Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR BENJAMIN FARAH.

Autor
Humberto Lucena (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Humberto Coutinho de Lucena
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR BENJAMIN FARAH.
Aparteantes
Josaphat Marinho.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/1997 - Página 9044
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, BENJAMIN FARAH, EX SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. HUMBERTO LUCENA (PMDB-PB. Para encaminhar a votação.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tomei a iniciativa, juntamente com o Senador Josaphat Marinho, de encaminhar esse requerimento à Mesa, propondo uma homenagem póstuma ao ex-Senador Benjamim Farah, cujo falecimento ocorreu há poucos dias, no Rio de Janeiro. Embora já estivesse em avançada idade, o seu passamento surpreendeu-me, porque não faz muito tempo o encontrei nos corredores do Senado Federal e, depois, neste plenário. Notei nele não apenas a lucidez que sempre o caracterizou, como, sobretudo, o seu saudável estado físico. Conversamos longamente, e ele me afirmou que saíra da vida pública e estava no Rio com a família, procurando, ao mesmo tempo que gozar uma aposentadoria modesta, tentar escrever alguma coisa relacionada com as suas memórias.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conheci o ex-Senador Benjamim Farah como seu colega na Câmara dos Deputados. Evidentemente, ele me precedera lá como Constituinte de 1946, em outros mandatos, porque à época eu era Deputado Estadual na Paraíba.

Sempre tivemos grande afinidade, porque uma das qualidades primordiais de sua personalidade sempre foi a de um político por vocação. Ele atuou numa época em que existia mesmo, com muito maior ênfase, a chamada política corporativista. O ex-Senador Benjamim Farah, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, foi um legítimo representante das reivindicações dos servidores públicos federais. S. Exª era conhecido como tal; dava tudo de si em defesa daqueles que trabalhavam para o Estado. E por uma razão muito simples, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: quando foi eleito para a Câmara dos Deputados, o Rio de Janeiro, então capital federal, acolhia, na sua população, milhares e milhares de servidores públicos, como ainda hoje. Apesar da transferência para Brasília, o que se sabe é que no Rio de Janeiro há mais servidor público federal do que no Distrito Federal.

Mas Benjamim Farah não se limitou a isso. Ele foi um autêntico representante do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados e, depois, no Senado Federal. Conduziu-se sempre com dignidade e espírito público. Era um homem simples, por vezes até simplório. Ele exalava bondade. Nunca presenciei o ex-Senador Benjamim Farah alterar a sua voz, para recriminar quem quer que fosse. Pelo contrário, fazia questão de se dar com todos. Era um conciliador por natureza. O que lhe valeu, na legenda do antigo PTB - porquanto de procedência getulista -, um lugar de destaque. Depois, quando tivemos deflagrado o golpe militar de 64, o ex-Senador Benjamim Farah estava ao nosso lado, na Câmara dos Deputados, lutando contra o garroteamento das liberdades públicas e procurando resistir ao que então se passava no País, no mais obscurantista autoritarismo de que já tivemos notícia no Brasil. Na época das célebres suspensões de direitos políticos, cassações, torturas e desaparecimentos, ele teve a coragem de ficar conosco. Foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro, ao meu lado e de tantos outros, ali no Anexo I do Senado Federal.

Portanto, não só pelo que fez pelo Estado do Rio, pelo Brasil, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, do ponto de vista de elaboração legislativa, mas sobretudo pela sua coragem cívica, pelo seu destemor, merece o respeito do Senado, o respeito do Congresso Nacional.

Na Câmara dos Deputados e aqui, em várias oportunidades, ele teve missões importantes a cumprir: foi Secretário na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e Vice-Presidente do Senado Federal; foi presidente e vice-presidente de várias comissões técnicas na Câmara e no Senado; foi Líder do PSP na Câmara dos Deputados e Vice-Líder do antigo MDB no Senado Federal, quando aqui estava ao lado de Nelson Carneiro, Josaphat Marinho, de Rui Carneiro e de tantos outros, numa fase em que, se não me engano, a Bancada do MDB era de apenas sete Senadores. E era oposição não apenas a um governo militar, mas ao regime militar.

Não seria neste momento, portanto, Sr. Presidente, em que ele desaparece, que ficaríamos silentes. Estou aqui para altear a minha voz e reverenciar a memória de um dos grandes brasileiros que conheci no desempenho da vida pública no Congresso Nacional.

O Sr. Josaphat Marinho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. HUMBERTO LUCENA - Ouço V. Exª, Senador Josaphat Marinho.

O Sr. Josaphat Marinho - Nobre Senador Humberto Lucena, V. Exª acaba de traçar concisamente, mas com muita precisão, o perfil de Benjamim Farah. Não tenho propriamente o que acrescentar. V. Exª já pôs em relevo suas qualidades de parlamentar, de homem público. Queria apenas acrescentar que se tratava de uma figura de extrema modéstia e encantadora cordialidade.

O SR. HUMBERTO LUCENA - Exatamente, nobre Senador Josaphat Marinho, era esse talvez o traço mais peculiar da pessoa que convivia diariamente conosco. Mas, por trás daquele suave comportamento, ninguém imaginava que havia o homem público que ficou ao nosso lado resistindo, até que a ditadura caiu no Brasil com a escolha de Tancredo Neves para a Presidência da República.

Sr. Presidente, ao encerrar estas palavras, carregadas de emoção, numa homenagem a um homem que exerceu 32 anos de mandato, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, chamaria a atenção dos presentes para uma particularidade: Benjamim Farah foi eleito Senador em 1970, quando o então Movimento Democrático Brasileiro foi praticamente varrido das urnas pelo voto em branco e pelo voto nulo, porque, naquela época, os estudantes e os trabalhadores, num protesto contra o Governo do General Médici - a época mais sombria da ditadura militar -, resolveram votar em branco. Salvaram-se apenas dois nomes propostos ao Senado, no Rio de Janeiro: Nelson Carneiro e Benjamim Farah.

Sr. Presidente, esse é o homem público que neste momento homenageamos. Ao terminar minhas palavras, quero enviar à sua esposa, D. Elza França Farah, e aos seus filhos minha manifestação de profunduo pesar, que é também de toda a Bancada do PMDB na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/1997 - Página 9044