Pronunciamento de Marina Silva em 30/05/1997
Discurso no Senado Federal
MANIFESTANDO-SE FAVORAVELMENTE A COMPLETA INVESTIGAÇÃO DAS DENUNCIAS CONTRA O PT E A IMEDIATA INSTALAÇÃO DA CPI PROPOSTA PELO SENADOR PEDRO SIMON, PARA INVESTIGAR A RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLITICOS COM AS EMPRESAS.
- Autor
- Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA PARTIDARIA.:
- MANIFESTANDO-SE FAVORAVELMENTE A COMPLETA INVESTIGAÇÃO DAS DENUNCIAS CONTRA O PT E A IMEDIATA INSTALAÇÃO DA CPI PROPOSTA PELO SENADOR PEDRO SIMON, PARA INVESTIGAR A RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLITICOS COM AS EMPRESAS.
- Aparteantes
- Roberto Requião.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/05/1997 - Página 10719
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA.
- Indexação
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- APOIO, PROPOSTA, AUTORIA, PEDRO SIMON, SENADOR, URGENCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, INFLUENCIA, EMPRESA, PARTIDO POLITICO, PROCESSO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, VIABILIDADE, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
A SRª MARINA SILVA (Bloco-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, em primeiro lugar, desejo insistir em um breve esclarecimento, porque me parece que o Senador Bernardo Cabral ficou ofendido por eu ter citado apenas o nome do Senador Josaphat Marinho como Parlamentar isento no PFL. Longe de mim, com essa citação, querer dizer que no PFL existe apenas o Senador Josaphat Marinho. Pelo contrário, fico triste em saber que o Senador entendeu dessa forma, porque a minha colocação foi no sentido de dizer que nem todas as pessoas dentro do PFL são iguais aos Deputados Ronivon e João Maia. Quero, portanto, fazer esse reparo. Creio que fui mal interpretada. De qualquer forma, peço desculpas, porque não faz parte da minha índole esse tipo de acusação para ferir as pessoas.
O motivo do meu pronunciamento é um assunto que já vinha sendo abordado pelo Senador Gilvam Borges com relação às denúncias que estão sendo feitas contra o Partido dos Trabalhadores. Sou da opinião, como falei, de que não podemos ter dois pesos e duas medidas: "com a vara que se mede se é medido".
Nesse momento, há uma denúncia contra o Partido dos Trabalhadores. Não devemos ter medo de que a investigação seja levada às últimas conseqüências, afinal de contas, é isso o que estamos pedindo com relação à denúncia da compra dos votos e temos que ser coerentes.
A Comissão que está investigando o caso, tendo à frente o Deputado Hélio Bicudo e um vereador do Estado de São Paulo, dará um esclarecimento à sociedade sobre os fatos.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, se houver um outro instrumento que seja mais eficaz para a elucidação dessa questão, que seja também encaminhado. A meu ver, a melhor forma de se esclarecer definitivamente esse assunto é a imediata instalação de uma CPI, proposta pelo Senador Pedro Simon, que investigue o envolvimento de partidos com empresas no processo de financiamento de campanhas. Se assim procedermos, com certeza a denúncia do Partido dos Trabalhadores será esclarecida.
O Sr. Roberto Requião - V. Exª me permite um aparte?
A SRª MARINA SILVA Pois não, Senador Roberto Requião.
O Sr. Roberto Requião - Senadora Marina Silva, não tenho dúvidas de que toda denúncia deve ser investigada. Essa denúncia que hoje alveja o PT tem que ser esclarecida. Como observador externo - sou membro do velho MDB de guerra -, tenho acompanhado isso pelos jornais. Num jornal absolutamente insuspeito, no caso, O Globo, tomei conhecimento de que a tal CPEM tem contrato com 300 Prefeituras. Nesse rosário de denúncias, não vi nenhuma contra as 296, das 300, que não são do PT. Creio que a responsabilidade das administrações petistas devem ser investigadas, mas me parece claro que, ao lado da denúncia sobre um fato grave - que, se existiu, deveria ter sido feita; e, feita, deveria ser investigada com seriedade - há também uma tentativa de desqualificar o Partido dos Trabalhadores e seu Presidente de Honra, Sr. Luiz Inácio da Silva. É uma tentativa deliberada, programada e extremamente clara para todas as pessoas que querem e sabem enxergar - e não falo enxergar nas entrelinhas, pois a tentativa de desqualificação, a massa de notícias é evidente demais para que passe despercebida. Solidarizo-me com a sua postura ética. A investigação tem que ser feita, mas acredito que temos que deixar clara a denúncia de que se trata de uma operação dirigida que serve como uma cortina de fumaça em relação à CPI da compra de votos na Câmara Federal, às CPIs que o Congresso está devendo ao País, como a das Empreiteiras, a CPI do Mercado Financeiro. Que vá ao fundo o Partido dos Trabalhadores. O PT não é convento. Acredito que a maioria dos seus quadros são da melhor qualidade, mas não é impossível que uma ou duas pessoas tenham perdido o caminho da seriedade. Isso não compromete a qualidade do Partido, não compromete a sua essência, mas que fique claro que é evidente que se trata de uma campanha para estender uma nuvem de fumaça sobre as mazelas do Governo Federal.
A SRª MARINA SILVA - Agradeço a V. Exª pelo aparte e pela forma respeitosa e corajosa com que trata o Partido dos Trabalhadores.
Concordo inteiramente: há uma orquestração no sentido de deslocar a atenção da sociedade brasileira do eixo da CPI da compra de votos para a denúncia de envolvimento do Partido dos Trabalhadores com essa empresa que assumiu contratos com algumas prefeituras petistas.
Li nos jornais que essa mesma empresa assinou contratos com prefeituras do PMDB, com prefeituras do PSDB, com prefeituras que, neste momento, não estão sendo questionadas. Se há complacência com esses Partidos, com essas Lideranças, da minha parte e da parte do Partido dos Trabalhadores não queremos complacência, não queremos conivência. Queremos, isso sim, que as investigações sejam feitas.
Como bem disse o Lula, essa denúncia é requentada. À época, em 1993, quando foi feita a denúncia, o Partido dos Trabalhadores cometeu um erro, que foi exatamente o de não investigar, com a Comissão de Sindicância, às últimas conseqüências. Estamos pagando o preço de não termos feito a investigação em 1993. E, segundo informações das pessoas que tinham essa incumbência, por que não foi levada a cabo a sindicância? Primeiro, porque o denunciante não apresentou provas cabais; segundo, porque na reunião destinada a se fazer um levantamento das opiniões do denunciante e dos denunciados, no caso a Prefeita, o denunciante não compareceu à reunião, alegando problemas pessoais, problemas de saúde na família.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero dizer aqui que o Partido dos Trabalhadores é alvo de críticas, de direcionamentos, até porque tem sido bastante tenaz nas denúncias contra corrupção.
O nobre Senador, ainda há pouco, dizia que todos precisam de financiamento para as suas campanhas. Por meios lícitos e por meios legais, não há problema. O problema é quando o dinheiro público é drenado, como sabemos, para determinadas campanhas. Lamentavelmente essa é uma prática que ocorre a todo momento nos mais diferentes lugares deste País, mas não pode acontecer no Partido dos Trabalhadores. Não pode e não deve acontecer. Na Folha de S.Paulo, há matéria de um dos articulistas do jornal, Sr. Rui Nogueira, intitulado "O nhenhenhém do PT". O jornalista faz uma avaliação com a qual eu concordo, porque, muitas vezes, quando se está na berlinda, pede-se complacência por duas razões: ou porque se é inocente, ou porque, não sendo inocente, se quer algum tipo de alento, algum tipo de socorro. No caso do Partido dos Trabalhadores, não devemos querer nenhum tipo de complacência, mas também não queremos que ser tratados de forma diferenciada, de forma a caracterizar um perverso processo de discriminação, como sempre acontece.
O fato de carregar-se nas tintas com relação ao Partido dos Trabalhadores tem um direcionamento, como bem disse o Senador Requião, com quem concordo. No entanto, não podemos utilizar esse enfoque para minimizar as denúncias que se nos apresentam. Nesse caso, está procedendo corretamente o Presidente José Dirceu, quando quer que o caso seja investigado; estão procedendo corretamente as lideranças do Partido dos Trabalhadores, quando pretendem levar a investigação a cabo, para que a sociedade brasileira seja devidamente esclarecida sobre esse episódio lamentável, que é a denúncia de envolvimento do PT e de uma de suas maiores lideranças.
Preocupa-me, em relação a esse processo, como ficarão as pessoas que agora estão a atirar pedras no companheiro Lula, quando sua inocência for comprovada. Sempre tenho em mente aquela velha frase: quanto mais amigo do rei, mais a forca deve ser alta.
Se a Senadora Marina Silva cometer um erro, a sociedade brasileira, a sociedade acreana será implacável; se a Benedita da Silva cometer um erro, a sociedade brasileira será implacável; se Lula cometer um erro, a sociedade brasileira será duplamente implacável. Para as pessoas que têm a nossa origem só há uma - pelo menos, em paz com a nossa consciência - maneira de escapar desse tipo de processo: é não cometermos, do ponto de vista ético no relacionamento com o interesse público, nenhum tipo de erro. Se porventura eu for acusada e estiver inocente, sofrerei, mas não me importarei; se, ao contrário, tiver culpa no cartório, como dizem, a minha punição será terrível, porque a pessoas com a nossa origem, com a nossa história, repito, não são permitidos erros dessa natureza.
Sei que o Lula tem consciência disso; sei quanto alguns segmentos gostariam de vê-lo na lona, completamente destruído, assim como sei que existem aqueles que se incomodam com as Marinas, com as Beneditas, com os Vicentinhos, com os Lulas. Na realidade, não faz parte da História política deste País o fato de que pessoas com a nossa trajetória de vida possam assumir postos dessa natureza. Por isso é que o cuidado e a vigilância devem ser absolutamente maior. Muitas vezes parecemos até antiquados.
Outro dia, houve um pedido para a reforma do meu banheiro, no meu apartamento, que está causando um problema de infiltração. Foi feita uma avaliação técnica, que, aliás, nem tomei conhecimento. Fiquei sabendo que o orçamento para aquela obra era de quase o valor da minha casa no Acre. Pedi para que não a fizesse, porque, embora não tenha sido a Senadora Marina Silva quem pediu aquela reforma, por mais que tenha sido um problema técnico, com aquele valor, com certeza, eu pagaria um preço muito alto, do ponto de vista político, por aquela reforma. Por isso preferi não fazê-la. Inclusive já me sugeriram mudar para não causar um prejuízo maior ao prédio por causa dessa infiltração. Vou me mudar. Não quero um banheiro que custe mais do que o valor da minha casa no Acre, porque sei que a sociedade brasileira não vai me perdoar. Até porque não estou acostumada a esse tipo de conforto exagerado.
Por isso defendo que não podemos ter dois pesos e duas medidas. Dói cortar a própria carne? Dói. Mas temos que fazê-lo, porque, do contrário, estaremos cometendo o pior erro que é o da incoerência.