Discurso no Senado Federal

CRISE QUE ATRAVESSA A CULTURA ALGODOEIRA NO BRASIL. PROPOSTAS PARA A RECUPERAÇÃO DA COTONICULTURA NO PAIS, VENTILADA NO FORUM NACIONAL DE AGRICULTURA, REALIZADO EM RIBEIRÃO PRETO.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • CRISE QUE ATRAVESSA A CULTURA ALGODOEIRA NO BRASIL. PROPOSTAS PARA A RECUPERAÇÃO DA COTONICULTURA NO PAIS, VENTILADA NO FORUM NACIONAL DE AGRICULTURA, REALIZADO EM RIBEIRÃO PRETO.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/1997 - Página 10440
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, DELFIM NETTO, DEPUTADO FEDERAL, ANALISE, CRISE, CULTIVO, ALGODÃO, REDUÇÃO, PRODUÇÃO, BRASIL, NECESSIDADE, IMPORTAÇÃO, MOTIVO, ERRO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO.
  • ANALISE, CRISE, ALGODÃO, REGIÃO NORDESTE, EFEITO, DESEMPREGO, REGISTRO, DADOS, PROPOSTA, ENCONTRO, AMBITO NACIONAL, AGRICULTURA.
  • APOIO, SUGESTÃO, PROPOSTA, ENCONTRO, EXPECTATIVA, ALTERAÇÃO, POLITICA AGRICOLA, GOVERNO.

              SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, novamente venho a esta tribuna para abordar um tema de suma importância para a economia brasileira: a crise que atravessa a cultura algodoeira. As questões existentes são comuns a todos Estados e, portanto o assunto merece atenção especial por parte do governo federal com vistas a encontrar um caminho para a revitalização da cotonicultura.

              A produção brasileira de algodão em pluma caiu de 960 mil toneladas, em 1985, para 414 mil toneladas, em 1996, e a previsão para 1997 é de apenas 340 mil toneladas. Se considerarmos que o consumo industrial é da ordem de 850 mil toneladas, o Brasil deverá importar algo em torno de 510 mil toneladas, tornando-o o maior importador do mundo. Isso significa um volume de recursos de cerca de US$ 900 milhões, contribuindo, desse modo, para ampliar ainda mais o déficit comercial.

              Segundo o economista e deputado federal Delfim Neto, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, do dia 18.12.96, os problemas da cultura algodoeira no Brasil são paradigmáticos no que se refere à destruição das atividades produtivas originadas pela acumulação de equívocos da política econômica do governo.

              O Brasil, ao longo das cinco últimas décadas, sempre foi um eficiente produtor e exportador de algodão. O comércio do produto sempre foi dominado pela tecnologia mais avançada comparada àquela aplicada nos países desenvolvidos. A Bolsa de Mercadorias de São Paulo (atualmente Bolsa de Mercados e Futuro), era já na década de 50, respeitada mundialmente pela qualidade dos seus contratos e pela segurança dada aos seus operadores. Trata-se, de uma atividade apoiada num processo produtivo eficiente de pesquisa e extensão agrícola e que não tem sentido incluir no rol de uma exploração agrícola ineficiente e sustentada por subsídios.

              Segue Delfim Neto, dizendo que o declínio da cotonicultlura deveu-se, principalmente a três fatores: um câmbio sobrevalorizado, uma descuidada redução tarifária para compensar as deficiências de oferta produzidas pelo próprio câmbio valorizado e as imensas facilidades de crédito para a importação, a prazos seis vezes maiores, e a taxa de juros seis vezes menores do que as suportadas pelo produto nacional.

              No Nordeste brasileiro o problema se agrava, uma vez que, além dos aspectos cambiais e tarifários não há como nas regiões Sul-Sudeste grandes opções de outras lavouras, daí a cotonicultura nordestina conviver com problemas crônicos na área agronômica, ou seja, a utilização de arcaicas técnicas de produção, elevada infestação da praga do bicudo, sem possibilidades de combate, pela baixa produtividade das plantas, e aumento relativo da mão-de-obra, contribuindo para inviabilizar, momentaneamente, a cotonicultura naquela região.

              Para se ter uma idéia do efeito combinado de todos esses fatores, o Estado do Ceará, por exemplo, possuidor do segundo parque têxtil do Brasil, e que já chegou a ter cerca de um milhão de hectares ocupados com o algodão, conta hoje com uma área inferior a 150 mil hectares, portanto, quase sete vezes menor que a área ocupada anteriormente.

              Considerando-se que esta atividade ocupa um homem/ano por cada dez hectares, isso significa que apenas com a decadência da cotonicultura perderam-se cerca de 85 mil empregos, somente no Ceará.

              O Fórum Nacional da Agricultura diagnosticou, semanas atrás, que as importações de algodão provocaram desemprego em proporções gigantescas em outras regiões do País.

              O Estado do Paraná, maior produtor do País, empregou na safra 91/92 um total de 235 mil pessoas e na safra 96/97 apenas 25 mil, subtraindo cerca de 210 mil trabalhadores em apenas cinco anos.

              O Fórum apontou, também a existência de uma política oficial que facilita importações e dificulta exportações, não oferecendo suporte à comercialização da produção interna, sem permitir que pequenos produtores façam investimentos necessários à redução dos custos e ao aumento da rentabilidade.

              A perda de empregos no plantio, colheita, beneficiamento, fiação e tecelagem, traz sérios problemas para as regiões produtoras, como o desaquecimento do comércio e da arrecadação tributária. Estima-se que mais da metade dos sem-terra acampados são egressos da cotonicultura.

              Enquanto isso, em 1996, a área plantada na Argentina saltou de 600 mil para 1 milhão de hectares, visando, especificamente o mercado brasileiro.

              Apesar da condução equivocada da atual política comercial brasileira com o exterior, sou daqueles que ainda acredita que o Governo deverá reconhecer os erros cometidos e reverter essa difícil situação que está se defrontando.

              Em boa hora, o Fórum Nacional da Agricultura, em encontro realizado em Ribeirão Preto (SP), apresentou uma proposta para a recuperação da cotonicultura no País. As principais sugestões que fazem parte da proposta apresentada são as seguintes:

              - ajuste no mecanismo tarifário para neutralizar vantagens provenientes de subsídios e dumping no produto importado;

              - manter a consistência das medidas introduzidas pela MP 1.569, garantindo tratamento idêntico para o produto importado e nacional, que determina o pagamento à vista para as importações com financiamento com prazo inferior a 360 dias;

              - criar programa de crédito com taxas de juros competitivas com as internacionais para custeio e comercialização da produção nacional;

              - estruturação, através das bolsas de mercadoria, de um sistema de venda para entrega com pagamento antecipado;

              - desoneração dos impostos, tais como INSS (ex-Funrural), PIS e Cofins, e

              - criação de mecanismos para aumentar a dotação de recursos para os centros de pesquisa oficiais e privados, para a obtenção de variedades adaptadas à colheita mecânica, aos cerrados e ao Nordeste.

              Entendo que as questões aqui levantadas, pelo seu nível de abrangência, quanto aos importantes aspectos sócio-econômicos citados e ao seu grau de inter-relações no que se refere aos aspectos político-institucionais, deverão merecer desta Casa, através de seus dignos pares, todo o interesse para que se faça um trabalho de conscientização da problemática junto ao Governo Federal, esperando-se resulte na análise e aprovação das propostas em favor da recuperação da cotonicultura em nosso País.

              Era o que tinha a dizer.

              Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/1997 - Página 10440