Pronunciamento de Eduardo Suplicy em 07/05/1997
Discurso no Senado Federal
DESAFIANDO O EX-PREFEITO DE SÃO PAULO, SR. PAULO MALUF, A COMPARECER A CPI PARA EXPLICAR E COMPROVAR QUE OS RECURSOS ARRECADADOS COM EMISSÃO DE TITULOS DA PREFEITURA FORAM REALMENTE UTILIZADOS PARA PAGAR PRECATORIOS JUDICIAIS. REPUDIANDO ATAQUES PESSOAIS DAQUELE EX-PREFEITO.
- Autor
- Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PRECATORIO.:
- DESAFIANDO O EX-PREFEITO DE SÃO PAULO, SR. PAULO MALUF, A COMPARECER A CPI PARA EXPLICAR E COMPROVAR QUE OS RECURSOS ARRECADADOS COM EMISSÃO DE TITULOS DA PREFEITURA FORAM REALMENTE UTILIZADOS PARA PAGAR PRECATORIOS JUDICIAIS. REPUDIANDO ATAQUES PESSOAIS DAQUELE EX-PREFEITO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 08/05/1997 - Página 9213
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PRECATORIO.
- Indexação
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- RESPOSTA, NOTA OFICIAL, ASSESSORIA, PAULO MALUF, EX PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, ATUAÇÃO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, DESVIO, OBJETIVO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, IRREGULARIDADE, TITULO DA DIVIDA PUBLICA, PAGAMENTO, PRECATORIO.
- CRITICA, CONDUTA, PAULO MALUF, EX PREFEITO, AGRESSÃO, ORADOR, COBRANÇA, COMPARECIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), COMPROVAÇÃO, PAGAMENTO, PRECATORIO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, ARRECADAÇÃO, EMISSÃO, TITULO DA DIVIDA PUBLICA, PREFEITURA, MUNICIPIO, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, Srªs e Srs. Senadores, como já foi dito pela Senadora Benedita da Silva e pelo Senador Lauro Campos, nós, do Partido dos Trabalhadores, tínhamos grande estima, admiração, reconhecimento e respeito pelo extraordinário Professor Paulo Freire.
Deveria estar aqui conosco, prestando esta homenagem à sua memória, a Senadora Marina Silva que, infelizmente, se encontra, neste instante, no Ambulatório do Senado, recuperando-se de um problema de saúde. Estimamos a melhora de nossa querida Senadora Marina Silva. E aqui trago algumas reflexões que ela própria iria transmitir hoje sobre Paulo Freire.
Eleanor Roosevelt disse: "Ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento." E Barbra Streisand: "Você tem que se descobrir, descobrir o que faz e acreditar nisso." Essas são algumas observações que Helen Exley organizou em "Mulheres-Os melhores pensamentos."
A Senadora Marina Silva estaria aqui dizendo como Paulo Freire pensava e falava com simplicidade; sentia e fazia as coisas com muita profundidade. Sua preocupação central era a liberdade da cidadã e do cidadão, conquistada de maneira consciente. A educação era sua principal arma. Não era a única, porque o amor ao outro nunca foi para ele um princípio superado.
Falou-se, discutiu-se e propalou-se bastante o seu método de alfabetizar, de encaminhar o processo formativo. Se estamos de acordo com seu método, não é o fundamental. Fundamental é o seu conceito de pessoa humana, que ele concretizava nas suas relações pessoais e profissionais, e terá que ficar como a sua maior lição educativa.
Na verdade, muito mais do que o método, Paulo Freire procurava ressaltar que ele tinha uma filosofia de educação. Conhecemos sucessos com essa forma de iniciar o processo educativo. Críticas houve ao seu método, mas nunca ouvimos nem fomos testemunhas de um conceito equivocado de relações sociais e afetivas, de um modelo de sociedade defendido pelo Mestre, amigo e companheiro Paulo Freire.
Que saudade! Mais um grande companheiro e um grande mestre que perdemos em nosso Partido, o PT. Espero que permaneça entre nós, que não esqueçamos seus ensinamentos e seu crédito dado ao nosso trabalho, no Partido dos Trabalhadores. Paulo Freire foi, em verdade, também, um dos inspiradores do PT. Ele foi um dos seus formuladores e um dos que, na primeira hora, estava conosco, com Lula, na organização do Partido.
Através dos escritos, o Professor Paulo Freire nos ofereceu mais de vinte obras, registrando o seu pensamento e suas experiências, que, para nós, passavam a ser grandes e efetivos ensinamentos.
Sobre o seu pensamento acerca do processo educativo, contamos com mais de trinta títulos entre nacionais e internacionais, ora discutindo suas idéias sobre a formação do educando, sua proposta de método de alfabetização ou mesmo relatando experiências baseadas nos seus ensinamentos.
A repressão política à sua contribuição e o longo afastamento que viveu de nosso País não o amedrontaram nem o impediram de permanecer na luta pela elevação do nível cultural de nossa população e de contribuir para que, através do conhecimento, os trabalhadores brasileiros obtivessem maior poder de intervenção na construção de uma sociedade onde devem se constituir o sujeito e o principal protagonista da história.
Uma ou muitas homenagens se constituem em recurso, com certeza frágil e insuficiente, mas se constituem em um dos instrumentos que podemos utilizar para fazer com que Paulo Freire permaneça mais presente no nosso quotidiano, no nosso carinho e no nosso eterno agradecimento.
Sr. Presidente, justamente nesta semana está presente em Brasília um número muito grande de secretários municipais de educação de todo o Brasil, bem como professoras e educadoras. Aqui estão algumas dessas pessoas, como Anita Curcar, Eliana da Silva Souza, Odair Marques da Silva, que é Secretário de Educação de Hortolândia, e Josélia Eliete Longato Fuídio, Secretária de Educação de Mogi-Mirim, todas entusiasmadas, emocionadas e falando de suas lembranças de Paulo Freire.
A professora Josélia, por exemplo, hoje Secretária de Educação de Mogi-Mirim, nos relatava, há pouco, como ela própria utilizou o método, a filosofia de Paulo Freire, ao lecionar e alfabetizar adultos no acampamento dos trabalhadores sem terra, no vizinho Município de Sumaré, e como aplicou o seu método. Já na primeira aula, pediu ela aos seus alunos, trabalhadores sem terra, que escolhessem algumas palavras que tivessem a ver com suas vidas. E os alunos escolheram, por exemplo, as seguintes palavras: luta, que tinha a ver com a luta pelo direito de trabalhar na terra; mina, justamente para significar toda a dificuldade de se encontrar água, eles precisavam encontrar uma mina para que pudessem ter água; terra, obviamente, e farinha, que é um dos seus principais alimentos, por exemplo a farinha de mandioca. A partir dessas quatro palavras, a professora os estimulava a pensar e contar suas histórias. O seu método, o seu procedimento era registrar por escrito a história de cada um deles e mostrar, no papel, a história, de tal maneira que essas pessoas pudessem não só aprender a ler, mas também a pensar no sentido de cada palavra, de tal maneira que, ao pensar em sua história, pudessem também pensar em como transformar suas próprias vidas, para alcançar a cidadania plena.
Esses mesmos alunos que foram alfabetizados no acampamento de Sumaré acabaram construindo a sua primeira escola, com caixotes de madeira. Como não havia lousa, quadro-negro, a professora Eliete utilizava, no seu lugar, uma porta, que tinha que ser umedecida para se apagar o que estava escrito com giz. E a professora tinha que esperá-la secar para continuar a aula.
Aqui está um exemplo do entusiasmo de uma professora que utilizou o Método Paulo Freire, a sua filosofia, para ajudar a transformação da vida das pessoas.
Frei Beto - que está hoje em Israel acompanhando o Presidente Nacional da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, em uma visita que ambos fazem como peregrinos cristãos, convidados que foram pela Escola Bíblica dos Dominicanos, em Jerusalém - escreveu uma bonita manifestação, que foi lida durante a missa de corpo presente, na PUC, no dia do enterro de Paulo Freire, sábado passado. Frei Beto falou sobre como Paulo Freire havia ensinado a Pedro o sentido das palavras e como Pedro poderia transformar as coisas no mundo.
Paulo ensinou a Pedro sobre a uva, que era não apenas um fruto que continha sementes, mas que, justamente pela mão e pelo trabalho de Pedro, primeiro, poderia ser multiplicada. Poderia Pedro semeá-la, lançar sementes sobre a terra e fazer com que nascessem outros frutos; também pelo trabalho das mãos de Pedro poderia ele amassar a uva e transformá-la em vinho, o alimento que daria sentido à vida.
Por aí seguia a forma de Pedro perceber como, pelo seu trabalho, pela sua ação, pela sua vivência em meio àqueles que conviviam com ele, poderia ele transformar a vida das pessoas.
Paulo Freire infelizmente não foi convidado, como tantos educadores no Brasil imaginavam, como tantos de nós acreditávamos, a se tornar nosso Ministro da Educação, Ministro que seria reconhecido por todos como notável.
Era esta, aliás, a expectativa de Lula quando, em 1989 e 1994, foi candidato a Presidente. Coube a Luiza Erundina, quando eleita Prefeita, em 1988, convidar Paulo Freire para ser seu Secretário Municipal de Educação. E ele deu uma contribuição notável, com o lançamento, por exemplo, do Mova, que alfabetizou mais de 35 mil adultos em São Paulo; deu também extraordinária importância à renovação das escolas, à expansão do ensino público e à forma de participação de professores, educadores, familiares e funcionários de toda a rede escolar na discussão sobre todo o processo pedagógico.
Paulo Freire, se não se tornou o Ministro da Educação do Brasil em virtude da sua contribuição seja para os povos da África, seja para os educadores na Europa e nos Estados Unidos, seja pelo reconhecimento de sua lição entre todos os povos da terra, hoje, podemos dizer que não se tornou Ministro da Educação no Brasil, mas o seu destino, a sua contribuição e o reconhecimento que todos os educadores têm da sua contribuição transformaram-no em Ministro da Educação da humanidade.
A nossa saudade, o nosso agradecimento e a nossa homenagem também aos seus familiares, a Anita, a Elza - que já havia falecido - e a todos os seus filhos. Queremos, sobretudo, compartilhar da dor de todos os professores que são seus alunos e seguidores de sua obra.