Discurso no Senado Federal

CONGRATULANDO-SE COM A MARCHA DOS SEM-TERRA, MARCO HISTORICO QUE PODE TRANSFORMAR A SOCIEDADE BRASILEIRA.

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • CONGRATULANDO-SE COM A MARCHA DOS SEM-TERRA, MARCO HISTORICO QUE PODE TRANSFORMAR A SOCIEDADE BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/1997 - Página 8010
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), ORIGEM, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA.
  • ANALISE, HISTORIA, BRASIL, MOBILIZAÇÃO, TRABALHADOR RURAL, OPORTUNIDADE, ATUALIDADE, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, TRANSFORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO, PAIS, DIREÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL.

O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srª Senadora, Srs. Senadores, nada mais justo do que vermos esta Casa sem quase nenhum parlamentar, até porque a política no Brasil, hoje, está-se fazendo nas ruas de Brasília. Isso não é força de expressão, mas a expressão da força de um movimento social que conseguiu ganhar a opinião pública brasileira em torno de uma tese que, durante séculos, foi sempre sustentada por aqueles que queriam construir uma sociedade mais justa, democratizar o acesso à terra e construir uma sociedade mais igualitária.

Estamos nas ruas. E, se pessoalmente estou aqui, é para fazer constar dos Anais do Senado a satisfação de ver este movimento, a consciência nacional em torno da reforma agrária, dizendo da satisfação do velho Partido Comunista Brasileiro, hoje Partido Popular Socialista, de termos ganho esta batalha. Quantos dos nossos companheiros não ficaram, nessa trajetória de 75 anos, na luta pela reforma agrária.

Não é novo o Movimento dos Sem-Terra. O que há de novidade é a força que adquiriu, é o nível de aceitação da opinião pública nacional. Os movimentos dos sem-terra sempre existiram. Os movimentos das ligas camponesas, mais recentemente, tentaram uma marcha como essa e não conseguiram. Antes, aconteceram movimentos de confronto armado de trabalhadores sem terra bem próximos de Brasília, quando Brasília ainda não existia; também no Paraná, no Nordeste, enfim, é uma longa trajetória de lutas, onde houve vítimas e onde o dramático sempre se fez presente.

Hoje é um dia que pode marcar definitivamente uma nova dinâmica na questão agrária brasileira. Acredito que o Governo irá entender: a sociedade foi ganha para essa tese. As condições estão dadas. Se o Governo vinha fazendo algo, e temos que reconhecer que este Governo fez mais do que qualquer outro, ainda é insuficiente. E a manifestação está demonstrando a sua insuficiência, a necessidade de agilizar, de implementar, de ter a coragem política de dizer que o latifúndio, neste País, não vai mais existir.

Com muito atraso talvez se possa dizer isso a partir de amanhã, porque hoje o Brasil muda, consegue ter a contemporaneidade e busca ser moderno naquilo que sempre foi atrasado, naquilo que sempre foi conservador: a questão agrária.

E dizendo isso quero dizer que o movimento não pode ser caroneado, não se pode confundi-lo com outras lutas, embora a luta geral do povo brasileiro nele tenha participação. Mas é, talvez - e isso é outro ensinamento -, o grande momento para que a esquerda brasileira, no seu conjunto, entenda de ser propositiva, de buscar resgatar a sua história, de ser instrumento de mudança, buscar ser vanguarda, ter compromisso com o futuro, tal como tivemos antes de 1964 e fomos barrados, quando lutávamos pelas reformas estruturais, chamadas "reformas de base".

A sociedade brasileira é das mais iníquas e não apenas no campo, mas talvez lá haja iniquidade maior. O Estado brasileiro é privatizado, instrumento de elites econômicas, de elites políticas, um Estado que não garante plena cidadania, e não apenas no campo, mas talvez de forma mais profunda no campo brasileiro.

Ter reforma agrária como proposta mobiliza a sociedade, ganha consciência, pressiona o Governo, vai mudar o Governo. Precisávamos ter a consciência de sermos propositivos na mudança da sociedade brasileira. Não mobilizamos contra esse ensinamento de saber, mobilizamos a favor, mobilizamos em torno de esperança, mobilizamos em torno da mudança, da transformação, em torno da revolução, no sentido etimológico da palavra, das transformações de estrutura que o Brasil precisa, não de hoje, mas que hoje pode começar a entender que vai ter o compromisso, para não termos mais movimentos dos sem-terra no futuro, porque a terra é de quem nela trabalha.

Se tivermos essa compreensão, e creio que o Movimento dos Sem-Terra, nas ruas de Brasília, está dando esse exemplo a todo o Brasil, podemos dizer que a partir de agora podemos mudar o País, transformar a sociedade e estar próximos, senão da utopia, de uma sociedade mais justa.

A solidariedade do Partido Popular Socialista à manifestação dos Sem-Terra em Brasília, à manifestação do povo brasileiro em torno da reforma agrária.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/1997 - Página 8010