Discurso no Senado Federal

REPERCUSSÃO DO DEBATE, REALIZADO NA SESSÃO DE ONTEM DO SENADO FEDERAL, ENTRE OS SENADORES ANTONIO CARLOS MAGALHÃES E PEDRO SIMON.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • REPERCUSSÃO DO DEBATE, REALIZADO NA SESSÃO DE ONTEM DO SENADO FEDERAL, ENTRE OS SENADORES ANTONIO CARLOS MAGALHÃES E PEDRO SIMON.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/1997 - Página 11044
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, DEBATE, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, SENADO, PEDRO SIMON, SENADOR, ASSUNTO, POLITICA PARTIDARIA, PODER, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, LUIS FERNANDO VERISSIMO, JORNALISTA, APOIO, POSIÇÃO, PEDRO SIMON, SENADOR.
  • OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENÇÃO, SUGESTÃO, OPOSIÇÃO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a imprensa noticia, hoje, com grande repercussão, o importante debate realizado ontem à tarde, nesta Casa, entre os Senadores Antonio Carlos Magalhães e Pedro Simon.

Foi um dia em que o Senado viveu intensamente. Poderíamos até dizer que, ontem sim, o Senado seguiu a máxima carpe diem, ou seja, "viva o seu dia intensamente". No filme "A Sociedade dos Poetas Mortos", um professor dizia a seus alunos que o importante era viver a vida intensamente, todos os dias. Ontem, o Presidente da Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, e o Senador Pedro Simon resolveram viver intensamente, manifestando o que estava em suas almas.

Estavam presentes aqui, ontem, se não me engano, 76 Senadores e mais um grande número de deputados e jornalistas nas galerias. Tudo isso decorreu da entrevista que o Senador Pedro Simon concedeu a Jô Soares no início da semana.

No aparte ao Senador Antonio Carlos Magalhães, eu disse que as colocações do Senador Pedro Simon em verdade correspondiam, em boa parte, ao que o próprio Senador Antonio Carlos Magalhães havia dito há pouco mais de um ano. Na sessão de 31 de maio de 1995 - na verdade são dois anos decorridos - houve um debate também intenso entre ambos e, na ocasião, o Senador Antonio Carlos Magalhães dizia que ele e o PFL de fato vinham vivendo um momento destacado. Na ocasião, o Senador Antonio Carlos Magalhães já falava de um sentimento como que de ciúme do Senador Pedro Simon pelo fato de o Presidente Fernando Henrique Cardoso estar sendo tão influenciado pelo PFL e por parlamentares citados pelo Senador Pedro Simon.

Mas vejam o que dizia o Senador Antonio Carlos Magalhães, em 31 de maio de 1995, textualmente:

      "Estamos vivendo um momento histórico e é por isso que temos a responsabilidade de estar com o poder. Gostamos do poder? Gostamos sim. Luta-se para ter o poder. Lutamos para ter o poder. A nossa unidade é para buscar o poder. Queremos estar mais unidos ainda no Senado e na Câmara para continuarmos no poder, para elegermos o sucessor do Presidente Fernando Henrique Cardoso em aliança, se possível, na reeleição de Fernando Henrique, se for necessário. Seja como for, queremos a continuidade do regime democrático com os candidatos que façam esse programa de que o Brasil tanto precisa. É isso o que desejamos, é isso o que queremos."

Aí está apenas um trecho do pronunciamento que o Senador Antonio Carlos Magalhães fazia à época, no primeiro ano do Governo Fernando Henrique Cardoso, sobre como o PFL e ele próprio se sentiam no poder, se sentiam mandando, influenciando, o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mas o sentido maior do pronunciamento do Senador Pedro Simon, no meu entender, é de como seria importante que o Presidente Fernando Henrique Cardoso ouvisse outras vozes que não apenas aquelas que mais têm chegado aos seus ouvidos, ou seja, a do próprio Senador Antonio Carlos Magalhães, a do Deputado Luís Eduardo Magalhães, a do Vice-Presidente Marco Maciel, a do Líder no Senado, Hugo Napoleão, a do Líder na Câmara, Deputado Inocêncio de Oliveira, enfim, daquelas pessoas que têm exercido influência tão acentuada.

Ainda hoje, Luís Fernando Verissimo, no Jornal do Brasil, faz a seguinte recomendação ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, aliás recordando:

      "De um jeito ou de outro, o mundo adaptou-se às recomendações das nossas mães. A sua mãe não deve ter sido muito diferente da minha, ou da mãe de Efe Agá. Um dos pavores dela era corrimão de escada, acertei? Saímos de casa com ordens para não correr a mão por nenhum corrimão público, para não enchê-la dos germes dos outros. A invenção da escada rolante, de certa maneira, nos livrou desse cuidado. Outro viveiro de germes era dinheiro. Depois de tocarmos em dinheiro tínhamos de lavar as mãos correndo, e ai de quem esfregasse os olhos ou botasse um dedo na boca com a mão envenenada por dinheiro. Para prevenir a cegueira e a intoxicação mortal e aplacar as mães, inventaram o cartão de crédito. E acredito que até a proliferação de travestis, ou mulheres que fazem xixi de pé, tem algo a ver com o aviso das mães às suas filhas sobre o perigo de sentar em privadas.

      Tenho certeza que durei até agora porque ouvi minha mãe. E uma das suas lições vitais era: cuidado com as más companhias. Más companhias eram mais perigosas do que corrimão, dinheiro, sapato desamarrado, vento encanado, lingüiça de carrocinha e melancia com leite. Más companhias podiam estragar uma vida e destruir anos de catequese materna. O Efe Agá obviamente não ouviu sua mãe. Imagine como seria diferente a história da República se o Efe Agá convivesse, por exemplo, mais com o Pedro Simon do que com a turma que escolheu. Você pode conviver com os Magalhães por obrigação protocolar, até por uma noção míope de matreirice política. Qualquer mãe entenderia isso. Mas ir atrás dos Magalhães, cortejar os Magalhães, entregar a viabilidade do seu governo à conveniência dos Magalhães... Acho que a nação deveria assumir a função de mãe dele e ligar, de vez em quando, para o presidente. Só para dizer: "Ouve o Pedro, meu filho. É para o seu próprio bem. Ouve o Pedro!"

Ora, aqui está a recomendação de uma pessoa extremamente sensível; uma recomendação para que o Presidente Fernando Henrique Cardoso ouça também, com atenção, o Senador Pedro Simon; para que Sua Excelência ouça também aqueles a quem o Senador recomendou que deveria ouvir.

Na verdade, para bem administrar a Nação brasileira, deveria o Presidente Fernando Henrique Cardoso estar atento também àqueles que lhe fazem oposição. Quem sabe possa até ser esta a opinião daquelas pessoas que se sentem tanto no poder, como o Presidente Antonio Carlos Magalhães, que aqui se expressou em 31 de maio de 1995.

Citei aqui, Sr. Presidente, uma breve passagem do pronunciamento de V. Exª em 31 de maio de 1995, no qual, comentando e até dialogando com o Senador Pedro Simon, V. Exª dizia com clareza como se sentia no poder, como gostava do poder, como buscava a unidade do seu Partido para - e isso é da competência, do mérito de V. Exª - conseguir influenciar tão fortemente o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

A intenção do Senador Pedro Simon é alertar o Presidente Fernando Henrique Cardoso de que melhor estará a saúde da Nação na medida em que Sua Excelência se abrir para ouvir também as outras vozes. Esta seria uma recomendação, como disse Verissimo, de sua própria mãe, para o bem do Brasil. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/1997 - Página 11044