro, a primeira reação do Embaixador Marcos Coimbra foi admitir que a situação se complicava. Portando, a sua primeira reação não foi transparente.

Diante da evidência dos fatos, a Rede Globo quis saber mais, como, por exemplo: por que o Presidente Fernando Collor diz que nunca vai a uma obra e testemunhas dizem tê-lo visto por diversas vezes? Por que o Embaixador Marcos Coimbra, ex-secretário do Presidente Fernando Collor, sentiu-se sem graça quando negou que fosse dono de uma casa que tem o seu nome na placa?

Ora, Sr. Presidente, o que se espera de uma pessoa que ingressa na vida pública, que se torna Presidente e que, mesmo afastada da Presidência, declara que pretende voltar à vida pública, é, pelo menos, a transparência total de suas ações, de seus atos.

Seria próprio, por exemplo, que o ex-Presidente Fernando Collor de Mello, pensando em voltar à política, fizesse um exame de consciência, examinasse o que aconteceu durante o período em que esteve na vida pública, quando foi deputado estadual, governador, deputado federal e Presidente da República, cargo a que renunciou minutos antes que o Senado Federal o julgasse, já estando ele afastado porque a Câmara dos Deputados aprovara a licença para o julgamento.

Eis que o ex-Presidente Fernando Collor de Mello resolve atingir com diatribes o Presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, por ter falado da importância de ele dizer a verdade.

Já durante o seu período como Presidente da República, sabemos, e o povo brasileiro sabe, das vezes em que o ex-Presidente Fernando Collor de Mello faltou com a verdade.

Sr. Presidente, cabe ao ex-Presidente Fernando Collor de Mello esclarecer esses fatos sem estar xingando, ofendendo, falando diatribes sobre quem quer que seja. Antes de ofender o Presidente do Partido dos Trabalhadores - que, aliás, atuou brilhantemente como um dos requerentes e um dos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito que examinou os fatos relacionados ao Sr. Paulo César Farias -, deveria o Sr. Fernando Collor de Mello tratar, sim, de tornar transparentes as suas declarações de renda e de riqueza. Recomendo a ele simplesmente que torne públicas as suas declarações de bens e de renda desde o tempo em que se tornou Presidente até hoje. É esta a minha recomendação.

Quer dar exemplo de transparência? Então torne públicas as suas declarações de renda e de bens para que esse episódio fique totalmente esclarecido.

Sr. Presidente, desejo dar uma explicação pessoal. Saiu hoje, no "Painel" da Folha de S. Paulo, uma nota atribuída a mim, resultante de diálogo que mantive com um jornalista desse jornal. Diante da reportagem publicada na Folha de S. Paulo, de que diversas empresas "fantasmas" que operavam com títulos, com letras financeiras do tesouro municipal estavam relacionadas ao Beron, o Banco de Rondônia, lembrei-me do fato, que comentei ontem, de ser o Primeiro-Secretário da Casa coincidentemente do Estado de Rondônia e de eu ter tanto me empenhado para que S. Exª divulgasse a resposta do requerimento de informações que havia formulado sobre as Letras Financeiras do Tesouro Municipal de São Paulo.

Sr. Presidente, em primeiro lugar, quero aqui transmitir que não desejo, com essa observação, dizer que tenho qualquer indício ou prova de relacionamento do Senador Odacir Soares com os responsáveis pelo Banco de Rondônia, ligados àquelas empresas "fantasmas". E gostaria aqui também de transmitir que avalio como um passo que deveria ter realizado com maior prudência, e digo o porquê.

Obviamente, o Banco de Rondônia, uma vez pertencendo ao Estado de Rondônia, constitui um banco do Estado, pertencente a todo o povo de Rondônia. Não desejei, com aquela observação, fazer qualquer ofensa ao povo do Estado de Rondônia.

Desejo transmitir essa explicação ao Senador Odacir Soares, sem prejuízo do esclarecimento dos outros fatos que, agora, estão sob exame do Conselho de Ética do Senado. Solicitei que o Conselho de Ética ouvisse os dois Senadores, o Senador Odacir Soares e eu.

Para concluir, Sr. Presidente, desejo fazer um registro. Por volta das 8h30min da manhã de hoje, no seu apartamento em Nova Iorque, faleceu, segundo informam as agências de notícias, por parada cardíaca, o jornalista Paulo Francis.

Houve época em que fui colega de Paulo Francis na Folha de S. Paulo. Na segunda metade dos anos 70, convidados ambos pelo jornalista Cláudio Abramo e pelo Sr. Otávio Frias, escrevíamos naquele jornal. O jornalista Paulo Francis então me tratava com respeito e com amizade, do que inúmeras vezes deu provas. Desde que ingressei no Partido dos Trabalhadores, ele passou a criticar-me, muitas vezes relacionando fatos não verdadeiros.

Sinto pela jornalista Sônia Nolasco, uma brilhante profissional, sua esposa, a morte de seu marido.

O jornalista Paulo Francis foi, sem dúvida, importante na história da imprensa brasileira.

Descanse em paz!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/02/1997 - Página 3851