Pronunciamento de Levy Dias em 04/06/1997
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM A MEMORIA DO EMPRESARIO JOSE NOGUEIRA VIEIRA.
- Autor
- Levy Dias (PPB - Partido Progressista Brasileiro/MS)
- Nome completo: Levy Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM A MEMORIA DO EMPRESARIO JOSE NOGUEIRA VIEIRA.
- Aparteantes
- Júlio Campos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 05/06/1997 - Página 10936
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, JOSE NOGUEIRA VIEIRA, EMPRESARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
O SR. LEVY DIAS (PPB-MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, falo, nesta tarde, de um homem simples, que viveu por muitos anos no meu Estado.
Falo, com muita alegria e com muita honra, de um homem que, a meu ver, é um modelo para o povo brasileiro. "Se Cristo morreu de braços abertos, por que viveria eu de braços cruzados?" Foi esse o lema de vida de um homem que acreditava na força e no valor do trabalho: José Nogueira Vieira, paulista, de Campos Novos do Paranapanema, de nascimento e campo-grandense de coração.
O Seu José Vieira - assim as pessoas o conheciam - era obstinado pelo trabalho. Sem esmorecer, trabalhou, lutou e venceu. Quando a morte, no dia 7 de maio último, veio tirar-lhe a vida, aos 85 anos de idade, ainda ocupava ele o seu posto de trabalho nas mesmas Casas Pernambucanas em que ingressara como faxineiro da loja de Assis, em São Paulo, no ano de 1925, quando tinha apenas 13 anos de idade. Foram 73 anos de trabalho, 73 anos de dedicação, 73 anos vestindo a camisa de uma mesma organização.
Sr. Presidente, chamo a atenção dos meus Pares porque é normal as pessoas desejarem aposentar-se aos 30 ou 35 anos de trabalho. O Sr. José Vieira, no entanto, trabalhou 73 anos no mesmo emprego.
Conhecendo a estrutura e o funcionamento da loja em que trabalhava, logo percebeu que estaria melhor no posto de caixeiro ou vendedor. Foram necessários apenas dois anos para que esse sonho se tornasse realidade. Aos poucos, os próprios colegas e os seus superiores foram sentindo que isso era pouco para aquele garoto vivaz, curioso e interessado. Oito anos depois, quando tinha apenas 21 anos de idade, foi promovido a gerente da filial Paraguaçu, em São Paulo, um prêmio à sua dedicação e à sua capacidade de trabalho.
O serviço militar, prestado no ano seguinte, seria um marco significativo em sua vida. Não porque o levasse a protagonizar algum feito heróico com a farda verde-oliva, mas por tê-lo levado para Campo Grande, no Estado do Mato Grosso, cidade que viu crescer e ajudou a desenvolver. Sua passagem pelo Exército não o impediu de assumir, interinamente, a gerência da loja da cidade. Foi como interino também que ocupou, a seguir, as gerências das lojas de Marília e de Araçatuba.
Em 1936, retornou a Campo Grande como gerente efetivo. Sentindo que sua estadia seria agora duradoura, começou a lançar suas raízes na cidade morena. Ali se casou, ali viu nascerem os seus cinco filhos, ali fez muitos amigos e, no ramo profissional, transformou a filial das Casas Pernambucanas numa grande e lucrativa loja. Foi nesse período que começou a exercitar com mais vigor o seu lado altruísta, integrando a diretoria da Santa Casa de Campo Grande e a do Asilo São João Bosco para atendimento à velhice desamparada.
Em 1947, um acontecimento insólito veio rechear a sua biografia. Nas eleições desse ano, candidatou-se e foi eleito para o cargo de Juiz de Paz de Campo Grande, pela União Democrática Nacional - UDN. Todavia, como a sua votação fora bem mais expressiva do que aquela obtida pelo prefeito, os seus adversários forçaram a sua transferência para outra cidade. Na certa, temiam que a sua popularidade fosse ofuscar a atuação daquele político. Triste e constrangido, assumiu a gerência da filial de Londrina e, depois, da de Curitiba. Em 1971, foi guindado ao cargo de assessor da diretoria para a região, quando pôde abrir dezenas de lojas nos Estados do Paraná e de Santa Catarina.
Em 1983, enfim, realizou a grande aspiração sua e de sua família: retornar a Campo Grande, para dinamizar os negócios da empresa no Estado de Mato Grosso do Sul, e voltar à convivência saudável com os velhinhos do Asilo São João Bosco.
Sua dedicação à empresa era tamanha que, em 1985, ao completar 60 anos de serviço sem mudar de patrões, foi homenageado com um grande banquete em Campo Grande, no qual estavam presentes amigos, parentes e, sobretudo, os seus companheiros dos vários escalões hierárquicos da empresa.
Nessa ocasião, teve ele oportunidade de expor seu ponto de vista sobre a grande obsessão da sua vida: o trabalho. "Creio que o trabalho é a maior graça que Deus deu ao homem. No meu caso, é freqüente encontrar amigos que me abordam com a pergunta engatilhada: ´Ainda não se aposentou? Quando vai se aposentar?´ Perguntas amáveis, exteriorizando a preocupação com alguém que continua trabalhando há mais de meio século e que tem o direito líquido e certo de descansar. Mas, se não exerci esse direito, é por não me sentir cansado e por gostar do trabalho. Se Cristo morreu de braços abertos, por que viveria eu de braços cruzados? O exemplo nos vem da natureza. A terra não dorme. Desde a pequenina formiga à diligente abelha, aos pássaros, todos os animais que encantam o nosso mundo lutam diária e bravamente para construir e preservar suas vidas. Quem ilumina mais, a lâmpada incandescente ou o pequeno vaga-lume conduzindo sua lanterna viva, dentro da noite? Isso é trabalho".
Seu José Vieira, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, soube como maestria colocar em prática essas suas belas palavras. Com sua imensa disposição para fazer, para edificar, para ajudar os outros e para ser útil, tornou-se um grande exemplo, especialmente para os jovens de hoje, que, no torpor de não ter o que fazer, muitas vezes não encontram sentido para a vida. Ele não só teve muito o que fazer, como o fez com dedicação, com muito amor e com muita alegria.
O Sr. Júlio Campos - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador?
O SR. LEVY DIAS - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Júlio Campos.
O Sr. Júlio Campos - Senador Levy Dias, estou ouvindo com atenção a justa homenagem que V. Exª presta à figura inesquecível do Sr. José Vieira, homem que merecia receber as maiores comendas deste País, até mesmo a Ordem do Mérito Nacional do Trabalho e a Ordem do Mérito Nacional. O relato que V. Exª faz da vida do Sr. José Vieira merece ser ouvido com atenção por todo o Brasil. Que sirva de exemplo à juventude um homem que começou a trabalhar aos treze anos de idade e trabalhou por mais de setenta anos. Neste instante em que todo mundo quer aposentar-se com 25 anos de serviço, o exemplo de vida do Sr. José Vieira precisa ser conhecido no Brasil, e V. Exª o traz hoje ao conhecimento do Congresso, do Senado, com o relato da vida desse grande homem que começou como office-boy, como balconista das Casas Pernambucanas, e durante décadas e décadas trabalhou. Merecia ter três aposentadorias, não apenas uma; no entanto, sempre fez questão de trabalhar. Quero, nesta oportunidade, como Senador de Mato Grosso, Estado irmão do Mato Grosso do Sul, prestar ao Sr. José Vieira e a seus descendentes as homenagens de nosso Estado. Quando ele começou a trabalhar, éramos um Estado único; o velho Mato Grosso ia de Dourados até Aripuanã. Queremos lembrar o exemplo do Sr. José Vieira, que trabalhou nas Casas Pernambucanas, que é uma casa de tradição no comércio brasileiro. Ele se dedicou não apenas ao trabalho comercial e empresarial, mas também a outras atividades de cunho social, como a de diretor da Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande, cargo que exerceu com abnegação, ajudando na manutenção daquela casa de saúde. Ele trabalhou na diretoria do Asilo de São João Bosco, ao qual se dedicou, sem receber nenhuma remuneração, durante anos de sua vida. Queremos ressaltar o seu exemplo também na vida pública, ele que foi eleito Juiz de Paz nas primeiras eleições realizadas após a reconstituição da democracia no Brasil, em 1947, com mais votos que o candidato a prefeito da cidade. Realmente, uma vida como a de José Vieira tinha que ser divulgada para todo o Brasil. Quero congratular-me com V. Exª por este relato e fazer minhas as suas palavras de homenagem a essa figura inesquecível do trabalhador número um do velho e do novo Mato Grosso, o Sr. José Vieira. Meus cumprimentos por esta justa homenagem que V. Exª presta, no Senado Federal, a essa grande figura do inesquecível e saudoso José Vieira!
O SR. LEVY DIAS - Senador Júlio Campos, agradeço a V. Exª pelo lúcido aparte.
Quero dizer à Casa que decidi trazer o exemplo do Sr. José Vieira para que fique registrado nos Anais do Senado da República Federativa do Brasil que ele realmente é um exemplo para nós. Há muitos anos, um pensador escreveu: "A ociosidade é a mãe de todos os males". Sempre orientei meus filhos no sentido de que o trabalho não mata ninguém, o que mata as pessoas é a ociosidade.
O Sr. José Vieira trabalhou por duas aposentadorias e meia; trabalhou 73 anos no mesmo emprego. No dia seguinte ao que completou o tempo de serviço, quando a empresa o chamou e acertou o seu desligamento, de manhã, ele estava lá para o expediente, sem perguntar se tinha algum direito ou se não tinha; estava trabalhando. Completou quarenta anos. Quando completou meio século de serviço, a diretoria das Casas Pernambucanas saiu do Recife e foi a Campo Grande prestar-lhe uma grande homenagem. No outro dia, de manhã, lá estava o Sr. José Vieira para o expediente. Completou sessenta anos, foi uma festa inesquecível. Completou setenta anos. Este o exemplo que a grande imprensa nacional deveria mostrar, Senador Júlio Campos.
Vejo canais de televisão de grande audiência, Sr. Presidente Senador Leomar Quintanilha, dedicarem tempo imenso para mostrar, como aconteceu recentemente, a vida de um grande playboy brasileiro, com anúncios e com chamadas; depois, outro tanto, com a exposição da vida desse playboy, cujo único exemplo para o Brasil é o de ter perdido tudo que sua família construiu. E eu me pergunto: este é o exemplo que a televisão brasileira deve mostrar ao povo brasileiro? O exemplo que devemos mostrar ao povo brasileiro é o do Sr. José Vieira, porque é o caso inusitado de um homem que deixou uma marca que deve ser registrada tanto no Senado como na Câmara, e o seu exemplo deve ser divulgado para a juventude do nosso País.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta simples homenagem que faço à memória do extraordinário José Vieira não chega sequer aos pés daquilo que ele realmente fez por merecer. Ainda assim, é de coração e com grande alegria que lhe rendo minhas reverências póstumas e insiro o seu nome nos Anais desta Casa. Muito obrigado.