A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco\PT-RJ. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar o meu lamento pela perda irreparável do educador revolucionário Paulo Freire, professor de todos nós.

Com seu método revolucionário de uma nova pedagogia, que correu o mundo, ele esteve também no meu pedacinho de chão, no Chapéu Mangueira. Com Paulo Freire comecei a trabalhar a questão da alfabetização na comunidade do Morro do Chapéu Mangueira. Aprendi com ele, com o seu método, com sua didática que, na favela, "Ivo não viu a uva", "Ivo viu a vala". Foi com Paulo Freire que aprendi a alfabetizar em momentos difíceis nas comunidades, quando faltava água, quando faltava luz, quando faltava emprego. Trazendo a realidade ao conhecimento das pessoas, fazíamos de cada momento um momento de alfabetização.

Eu não poderia deixar de manifestar-me, já que fui uma de suas discípulas. Aprendi a conviver com Paulo Freire, por quem tinha um carinho muito grande. Lembro-me de que, em 1983, na cidade do Rio de Janeiro, eu, vereadora no meu primeiro mandato, pude dar-lhe o título de cidadão carioca. Dessa forma, prestei uma homenagem àquele homem que influenciou bastante minhas idéias em relação à organização comunitária. Ele foi um revolucionário, porque teve que enfrentar, em defesa de suas idéias e do desejo de ver uma sociedade brasileira educada, momentos difíceis. Fora deste País, também pôde contribuir com a educação. E o fez na África.

Tenho certeza de que todos temos um carinho muito grande por ele. O Partido dos Trabalhadores prestou-lhe uma grande homenagem - lamentei não estar presente, como lamentei também não lhe dar o último adeus. No entanto, parece que o fiz após o carnaval, quando estive em Pernambuco: encontrei-me com ele, cheio de vida, com todos os seus amigos. Tiramos fotos, falamos deste País, das mudanças que se estavam sucedendo em Pernambuco, naquela nossa cidade pequena, porém decente: Recife. Rememoramos aquela cidade, agora transformada, reformada; falamos da Brasília Teimosa, de todas as modificações e de como a cultura tomou conta dos espaços em Recife. Essa foi a última vez que o vi.

Paulo Freire era um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Quero, rendendo-lhe esta homenagem, aliás já prestada pelo meu Partido, dizer que ele fará falta a todos, principalmente aos indoutos e àqueles que não tiveram a oportunidade de com ele dialogar. Paulo Freire, tenho certeza, também pôde contribuir com a educação no sentido de levar uma idéia de uma educação altamente revolucionária.

O Brasil deve muito a Paulo Freire. Sua obra atualíssima nos remete à reflexão. O genial professor, o notável filósofo da educação foi um exemplo de fé e otimismo, deixando sua contribuição na história, nas mentes e corações...

Como bem disse nosso educador, "ninguém liberta ninguém. Ninguém se liberta sozinho. Os homens se libertam em comunhão".

Esta é a minha homenagem ao meu saudoso e querido Paulo Freire.