Discurso no Senado Federal

RECONHECIMENTO TARDIO DOS HOMENS PUBLICOS PELA HISTORIA. PERFIL DOS POLITICOS EM NOSSO PAIS: AQUELES QUE O SÃO POR VAIDADE, OU POR AMBIÇÃO, OU POR VOCAÇÃO. SOLICITANDO A TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO DO ARTIGO DO JORNALISTA HELIO FERNANDES, SOB O TITULO HA VINTE ANOS O BRASIL PERDIA O GRANDE LIDER. CARLOS LACERDA, A MORTE ANTES DA MISSÃO CUMPRIDA.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • RECONHECIMENTO TARDIO DOS HOMENS PUBLICOS PELA HISTORIA. PERFIL DOS POLITICOS EM NOSSO PAIS: AQUELES QUE O SÃO POR VAIDADE, OU POR AMBIÇÃO, OU POR VOCAÇÃO. SOLICITANDO A TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO DO ARTIGO DO JORNALISTA HELIO FERNANDES, SOB O TITULO HA VINTE ANOS O BRASIL PERDIA O GRANDE LIDER. CARLOS LACERDA, A MORTE ANTES DA MISSÃO CUMPRIDA.
Aparteantes
Joel de Hollanda, Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/1997 - Página 10423
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, CLASSE POLITICA, ESPECIFICAÇÃO, EPOCA, DITADURA, BRASIL, DEFESA, VOCAÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, HELIO FERNANDES, JORNALISTA, HOMENAGEM, CARLOS LACERDA, LIDER, POLITICA, BRASIL.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho comprovado, ao longo da minha vida pública, que dificilmente, coisa rara, alguém em vida é reconhecido pelos seus contemporâneos. É preciso que passe um tempo para que a história faça justiça, e geralmente esse reconhecimento é feito pelos pósteros. É a posteridade que, após serenados os ânimos, consegue realçar figuras que, no embate, na discussão, na ardência do momento, esses não são reconhecidos. Aliás, os homens públicos sérios, honestos, trabalhadores, acabam sendo envolvidos por uma minoria que não é correta; uma minoria que usa seus mandatos eletivos não para aquilo que o povo deseja, que é não ser conspurcado, uma minoria voltada para as suas ambições pessoais. Essa maioria de gente séria, voltada para os interesses coletivos, que faz da sua vida pública um exemplo para os seus descendentes, acaba sendo misturada no balaio daqueles que buscam um mandato à custa de qualquer preço para engordar a sua conta bancária ou para desse mandato fazer trampolim para coisas menos prováveis de ser reconhecidas pelo cidadão comum como sendo um acerto.

Fiz política acadêmica, Sr. Presidente. Aquilo era o cadinho onde se formavam, senão as lideranças, pelo menos aqueles que tinham uma vocação política. Entendo que há três tipos de políticos em nosso País. Os políticos por vocação, os por ambição e os por vaidade. Aqueles que são políticos por vaidade podem até usar a sua fortuna pessoal para conseguir um mandato de deputado estadual ou federal ou de senador, e ninguém tem nada a ver com isso: ele quis ter o título pela vaidade que lhe é compatível com a sua vida.

Há os que o são por ambição. Com esses é preciso ter cuidado, porque investem uma soma enorme para conseguir o mandato, sabendo que jamais vão recuperá-la com o salário que ganham ou como deputado federal ou senador nos quatro ou oito anos de mandato. Eu posso afirmar isso, porque na minha vida pública concorri, como Deputado Estadual, depois Federal e Senador, com candidatos que gastaram somas enormes de dinheiro e sempre dizendo que não era possível que alguém investisse uma quantia daquela monta se não tinha como ser retribuído. A não ser que, no meio do mandato, fizessem as suas negociatas.

E há aqueles que são políticos por vocação, que acabam como eu, Sr. Presidente, que, em certa quadra da minha vida, tive o meu mandato de Deputado Federal cassado, perdi 10 anos de direitos políticos e o meu lugar de Professor na Faculdade de Direito; como tantos outros, fui vítima de uma diáspora que nos lançou para outras capitais que não aquela em que havíamos nascido. Eu, por exemplo, quando fui cassado, me encontrava no Rio de Janeiro, não sabia sequer onde ficava o fórum e fui obrigado a advogar naquela terra durante 20 anos, fazendo do Rio o meu segundo Estado, porque o Estatuto do Cassado proibia que voltássemos ao Estado natal. E a minha mãe quase morre sem poder ver o seu filho, porque não podia haver esse deslocamento. Esse é o político por vocação.

A Srª Marina Silva - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Já vou concedê-lo a V. Exª.

Fico a pensar, depois, no retorno, por que se volta à política. Voltei na época áurea da Assembléia Nacional Constituinte, porque assisti a um programa de televisão em que um candidato a deputado federal constituinte dizia tantas tolices que me dei conta de que era aquele cidadão que ia escrever a Constituição para mim. E não quis, Sr. Presidente, me quedar inerte pela omissão, porque não acredito em nenhuma liderança que se afirme pela omissão. Com outros presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil, função que exerci no ano de 1981 a 1983, convidei alguns para que fossemos dar cunho àquilo por que tínhamos lutado, que era a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, e deles ouvi esta frase: "Não vou para a política porque geralmente acabamos salpicados de lama." A minha resposta foi que, se não entrássemos, estaríamos cedendo lugar a outros que talvez fossem praticar atos que poderíamos impedir se estivéssemos dentro dela.

Vejo, com alegria, que é um médico que preside hoje os nossos trabalhos. Também V. Exª, Senador Carlos Patrocínio, deve ter sentido isso na alma quando resolveu enfrentar os salpicos de lama.

Mas continuo dizendo que o homem público não vale pela fortuna que ele eventualmente consegue amealhar, ou pelo poder que ele consegue empalmar, mas por aquilo que ele faz e produz em favor de uma coletividade. Não há como deixar de reconhecer isso. Ninguém sabe quem vendia as túnicas de Sócrates, mas se sabe quem foi Sócrates até hoje.

Ora, Sr. Presidente, o político sério haverá de ter sempre alguém que, ainda discordando das suas idéias, que com elas não concorde, possa fazer justiça quando ele tiver desaparecido.

Vou interromper o meu discurso para poder ter o privilégio de ouvir a Senadora Marina Silva.

A Srª Marina Silva - Nobre Senador, gostei desse apanhado de caracterizações de políticos que V. Exª fez: vocação, ambição e vaidade. Só acrescentaria mais um, Senador Bernardo Cabral: aqueles que o são por idealismo, o que não impede que os que são por vocação também tenham idealismo.

O SR. BERNARDO CABRAL - Estão incluídos nela.

A Srª Marina Silva - Alguns têm o idealismo, mas não têm a vocação para ser político. Confesso a V. Exª que, em minha experiência como Vereadora e como Deputada Estadual, sentia, sinceramente, que tinha algo a contribuir, algo a dizer, num Estado em que é muito difícil fazer política quando não se pertence a um partido tradicional, quando não se pertence às oligarquias de barranco que ali se constituíram durante muitos anos. Senti que tinha algo legítimo a dizer, mas confesso a V. Exª que jamais retornaria à condição de Deputada ou Vereadora, não por menosprezar a função, ela é fundamental, mas porque acho que o meu papel nesse sentido eu já cumpri. E, como Senadora, acho que tinha algo a dizer ao Brasil e a esta Casa, não por minhas capacidades individuais, mas por representar uma categoria social que nunca havia sido representada numa instância como esta, que é exatamente um segmento que ficou à margem da História na Amazônia, muito embora a tenha construído. Estou aqui, diria a V. Exª, muito por idealismo, mas do que por vocação. Se fosse por vocação, eu estaria dando aula, porque, por vocação, eu sou professora. Muito obrigada.

O SR. BERNARDO CABRAL - Não sei se V. Exª estaria dando aula, porque continua dando aulas como Senadora aqui. Os seus colegas, quando a ouvem, não ouvem só a Senadora: ouvem aquela que pratica o magistério.

Mas veja V. Exª que, se a sua experiência como Deputada Estadual foi difícil, na minha época de Deputado estadual, a Assembléia foi cercada pelas forças militares, obrigando os 30 Deputados estaduais que éramos a votar no candidato da Revolução, porque o Ato Institucional de 1964 assim impunha, sob pena de sermos cassados.

Naquela altura dos 30 Deputados, só um - eu não diria que teve a coragem, não seria isso - teve a consciência de votar contra. Esse único Deputado estadual, depois, foi eleito Deputado Federal pela Oposição, numa oposição ferrenha, e é o mesmo Senador hoje que responde ao seu aparte. Fui o único naquela altura. E fazer política naquela época, em que o Ato Institucional pesava sobre as nossas cabeças, tanto pesou que escapei da cassação como Deputado estadual, mas, logo a seguir, como Deputado Federal, fui atingido por um ato de exceção.

Era muito difícil, porque nem os vizinhos queriam falar conosco. Era como se fôssemos párias dentro do nosso País. Veja que, quando me refiro a isso, e nem a propósito da cassação, é porque quero trazer para os Anais desta Casa, Sr. Presidente, um trabalho fantástico feito pelo jornalista Hélio Fernandes. Tantos dele discordam, mas poucos têm tido neste País a grandeza de enfrentar, como ele enfrentou, a Revolução militar, conforme consta da sua história, tendo sido perseguido pelos que estavam no poder a partir de 1964. Nunca o seu jornal foi impedido de circular, embora com dificuldades.

Mas, hoje, que estamos em plena democracia, Hélio Fernandes atravessa uma crise muito pior, porque lhe fecharam todas as portas, em termos de publicidade, de matéria paga; e, ainda assim, Hélio continua dando sua contribuição ao Brasil, com a sua condição de homem muito questionado: uns têm verdadeiro ódio dele, outros o querem muito bem.

Devo dizer que, há mais de 30 anos, Hélio e eu temos uma amizade muito sólida, construída quando ele foi o primeiro político a ser confinado dentro do País, talvez o único brasileiro. Contra isso me insurgi da tribuna da Câmara dos Deputados, fazendo um discurso violento contra o Governo da Revolução. Nascia dali uma amizade; com ela tenho convivido de forma tão forte que ela tem superado o tempo, a distância e o silêncio.

Vi, há dois dias, um trabalho de Hélio sobre Carlos Lacerda, e é aí que quero chegar: ao fio condutor filosófico do meu discurso, onde eu dizia, no seu início, que nós, homens públicos, não devemos esperar reconhecimento dos nossos contemporâneos, quando muito, justiça dos pósteros. O artigo é sobre Carlos Lacerda. Hélio Fernandes relembra que, há 20 anos, o Brasil perdia o grande líder, de quem tantos de nós discordamos. Eu, inclusive, na minha mocidade, fui um deles. Mas Hélio Fernandes escreve esse artigo com tanto primor e autoridade que ele vai para os Anais da Casa, porque vou requerê-lo ao final, e tenho certeza de que V. Exª deferirá esse meu pedido. O artigo se intitula "Há 20 anos o Brasil perdia o grande líder. Carlos Lacerda: a morte antes da missão cumprida".

Quando se chega ao final, Sr. Presidente, nota-se que o artigo foi escrito no dia 20 de maio de 1977. Hélio está reproduzindo, vinte anos depois, com post-scriptum, para mostrar o que ele dizia. E veja que ele começa assim:

      "Como escrever brevemente sobre o múltiplo, vário, controverso, contraditório, tumultuado, adorado, amaldiçoado, invejado e execrado Carlos Lacerda, se eu conheci todos e cada um deles, e de cada um e de todos guardo momentos inesquecíveis? (...)

      O convívio diário com Carlos Lacerda na Constituinte fabricou uma amizade que durou 22 anos, de 1946 a 1968. (...)"

E diz Hélio Fernandes:

      "Nesses 22 anos de amizade recíproca, ficamos juntos em todos os momentos. Nada nos atingiu, nada nos dividiu, nada fez com que nos separássemos. Nunca, em nenhum momento, fomos incondicionais. Talvez por causa disso, nossas divergências tivessem sido passageiras."

E diz mais adiante:

      "Nesses 22 anos em que Carlos Lacerda construiu o período mais fascinante e mais tumultuado da História contemporânea brasileira, era a mim que Carlos Lacerda recorria quando queria uma análise mais minuciosa da situação, era a mim que ele evitava quando sabia que essa análise iria contrariar tudo o que ele estava pensando dos acontecimentos. Carlos Lacerda, um dos maiores talentos do seu tempo, uma das personalidades mais fascinantes que já nasceram e viveram no Brasil, era múltiplo e abrangia todos os setores com seu talento inacreditável, só tinha uma falha na sua construção intelectual: o horror pela análise crítica enquanto a batalha não tivesse terminado."

Sr. Presidente, veja com que cuidado se faz uma análise. Quando, colocando essas palavras, ele chega a 1954 - aquela amizade já vinha de 46 -, assinala Hélio Fernandes:

      "1954 foi o primeiro grande momento de Carlos Lacerda. Os anos anteriores são anos de formação e de acumulação, embora eu tenha defendido sempre que os homens como Carlos Lacerda não se plasmam, não se formam, não se constroem nem se edificam: já nascem prontos, o tempo só faz burilá-los e aperfeiçoá-los."

Aqui, Sr. Presidente, cabe uma lembrança retirada de um artigo especial que a Tribuna da Imprensa fez publicar. Diz ele:

      "Mas este gênio não veio por acaso. Teve antecessores: seu avô, Sebastião Eurico de Lacerda, foi Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas no governo Prudente de Morais, de 1897 a 98, e, depois, ministro do Supremo Tribunal Federal, de 1912 a 25. Por sua vez, o pai, o jornalista Maurício de Lacerda, elegeu-se duas vezes deputado federal (de 1912 a 20 e em 30), além de ter sido revolucionário de 22 a 24, membro da Aliança Nacional Libertadora (sic) (ALN) e acusado de envolvimento no levante comunista de 35."

Sr. Presidente, ser neto de um cidadão que acaba Ministro do Supremo, filho de um outro altamente combativo e, depois, conseguir superar a carga terrível de um nome que se carrega, só sendo um gênio. Só realmente tendo nascido, como assinala Hélio Fernandes, já como um homem que veio com essa condição de privilegiado.

Observem, só para citar dois nomes conhecidos que já se foram e por isso, em respeito à saudade, podemos relembrar: quem se lembra do filho de Rui Barbosa, alguém mais distante? Ou de um mais próximo: do filho de Sobral Pinto? A carga dos nomes, Sr. Presidente, impede que tantas vezes os sucessores, aqueles que representam o nascimento, a descendência, possam superar os antecessores. É difícil, para não dizer impossível.

Pois Carlos Lacerda, de quem tantas vezes discordamos, é retratado por Hélio Fernandes nessa condição de privilegiado. E mais, Sr. Presidente, quando ele lembra que apenas o tempo fez com que ele burilasse, aperfeiçoasse os seus conhecimentos, chega a um ponto em que diz:

      "Lacerda ambicionou terrivelmente o Poder, ninguém, no seu tempo ou fora dele (...) amou, pretendeu, lutou e desejou mais o poder do que Carlos Lacerda."

E aqui vem, Sr. Presidente, a análise absolutamente perfeita:

      "Mas Carlos Lacerda desejou o poder com devoção, com grandeza, com seriedade, com a consciência de que estava preparado para exercê-lo no sentido coletivo e não no individual. Nesse sentido individual era que Carlos Lacerda não tinha nenhuma ambição. No sentido coletivo sua ambição de Poder era colossal, não se continha nos limites dele mesmo, era verdadeiramente aterrorizadora."

Ele e Hélio Fernandes estiveram presos do dia 13 ao dia 23 de dezembro de 1968, durante dez dias, numa mesma cela, confinados, discutindo, brigando, trocando idéias. E quando, depois, ele pretende se retirar, para fazer viagem ao exterior, Hélio Fernandes retrata o seguinte:

      "No desespero de ver desaparecer de cena o único homem que eu considerava capaz de ainda influenciar os acontecimentos no Brasil, eu lhe disse agressivamente: "Pois é. Agora que você está rico e realizado financeiramente, desdenha e abandona a possibilidade de conquistar o Poder que tanto ambicionou."

E continua Hélio Fernandes:

      "Eu sabia que o tinha atingido, mas sabia também que o Cassius Clay - o artigo é de 77, por isso a referência - político e jornalístico que ele era não iria absorver aquele golpe assim sem mais nem menos, iria reagir com violência, e era o que eu queria. E ele reagiu mesmo."

E reagiu com estas palavras textuais:

      "Olha, Hélio, não se esqueça disto. Eu jamais renunciarei ao Poder. E se fosse preciso que eu abdicasse do que você chama a minha fortuna, para que eu chegasse ao Poder, eu o faria imediatamente. Eu não desprezo nem nunca desprezarei o Poder, que continua sendo a minha meta e a minha razão de existir na vida pública."

E destaca esta frase:

      "Mas desprezo os métodos que precisam ser observados para a conquista do Poder, desprezo a ação que leva ao Poder; desprezo os homens que gravitam em torno do Poder."

Esses, Sr. Presidente, devem merecer também o nosso desprezo, os que se humilham, os que se acocoram, os que fingem que defendem quem está no exercício do poder, mas que dele apenas querem se aproveitar, se locupletar e fazer daí uma espécie de vida pública.

O Sr. Joel de Hollanda - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Ouço V. Exª, Senador Joel de Hollanda.

O Sr. Joel de Hollanda - Nobre Senador Bernardo Cabral, tenho cada vez mais aumentada a minha admiração por V. Exª, pelas lições de inteligência, de competência e de patriotismo que V. Exª tem demonstrado em toda a sua longa vida pública e, sobretudo, nos cargos recentes que V. Exª assumiu, nas missões que desempenhou, como relator da nossa atual Constituição e, mais recentemente, presidindo, como verdadeiro magistrado, uma das difíceis CPIs do Congresso, a dos Precatórios. V. Exª, hoje, dá mais uma lição para nós, da tribuna. A pretexto da transcrição de um artigo do jornalista Hélio Fernandes, V. Exª, com a inteligência e o brilho de sempre, extrai lições importantes, sobretudo para aqueles mais jovens, que estão há menos tempo nesta Casa, como é o caso do Senador que lhe fala, que admiram os homens públicos que, por idealismo, por vocação e sobretudo por patriotismo, abraçam essa difícil missão de representar o povo brasileiro, de representar o Estado, como é o caso de V. Exª, que brilhantemente representa o Estado do Amazonas nesta Casa. As lições que V. Exª extrai da vida de Carlos Lacerda são importantes, mostram como um homem supera todas as suas dificuldades, supera até a carga genética do seu pai e do seu avô para se transformar num líder como foi Carlos Lacerda, que deu uma enorme contribuição ao País nos momentos mais difíceis. Carlos Lacerda foi um político controvertido, mas era múltiplo, tinha muitas facetas interessantes, sobretudo, tinha um amor enorme ao Brasil. Durante toda a sua vida, lutou para consolidar a democracia e o desenvolvimento das instituições no nosso País. Portanto, quero parabenizar V. Exª, que, com o brilho de sempre, com tanta inteligência, com tanta competência, a pretexto de pedir a transcrição de um artigo de jornal, traz lições importantes, principalmente aos jovens, àqueles que estão começando a vida pública e que estão sendo desafiados pela política. V. Exª faz muito bem em homenagear Carlos Lacerda e o jornalista Hélio Fernandes, pela atualidade do seu artigo e pelo conteúdo que o mesmo encerra. Parabéns a V. Exª, que tão bem divulgou essas informações.

O SR. BERNARDO CABRAL - Senador Joel de Hollanda, não preciso dizer que o aparte de V. Exª me comove. Não é aquele aparte que geralmente se vê no parlamento ou se ouve quando um companheiro quer trazer a sua solidariedade em razão desta ou daquela matéria; é, sobretudo, ditado pelo coração. 

Sem nenhuma dúvida, V. Exª espraia aqui, num dia em que geralmente esta Casa é conhecida pela pouca freqüência e pela alta qualidade, que nada supera o contingente da amizade. Mas é claro que, embutido nessa amizade, V. Exª revela o talento de quem analisa a postura de um Parlamentar; e, ao analisá-la, seria da minha parte incoerente se eu não reconhecesse que V. Exª homenageia o seu companheiro de Senado.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - A Presidência lembra a V. Exª que o seu tempo já ultrapassou em 6 minutos e 50 segundos.

O SR. BERNARDO CABRAL - Vejo que não é só V. Exª que homenageia: o Presidente também acaba de me homenagear, dizendo que ultrapassei os 6 minutos do tempo regulamentar. Ora, como vale a pena, ao mesmo tempo que do plenário e do alto da Presidência possa eu ser homenageado ao final do meu discurso!

Sr. Presidente, para finalizar, trago as palavras que, 20 anos depois daquele artigo, diz Hélio Fernandes em post scriptum.

      "PS - O artigo acima foi publicado no dia 21 de maio de 1977, quando o grande Líder estava sendo enterrado. Vinte anos se passaram, resolvo repeti-lo integralmente. Até mesmo as frases "sutis" para driblar a terrível censura que dominou este jornal (e só este) durante 10 anos seguidos, foram mantidas. E são visíveis as marcas da censura, mesmo num necrológio de saudade. Depois de 20 anos, Lacerda continua insubstituível."

Devo dizer que Hélio Fernandes também continua insubstituível, porque necessário para profligar certos erros, reconhecer certas mazelas, proclamar tantos equívocos que vêm sendo cometidos País afora.

Formulo meu requerimento, Sr. Presidente: requeiro a V. Exª que determine ao nosso Diário do Senado Federal a transcrição, por inteiro, do artigo de autoria do jornalista Hélio Fernandes.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/1997 - Página 10423