Discurso no Senado Federal

CRIME HEDIONDO OCORRIDO EM BRASILIA QUE RESULTOU NA MORTE DO INDIO PATAXO GALDINO.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. TELECOMUNICAÇÃO. DIREITOS HUMANOS.:
  • CRIME HEDIONDO OCORRIDO EM BRASILIA QUE RESULTOU NA MORTE DO INDIO PATAXO GALDINO.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/1997 - Página 8282
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. TELECOMUNICAÇÃO. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, AUSENCIA, JUSTIFICAÇÃO, CRIME, ADOLESCENTE, CLASSE MEDIA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PROVOCAÇÃO, FOGO, GALDINO JESUS DOS SANTOS, INDIO.
  • COBRANÇA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, TELEVISÃO, ENGAJAMENTO, COMBATE, VIOLENCIA, PROGRAMAÇÃO, INCENTIVO, FORMAÇÃO, JUVENTUDE.

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Serei breve, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um constrangimento enorme tomou conta de Brasília durante as comemorações dos 37 anos de fundação da Capital Federal.

A inacreditável história de cinco rapazes que atearam fogo no cacique Galdino, numa parada de ônibus na W3 Sul, expôs a face macabra da violência que caracteriza esse final de milênio.

A selvageria do ato chocou o País e o mundo. A comunidade de Brasília, até agora, permanece atônita sem conseguir entender como jovens bem-criados de classe média, que freqüentam colégios conceituados, foram capazes de praticar um crime com tamanho requinte de crueldade.

O crime do qual foi vítima o cacique Galdino revolta pela banalidade, pela gratuidade do ato.

A sociedade inteira só tem uma pergunta: por quê?

O que leva um jovem bem nutrido, que freqüenta escolas particulares, que tem padrão de vida acima da média e de comportamento absolutamente normal, como é o caso dos cinco assassinos presos, a cometer um absurdo desses?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vivemos em uma sociedade marcada pela violência. Os acontecimentos registrados por um cinegrafista amador e exibido por todas as redes de televisão, mostrando a violência da PM paulista são profundamente emblemáticos.

A violência, infelizmente, tornou-se apenas mais um estilo de vida na sociedade moderna.

O que aconteceu anteontem na Capital do Brasil poderia ter ocorrido em frente à Torre Eiffel ou numa das esquinas de Time Square, porque a violência não é um fenômeno brasiliense ou brasileiro, mas mundial.

Claro que nada disso justifica a crueldade de que foi vítima o cacique Galdino. Nenhuma dessas explicações será capaz de aplacar a justa revolta da tribo Pataxó ou curar a dor da viúva e dos seus três filhos.

E o sofrimento não atinge somente a família da vítima. Os pais dos rapazes que cometeram esse crime, tenho certeza, estão completamente arrasados. Seus parentes e amigos também estão sofrendo com essa atitude que não conseguem entender.

Entender esse crime, aliás, é o grande desafio que se coloca para a sociedade como um todo.

Como entender a violência gratuita, a violência pela violência?

Muitas serão as explicações dos psicólogos, dos juristas, dos sociólogos e dos estudiosos em geral. Mas talvez seja hora de repensarmos os caminhos da nossa civilização.

Eu não pretendo me estender em considerações que certamente vão ocupar a agenda dos advogados, dos psicólogos e juízes por muito tempo. Mas quero cobrar, de um determinado segmento, mais especificamente da mídia, e principalmente da mídia eletrônica, um certo posicionamento em relação à violência.

Quero cobrar da TV brasileira mais engajamento no combate à violência. É preciso criar, inventar, ter a coragem de produzir uma programação de TV voltada para a disseminação dos princípios de solidariedade.

Uma programação que se contraponha à infinidade de violência que domina as produções cinematográficas de hoje e que, diariamente, estão sendo veiculadas na TV, contribuindo com isso para uma indesejável formação da juventude.

Nossa juventude está saturada de violência porque só consome violência.

Vamos reverter essa realidade macabra. Vamos divulgar mais amor, mais compreensão, mais tolerância e mais, muito mais solidariedade.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/1997 - Página 8282