Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 07/04/1997
Discurso no Senado Federal
VISITA DE S.EXA. E OUTROS SRS. PARLAMENTARES A FAVELA NAVAL, EM DIADEMA, NO ULTIMO SABADO, COM O FIM DE OUVIR OS RELATOS DAS VITIMAS DA VIOLENCIA PERPETRADA POR POLICIAIS MILITARES. ABUNDANCIA DE CASOS DE ABUSO E DESCONTROLE DA POLICIA MILITAR DE SÃO PAULO. PROTESTOS DE CONJUNTOS MUSICAIS, EM ESPECIAL, DOS GRUPOS DE RAP DAS PERIFERIAS DAS GRANDES CIDADES, CONTRA A VIOLENCIA POLICIAL. INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO A OFICIAL DA POLICIA MILITAR, DE QUE SEU SERVIÇO SECRETO ESTARIA EFETUANDO ESCUTAS TELEFONICAS ILEGAIS DE MEMBROS DO MOVIMENTO DOS SEM-TERRA.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.:
- VISITA DE S.EXA. E OUTROS SRS. PARLAMENTARES A FAVELA NAVAL, EM DIADEMA, NO ULTIMO SABADO, COM O FIM DE OUVIR OS RELATOS DAS VITIMAS DA VIOLENCIA PERPETRADA POR POLICIAIS MILITARES. ABUNDANCIA DE CASOS DE ABUSO E DESCONTROLE DA POLICIA MILITAR DE SÃO PAULO. PROTESTOS DE CONJUNTOS MUSICAIS, EM ESPECIAL, DOS GRUPOS DE RAP DAS PERIFERIAS DAS GRANDES CIDADES, CONTRA A VIOLENCIA POLICIAL. INFORMAÇÕES OBTIDAS JUNTO A OFICIAL DA POLICIA MILITAR, DE QUE SEU SERVIÇO SECRETO ESTARIA EFETUANDO ESCUTAS TELEFONICAS ILEGAIS DE MEMBROS DO MOVIMENTO DOS SEM-TERRA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 08/04/1997 - Página 7286
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, VISITA, ORADOR, DEPUTADO FEDERAL, FAVELA, MUNICIPIO, DIADEMA (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBTENÇÃO, DEPOIMENTO, PESSOAS, VITIMA, VIOLENCIA, ABUSO, POLICIA MILITAR.
- LEITURA, MUSICA, AUTORIA, BANDA DE MUSICA, PERIFERIA URBANA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PROTESTO, VIOLENCIA, POLICIA MILITAR.
- DEFESA, NECESSIDADE, MARIO COVAS, GOVERNADOR, JOSE AFONSO DA SILVA, SECRETARIO DE ESTADO, SEGURANÇA PUBLICA, AMPLIAÇÃO, ATUAÇÃO, CONTROLE, ABUSO DE AUTORIDADE, APURAÇÃO, VERACIDADE, DENUNCIA, ILEGALIDADE, ATIVIDADE, SERVIÇO SECRETO, POLICIA MILITAR, INTERCEPTAÇÃO, TELEFONE, JOSE RAINHA, LIDER, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA.
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Antonio Carlos Magalhães, Srªs e Srs. Senadores, no último sábado, acompanhado dos Deputados Hélio Bicudo, Luís Eduardo Greenhalg, Fernando Gabeira, José Augusto Ramos, que foi prefeito de Diadema, e do ex-Prefeito, José Felipe, estive em Diadema, na favela Naval, para ouvir o depoimento das pessoas que foram vítimas da violência e do abuso de policiais militares naquela localidade.
Estivemos também com a mãe e a esposa de Mário José Jovino, morto naquele dia pelos policiais, a partir de uma ação de extorsão, de tortura e de tiros. Vimos os sinais dos tiros nas paredes e ouvimos de muitos que, de fato, aquela violência estava ocorrendo quase diariamente, pelo menos há três ou quatro meses.
As pessoas estavam com grande temor de nos contar os fatos, mas foram aos poucos relatando-os. Preferiram que seus nomes não fossem revelados.
Ouvimos o relato, por exemplo, de uma mãe, que disse que em outubro último organizou em sua casa uma festa de aniversário bastante simples para uma de suas crianças. Estava servindo refrigerantes, quando, de repente, entraram diversos policiais e começaram, abusivamente até, a colocar o dedo dentro dos refrigerantes e a tomar atitudes que, a certa altura, foram objeto de protesto de seu cunhado. Eis que o policial, de pronto, deu um soco no estômago do cunhado. Ficaram estarrecidos. Como é que até uma festa de criança podia ser objeto daquele abuso?
Têm sido muitas as vezes em que autoridades policiais no Estado de São Paulo, e infelizmente em outros lugares do Brasil, têm usado e abusado do fato de estarem fardados e usando armas. Ainda, ontem também fiz uma visita à favela de Paraisópolis, que se encontra em meio a um dos bairros de maior renda per capita de São Paulo. É interessante que no meio do Morumbi, a aproximadamente 3 quilometros do Palácio dos Bandeirantes, exista uma favela que hoje tem cerca de 15 mil famílias, 75 mil habitantes, considerando-se um mínimo de 5 pessoas por família. Era a posse da nova diretoria da União dos Moradores de Paraisópolis, e inúmeras pessoas me disseram que também ali têm ocorrido abusos dos mais diversos tipos, como o caso do rapaz que de pronto disse: "Olha, outra dia, eu estava sem carta de motorista e me levaram para um terreno baldio e disseram: ou você me paga R$50 ou vou acabar com você". Na hora que o rapaz titubeou um pouco, o policial deu um tiro para o chão, e ele se viu na necessidade de fazer um pagamento ao policial.
Está havendo um certo descontrole, mas tenho certeza de que o Governador Mário Covas e o Secretário de Segurança, José Afonso da Silva, não estão de acordo com tais procedimentos.
Hoje a Folha de S. Paulo registra como o motoqueiro Aldair Severino da Silva sumiu quando estava no 23º DP, em Perdizes, porque foi justamente acusar de espancamento um tenente da PM.
"Acho que mataram meu irmão", disse Ivair Severino da Silva. Aldair Silva estava dirigindo uma motocicleta Honda ML-125 em 1º de março passado quando foi parado pelo policiamento de trânsito no cruzamento da avenida Rebouças com a Brasil. Ele e a motocicleta foram levados para um quartel da avenida Marquês de São Vicente.
A moto foi apreendida porque estava com velocímetro quebrado e com uma letra da placa apagada. Ao pedir uma relação do que existia na moto, o motoboy teria sido espancado pelo Tenente Otoni, do trânsito. Ele teria levado socos e chutes.
Ele procurou o comandante do 4º Batalhão da PM, tenente-coronel Luiz Nakaharada, que mandou apurar o caso. Durante nove horas, o motoboy foi acompanhado por policiais militares, entre eles o aspirante Lessa, do 4º Batalhão.
Às 21 horas, ele foi levado para o 23º DP, em Perdizes, a fim de registrar a queixa de espancamento. Estava acompanhado por um PM. Na delegacia, conversou com um engenheiro sobre a agressão policial. Depois, não foi mais visto."
São casos e mais casos. Bem salienta hoje Esther Hamburger, em artigo na Folha de S. Paulo, que diversas pessoas, conjuntos musicais, como Racionais, Titãs, Paralamas, Gilberto Gil, têm feito protestos, um após outro. Caetano Veloso, em sua música Haiti, diz que o Haiti é aqui no Brasil.
Impressiona-me o extraordinário sucesso do conjunto de rap os Racionais nos bairros mais pobres de São Paulo. Eles cantam justamente os que os adolescentes dos bairros periféricos querem ouvir. Que linguagem falam eles? O Senador Abdias Nascimento, na semana passada, falava-nos da perseguição que sobretudo os negros sofrem das polícias militares, constituída também de pessoas das camadas mais pobres.
Leio aqui o rap do DMN, do LP Cada Vez Mais Preto, intitulado "Como pode estar tudo bem?", de autoria de L. Fernando e M. Santos.
"Como pode estar tudo bem?
Se ainda somos jogados contra parede
Medo sempre, está tudo bem?
Manipulados e levados a incerteza
Os meus irmãos ainda continuam na mesma
A matança continua, criminalidade nas ruas
Com sua atitude, fria e suja
Nacionalidade sem cadência, sem estrutura
Inteligência se perdendo.
Qual é a sua?
Que fala em pena de morte
Pobre já nasce sem sorte
Quando não morre de fome
Morre nas mãos da polícia
Que define o destino com pancadas e tiros
Como pode estar tudo bem?"
São letras ouvidas por milhares de pessoas que vão ouvir tais grupos, os Racionais MC, por exemplo.
Cito aqui um trecho da música de Brown:
"Um homem na estrada recomeça sua vida
sua finalidade a sua liberdade que foi perdida
subtraída e quer provar a si mesmo que realmente
mudou, que se recuperou, e quer viver em paz
não olhar para trás dizer ao crime nunca mais,
pois sua infância não foi um mar de rosas, não na Febem
lembranças dolorosas então sim, ganhar dinheiro ficar rico
enfim muitos morreram assim.
Sonhando alto assim
Me digam quem é feliz
Quem não se desespera
Vendo nascer seu filho
No berço da miséria
Um lugar onde só tinha como atração o bar, e o
candomblé prá se tomar a benção
Esse é um palco da história que por mim será contada.
Um homem na estrada
Equilibrado num barranco
Um cômodo mal acabado e sujo porém seu único lar
seu bem e seu refúgio um cheiro horrível de esgoto
no quintal.
Por cima ou por baixo se chover será fatal
Um pedaço de inferno aqui e onde eu estou
Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou numerou
os barracos fez um par de perguntas, logo depois
esqueceram ...
Acharam uma mina morta e estuprada deviam estar
com muita raiva mano, quanta paulada.
Estava irreconhecível, o resto desfigurado deu meia-noite
e o corpo ainda estava lá coberto com lençol
Ressecado pelo sol, jogado o I.M.L. estava só 10 horas atrasado
Sim ganhar dinheiro, ficar rico enfim quero que meu filho
nem se lembre daqui
tenha uma vida segura não quero que ele cresça com um
oitão na cintura e uma PT na cabeça e o resto da madrugada
em dormir ele pensa, o que fazer para sair dessa situação
desempregado então
Por má reputação
Viveu na detenção
Ninguém confia não
E a vida desse homem para sempre foi danificada um
homem na estrada
Amanhece mais um dia
E tudo é exatamente igual calor insuportável, 28 graus
faltou água já é rotina, monotonia não tem prazo pra voltar
já fazem 8 dias.
São 10 horas a rua está agitada uma ambulância foi
chamada com extrema urgência, loucura, violência,
exagerada, estourou a própria mãe e estava embriagado
Mais bem antes da ressaca ele foi julgado, arrastado pela rua
O pobre do elemento inevitável linchamento imagine só
ele ficou bem feio não tiveram dó.
Os ricos fazem campanha contra as drogas e falam sobre
o poder destrutivo delas
Por outro lado promovem e ganham muito dinheiro com
álcool que é vendido na favela.
Impapuçado ele sai vai dar um rolê não acredita no que vê.
Não daquela maneira crianças, gatos, cachorros disputam
palmo a palmo seu café da manhã.
Na lateral da feira molecadas sem futuro eu já consigo
ver só vão na escola para comer apenas nada mais.
Como é que vão aprender.
Sem incentivo de alguém.
Sem orgulho.
Sem respeito.
Sem saúde.
Sem paz!
Um mano meu tava ganhando um dinheiro.
Tinha comprado um carro até Rolex tinha
Foi fuzilado a queima roupa num colégio
Abastecendo a playboisada de farinha
Ficou famoso virou notícia
Rendeu dinheiro aos jornais
Cartaz a polícia
20 anos de idade alcançou os primeiros lugares
Super star do Notícias Populares uma semana depois
chegou o crack
Gente rica por trás, diretoria aqui periferia miséria de sobra.
Um salário por dia garante a mão-de-obra.
A clientela tem grana e compra bem
Tudo em casa costa quente de sócios:
A playboisada muito louca até o ossos vender droga por
aqui grande negócio.
Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim.
Quero um futuro melhor.
Não quero morrer assim
Num necrotério qualquer
Um indigente sem nome, sem nada.
Um homem na estrada
assaltos na redondesa levantaram suspeitas
Logo acusaram a favela para variar.
E o boato que corre é que o homem
Está com o seu nome lá.
Na lista dos suspeitos.
Pregada na parede do bar.
A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar
de nada vai dormir tranqüilamente.
Mais na calada caguetaram seus antecedentes.
Como se fosse uma doença incurável no seu braço a
tatuagem, D.V.C. uma passagem 157 na lei
Ao seu lado
Não tem mais ninguém a Justiça Criminal é implacável
tiram a sua liberdade família e moral mesmo longe do
sistema carcerário
Te chamaram pra sempre
de expresidiário não confio na polícia raça (...)
Se eles me acham baleado na calçada
Chutam minha cara e cospem em mim
E eu sangraria até a morte
Já era, um abraço
Por isso a minha segurança
Eu mesmo faço
É uma hora parece estar tudo normal
Mas esse homem desperta
Pressentindo o mal
Muito cachorro latindo ele acorda ouvindo
Barulho de carro e passos no quintal
A vizinhança está calada, insegura
Premeditando um final
Que já conhecem bem
Na madrugada da favela
Não existe leis
Talvez a lei do silêncio
A lei do cão talvez
Vão invadir o seu barraco
É a polícia
Vieram pra arregaçar
Cheio de ódio e malícia
(...)
Comedores de carniça
Já deram a minha centença
E eu nem estava na treta
Não são poucos e já vieram muito loucos
Matar na crocodilagem
Não vão perder viagem
15 caras lá fora, diversos calibres e eu apenas com uma
13 tiros automática
Sou eu mesmo e eu meu deus e meu orixá
No primeiro barulho eu vou atirar
Se eles me pegam meu filho
Fica sem ninguém
O que eles querem mais um
Pretinho na Febem
Sim ganhar dinheiro, ficar rico enfim a gente sonha a vida
inteira e só acorda no fim
Minha verdade foi outra
Não dá mais tempo pra nada não."
Assim, Sr. Presidente, aqui estão, na poesia das pessoas que moram na periferia de São Paulo, os sentimentos sobre a realidade que estão vivendo.
Diversos abusos estão ocorrendo na Polícia Militar há bastante tempo. Antonio Claudio Mariz de Oliveira e outros secretários dizem hoje à Folha de S.Paulo que a PM é incomandável. Diz o próprio Antonio Mariz de Oliveira: "A PM tem espírito de casta organizada e voltada para si mesma; é um estado dentro do Estado".
Sr. Presidente, ontem perguntei ao Presidente Fernando Henrique Cardoso se porventura havia ordenado à Polícia Militar ou a alguém fazer escuta dos líderes do Movimento dos Sem-Terra. Sua Excelência disse-me que não. Informou-me ainda que transmitiu ao General Alberto Mendes Cardoso, Ministro Chefe da Casa Militar, que de forma alguma use a escuta telefônica em qualquer circunstância, a não ser com autorização judicial.
No Parlatino, por ocasião do pronunciamento do Presidente sobre o balanço de dois anos desde o encontro de Cúpula Social de Copenhague, em conversa com o Governador Mário Covas perguntei se, porventura, havia ordem para alguém da PM realizar a escuta telefônica. S. Exª informou-me que de maneira alguma e que não sabia. Então, disse-lhe que havia obtido informações de oficiais da Polícia Militar, que obviamente preferem ser preservados, que não estão de acordo com a transgressão do capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição, que fala dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, no seu art. 5º, Inciso XII, onde se lê:
É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
Ora, eu obtive a informação precisa de que a Polícia Militar, por seu serviço reservado, desde antes da decretação da prisão preventiva de José Rainha e posteriormente, encaminha com freqüência o conteúdo transcrito das conversas telefônicas desse líder do Movimento dos Sem-Terra. A Polícia, portanto, tem acompanhado os seus passos e os seus telefonemas. O Governador disse: "Se eles sabem, então o prenderiam, porque a prisão preventiva foi decretada." Não foi feita a prisão, ainda que tivessem conhecimento de onde ele está. Pouco mais à noite, conversei com o Secretário da Justiça, Belisário dos Santos, que também ficou surpreso com a informação, e, em seguida, com o Secretário de Segurança, José Afonso da Silva, que diz que não sabia desse fato. Transmiti-lhe que ele pode perfeitamente conhecer os fatos. Essa informação pode ser encontrada na Segunda Seção do Estado-Maior da PM, no Quartel-General da Polícia Militar, em São Paulo.
Queremos aqui, Sr. Presidente, chamar a atenção de como, em São Paulo, está havendo um abuso extraordinário por parte de policiais militares, com a conivência do comando da Polícia Militar.
O Sr. Lauro Campos - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Eduardo Suplicy?
O SR. EDUARDO SUPLICY - Com muita honra, Senador Lauro Campos.
O Sr. Lauro Campos - V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, expressa em seu discurso a multiplicidade das linguagens, por meio das quais a sociedade sofrida brasileira tenta expressar as suas angústias, o seu protesto contra a violência sistêmica, a violência institucional, como aqui se referiu há poucos dias o nobre Senador Josaphat Marinho. São essas diversas linguagens que tentam traduzir os mesmos sentimentos. Em alguns lugares essa linguagem é mais veemente. Na Coréia do Sul, os trabalhadores vítimas do mesmo enxugamento, da mesma redução do custo Coréia, do mesmo desemprego neoliberal, vão para a rua com coquetéis Molotov. Essa é a sua linguagem, a linguagem do fogo, do coquetel Molotov, que se repete no Equador, quando Bucarán, El Loco, paga U$500 mil para o que o Sr. Domingo Cavallo repita a dose aplicada no Brasil e em diversos países da América do Sul sobre o povo equatoriano. E a resposta, a linguagem encontrada no Equador, foi justamente a mesma que se pronunciou nas ruas da Coréia do Sul: os coquetéis Molotov e a expulsão da Presidência da República do Sr. Bucarán, El Loco, e assim por diante. Parece-me que estamos diante de situações muito semelhantes. Há uma globalização da violência, há uma globalização da barbárie, que se intensifica principalmente em condições sociais como as existentes no Brasil, em que esses ex-trabalhadores marginalizados que se encontram nas favelas foram expulsos do campo, em Minas Gerais, no Nordeste, quando não se quis fazer uma reforma agrária nos anos 60. Foram expulsos para as indústrias então florescentes e, depois da exploração, subiram o morro e se transformaram em favelados. A classe média, também desempregada, segue a mesma trilha de amargura. Portanto, é óbvio que, numa sociedade como esta, ao contrário do que pensa o letrista a que se referiu V. Exª, não há ninguém mais que tenha segurança. Não adianta ficar rico, porque os ricos também estão inseguros; só aqueles que andam acima do nível do povo, aqueles que se dirigem de helicóptero para seus escritórios ou para suas indústrias e pousam nos heliportos de seus prédios fantásticos é que podem se considerar mais ou menos imunes. Então, me parece que realmente é um problema social. Esta sociedade violenta produz, entre os marginalizados, a multiplicação da violência. Não há uma linha ideológica para dirigir essa agressividade reativa, a ideologia foi também amassada, e realmente é uma luta desorganizada, bagunçada; é uma luta bárbara para a sobrevivência a qualquer custo. Uma sociedade violenta produz um governo violento, uma polícia violenta, institucionaliza a violência e somatiza essa violência a que V. Exª, com muita perspicácia e oportunidade, se refere. Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.
O SR. EDUARDO SUPLICY - Agradeço ao Senador Lauro Campos e incorporo as reflexões de V. Exª, porque mostra a sua sensibilidade em relacionar esses episódios de violência que ocorrem no Brasil, como em outros lugares onde se desenvolve uma política econômica e social que acaba resultando em mais violência.
Sr. Presidente, o Corregedor da Polícia Militar, Benedito Domingos Mariano, informou-me hoje que, perguntado sobre o episódio de Diadema - como o episódio nº 501, de circunstâncias semelhantes -, tem ouvido denúncias sobre casos como o de Diadema, que se têm seguido, um após o outro, fazendo-se necessário uma cirurgia no âmbito da Polícia Militar.
Mas é preciso que o Governador Mário Covas e que o Secretário José Afonso da Silva certifiquem-se de que está havendo a informação ao próprio comando da Polícia Militar sobre a escuta telefônica - uma transgressão à Constituição - e sobre as conversas que, por aparelho celular, estariam sendo efetuadas pelo líder José Rainha. É preciso se fazer muito mais do que até agora foi feito pelo Governador Mário Covas e pelo Secretário José Afonso da Silva, porque, de outra forma, aqueles que estão no comando da PM vão-se sentir sempre como poderosos, não havendo a capacidade de o Governador e de o próprio Secretário de Segurança terem o controle sobre esses abusos de autoridade.
Muito obrigado.