Discurso no Senado Federal

COBRANDO DO GOVERNO FEDERAL A EXECUÇÃO DE UMA POLITICA DE DESENVOLVIMENTO PARA A AMAZONIA, COMO RESPOSTA AO GOVERNO NORTE-AMERICANO, QUE SEGUNDO MATERIA PUBLICADA NA REVISTA ISTOE DESTA SEMANA, NA COLUNA DIPLOMACIA, SOB O TITULO 'SELVA VERDE-OLIVA', DISPÕE DE TROPA MILITAR ESPECIALIZADA EM AÇÕES NA FLORESTA, COM O INTUITO DE PRESERVAR O MEIO AMBIENTE NA REGIÃO AMAZONICA.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. SOBERANIA NACIONAL.:
  • COBRANDO DO GOVERNO FEDERAL A EXECUÇÃO DE UMA POLITICA DE DESENVOLVIMENTO PARA A AMAZONIA, COMO RESPOSTA AO GOVERNO NORTE-AMERICANO, QUE SEGUNDO MATERIA PUBLICADA NA REVISTA ISTOE DESTA SEMANA, NA COLUNA DIPLOMACIA, SOB O TITULO 'SELVA VERDE-OLIVA', DISPÕE DE TROPA MILITAR ESPECIALIZADA EM AÇÕES NA FLORESTA, COM O INTUITO DE PRESERVAR O MEIO AMBIENTE NA REGIÃO AMAZONICA.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/1997 - Página 11191
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, EXISTENCIA, TROPA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OBJETIVO, DEFESA, FLORESTA AMAZONICA.
  • REPUDIO, INTERFERENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, DESRESPEITO, SOBERANIA NACIONAL.
  • NECESSIDADE, ADOÇÃO, GOVERNO, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, REGIÃO AMAZONICA, IMPEDIMENTO, INTERFERENCIA, GESTÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FLORESTA AMAZONICA, PRESERVAÇÃO, SOBERANIA NACIONAL.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, matéria divulgada na revista ISTOÉ desta semana cita anúncio feito por uma tenente da Marinha americana durante as comemorações da semana do meio ambiente. Na ocasião a tenente afirmou que os Estados Unidos teriam a sua disposição uma espécie de exército verde para defender a floresta amazônica.

Ontem os Senadores Lúcio Alcântara e Romero Jucá se posicionaram a respeito desse episódio. E eu, aqui, brevemente, quero declarar que o Brasil tem a capacidade de defender seus recursos naturais e mais ainda poderá fazer se levar em conta que os maiores defensores da Floresta Amazônica são as pessoas que ali vivem. Contamos hoje com um exército da mais de 50 mil famílias de abnegados brasileiros, que tomam conta historicamente do patrimônio do Brasil e da humanidade, que é a Floresta Amazônica, sem que isso custe um centavo ao Governo brasileiro.

Em nome desses abnegados defensores da Floresta Amazônica, o Brasil precisa dar uma demonstração de que realmente respeita a nossa floresta, com ela se preocupa e dela pode tomar conta. Sr. Presidente, precisamos efetivamente dar respostas.

Nesse sentido, fico feliz de ter sido, juntamente com minha Bancada, coerente no processo de discussão do Sivam. Naquela época, já alertávamos sobre o risco de entregarmos todas essas informações estratégicas à Raytheon, empresa americana que conseguiu, após a pressão de um lobby fortíssimo, a aprovação do contrato. A propósito, é bom que se diga que o contrato era eivado de irregularidades, que foram tornadas públicas pela gravação conseguida por grampo telefônico atribuído ao Dr. Francisco Graziano. Na verdade, não sei se foi realmente o Dr. Francisco Graziano quem colocou o grampo, mas acabou sendo punido no lugar daqueles cujas vozes foram ouvidas nas gravações. Ele teve seu nome achincalhado nos meios de comunicação, enquanto alguns envolvidos foram premiados com promoções.

O Senado da República tem a obrigação de se pronunciar a esse respeito. Nós brasileiros não gostamos de interferência e não precisamos de ajuda que fira a nossa soberania. Temos capacidade de defender os nossos interesses.

No entanto, para que façamos isso com a devida competência e cumprindo com o necessário compromisso social e ambiental, é fundamental que o Governo brasileiro comece a dar algumas respostas estruturais na Amazônia.

Por que alguns investimentos contam com a complacência do Governo Federal, como é o caso de grandes obras como Carajás, Balbina e tantas outras que mais geram chagas sociais e problemas ambientais do que respostas aos problemas econômicos e de qualidade de vida da região?

Há a proposta do custo ambiental - uma idéia fantástica do Presidente da República. No entanto, no momento de traduzi-la em projeto de lei, tornou-se uma deformação que não melhora a política da borracha na Amazônia.

Quero registrar o meu posicionamento contrário a qualquer tipo de interferência. Quero também dizer que é fundamental que a preocupação de todos nós com a nossa soberania se traduza em políticas de desenvolvimento que promovam a justiça social e que consigam compatibilizar a preservação do meio ambiente e o nosso desenvolvimento econômico. Se o Governo disso se encarregar, teremos capacidade de defender o nosso patrimônio e a nossa soberania, uma vez que já contamos com a participação de aliados históricos nessa tarefa. Refiro-me aos extrativistas, aos seringueiros, que hoje estão à mercê da própria sorte, graças à ausência do Poder Público na defesa dos interesses desses heróis que defendem a Floresta Amazônica melhor do que faria qualquer exército verde concebido nas fantasias estratégicas dos americanos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/1997 - Página 11191