Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO COM O CRIME HEDIONDO OCORRIDO EM BRASILIA, QUE RESULTOU NA MORTE DO INDIO PATAXOS GALDINO JESUS DOS SANTOS. PRESENÇA NA CASA, DA PREFEITA DORCELINA DE OLIVEIRA FOLADOR, QUE ACABA DE MARCAR ENCONTRO COM O PRESIDENTE DA ELETROSUL, VISANDO DESFAZER NEGOCIO DANOSO AO SEU MUNICIPIO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS. ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), GOVERNO MUNICIPAL. :
  • INDIGNAÇÃO COM O CRIME HEDIONDO OCORRIDO EM BRASILIA, QUE RESULTOU NA MORTE DO INDIO PATAXOS GALDINO JESUS DOS SANTOS. PRESENÇA NA CASA, DA PREFEITA DORCELINA DE OLIVEIRA FOLADOR, QUE ACABA DE MARCAR ENCONTRO COM O PRESIDENTE DA ELETROSUL, VISANDO DESFAZER NEGOCIO DANOSO AO SEU MUNICIPIO.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/1997 - Página 8290
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS. ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), GOVERNO MUNICIPAL.
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, CRIME, ADOLESCENTE, CLASSE MEDIA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PROVOCAÇÃO, FOGO, MORTE, GALDINO JESUS DOS SANTOS, INDIO.
  • COBRANÇA, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, VIOLENCIA, INDIO.
  • REGISTRO, PRESENÇA, DORCELINA DE OLIVEIRA FOLADOR, PREFEITO, MUNICIPIO, MUNDO NOVO (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), SENADO, MARCAÇÃO, AUDIENCIA, PRESIDENTE, CENTRAIS ELETRICAS DO SUL DO BRASIL S/A (ELETROSUL), SOLUÇÃO, PROBLEMA, AQUISIÇÃO, TERRENO, IMPOSSIBILIDADE, EXPLORAÇÃO, ATIVIDADE ECONOMICA.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, OFICIO, PREFEITO, MUNICIPIO, MUNDO NOVO (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESCLARECIMENTOS, PROBLEMA, AQUISIÇÃO, TERRENO, CENTRAIS ELETRICAS DO SUL DO BRASIL S/A (ELETROSUL).

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero também expressar minha indignação diante do bárbaro crime perpetrado contra o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos.

Toda Nação está indignada. Todos nós estamos nos perguntando: como será possível que cinco jovens resolveram, às cinco horas da manhã, colocar fogo numa pessoa que estava dormindo ao relento, ali no ponto de ônibus da W-3, uma das principais avenidas de Brasília? Eles que voltavam de alguma atividade noturna, de alguma festa, que haviam se colocado num bom carro de sua família, um Monza, premeditadamente jogaram um líquido que iria causar fogo sobre o cobertor daquele índio que, segundo os próprios rapazes, era um mendigo. Ele estava ali ao relento, no ponto de ônibus. Por que razão? Porque não encontrara guarida naquela noite para dormir. Ele que veio à Brasília exatamente para solidarizar-se à marcha do Movimento Sem-Terra, por reforma agrária e empregos justíssimos, sobretudo para garantir aos índios pataxós a demarcação de suas terras ali na Bahia. Ele que já havia perdido alguns de seus irmãos, que são 20, nessa batalha. Há tempos, a tribo do índio Galdino, sua comunidade, luta para ter uma terra garantida, diante das ocupações, das invasões de pessoas que não querem respeitar o que está na Constituição Brasileira de 1988 relativamente ao respeito aos índios, os primeiros brasileiros a serem encontrados por Pedro Álvares Cabral e os portugueses quando chegarem à Bahia.

Sr. Presidente, o que será que faz com que jovens, não apenas aqui em Brasília, mas também em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e outras cidades brasileiras estejam a queimar mendigos, a colocar fogo nas vestes ou no cobertor de quem não encontrou sequer um teto para dormir, de quem não possui recursos necessários para pagar uma modesta pensão, quando não um hotel? Era um índio que naquela noite não havia encontrado quem lhe pudesse dar guarida. Que falta de solidariedade está existindo em nosso País? Já não é a primeira vez que jovens de classe média, de classe alta, filhos dos donos do poder, cometem abusos na Capital Federal.

Precisamos todos pensar em profundidade nas razões pelas quais nossa Nação está doente, Sr. Presidente. O Brasil se encontra doente para termos situações como essas em que jovens resolver atear fogo ao cobertor de Galdino Jesus dos Santos, dizendo que não sabiam que era um índio e que imaginavam ser um mendigo. Ora, Sr. Presidente, precisamos chacoalhar, precisamos transformar o nosso País, porque ações como essas nos envergonham, nos colocam muito baixo no conceito de todas as nações.

Galdino estava se solidarizando com aqueles que lutavam pelo direito à terra, pelo direito de dignidade à vida. E eu somo a minha voz, Sr. Presidente, a todos aqueles que, como os Senadores Pedro Simon, Marina Silva, Lauro Campos, Benedita da Silva e tantos outros, hoje, colocaram sua indignação diante de tão grave problema, diante do drama que vive a Nação brasileira.

Precisamos sim, Congresso Nacional, Poder Executivo, Judiciário, toda a Nação brasileira, caminhar celeremente para fazer justiça, não apenas com a condenação desses rapazes pelo que fizeram, mas com a transformação de nosso País para que caminhe em outra direção.

Sr. Presidente, para concluir, eu gostaria de registrar a presença no Senado Federal da Prefeita Municipal Dorcelina de Oliveira Folador, que acaba de marcar um encontro com o Presidente da Eletrosul, Cláudio Ávila da Silva, em que vai tentar desfazer negócio danoso que, há cerca de dois anos, foi iniciado com a Eletrosul, pelo qual o Município iria adquirir área composta de diversos terrenos alagadiços. Na verdade, essas áreas eram de preservação permanente e insuscetível de exploração econômica. Registro o ofício que informou que o Presidente Cláudio Ávila da Silva marcou para o dia 28, às 11 horas, audiência com a Prefeita, em Florianópolis, para tratar dessa questão. Peço que o ofício da Srª Prefeita, onde é explicado o assunto, seja transcrito.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/1997 - Página 8290