Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM A CRISE DOS PODERES, TENDO EM VISTA CRITICAS DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO A CAMARA DOS DEPUTADOS NA VOTAÇÃO DA REFORMA ADMINISTRATIVA E DO PRESIDENTE DO SENADO AO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODERES CONSTITUCIONAIS.:
  • PREOCUPAÇÃO COM A CRISE DOS PODERES, TENDO EM VISTA CRITICAS DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO A CAMARA DOS DEPUTADOS NA VOTAÇÃO DA REFORMA ADMINISTRATIVA E DO PRESIDENTE DO SENADO AO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/1997 - Página 8629
Assunto
Outros > PODERES CONSTITUCIONAIS.
Indexação
  • APREENSÃO, CRISE, PODERES CONSTITUCIONAIS, MOTIVO, DECLARAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, VOTAÇÃO, REFORMA ADMINISTRATIVA, CAMARA DOS DEPUTADOS, CRITICA, AUTORIA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, SENADO, DECISÃO, SEPULVEDA PERTENCE, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), REDUÇÃO, PODER, FISCALIZAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PRECATORIO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois da turbulência de há pouco, aproveito este remanso para deixar registrada a minha preocupação, que é de toda a sociedade brasileira, Sr. Presidente, com o embrião de crise entre os poderes da República. O Presidente da República, no Canadá, critica a Câmara dos Deputados, chamando de vergonhosa a rejeição de um ponto da reforma administrativa por aquela Casa legislativa. O Presidente do Senado e do Congresso, Senador Antonio Carlos Magalhães, faz declarações e críticas contundentes ao Supremo Tribunal Federal por uma decisão tomada por um dos seus membros em relação à CPI. No dia seguinte, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Sepúlveda Pertence, replica, de forma não menos contundente, para, em seguida, merecer uma tréplica do Presidente deste Senado.

Sr. Presidente, isso é profundamente preocupante. Se houver um choque de Poderes, quem será o árbitro, Sr. Presidente? A Santa Sé, Sua Santidade o Papa, as Forças Armadas? A Constituição diz que os Poderes são interdependentes e harmônicos, e harmonia é o que não está havendo.

Cada um dos Poderes tem sua competência estritamente limitada e claramente delimitada pela Carta Maior da República. Não pode o Chefe de cada um dos Poderes interpretar como quer qual é o alcance da competência de cada um e ficar trocando chumbo pelos jornais. Isso é preocupante porque extremamente perigoso.

Sou filho e neto de magistrados. Sou dos velhos bons tempos em que juiz só falava nos autos. Nunca vi meu pai, como juiz ou como desembargador, dar uma entrevista sequer à imprensa a respeito de um processo que estivesse sob sua apreciação. Ele entendia que um juiz tem que ser e parecer isento.

Preocupa-me muito quando magistrados se comportam, às vezes, como se estivessem em palanques. Seria muito bom que falassem menos e julgassem mais.

Mas, por outro lado, devo reconhecer que não se pode pretender que qualquer medida, qualquer ato praticado, mesmo pelo Poder Legislativo, fique fora da apreciação judicial. O Judiciário existe para reparar lesões a direitos.

A CPI não é soberana. Não compete a ela estabelecer seus próprios limites. Ela pode exorbitar e quem vai dizer se isso ocorreu, ou não, é o Poder Judiciário.

Vamos deixar as coisas bem claras, Sr. Presidente, ou então não vivemos num estado de direito. Entendo a reação do Senador Antonio Carlos Magalhães - eu ia falar antes, enquanto S. Exª estava presente; infelizmente, S. Exª já se foi, mas vai tomar conhecimento do meu discurso - quando sai em defesa do que lhe parecem ser as prerrogativas do Senado, mas me permita S. Exª discordar do que disse na sua primeira declaração à imprensa, ou seja, que num choque entre o Legislativo e o Judiciário o Legislativo não perderá.

Perderá, sim, Sr. Presidente. Num choque entre o Legislativo e o Judiciário, perde o Legislativo, perde o Judiciário, perde o País e perde a democracia. Portanto, esse choque não é proveitoso para ninguém.

Faço votos de que durante o feriado todos esfriem as cabeças, serenem os ânimos e os responsáveis pelos três Poderes da República entendam que não podem trocar palavras ásperas, e às vezes insultuosas, pelos jornais, porque isso apequena os Poderes e, por isso, é extremamente prejudicial à Nação brasileira.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/1997 - Página 8629