Pronunciamento de Joel de Hollanda em 31/03/1997
Discurso no Senado Federal
REGOZIJO COM O TEOR DOS PRONUNCIAMENTOS DO PRESIDENTE FRANCES, JACQUES CHIRAC, DURANTE VISITA AO BRASIL, INAUGURANDO UMA NOVA ETAPA DAS RELAÇÕES ENTRE OS DOIS PAISES NOS MAIS DIVERSOS SETORES.
- Autor
- Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
- Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA EXTERNA.:
- REGOZIJO COM O TEOR DOS PRONUNCIAMENTOS DO PRESIDENTE FRANCES, JACQUES CHIRAC, DURANTE VISITA AO BRASIL, INAUGURANDO UMA NOVA ETAPA DAS RELAÇÕES ENTRE OS DOIS PAISES NOS MAIS DIVERSOS SETORES.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/04/1997 - Página 6782
- Assunto
- Outros > POLITICA EXTERNA.
- Indexação
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- COMENTARIO, DISCURSO, CONGRESSO NACIONAL, JACQUES CHIRAC, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, FRANÇA.
- IMPORTANCIA, AMERICA LATINA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), LIDERANÇA, BRASIL, REFORÇO, ACORDO, UNIÃO EUROPEIA, ESPECIFICAÇÃO, INTEGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, no dia 17 de março próximo passado, no plenário deste Congresso, S. Exª, o Presidente francês Jacques Chirac deixou claro que a América Latina volta a ser uma prioridade absoluta para o seu país.
Os trechos mais marcantes do seu discurso colocam em evidência a grandeza do continente e do Mercosul, as possibilidades do mundo multipolar e as do Brasil como nova potência econômica e industrial e ponto de equilíbrio do progresso e da construção definitiva da democracia nesta parte da América.
É importante destacar as palavras do Presidente francês para podermos tirar algumas conclusões sobre essa nova etapa das relações entre França e Brasil nos campos cultural, econômico, tecnológico, comercial e geopolítico.
Diz o referido Presidente:
"Foi pelo Brasil que resolvi iniciar a minha primeira visita oficial à América Latina (...) por vontade de homenagear o Brasil, grande potência da América, pólo do mundo de amanhã (...) nossa amizade é antiga e profunda. Nossas afinidades são ao mesmo tempo sentimentais e intelectuais. Elas têm origem nos mesmos princípios (...) Sim, o Brasil deve ser para a França um parceiro de primeira importância (...) eu desejo hoje, neste lugar privilegiado da democracia sul-americana, revelar aos senhores minha ambição para as relações entre a França, a Europa e a América do Sul (...) A Europa, com os seus 15 Estados-membros e seus 350 milhões de habitantes, é o maior mercado do mundo e o mais aberto. Seu PNB iguala-se ao do conjunto norte-americano, Estados Unidos e Canadá juntos. Os senhores sabiam que a União Européia importa duas vezes mais do que a América do Norte inteira? Os senhores sabiam que ela é de longe o primeiro doador de ajuda à América do Sul e o seu primeiro parceiro comercial? (...) O Mercosul tornou-se a zona comercial mais dinâmica da América Latina e o quarto conjunto econômico do mundo (...) A ordem natural das coisas mostra que a União Européia e o Mercosul devem caminhar juntos. Suas afinidades, sua história comum, os seus interesses bem definidos, sua ligação à sua identidade e sua rejeição a um mundo unipolar nos aproximam e nos levam a desenvolver os nossos negócios e a aprofundar a nossa integração (...) Sejamos ambiciosos! Vamos ao encontro do nosso futuro! (...) Eu proponho, e consultei o Presidente Cardoso, que, pela primeira vez na História, seja realizada, no final de 1998, uma reunião entre os Chefes de Estado e de Governo da América Latina e da Europa (...) Eu vos proponho discutir conjuntamente o nosso futuro (...)"
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são palavras do Presidente francês pronunciadas aqui no Congresso Nacional.
O Presidente Jacques Chirac tem toda razão quando diz que a amizade entre a França e o Brasil é profunda e que ela tem origem nos mesmos princípios: na filosofia do Iluminismo, nos ensinamentos dos Enciclopedistas, nos ideais da Revolução Francesa e na doutrina positivista, fontes inspiradoras de nossa cultura e de toda a nossa evolução histórica e intelectual.
Nossa formação é, portanto, fortemente de origem européia e, nessa origem, muito mais influenciada pela cultura francesa do que pelos valores lusitanos. Todavia, a partir de um determinado momento, principalmente no imediato pós-guerra, com a nova geografia mundial, com a ascensão dos Estados Unidos e o início da Guerra Fria, nossos costumes começaram a mudar e passamos a pertencer à área de influência vital do chamado "império americano". Nesse sentido, os ideais franceses foram pouco a pouco sumindo da pauta de nossas preocupações e o "american way of life" passou a interferir diretamente em nossa vida cotidiana.
Apesar de tudo, a França ainda ocupa um grande espaço em nossos corações. Por exemplo, ela detém hoje o segundo lugar em volume de investimentos em nosso País. Acredito que um esforço conjunto dos nossos governos será perfeitamente capaz de recuperar o tempo e as vantagens que perdemos com a nossa separação.
O que o Presidente Chirac nos propôs durante sua visita merece uma reflexão particular do Governo Fernando Henrique Cardoso e de nossa Chancelaria. A França acena para a formação de um enorme mercado comum que seria incontestavelmente o maior espaço comercial, econômico e tecnológico do mundo, um bloco capaz de diminuir consideravelmente o poder que os Estados Unidos exercem hoje sozinhos de maneira imperial.
Uma grande ponte ligando América Latina via Mercosul à União Européia seria uma oportunidade fantástica para os dois continentes e, sem dúvida alguma, um grande salto para o Brasil em todos os sentidos. Em termos globais, teríamos muito mais a ganhar com a Europa do que com a grande zona de comércio das Américas - Alca -, que está sendo idealizada pelos Estados Unidos, no sentido até de esvaziar o grande projeto latino-americano de expansão do Mercosul. Aqui, mais uma vez, devem ser colocadas sobre a mesa as identidades culturais que completam esse projeto de integração via Europa e que não encontram qualquer similar entre nós e os americanos do norte, logicamente, excluindo o México.
Os povos latinos nada têm em comum com os anglo-saxões a não ser desencontros políticos e comerciais permanentes e uma forte carga de preconceito deles em relação aos nossos povos e às nossas línguas. As nossas efetivas identificações culturais são praticamente nulas, diferentemente, é claro, da absorção dos usos e costumes que eles produzem cotidianamente de maneira massificada, e que nós consumimos como se estivéssemos em um grande supermercado.
A idéia francesa de reacender a chama da constituição de uma grande comunidade latina é, categoricamente, a colocação dos pilares da poderosa ponte de amizade e de integração a que nos referimos. Agora, para que esse sonho transforme-se em realidade, precisamos preparar o grande encontro do final de 1998 que o Presidente Jacques Chirac sugeriu e que deverá colocar frente a frente, pela primeira vez na história, como ele mesmo disse em seu pronunciamento, governantes latinos e europeus em busca de um futuro comum.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para finalizar, gostaria de relembrar declarações do embaixador da França no Brasil, S. Exª o Sr. Philippe Lecourtier, quando ele diz que a União Européia, com os seus trezentos e cinqüenta milhões de habitantes, sua moeda única e uma convergência sempre mais forte, constituirá o primeiro conjunto econômico do planeta. Segundo ele, é justamente esse o sentido do acordo União Européia-Mercosul, assinado em dezembro de 1995.
Muito obrigado.