Discurso no Senado Federal

APREENSÃO DOS CAFEICULTORES DO ESPIRITO SANTO COM O ANUNCIO DE QUE UMA EMPRESA DE CAFE SOLUVEL DO PARANA, IMPORTARA DA INDIA 20 MIL SACAS DE CAFE ROBUSTA, QUE DEPOIS DE INDUSTRIALIZADAS, SERÃO RECOLOCADAS NO MERCADO INTERNACIONAL.

Autor
José Ignácio Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: José Ignácio Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • APREENSÃO DOS CAFEICULTORES DO ESPIRITO SANTO COM O ANUNCIO DE QUE UMA EMPRESA DE CAFE SOLUVEL DO PARANA, IMPORTARA DA INDIA 20 MIL SACAS DE CAFE ROBUSTA, QUE DEPOIS DE INDUSTRIALIZADAS, SERÃO RECOLOCADAS NO MERCADO INTERNACIONAL.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/1997 - Página 8641
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA INDUSTRIA DO COMERCIO E DO TURISMO (MICT), IMPEDIMENTO, IMPORTAÇÃO, CAFE, RESPONSABILIDADE, EMPRESA, ESTADO DO PARANA (PR), MOTIVO, AMEAÇA, PREJUIZO, PRODUTOR, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), REDUÇÃO, PREÇO, MERCADO INTERNO.

              O SR. JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA (PSDB-ES. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os cafeicultores do Espírito Santo, que já sofreram no próprio bolso os efeitos nocivos das sucessivas intervenções do Estado no mercado cafeeiro, estão mais uma vez apreensivos com a perspectiva de novos e vultosos prejuízos. Na última semana, uma empresa de café solúvel do Paraná anunciou a sua disposição de importar da Índia 20 mil sacas de café robusta que, depois de industrializado, seria recolocado no mercado internacional.

              Embora legal, já que não existem disposições que proíbam a importação do café torrado com a obrigação de reexportá-lo totalmente após a sua industrialização, é evidente que esta iniciativa dos empresários paranaenses tem por objetivo principal forçar o Governo Federal a realizar novos leilões de seus estoques reguladores, provocando acentuada queda no preço do produto.

              Com efeito, Sr. Presidente, Srs. e Srªs Senadoras, quando o Governo coloca os seus estoques no mercado cafeeiro ocorre uma baixa nominal, ocasionando perdas relevantes para os produtores, principalmente quando eles se preparam para colher a nova safra. É evidente que uma operação comercial dessa magnitude poderá trazer lucros para a indústria do café solúvel, mas ela certamente contabilizará prejuízos para a economia do Brasil e para os estados produtores do conillon.

              Segundo informações que nos foram transmitidas pelo Presidente da Cooperativa de São Gabriel da Palha, no Espírito Santo, o Sr. Dário Martinelli, a empresa paranaense importaria o café indiano ao preço de US$ 67 a saca, valor que é 21% menor do que o preço praticado no mercado interno, ou seja, US$ 85. Aparentemente estaríamos diante de um excelente negócio para o importador. O sucesso empresarial depende das boas oportunidades de compra e esta, em princípio, seria uma delas. Acontece, porém, que neste preço não está embutido o custo de transporte, que ficaria por conta do comprador, além de não haver garantias quanto a qualidade do café torrado na Índia.

              Por outro lado, Sr. Presidente, Srs. e Srªs Senadoras, estamos diante de uma operação comercial que não nos deixa benefício algum. Ao contrário, enfraquecerá mais ainda a nossa balança comercial. Afinal, por que importar café indiano se nós o temos em profusão em nossas fronteiras?

              Os cafeicultores do Espírito Santo estão convencidos de que esta transação não irá se concretizar, não apenas por seu alto risco como também pelo fato de que o desconhecimento do produto adquirido pode alterar a qualidade do café solúvel produzido pela empresa paranaense. Entendemos que a iniciativa é muito mais política do que comercial. A indústria do café solúvel mandou um aviso claro ao Governo: se não houver novos leilões dos estoques reguladores, ela irá adquirir o produto no exterior.

              Esperamos que o Governo, através do Ministério da Indústria, do Comércio e doTurismo, não se deixe levar por maquinações desta natureza. Os cafeicultores do Espírito Santo e de outros Estados não têm condições de arcar com uma outra baixa artificial do conillon. A hora é de fortalecer a nossa cafeicultura, e não de criar mecanismos que permitam o fortalecimento de um segmento da comercialização do café em detrimento da faixa produtora.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/1997 - Página 8641