Pronunciamento de Francelino Pereira em 05/05/1997
Discurso no Senado Federal
OBSERVAÇÕES SOBRE ENTREVISTA DO LIDER DO GOVERNO NESTA CASA, SR. JOSE ROBERTO ARRUDA, AO JORNAL DO BRASIL, SOB TITULO GOVERNO ERROU NAS REFORMAS.
- Autor
- Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
- Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA PARTIDARIA.:
- OBSERVAÇÕES SOBRE ENTREVISTA DO LIDER DO GOVERNO NESTA CASA, SR. JOSE ROBERTO ARRUDA, AO JORNAL DO BRASIL, SOB TITULO GOVERNO ERROU NAS REFORMAS.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/05/1997 - Página 9046
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA.
- Indexação
-
- CRITICA, DECLARAÇÃO, JOSE ROBERTO ARRUDA, SENADOR, LIDER, GOVERNO, SENADO, FALTA, VISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), EXPECTATIVA, RETRATAÇÃO.
O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL-MG. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não tenho o hábito de trazer a esta tribuna assuntos divulgados pela imprensa, mas confesso que hoje fui surpreendido com uma entrevista de um companheiro, de um amigo, de um Senador a quem muito admiro: o Líder do Governo nesta Casa.
S. Exª concedeu entrevista ao jornalista Maurício Dias, publicada no Jornal do Brasil, com o título "Governo errou nas reformas". Tem-se a impressão de que S. Exª estaria falando já como Líder da Oposição, embora - é claro - S. Exª tenha a liberdade de divergir dos temas, assuntos e posições assumidas pelo Governo que lidera nesta Casa. O Senador José Roberto Arruda começa por dizer que o meu Partido, o PFL, "tem visão curta e não percebe o jogo sutil do processo político", uma declaração que considero equivocada e infeliz, porque dizer-se que o Partido da Frente Liberal não tem visão para perceber o jogo sutil do processo político é cometer uma heresia. Na verdade, somos de um partido com longa história na vida política e demos grande contribuição, ora com sutileza, ora com bravura e a céu aberto, pela devolução constitucional do País, para a vigência da democracia.
O próprio Presidente Tancredo Neves dizia que o Partido da Frente Liberal foi o que mais assumiu uma posição histórica, que permitiu que o País transitasse do regime autoritário para o democrático. De nossa parte, Sr. Presidente, com sutileza ou em pronunciamentos incisivos, contribuímos, ao lado de Petrônio Portella, de Marco Maciel, de Jorge Bornhausen, de Hugo Napoleão e de tantos outros Líderes, para que o País retornasse à plena democracia.
Eu mesmo, Sr. Presidente, quando fui sondado para presidir o Partido da Aliança Renovadora Nacional, em contato com o então Presidente da República, Ernesto Geisel, disse a S. Exª que desejava saber para onde caminhava o País, porque só poderia aceitar, na vida política ou parlamentar, uma missão identificada com o pensamento de retorno à democracia e de busca do regime mais aberto possível. S. Exª, o Presidente Ernesto Geisel, disse-me de forma clara que eu, atendendo à convocação das lideranças da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, poderia assumir a direção da Aliança Renovadora Nacional porque, com certeza, ele deixaria o Governo, a Presidência da República, com o País vivenciando a plena democracia, da mesma forma que eu deixaria a presidência do partido no regime de liberdade, conseqüentemente, de revogação da exceção, dos atos excepcionais.
Sr. Presidente, quer no jogo do entendimento, quer no da estratégia e da colocação aberta na tribuna, nas ruas e nas praças deste País, fomos companheiros de uma luta que se somou àqueles que combateram o regime de então. Por isso mesmo é que a imprensa brasileira jamais cometeu a injustiça de criticar a figura do Presidente Ernesto Geisel porque foi o grande batalhador para que o País retornasse à democracia.
Ora, Sr. Presidente, não se compreende que, a essa altura, o meu querido Líder Senador José Roberto Arruda possa dizer que o PFL não tem a visão do jogo do processo político, porque permanentemente estamos atentos a esse jogo, a essa estratégia, a tal ponto que hoje somos o partido de melhor organização política do País: somos 106 ou 107 Deputados Federais, a maior bancada na Câmara Federal e no Senado da República - nesta Casa, somos 24 Senadores -; temos mais de mil prefeitos, milhares de vereadores, uma organização que atinge todo o território nacional.
E o que é mais, Sr. Presidente, é que a posição que assumimos, de certa forma, confunde-se, quando não ultrapassa, com o próprio desempenho da socialdemocracia. E o Senador José Roberto Arruda assinala:
"Mas o que acontecia é que o processo de mudança na história brasileira está sempre capitaneada pelo liberalismo. O PSDB é formado, majoritariamente, por setores progressistas. Não tenho dúvidas de que o pensamento liberal e o pensamento da socialdemocracia, no Brasil, coincidem numa primeira fase de mudança."
Coincidem não apenas na primeira fase de mudança, mas coincidem em todas as fases e, muitas vezes, a nossa posição liberal ultrapassa o próprio jogo da socialdemocracia no País, porque, em verdade, todos nós somos sociaisdemocratas, todos nós somos liberais num amplo sentido.
Em primeiro lugar, defendemos o liberalismo político, que é aquele que intui e ordena as liberdades públicas e individuais. Ao mesmo tempo, defendemos e lutamos pelo liberalismo social, que é aquele que procura corrigir e eliminar, tanto quanto possível, as injustiças, as desigualdades econômicas e essa perversa distância que existe entre ricos e pobres neste País.
Somos um Partido de centro, inclinado para a esquerda, com uma visão social de tudo o que acontece nesta Nação. Quero, portanto, deixar a minha estranheza ao Líder do Governo nesta Casa, no sentido de que possa recompor a sua palavra perante a Nação brasileira, perante o próprio Governo e perante o Partido da Frente Liberal, que com ele comunga o trabalho de fazer com que este País se desenvolva sempre, corrigindo a perversa distância na vida social brasileira.
Muito obrigado.