O SR. ROBERTO FREIRE (PPS-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, será uma comunicação rápida, mas dolorida para os pernambucanos.

      No dia-a-dia dos povos, em alguns momentos, parece que a vida não tem mais sentido. Talvez é um pouco o sentimento que os pernambucanos, mais particularmente a sua juventude, estão experimentando desde domingo, quando todos já se preparavam para a explosão de um dos maiores carnavais de rua do País. Refiro-me à morte do cantor e compositor Chico Science, líder do grupo Nação Zumbi, revelação recente da cultura pernambucana e que já inscrevera seu nome na galeria nacional dos artistas ídolos de todos os brasileiros.

      Chico Science não precisa de elogios. A sua obra fala por si. Produto de uma intensa agitação cultural periférica e até marginal em Recife e Olinda, no início dos anos 90, desconhecida da nossa grande mídia e mesmo relegada por muitos dos nossos divulgadores, o nosso Chico e Fred Zero Quatro entre outros romperam a mesmice e apareceram. Foram articuladores de uma nova cena e proposta e inovadores ao criar sons diferentes a partir das nossas raízes dos mangues e maracatus. Com o lançamento de seu primeiro disco "Da Lama ao Caos", Chico Science & Nação Zumbi se revela como a maior expressão daquele movimento e no mesmo instante se afirma no cenário da música moderna em nosso País.

      Um trágico e imbecil acidente automobilístico, desses que a todo minuto ceifam a vida de brasileiros em todos os Estados e cidades, levou o corpo de Science mas não a sua inspiração. Que o digam os milhares de jovens que na tarde de segunda-feira ocuparam o Cemitério de Santo Amaro, cantando suas músicas, produzidos como seu ídolo - chapéu de palha, óculos, calça leve de tecido e mesmo corte de cabelo. Ou seja, a vida radiante de Chico Science deslocou-se de um único corpo para espalhar-se por toda uma geração.

      O carnaval de Recife certamente este ano terá um tom a menos, um Chico a menos em sua alegria. Mas a tristeza dos milhares de foliões certamente será espantada com a batida forte do som de Science em todos os cantos de Recife e Olinda, em todos os blocos, em todas as caixas acústicas dos carros, ruas e praças. A cultura pernambucana continuará viva porque Science continuará vivo na memória de todos nós, dos nossos filhos.

      Por último, rendo aqui as minhas homenagens e condolências aos pais do artista, Rita e Francisco França. Distante, estendo-lhes o meu abraço e com eles compartilho todo este momento de dor. Chico Science foi alguém que representou bem a cultura do nosso povo pernambucano.