Discurso no Senado Federal

PAPEL DO PCB - PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO NA HISTORIA POLITICA DO PAIS.

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • PAPEL DO PCB - PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO NA HISTORIA POLITICA DO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/1997 - Página 6589
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, TRADIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), POLITICA, PAIS.

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS-PE. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há alguns anos atrás, quando militávamos no velho Partido Comunista Brasileiro, uma contenda política sempre era colocada em cima da mesa: quem eram os verdadeiros herdeiros do partido criado por Astrogildo Pereira , em 1922 ? Esta disputa rendeu discursos, artigos, pesquisas de conteúdo histórico e muita inimizade.

Hoje, tal discussão não tem mais qualquer sentido. Nenhum grupo específico ou liderança de esquerda pode se arrogar em herdeiro exclusivo daquele movimento. Na verdade, o PCB, que na origem se denominava de Partido Comunista do Brasil, está na raiz da tradição socialista brasileira, em todas as suas vertentes. Se mergulharmos em sua história vamos perceber que da grande e generosa fonte pecebista nasceram tanto as tendências de conteúdo democrático quanto as que reafirmam uma concepção de política e de estado autoritária.

O Partido Popular Socialista, constituído a partir do X Congresso do PCB, significando ao mesmo tempo ruptura e continuidade, assume com orgulho ser um dos herdeiros dessa bela página da história brasileira. Lançamos mão de suas melhores tradições democráticas e julgamos que temos legitimidade, juntamente com outras forças e lideranças de esquerda, partidárias ou não, para manter hasteada em todo o Brasil a bandeira do socialismo.

O velho PCB foi um dos protagonistas mais importantes da história brasileira deste século, em que pese todas as tentativas, à direita e à esquerda, em desmerecê-lo. Foi vanguarda , responsabilizou-se pelo aparecimento de toda uma geração de jornalistas criada nas redações da imprensa popular quando por aqui nem escola de comunicação existia, montou e incentivou uma forte cultura editorial (Editora Vitória, Civilização Brasileira, entre outras), internalizou no Brasil centenas de publicações e clássicos que vão das ciências sociais e médicas à literatura. Acompanhou e fomentou a modernização do Brasil e a inserção dos trabalhadores no cenário político nacional.

Poucas pessoas fazem esta relação, mas sempre é bom lembrar que o PCB, embora fruto do movimento comunista surgido da revolução bolchevique de 1917, nasceu, entre nós, no mesmo ano da semana de arte moderna, ou seja, em um momento em que a palavra de ordem era revolucionar as idéias e os costumes.

Quem se despreocupa com a preservação dessa memória e, de forma açodada, imagina - pela dimensão e importância das lutas operárias da década de 70 - que a esquerda foi iniciada nas greves do ABC, não está preparado para dirigir o Brasil no século XXI.

Os povos costumam ter seus heróis. Nós brasileiros temos muitos e nessa galeria a esquerda inscreve: Luis Carlos Prestes, Gregório Bezerra, , Davi Capistrano, Wladimir Herzog, Pomar, Ângelo Arroio, Carlos Marighela, Mário Alves, só para citar alguns neste século. E se os temos é porque tivemos o PCB.

Razão tem o poeta Ferreira Goulart quando em versos diz:

“O PCB não se tornou o maior partido do Ocidente

nem mesmo do Brasil

Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis

tem que falar dele.

Ou estará mentindo”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/1997 - Página 6589