Discurso no Senado Federal

DIA NACIONAL DO LIVRO. NECESSIDADE DE INCENTIVOS A CULTURA BRASILEIRA, POR INTERMEDIO DAS EDITORAS QUE ABRAM AS PORTAS PARA OS JOVENS AUTORES E PARA OS LIVROS DA NOSSA HISTORIA.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • DIA NACIONAL DO LIVRO. NECESSIDADE DE INCENTIVOS A CULTURA BRASILEIRA, POR INTERMEDIO DAS EDITORAS QUE ABRAM AS PORTAS PARA OS JOVENS AUTORES E PARA OS LIVROS DA NOSSA HISTORIA.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/1997 - Página 8035
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • IMPORTANCIA, LIVRO, DEMOCRACIA, CONHECIMENTO, ANALISE, COMPARAÇÃO, INFORMAÇÃO, INTERNET.
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, LIVRO, NECESSIDADE, POLITICA CULTURAL, GOVERNO, INCENTIVO, PUBLICAÇÃO, RESGATE, HISTORIA, BRASIL, APOIO, AUTOR, INICIO, CARREIRA.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em 1438, o alemão Johannes Gutenberg, estabelecido em Strasbourg, que já lapidava pedras preciosas e fabricava espelhos, começou, secretamente, a produzir caracteres móveis destinados a impressão de material para leitura. Nesta época, realizou o prodígio de montar a sua famosa Bíblia, em duas colunas de quarenta e duas linhas. Depois, mudou-se para Mainz onde se associou a Johann Fust, com quem brigou mais tarde. Foi reabilitado pelo Arcebispo da cidade, Adolfo II de Nassau, que lhe proporcionou os recursos necessários para recomeçar os trabalhos de impressão. Gutenberg, é o pai da arte tipográfica mecânica. Sua famosa Bíblia é o primeiro livro impresso no Ocidente.

Existem várias formas de comunicação escrita, que a história registra desde os primórdios da civilização. Papiros, cerâmicas, peles de animais, tudo foi experimentado como o meio de transmissão eficaz do conhecimento. No entanto, mais de 500 anos após a morte de Gutenberg, a sua genial invenção continua prevalecendo como o paradigma mais acertado e correto para que o homem tenha acesso à ciência, às artes e ao relato dos nossos antecessores. O livro, hoje impresso por intermédio de meios eletrônicos, é a maneira de consolidar a cultura.

Nos tempos de comunicação instantânea, falar em livro pode parecer assunto um pouco defasado. Mas, a verdade é que, desde Gutenberg até os dias de hoje, as noções básicas do conhecimento humano foram passadas de pai para filho por intermédio dos livros. O primeiro a ser impresso foi a Bíblia. Depois vieram os outros tratando de noções religiosas, de cartas marítimas e da experiência dos navegadores. Na medida em que a imprensa possibilitava a disseminação do conhecimento, as sociedades começaram a se tornar mais democráticas.

Há uma correlação entre imprensa e democracia. Quanto mais informações um cidadão obtiver, mais apto a tomar decisões ele estará. O feito notável que os livros produziram, no século posterior a Gutenberg, foi o de permitir que todos nós tenhamos uma noção do que se passou no processo de descobrimento do novo mundo. As dúvidas e as incertezas dos comandantes, dos mestres, dos cartógrafos, tudo está, em maior ou menor medida, registrado para a História. Depois do livro, a humanidade livrou-se da excessiva concentração de poder atribuída aos monges copistas e o conhecimento passou a ser, mais e mais, colocado ao alcance de todos.

Hoje, o poder está nas mãos dos que tem acesso às grandes redes de computadores, de quem opera com a Internet ou daqueles que trabalham com transmissão de dados em alta velocidade. Essas redes dispõem de uma quantidade inimaginável de informações, sobre praticamente todos os assuntos, e são capazes de oferecer, em poucos minutos, respostas precisas para as dúvidas mais cruciais. Elas, em virtude da abundância de informações, se constituem, hoje, na principal concorrência aos meios tradicionais de transmissão do conhecimento.

O homem moderno, em verdade, não pode prescindir do acesso a essas maravilhosas conquistas tecnológicas. A Internet possui respostas rápidas, precisas, imediatas e corretas às dúvidas de quem trabalha. Oferece vantagens em matéria de comunicação que seriam consideradas fantasiosas se expostas há pouco mais de dez anos. A cultura da informatização conduziu a humanidade a esse superior estágio de desenvolvimento.

O livro, contudo, dentro de sua modéstia e até prisioneiro de uma certa precariedade tecnológica, continua sendo a ponta de lança do conhecimento. Quem quiser se iniciar nas artes da computação será obrigado a ler, seja um livro, seja um livreto, seja um manual de instruções. Todo começo é igual, em matéria de transmissão do conhecimento: tudo passa pela abertura da primeira página de um livro.

Vou mais além. As grandes redes de computadores são necessárias e extremamente úteis para transmissão de informações pontuais, específicas e objetivas. Ninguém vai ler um texto de mais de cem páginas diante da tela de um computador, normalmente sujeito a variações de energia e aos caprichos da informática. O livro continuará a ser o instrumento natural de transmissão das informações mais preciosas para o gênero humano.

Ninguém leva o computador para a praia com o objetivo de tomar conhecimento de uma nova idéia ou de um texto instigante de um novo romance. Ninguém vai ler o monumental Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, por intermédio da tela de um microcomputador. O prazer na leitura, assim como o prazer da escrita, não serão substituídos pela comunicação seca, inodora, despida de emoção e absolutamente objetiva produzida pela informática. É estranho pensar em ler Camões ou Camilo Castelo Branco na tela de um computador.

A Imprensa não vai morrer. Poderá mudar de qualidade, mas sobreviverá. O livro, como parte do processo de desenvolvimento do homem e da descoberta das características de sua própria natureza, também vai resistir ao avanço da tecnologia e reafirmar sua importante função educativa.

Acredito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a relação homem e livro, por tão antiga, tão tradicional, não será modificada pela concorrência das novas tecnologias. Os livros são o repositório do conhecimento humano. Representam a própria história, são filhos e testemunhas do passar do tempo. Nada lhes escapou. Ele vai resistir e viver, como a ópera e o teatro resistiram e sobreviveram ao cinema, que, por sua vez, resistiu e sobreviveu à televisão. Há espaço para todos. Todos vão conviver, em ambiente de harmonia, no mesmo momento histórico.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil tem uma história recente, se vista do ponto de vista de imprensa e dos livros. Somente depois que a família real portuguesa mudou-se para o Brasil, em 1808, os brasileiros começaram a desfrutar do prazer da leitura de obras e jornais impressos aqui. Hoje a indústria editorial está definida, avançada e conta com ótimos recursos tecnológicos. No entanto, ainda há muito por fazer nessa área.

O governo federal, no entanto, orienta escassos recursos no sentido das publicações, incentiva pouco o autor nacional e trabalha sem uma política clara para o setor. Os livros constituem a nossa memória, contém a súmula da nossa História. Não é possível Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores que o Brasil trate mal o seu passado, despreze as suas figuras históricas e esconda os seus problemas. Não é razoável que as editoras deixem de receber incentivos para publicar novos autores, representantes da juventude que está descobrindo o prazer da escrita e a curtir o deleite da leitura.

É hora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores que, hoje, Dia Nacional do Livro, o governo redescubra a necessidade de incentivar a cultura brasileira, por intermédio de incentivos a editoras de todos os tamanhos para que abram as portas para o jovem autor, para os livros da nossa História, para os relatos, para as análises, enfim, para tudo aquilo que disser respeito a este grande país.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/1997 - Página 8035