Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR - PIXINGUINHA.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR - PIXINGUINHA.
Aparteantes
Júlio Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1997 - Página 8343
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR, MUSICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INFLUENCIA, MUSICA POPULAR, MUSICA BRASILEIRA.
  • CONGRATULAÇÕES, EMISSORA, TELEVISÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIVULGAÇÃO, HOMENAGEM, CENTENARIO, MUSICO.

            A SRª BENEDITA DA SILVA (BLOCO/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, parabenizo a iniciativa do Senador Artur da Távola de pedir esta sessão para essa homenagem. Tenho certeza de que, se S. Exª não o fizesse, eu o faria, como carioca que sou.

            Eu comentava que nem sempre quem ri por último ri melhor, porque o Senador Abdias Nascimento fez o seu belíssimo discurso e tirou-me 60% das chances que tinha de falar sobre Pixinguinha. Depois, veio, com esse brilhantismo, o Senador Artur da Távola e levou-me os outros 40%.

            Mesmo assim, não poderia deixar de me pronunciar e o faço com o orgulho que me invade pela oportunidade de falar sobre um ser humano doce, afável, correto, talentoso, arranjador, flautista, simplesmente genial, que passou por esta vida e nos deixou grandes lembranças, saudades e ensinamentos, alguns deles lembrados pelos Senadores Abdias Nascimento e Artur da Távola.

            Também tenho orgulho de ser brasileira e ter o privilégio de ser compatriota desse artista. Orgulho-me de ser negra e de ter nesse gênio um irmão de raça, esse Pixinguinha aqui homenageado pelos oradores que me antecederam, os quais puderam descrevê-lo com propriedade, lembrando sua contribuição cultura, musical e política.

            Destaco o fato de que Pixinguinha foi um gênio sem que o quisesse ser. Aos 11 anos de idade, tocava profissionalmente no Cine-Teatro e já havia composto o seu primeiro choro, “Lata de Leite”, citado pelo Senador Abdias Nascimento.

            A partir daí, sabemos que esse gênio não parou.

            Compositor, arranjador, instrumentalista, ele se destacou no campo da orquestração e ocupou naturalmente essa posição de liderança na música popular brasileira. Antes de Pixinguinha, os arranjos ou eram importados, ou sofriam enorme influência estrangeira.

            Mas ele teve a sua particularidade, captando essa coisa do sentimento, e sua popularidade cresceu muito com a criação - também aqui já mencionada - dos “Oito Batutas”, que mais tarde se tornaram apenas “Batutas”, já que quando da viagem à França não puderam ir todos os oito, então o grupo passou a se chamar “Batutas”. Este grupo, que tocava na sala de projeção do Cine-Palais - também já dito pelo Senador Abdias Nascimento -, tinha um repertório que chamou a atenção, na época, porque só constava de músicas com ritmos afro-brasileiros, o que fez com que a crítica não os recebesse bem, talvez porque essa música, esse ritmo afro-brasileiro mexesse com outros sentimentos que, na verdade, não queriam que fossem aflorados. Em compensação, a aceitação do público era tanta que Rui Barbosa ia todos os dias ao cinema só para ouvi-los, porque era um ritmo envolvente, um ritmo brasileiro, que mexia com o sentimento de qualquer um, quanto mais com o de um poeta.

            Instrumentista de sopro vários. Enquanto flautista - recordávamos, o Senador Abdias Nascimento e eu -, de uma música que não nos lembramos durante todos esses festejos comemorativos, da genialidade com que ele tocava aquele choro que diz:

“Dança urubu,

Eu não sinhô.

Ora, dança urubu,

Eu sou doutor.”

            Ele dava um verdadeiro show quando tocava esse choro. E ele, na minha época, era um dos grandes nas disputas de dança de salão que tive a oportunidade de freqüentar. E, nesta época, ganhávamos grandes prêmios com esse choro. E só dançava esse choro quem verdadeiramente tivesse uma classe enorme. Olhem, naquela época, não existia nenhum mestre, nenhum professor. Era realmente do imaginário, a partir da música e do talento de cada um. E cada um dançava com categoria naquela disputa, no salão, esse grande choro. Tinha que se ter muita criatividade. Evidentemente, não estou tendo nenhuma criatividade para que o meu pronunciamento fique igual ao do Senador Abdias Nascimento e ao do Senador Artur da Távola. Por isso, reservei essa particularidade que, quero crer, também tem tirado grande proveito, mas acredito que eu tenha sido mais assídua nos salões de baile do Estado do Rio de Janeiro, e, com isso, eu disse que iria pegá-los quando levantasse esse grande talento desse gênero de música que é o choro da “Dança urubu”.

            Sr. Presidente, teria que dizer tantas outras coisas com relação a Pixinguinha. Ninguém trabalhou uma música como um artesão consciente. Os seus choros são tudo o que há de mais belo no repertório nacional. Pixinguinha é a majestade sobre a qual todos se curvam.

            Esse homem, proveniente das camadas populares, provou ser muito bom dentro da sua forma simples, oriunda dos subúrbios do Rio.

            Sua obra, que é popular e também erudita, revolucionou, redimensionou a música popular brasileira, elevando-a a um nível de sofisticação e requinte, porém fundamentada nas raízes afro-brasileiras.

            Quisera eu poder passar todo o tempo aqui falando de Pixinguinha. Não pelos meus conhecimentos, mas pela oportunidade de, como carioca que sou, poder dizer, como sua avó o chamava, “Pizindim”, que foi enredo de escola de samba, que foi inspirador de muitos de nós, através da musicalidade veiculada nas suas lindas valsas e dos mais saborosos sambas e choros da nossa música popular, mas também através de histórias famosas do seu dia a dia. Inclusive, gostaria de relembrar uma delas - talvez o Senador Artur da Távola já o tenha feito; mas como essa história é contada pelo Sérgio Cabral, pai, em todas as rodas, não apenas nos fazendo sorrir, mas também para que pudéssemos ver como ele era. Contava-nos Sérgio Cabral que Pixinguinha voltava tarde da noite para a sua casa, lá no subúrbio do Rio de Janeiro, quando foi abordado por dois assaltantes. De repente, os elementos perceberam que era o Pixinguinha, que se tratava do mestre. Então, ele disse, com aquele seu jeito: Que isso irmão, é o Pixinguinha, rapaz! - Ô Maestro, me desculpe, a gente não quer roubar o senhor. E o Pixinguinha, com aquele seu jeitão, com a sua genialidade e generosidade, perguntou se os assaltantes não gostariam de ir até a sua casa para tomar um café. E Pixinguinha os levou para a sua casa, onde comeram, beberam e bateram o maior papo - quero crer que foi um grande papo - até o amanhecer. Esse é o nosso Pixinguinha, que tenho orgulho de homenagear, através da iniciativa do Senador Artur da Távola, nesta tarde.

            Concluindo, Sr. Presidente, gostaria de lembrar que assisti, na TV Globo e na TV Manchete, as homenagens feitas a Pixinguinha. Quero também ressaltar que o Jornal do Brasil, domingo, fez uma homenagem ao centenário de Pixinguinha, um especial ao Mestre, que gostaria fosse registrado nesta Casa.

            Sr. Presidente, quero fazer de conta que ele está aqui; quero fazer de conta que ele está vivo. E vamos fazer de conta que Pixinguinha, da tribuna do Senado Federal, olhando, com muito carinho, começa a fazer uma confissão:

Meu coração

Não sei por quê

Bate feliz

Quando te vê

E os meus olhos

Ficam sorrindo

E pelas ruas

Vão te seguindo,

Mas, mesmo assim,

Foges de mim.

Ah! Se tu soubesses

Como eu sou tão carinhoso

E o muito e muito

Que eu te quero

E como é sincero

O meu amor,

Eu sei que nunca

Fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem

Vem sentir o calor

Dos lábios meus

À procura dos teus.

Vem matar esta paixão

Que me devora o coração

E só assim então,

Serei feliz, bem feliz.

            Minhas homenagens ao compositor Pixinguinha.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1997 - Página 8343