Discurso no Senado Federal

CENTENARIO DA CIDADE DE FLORIANO, NO ESTADO DO PIAUI.

Autor
Freitas Neto (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Antonio de Almendra Freitas Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • CENTENARIO DA CIDADE DE FLORIANO, NO ESTADO DO PIAUI.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/1997 - Página 10142
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, FLORIANO (PI), ESTADO DO PIAUI (PI).

O SR. FREITAS NETO (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma das mais importantes cidades do Estado do Piauí, Floriano, comemorará seu centenário em julho. Com aproximadamente 60 mil habitantes e taxa de urbanização em torno dos 90%, trata-se de um dos principais centros urbanos piauienses.

Sua história se confunde com a própria história do povoamento do Piauí. A ocupação da área iniciou-se na segunda metade do século XVII, sob a égide da Casa da Torre, na Bahia, fazendo-se através da extensão dos currais de gado e da tentativa de apresamento das nações indígenas que dominavam a região. Foi uma das guerras mais truculentas já movidas contra a população nativa, hoje infelizmente extinta em meu Estado.

Esse episódio se encontra registrado nas páginas da nossa história, em obra de historiadores como Odilon Nunes e João Gabriel Baptista - este último com sua Etnohistória Indígena do Piauí, recentemente publicada, que nos dá conta desse extermínio - e de poetas como o consagrado H. Dobal. Em um dos mais belos poemas épicos e elegíacos de nossa literatura e de nossa língua, El Matador, Dobal se refere à "raça extinta, lembrança extinta, nomes, nações, apagados no próprio sangue".

Ao término dessa inglória campanha, que se estendeu até o Vale do Gurguéia, afluente do Parnaíba, dois comandantes da expedição, Domingos Afonso Mafrense e seu irmão Júlio Afonso Serra, fixaram-se no território ocupado. Receberam então título de sesmaria compreendendo 24 léguas em quadra, às margens do próprio Gurguéia. Mais tarde, essa área foi estendida até o Rio Parnaíba, o que possibilitou a instalação de muitas fazendas de gado.

Ao falecer, em 1711, Mafrense doou 30 de suas fazendas aos padres jesuítas, que as administraram até 1760, quando foram expulsos do Brasil pelo édito do Marquês de Pombal, no reinado de D. José I. O Governador da Capitania, João Pereira Caldas, promoveu o seqüestro e arrolamento das fazendas deixadas pelos jesuítas, dividindo-se em três inspeções, com os nomes de Canindé, Nazaré e Piauí.

Da inspeção de Nazaré foram desmembradas em 1873 as fazendas Guaribas, Serrinha, Matos, Algodões e Olhos d`Água, para a formação do estabelecimento agrícola denominado Colônia Rural de São Pedro de Alcântara, localizada na margem direita do Rio Parnaíba e entregue à administração do agrônomo Francisco Parente. Ficava a 60 léguas da capital, Teresina, no lugar denominado Chapada da Onça.

Pouco antes, a 20 de julho de 1864, a Resolução Provincial nº 543 criara, perto desse ponto, uma vila com a denominação de Manga, em uma antiga passagem de gado e de tropas para o Maranhão, durante as lutas pela nossa independência e durante o combate à insurreição da Balaiada. Nova resolução, já agora estadual, transferiu a sede da Vila de Manga para a povoação da Colônia de São Pedro de Alcântara. Vivia-se o início do período republicano, e a povoação passava a chamar-se apenas Colônia. Em 1895, vila e município foram extintos, só no ano seguinte restabelecendo-se sua autonomia administrativa.

Finalmente, em 1897, o município adquiriu foros de cidade, com o nome de Floriano Peixoto, em uma homenagem ao consolidador da República. A escolha dá uma idéia do espírito cívico que sempre marcou o piauiense. O Presidente Floriano Peixoto deixara, três anos antes, o poder, fortalecendo o sentimento de nação e o ideal republicano, o que despertou a admiração do povo do Piauí. Com o tempo, o município passou a ser simplesmente Floriano.

Seu desenvolvimento foi facilitado pela mudança de nossa capital de Oeiras, no Centro-Sul, para Teresina, no médio Parnaíba. Essa mudança, determinada em 1852 pelo Conselheiro José Antonio Saraiva, então Presidente da Província, deslocou o fluxo do comércio da região para os municípios situados à margem do Rio Parnaíba, cuja navegação, à falta de estradas, constituía a única via de transporte do Estado. Assim se desenvolveu, por exemplo, Amarante, decantada cidade do poeta maior de nossa terra, Da Costa e Silva, que a celebrizou em um soneto imortal.

Antigo Porto de São Gonçalo, teve naquela segunda metade do Século XIX um rápido desenvolvimento econômico, chegando ao intercâmbio comercial direto com a Europa. Posteriormente, com a acentuada afluência de Floriano, esse desenvolvimento passou a centralizar-se na nova cidade. Ela contaria, além do mais, com o concurso valioso da colônia síria, pois recebera o primeiro contingente daquela nação a estabelecer-se em nossa terra. Destinados originariamente aos seringais da Amazônia, o destino desse grupo de trabalhadores de origem síria foi truncado em Belém do Pará. Assim chegou providencialmente a nossa Floriano, constituindo um dos mais expressivos núcleos populacionais da cidade. Contribuiu de forma notável para sua grandeza e seu progresso.

Floriano, que assim se acha profundamente vinculada à história de meu Estado, tem-se desenvolvido de maneira expressiva em vários campos de atividade. Tornou-se ao longo dos anos uma cidade aberta, com povo hospitaleiro e acolhedor, reduto das mais destacadas lideranças políticas do Estado, muitas das quais têm definido o perfil político do Piauí.

O saudoso historiador Celso Pinheiro Filho, membro da Academia Piauiense de Letras, informa-nos em sua "História da Imprensa no Piauí", há pouco reeditado:

"Depois de Teresina, foi Floriano a cidade que, após seu nascimento, teve imprensa no menor tempo, pois em 1905 apareceu seu primeiro jornal, Vida Comercial, de que nos dá notícia Joel Oliveira."

Ainda segundo o historiador, apareceu a seguir Sergipe, como órgão de publicidade da firma comercial Nelo, Pires & Cia, que pois substituído em 1914 pelo O Popular, de responsabilidade do proprietário da mesma firma, João Pires Ferreira. Foi um dos órgãos de imprensa de vida mais longa do Estado, durando até 1933. Seguiram-se O Livro, de 1918 a 1924, órgão dos alunos do Colégio 24 de fevereiro, dirigido pelo padre Lindolfo Uchoa. Em 1920 circula A Cidade de Floriano, de Antônio Lemos, tendo como colaboradores os intelectuais João Ferry, Heráclito Sousa e Nelson Cruz. O Floriano manteve-se de 1925 a 1935, tendo recebido nesse período a colaboração de figuras eminentes de nossa vida pública e de nossas letras, como Pedro Borges da Silva, Osvaldo da Costa e Silva, ex-prefeito e vice-governador do Piauí após o Estado Novo, Veras de Holanda, José Messias Cavalcante e Da Costa Andrade. Finalmente, a cidade possuiu um jornal fora dos moldes convencionais: O Libertador, editado em tipografia local pela Coluna Prestes, quando de sua passagem por Floriano, em 1925.

A presença de uma imprensa atuante nos primórdios de seu desenvolvimento vem demonstrar, por si só, a pujança intelectual dos filhos de Floriano e significa o coroamento de seu progresso material. Hoje a cidade conta com jornais, emissoras de rádio e, confirmando seu pioneirismo, com a primeira emissora de televisão, fora da capital, a ter geração independente no Piauí.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com extrema emoção e com o orgulho de piauiense que me associo, na qualidade de representante de meu Estado, às comemorações do centenário de Floriano, a 8 de julho próximo, data que, como vemos, vincula-se profundamente à história do Piauí e à história de nosso País. A cidade de Floriano, à qual sou ainda afetivamente ligado por laços familiares, terá com certeza o melhor dos futuros, à altura de sua grandeza passada e presente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/1997 - Página 10142