Pronunciamento de Lucídio Portella em 16/04/1997
Discurso no Senado Federal
COMENTARIOS AO PLANO DE AÇÕES E METAS PRIORITARIAS DO MINISTERIO DA SAUDE, RELATIVO AO BIENIO 1997/98. DESCASO DO GOVERNO FEDERAL COM O TRATAMENTO DE DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS, COMO A TUBERCULOSE, POR EXEMPLO, EMERGENTES E REEMERGENTES NO BRASIL.
- Autor
- Lucídio Portella (PPB - Partido Progressista Brasileiro/PI)
- Nome completo: Lucídio Portella Nunes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SAUDE.:
- COMENTARIOS AO PLANO DE AÇÕES E METAS PRIORITARIAS DO MINISTERIO DA SAUDE, RELATIVO AO BIENIO 1997/98. DESCASO DO GOVERNO FEDERAL COM O TRATAMENTO DE DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITARIAS, COMO A TUBERCULOSE, POR EXEMPLO, EMERGENTES E REEMERGENTES NO BRASIL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/04/1997 - Página 7924
- Assunto
- Outros > SAUDE.
- Indexação
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- GRAVIDADE, SAUDE PUBLICA, BRASIL, FALTA, CONTROLE, DOENÇA, VITIMA, POPULAÇÃO CARENTE, ESPECIFICAÇÃO, PERIGO, AUMENTO, TUBERCULOSE.
- COMENTARIO, PLANO DE AÇÃO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), NECESSIDADE, URGENCIA, MELHORIA, ADMINISTRAÇÃO, SAUDE PUBLICA.
O SR. LUCÍDIO PORTELLA (PPB-PI. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabo de receber o Plano de Ações e Metas Prioritárias do Ministério da Saúde relativo ao biênio 1997/98, três dias após a comemoração do Dia Internacional da Saúde, num ano que é considerado o ANO DA SAÚDE NO BRASIL.
Malgrado nosso progresso em diversas áreas, nosso desenvolvimento tenológico e o volume do serviço de saúde pública no Brasil, ainda não temos grandes razões para comemorar. Questões transcendentes nessa área nos chamam a atenção. É o caso de doenças emergentes como a AIDS, as hepatites "C" e "E" e o ebola, e as reemergentes, como a tuberculose, o cólera, a malária, a febre amarela e a esquistossomose.
O aparecimento e o reaparecimento dessas doenças estão a merecer cuidados especiais e redobrados das autoridades de saúde pública, objetivando uma melhor vigilância sanitária e a busca de novos recursos técnicos e financeiros na abordagem de controle destas doenças. Este fenômeno também demonstra que, embora a economia brasileira tenha elevado a renda média em todos os estratos sociais da população, estes não foram igualmente beneficiados, aumentando os diferenciais existentes.
A razão entre a renda média dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres é cerca de 30 vezes, enquanto na maioria dos países com grau de desenvolvimento comparável ao do Brasil é de apenas 10 vezes. Os 50% mais pobres tiveram, entre os anos sessenta e noventa, redução de 18 para 12%, enquanto a dos 20% mais ricos elevou-se de 54 para 65% no mesmo período.
A pobreza do Brasil assume múltiplos aspectos, resultantes de diversidades de ordem física, econômica e social, associando-se às doenças emergentes e reemergentes em um caldo de cultura necessário e suficiente para massacrar ainda mais a nossa população, através de uma ação fragilizadora e de óbitos prematuros.
Como não sou um especialista em doenças infecciosas e parasitárias, mas sim um tisiologista, procurarei traduzir para os Senhores a expressão maior da tuberculose em nosso País e, por via de conseqüência, poderão as senhoras e os senhores Senadores pressuporem o que estaria acontecendo com as outras doenças citadas.
A tendência de declínio da taxa de incidência da tuberculose registrada na década de oitenta transformou-se num perigoso aumento anual de novos casos de doença, inclusive em cidades importantes como o Rio de Janeiro. Cerca de seis mil óbitos registrados anualmente no País são atribuídos à tuberculose. Em 1995 foram notificados 91.013 casos de tuberculose de todas as formas no Brasil, das quais a metade de forma pulmonar bacilífera. Entre os 258.616 pacientes sintomáticos respiratórios examinados, mais de 10% resultaram positivos ao exame de escarro. A região norte apresentou a mais elevada taxa de incidência de formas pulmonares positivas à baciloscopia, seguida de minha região, a nordeste. Mas o Estado do Rio de Janeiro, no privilegiado centro-sul, foi individualmente o que registrou as taxas de incidência mais elevadas em 1995, tanto de todas as formas de tuberculose, quanto da pulmonar bacilífera.
Além de todos estes fatores, como já é de notório conhecimento público, a tuberculose é a terceira causa de infecção oportunista associada à AIDS, estando presente em 15% dos casos dessa síndrome notificados ao Ministério da Saúde.
Embora o percentual de cura de casos novos esteja próximo à meta das autoridades sanitárias, a multirresistência às drogas tuberculostáricas é uma questão preocupante, como indicam alguns estudos recentes.
Um inquérito epidemiológico nacional para determinar com maior precisão a magnitude do problema está em andamento.
A realidade da tuberculose, uma triste realidade, está demonstrando a urgente necessidade de um compromisso governamental mais ajustado ao momento caótico da administração da saúde pública, desestruturada para o enfrentamento dos problemas, asfixiada financeiramente e claudicante em seus aspectos gerenciais.
Embora esteja consubstanciada no Plano de Ações e Metas do Ministério da Saúde a intensificação do combate à tuberculose, priorizando a execução de ações estratégicas em 230 municípios, reconheço que, se não forem tomadas providências imediatas, certamente a sociedade brasileira pagará um preço muito alto, em doenças e mortes, principalmente devido ao descaso como estão sendo encaradas as doenças emergentes e reemergentes, das quais a tuberculose tornou-se lamentavelmente emblemática.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.