Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR - PIXINGUINHA.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DE ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR - PIXINGUINHA.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1997 - Página 8349
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ALFREDO DA ROCHA VIANA JUNIOR, MUSICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, INFLUENCIA, MUSICA POPULAR, MUSICA BRASILEIRA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, Srªs e Srs. Senadores, gostaria também de cumprimentar o Senador Artur da Távola pela feliz iniciativa de homenagearmos, hoje, o extraordinário Pixinguinha, por ocasião do seu centenário.

            Quem não tem na memória a foto de um músico negro e velho, trajando pijamas, acomodado em uma cadeira de balanço, como saxofone apoiado no corpo, apontado para o coração? Refiro-me a uma das últimas imagens tão bem captadas pelo fotógrafo Walter Firmo de um dos grandes mestres da música popular brasileira, conhecido Pixinguinha, ou mais exatamente Alfredo da Rocha Viana. Além de eternizar a figura do compositor, arranjador, instrumentista e maestro, a fotografia de Firmo deixa escapar, sem querer, dois traços muito marcantes da carreira desse músico: a consolidação de uma raça na música brasileira e a inexplicável ausência de sua obra nas fileiras de ilustres brasileiros que igualmente conquistaram o exterior, como Tom Jobim, Ary Barroso e Carmem Miranda.

            Pouco antes de morrer, Pixinguinha se deixou fotografar em sua casa, no subúrbio carioca de Olaria, em pose que lembra outro gigante da música e da raça, Louis Armstrong, como quem quisesse mostrar que merecia um fim um pouco mais digno, à altura do gênio que tão bem personificou a música brasileira. Na verdade, as comemorações dos cem anos de Pixinguinha reforçam a consagração da qualidade de seu trabalho incontestável. O próprio maestro Villa-Lobos chamava-o simplesmente de “músico”, sem nomenclaturas de popular ou erudito.

            O nome Pixinguinha já traduz um traço de sua personalidade com a junção de dois apelidos: Pizindim, expressão de origem africana que significa “menino bom”, e Bexiguinha, uma referência à varíola que contraiu quando pequeno. Essa qualidade de pessoa muito amada, carinhosa, extremamente dócil e delicada não escapou de alguns de seus biógrafos. Chamou-me a atenção, por exemplo, um fato narrado pelo jornalista Sérgio Cabral em seu livro Pixinguinha, vida e obra.

            Contou Cabral que, certo dia, Pixinguinha ficou doente e foi recolhido no mesmo hospital onde sua esposa estava internada. Como não queria que a mulher soubesse, vestia o terno e se dirigia ao quarto dela, nos dias de visita, para disfarçar sua condição de paciente. Mas foi na música que revelou seu lado gênio. Paulinho da Viola, um de seus muitos admiradores, garante que Pixinguinha escrevia muitas músicas “e escrevia bem”. Pena que, segundo ele, cerca de 50% de sua fabulosa produção não seja conhecida. De nome de rua a estátua, inaugurada no ano passado, no Rio de Janeiro, Pixinguinha ainda é mais conhecido por suas canções, como “Carinhoso”, gravada pela primeira vez em 1928, e regravada outras tantas por inúmeros intérpretes. Apesar de ter iniciado a carreira tocando polca, valsa, samba, passando por temas afros, Pixinguinha ficou mesmo marcado como um músico de choro. Ao lado dos célebres “Oito Batutas”, conjunto que ajudou a fundar, é responsável por centenas de músicas, “umas 900 inéditas”, como afirma seu filho adotivo Alfredo da Rocha Viana Neto, guardadas como troféu em sua casa, na Vila da Penha, outro subúrbio do Rio, ao lado de muitas relíquias do pai.

            O flautista, que mais tarde optou pelo saxofone, não conseguiu empolgar os franceses. Em Paris, entrou pela porta dos fundos, para interpretar um repertório precioso e que hoje o torna um ídolo reverenciado por todos. Pixinguinha morreu em 17 de fevereiro de 1973 dentro de uma igreja. Mesmo sabendo o que sua morte representaria para a música popular brasileira, outro seu admirador, Vinícius de Moraes, não perdeu o humor e a oportunidade de uma feliz observação: “Ele era um santo”.

            Pixinguinha, a sua música estará sempre dentre nós para toda a vida do Brasil!

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1997 - Página 8349