Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE RESPOSTA DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES A NOTA DO EX-PRESIDENTE ITAMAR FRANCO, VEICULADA NA IMPRENSA, REFUTANDO COLOCAÇÕES DO PRESIDENTE DO SENADO EM APARTE A S.EXA., NA SESSÃO DO ULTIMO DIA 5.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA NACIONAL.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE RESPOSTA DO SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES A NOTA DO EX-PRESIDENTE ITAMAR FRANCO, VEICULADA NA IMPRENSA, REFUTANDO COLOCAÇÕES DO PRESIDENTE DO SENADO EM APARTE A S.EXA., NA SESSÃO DO ULTIMO DIA 5.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Elcio Alvares, Roberto Freire.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/1997 - Página 11331
Assunto
Outros > POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • CRITICA, PRESIDENTE, SENADO, ACUSAÇÃO, FALTA, IDONEIDADE, GOVERNO, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ELOGIO, ITAMAR FRANCO, EX VICE PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARACTERISTICA, GOVERNO, NEGOCIAÇÃO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, APOIO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ORÇAMENTO.
  • CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXTINÇÃO, COMISSÃO, SINDICANCIA, IRREGULARIDADE, GOVERNO, RETIRADA, APOIO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CORRUPÇÃO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo à tribuna basicamente em cima da resposta dada pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente desta Casa, ao ex-Presidente Itamar Franco a respeito de uma nota do Sr. Itamar Franco publicada no dia seguinte.

O Sr. Itamar Franco se dirige ao Presidente desta Casa lamentando as agressões feitas contra S. Exª, dizendo que não podia compreender, e falando da honorabilidade do seu Governo, e dizendo que sobre a honorabilidade do seu Governo, o Sr. Fernando Henrique Cardoso e muitos Senadores desta Casa, que inclusive serviram ao seu Governo, poderiam se manifestar.

Na ocasião, quando o Sr. Itamar Franco, ao final da reunião, me telefonou, eu disse que não era necessário nenhuma manifestação. Que, desta Casa, nesta tribuna, eu havia dito o necessário. Mas a imprensa, no dia seguinte, deu um exagerado destaque, diga-se de passagem, às afirmações do Sr. Antonio Carlos Magalhães em relação ao Sr. Itamar Franco. E veio a nota e a resposta.

Ora, Sr. Presidente, fui Líder do Governo do Sr. Itamar Franco nesta Casa, e muitos Parlamentares ainda estão nesta Casa e colaboraram com o Governo do Sr. Itamar Franco; e muitos não mais estão, mas estão lá na Presidência da República e também colaboraram.

O Sr. Itamar Franco era vice-Presidente da República. Esta Casa fez uma CPI que investigou o Senhor Presidente Collor, que durante um longo período analisou ponto por ponto - a CPI, o pedido para que a Câmara dos Deputados concedesse licença para processar o então Presidente; o Senado Federal se transformando em tribunal e julgando o Presidente. Em todo esse período, o Sr. Vice-Presidente da República não teve uma atuação, um ato, um gesto sequer, no sentido de se envolver na CPI ou no seu resultado. Ao contrário do Dr. Café Filho, vice-Presidente do Sr. Getúlio Vargas, que, juntamente com os militares, coordenou o esquema para derrubar o Sr. Getúlio Vargas para depois assumir. Coisa que ele fez com o suicídio de Vargas. Um gesto que a história mostrará é o do Sr. Itamar Franco se negando a discutir qualquer assunto referente à CPI e ao impeachment do Sr. Collor. O Sr. Itamar Franco, quando praticamente o impeachment estava certo, negou-se a discutir a formação de seu Governo. Tanto que quando o Presidente do Supremo Tribunal Federal, presidindo o Senado, chamou o ex-Presidente Itamar Franco, dizendo que tinha que assumir, porque o impeachment estava declarado, S. Exª pediu tempo, de quinta para segunda-feira, porque tinha que organizar o seu Governo.

Nunca me esqueço do saudoso Darcy Ribeiro, que ali, na sala da Presidência do Senado - o Presidente era o Presidente do Supremo - disse: mas quer prazo?! Nós, quando o Jango estava em Porto Alegre e o Presidente do Senado resolveu decretar a vacância do cargo, dizendo que o Presidente estava fora do Brasil - o que era uma mentira -, o Dr. Tancredo Neves pedia três horas, nos dêem três horas, que o Presidente da República virá de Porto Alegre a Brasília! E agora o Presidente pede três, quatro dias para assumir!?

Isto é importante: não teve ação alguma, desde o início, do Sr. Itamar no impeachment do Sr. Collor.

Assumiu o Governo. Desde a primeira hora o Sr. Itamar Franco buscou um Governo de entendimento. Tenho aqui o seu Ministério. Vamos reparar que S. Exª foi buscar gente em praticamente todos os partidos, para fazer um Governo de unidade, de entendimento, de transição, que, saindo daquele caos que era o impeachment, levasse o País para a normalidade. Esse foi o Governo do Sr. Itamar Franco.

Alguns princípios que sempre o apaixonaram: Itamar não queria um economista na Fazenda; nem economista, nem banqueiro, nem grande empresário. Todas as pessoas que ele indicou, desde o primeiro, para o Ministério da Fazenda, não tinham nenhuma ligação direta com a área econômica. Itamar não queria na direção do Banco do Brasil ou do Banco Central ou da Caixa Econômica Federal ou do BNDES nenhuma pessoa ligada a banqueiros, que já tivessem servido em qualquer momento a instituições financeiras de dentro ou de fora do País. Preferia ele o funcionário aposentado do Banco do Brasil, como colocou. Preferia ele o funcionário aposentado do Banco Central, como colocou. Preferia ele pessoas as mais variadas, mas que não representassem o transporte de alguém que estava numa entidade financeira para o Banco Central.

Ele, quando Senador, aprovou nesta Casa um projeto de lei, fazendo com que houvesse um espaço, uma quarentena, para que quem fosse Diretor do Banco do Brasil ou do Banco Central, por exemplo, não pudesse ocupar cargo em instituições financeiras lá fora, como é nos Estados Unidos. Esse projeto foi aprovado aqui e há anos está na gaveta da Câmara dos Deputados e de lá não sai. Essa era uma determinação do seu Governo e isso foi seguido até o último dia. A verdade é que foi o único Presidente que fez isso.

Antes, ninguém havia feito; depois, também não foi feito.

O que aconteceu foi que a Drª Elena Landau, Diretora do BNDES, encarregada da privatização, ou seja, a coordenadora, a orientadora de todo o plano de privatização, enfim, a alma de todo o processo, renuncia a seu cargo no BNDES e vai fazer uma palestra, numa empresa multinacional de grande desenvolvimento financeiro, para orientar aqueles que querem participar das privatizações, informando qual a melhor maneira, a melhor forma e a melhor chance de tirar vantagem nesse processo. Ela que estava do lado do Governo, orientando o processo de privatização, vai para o outro extremo, orientar e coordenar como eles podem participar do processo da melhor maneira.

Tenho que contar alguns fatos, Sr. Presidente. A minha mágoa com o Sr. Fernando Henrique começou quando, ainda antes de assumir, através do Presidente Itamar Franco, Sua Excelência me convidou para ser seu Líder. Agradeci, mas não aceitei, porque imaginava que não ia dar certo devido a esse amplo leque de apoio que tinha. Mas disse a ele: "Irei servi-lo melhor, Presidente, como seu amigo e como seu aliado, independentemente de posição". A primeira vez em que fui procurá-lo foi para continuar um trabalho, que nós tínhamos feito na Câmara e, principalmente, no Senado.

Quando assumiu o Sr. Itamar Franco a Presidência da República, reuniram-se - ao que sei pela primeira vez na história - todos os presidentes de todos os partidos com o Presidente da República no Palácio da Alvorada. Por horas ficamos reunidos ali debatendo, discutindo. O Presidente da República fazia questão de que aquele foro se reunisse e que qualquer líder de partido, do Governo ou da Oposição, convocasse ele, Presidente, ou seu Governo para uma reunião como aquela sempre que necessário.

Quando o Governo estava entrando, estava começando, nós fomos procurá-lo. Olha, tem denúncias muito graves! Fizemos uma CPI que cassou um Presidente. Há denúncias gravíssimas envolvendo o Congresso Nacional. Foi muito difícil a CPI do impeachment. Lembro-me como se fosse hoje, no meu gabinete, o Dr. Ulysses Guimarães com as mãos na cabeça dizendo que eu tinha enlouquecido. Isso ele disse tanto na época da CPI do impeachment quanto na dos Anões do Orçamento. Fui ao Presidente e ele concordou. Isso aconteceu numa reunião em seu gabinete onde estavam as pessoas que dialogavam com o Presidente - todos os presidentes têm um círculo de pessoas com as quais dialogam.

Não sei quem são as pessoas que dialogam com o Sr. Fernando Henrique hoje. Aliás, aumentou o número daqueles que, em tese, poderão dialogar com ele. O PMDB perdeu um membro e o PSDB ganhou um. O Sr. Nilo Coelho, ex-Governador da Bahia, pertencente aos quadros do PMDB, parece que está sendo recebido com festa e com pompa no PSDB da Bahia. É o aliado do Sr. Antonio Carlos agora - PFL-PSDB.

Lembro-me que, quando era Governador, o Scalco e o Covas me procuraram no sentido de que tínhamos que sair para fundar o PSDB. Um dos exemplos que davam era no sentido de que eu não podia ficar no PMDB exatamente por causa do Sr. Nilo Coelho. Diziam: "Mas você vai ficar, Simon, com o cidadão fulano de tal?" Naquela época não tinha acontecido ainda o que todo o Brasil assistiu na televisão - fato a que assisti quatro vezes, o Jornal Nacional repetiu quatro vezes. Aquele carro jogado...

O SR. PRESIDENTE (Ronaldo Cunha Lima) - Sr. Senador, lamento interromper V. Exª para informar que o tempo da Hora do Expediente está esgotado e temos que iniciar a Ordem do Dia. Mas me permito prorrogar a Hora do Expediente por mais 10 minutos, para que V. Exª possa concluir o seu pronunciamento.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Todo mundo viu aquele carro partir para cima do fotógrafo. Todo mundo assistiu àquilo. Deus me perdoe, não quero julgar. Quem sou eu para julgar? Mas a Nação assistiu àquele fato. Pois, hoje, talvez um dos conselheiros do Presidente seja o Sr. Nilo Coelho, que será o grande Líder do PSDB da Bahia.

O Sr. Roberto Freire - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não, ouço o aparte do nobre Senador Roberto Freire.

O Sr. Roberto Freire - Senador Pedro Simon, inicialmente, gostaria de dizer a V. Exª da satisfação de estar aparteando-o como Senador, mas também como companheiro que fomos na Liderança do Governo Itamar: V. Exª, aqui no Senado; e eu, na Câmara. Quero dizer que há a satisfação também de ter sido Líder do Governo Itamar por muito do que V. Exª vem dizendo, mas principalmente porque tenho a consciência de ter cumprido com a responsabilidade, como um partido de esquerda que participou do processo de impeachment do Sr. Fernando Collor e que teve a consciência e a responsabilidade de saber que teríamos que dar governabilidade àquele Governo atípico, um Governo surgido de uma crise institucional muito séria. Isso já serviria para justificar a nossa presença na liderança. Mas, hoje, depois de passado algum tempo, começamos a perceber que muito mais pudemos ter para justificar-nos. Inclusive alguns que, na época, e até mesmo partidos coirmãos nossos no campo da esquerda, não entendendo o papel daquele Governo, hoje reconhecem e fazem até absolvição do Governo Itamar e, por conseqüência, de nós que, muitas vezes, fomos incompreendidos por estarmos naquela posição. Isso acresce na satisfação. V. Exª comentou no discurso anterior, em resposta ao Senador Antonio Carlos Magalhães, e eu, num pequeno aparte, mostrei um pouco da diferença do que era aquele Governo, na questão da corrupção. E não foi em relação apenas ao Sr. Antonio Carlos, quando foi chamado à presença do Presidente para dizer das suas denúncias. Foi na CPI do Orçamento, quando o Governo não interferiu; ao contrário. Quando denúncias foram feitas em relação a ministros, nós, como Líderes, junto ao Presidente, apoiamos a tese de que eles teriam que se afastar até o final da apuração, quando ficasse comprovada, ou não, a sua inocência, ou, pelo menos, a sua não-responsabilidade. É importante deixar claro esses fatos porque se trata de uma demonstração de que aquele Governo lidava com essas questões diferentemente do que se fez, como prática, em governos anteriores e como se faz no atual. Como também é de fundamental importância ter a capacidade, de poder mostrar isso, num momento difícil, num Governo que surgiu de uma crise institucional, um Governo que não tinha sido escolhido, que era apenas um sucessor constitucional, e poder estar hoje sendo respeitado por toda a sociedade, até porque, falar-se em corrupção do Governo Itamar Franco, não se falou quando ele era Governo. Muito pouco se disse. Talvez agora, em função das eleições de 1998, comecem a criar exatamente esse fato, o que é uma demonstração da força, da respeitabilidade que tem o Presidente Itamar Franco.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço a V. Exª, Senador Roberto Freire.

O Sr. Itamar Franco, em primeiro lugar, concordou imediatamente em criar a CPI. Como disse muito bem o nobre companheiro, líder na época como eu, ele estimulou a CPI, ao contrário do que se fez agora, quando o Governo, o PFL e o PSDB pediram para os Parlamentares retirarem as assinaturas. Justiça seja feita - e o Deputado Benito Gama, ex-Líder do Governo e Presidente da CPI, pode contar isso -, em nenhum momento, durante a CPI do Impeachment do Collor, o Presidente Fernando Collor interviu para boicotar, para dificultar, para impedir o seu funcionamento. E, em nenhum momento, o Sr. Itamar Franco impediu que a CPI funcionasse, e ela funcionou.

Como diz o Senador Roberto, lá pelas tantas, apareceu o Chefe da Casa Civil envolvido, e o Presidente não teve qualquer dúvida: exigiu que ele renunciasse à Casa Civil, vindo depor como simples cidadão, e, ao ser absolvido, voltou ao seu cargo.

A minha mágoa é porque, quando fui ao Presidente lembrar que faltava o terceiro pé da mesa - pois já tinha havido a CPI do Executivo, do Congresso; faltava, então, a CPI dos Corruptores, que nem envolvia o seu Governo mas, sim, os fatos que vinham inclusive do Governo Itamar Franco - Sua Excelência não autorizou. E alguns Parlamentares foram ao gabinete do Presidente retirar as assinaturas que já haviam sido dadas. Mas conseguimos as assinaturas, e os Líderes do PFL e PSDB até agora não indicaram os membros para a CPI.

O Sr. Antonio Carlos Valadares - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não.

O Sr. Antonio Carlos Valadares - Senador Pedro Simon, considero que a retirada das assinaturas realmente foi uma atitude antidemocrática, mas a CPI ainda não tinha sido instalada, notadamente porque os partidos políticos não indicaram seus representantes - não querendo dizer que não deveria ter sido instalada. V. Exª entrou com um número legal de assinaturas; então, essa CPI deveria ter sido instalada e deveria estar funcionando normalmente. Com respeito à CPI dos Bancos, a situação foi muito pior: o Senado Federal a aprovou, com um número legal de assinaturas e, em seguida, a CPI foi instalada com a designação de seus membros por todos os partidos políticos, e o próprio Senado Federal, a mando do Governo, elegeu seu Presidente, o Senador Esperidião Amin. A CPI dos Bancos foi derrubada por motivos políticos, porque não queriam que o Senado Federal se debruçasse sobre um problema gravíssimo, que eram as fraudes acontecidas no Banco Econômico, no Banco Nacional etc. De modo que, não só com referência à CPI a que V. Exª se referiu - a CPI dos Corruptores -, mas com relação à CPI dos Bancos, foi tão mais grave ou, talvez, mais grave do que aconteceu anteriormente. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Mas, digo, Sr. Presidente: a CPI funcionou normalmente. Fui além, Srs. Senadores. Fui ao Presidente da República e propus a Sua Excelência a criação da Comissão Especial da Corrupção na Administração Pública, composta por pessoas que o Presidente aceitou. Nós temos discursos, inclusive o meu no Palácio, dando por iniciado os trabalhos da comissão. D. Cândido Mendes de Almeida era membro da Comissão, como também eram Daniel Quintela Brandão, Emerson Kapaz, Evandro Gueiros Leite, Francisco Batista Torres de Melo, Miguel Jerônymo Ferrante, Modesto Souza Barros Carvalhosa e o único ministro, o único membro do Governo, o Ministro da Administração, o Sr. Romildo Canhim. Essa comissão tinha plenos poderes para entrar e investigar qualquer ministério, poderes totais para investigar qualquer denúncia de corrupção feita no Governo Itamar Franco. E 47 casos foram levados adiante, e, nos três últimos dias do seu mandato, o Sr. Itamar Franco entregou ao Presidente Fernando Henrique Cardoso esses dossiês. No dia 19 de janeiro, dezoito dias depois de eleito Presidente, o Senhor Fernando Henrique Cardoso, por decreto, extingue a comissão. Comissão para investigar a corrupção dentro do Governo; comissão composta de técnicos, com responsabilidade, sem cargo no Governo, para fazer a investigação.

Fui ao Presidente e disse-lhe que alguém o tinha orientado mal. "Como é que Vossa Excelência vai extinguir uma comissão como essa? Por que extinguir? Está claro que pode tirar os nomes do Itamar, mas coloque os seus, pessoas que tenham a sua credibilidade. Vossa Excelência tem muito mais conhecimento que o Itamar tinha, indique os nomes." Até hoje não indicou e extinguiu a comissão especial para apurar corrupção no Governo.

Como Líder do Governo, na época, eu não aceitei o Gabinete de Líder e nem nomeei os cargos. Como participei da comissão do impeachment, fui forçado a aceitar a liderança, mas não aceitei ser ministro, não queria coisa nenhuma para que não dissessem amanhã que eu tinha participado da cassação do Presidente e tinha levado vantagem no governo seguinte, como aconteceu em 1954 e em 1964 com os que derrubaram o Dr. Getúlio, derrubaram o Jango e depois adonaram-se do poder.

Um dia, o Dr. Itamar me chama à Presidência da República dizendo que precisava de um favor meu, que tinha um sobrinho - filho de seu irmão mais velho, médico, por quem tem profunda dedicação, porque esse irmão o ajudou, por ser órfão de pai, a se formar - e queria que eu o nomeasse no meu gabinete. Esse sobrinho morava com ele no Palácio, vindo a falecer, quando o Presidente era ainda o Sr. Itamar Franco. Eu disse ao Sr. Itamar que, por ser Presidente da República, poderia nomeá-lo para qualquer lugar. Mas, disse-me que não queria nomear porque era Presidente. Se era Presidente da República e não queria nomear, eu também não queria. Disse-me que eu tinha o Gabinete de Líder, e respondi que não havia nomeado ninguém no meu gabinete. E o jovem sobrinho do Sr. Itamar morreu sem ser nomeado. Esse era o Itamar Franco.

Tenho certeza de que o Líder Elcio Alvares, quando prestou solidariedade ao Presidente Antonio Carlos em seu pronunciamento, dizendo que S. Exª representava o Senado, não quis se referir à corrupção no Governo Itamar. Acredito que o Sr. Elcio Alvares vai falar à Casa, dizendo o que pensa do Governo Itamar. Como tenho certeza também de que o querido Senador Beni Veras, que não falou, falará o que pensa do Governo Itamar Franco. O Líder do PFL, Sr. Hugo Napoleão, também aparteou o Sr. Antonio Carlos, dizendo que falava em nome do Senado nas críticas ao Senador Pedro Simon. Mas tenho certeza de que S. Exª, Ministro das Comunicações do Governo Itamar Franco, não endossou a crítica de que havia corrupção no Governo Itamar Franco. Tenho certeza que o mesmo dirão os nobres Senadores José Eduardo, Coutinho Jorge e até o Senhor Fernando Henrique Cardoso, que foi Ministro de Itamar.

O Sr. Elcio Alvares - Permite V. Exª um aparte, nobre Senador Pedro Simon, com a permissão do Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - O tempo de V. Exª já excede 15 minutos. Entretanto, V. Exª tem mais três minutos para finalizar, se assim o desejar.

O SR. PEDRO SIMON - Tirando o aparte; serão três minutos depois do aparte?!

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Depois do aparte!

O Sr. Elcio Alvares - Senador Pedro Simon, quero fazer um registro, principalmente de um momento em que vivemos nesta Casa, quando fui seu Vice-Líder. Era V. Exª o Líder do ex-Presidente Itamar Franco e eu fui seu Vice-Líder.

O SR. PEDRO SIMON - Da maior dignidade e da maior competência.

O Sr. Elcio Alvares - E não poderia, Senador Pedro Simon, em nenhum momento, por ser o estilo da minha vida, negar ao Presidente Itamar Franco a minha solidariedade pessoal no aspecto da integridade do seu Governo. E desse pensamento tenho certeza que o ex-Ministro Beni Veras, já que V. Exª também teve condição de citá-lo, participa. Ao longo dos instantes em que o Presidente Itamar Franco se afastou do Governo, tenho dado a S. Exª demonstrações permanentes de amizade pessoal.

O SR. PEDRO SIMON - Sou testemunha disso.

O Sr. Elcio Alvares - E diria mesmo, principalmente perante V. Exª que me cobrou: tenho certeza absoluta que V. Exª foi um dos responsáveis pela minha condução ao cargo de Ministro de Estado da Indústria e Comércio e de Turismo, pela nossa amizade e pela nossa admiração.

O SR. PEDRO SIMON - O que é uma honra para mim!

O Sr. Elcio Alvares - Mas, Sr. Senador Pedro Simon, e eu falei claro, da mesma maneira que emprestei com muita lealdade a minha solidariedade ao Presidente Antonio Carlos Magalhães quando debatia a questão e fiz uma crítica a V. Exª - e o Presidente Antonio Carlos deu a resposta em nome do Presidente Fernando Henrique, já o excluindo no fax que remeteu ao ex-Presidente Itamar, do qual tive o conhecimento na íntegra -, quero reiterar aqui neste plenário, por uma questão de verticalidade de vida pública, que tenho pelo ex-Presidente Itamar Franco respeito e admiração. Não poderia deixar de dizer-lhe isso, justamente neste momento em que inscrevo o meu aparte no seu discurso para marcar uma posição, que, com certeza, faz jus à vida pública do ex-Presidente da República. Portanto, afirmo, de maneira sincera e aberta, que a amizade de V. Exª é primorosa, em termos de relacionamento com o Presidente Itamar Franco, mas também, em compensação, não abrimos mão desse respeito, que é reiterado permanentemente, inclusive muitas vezes diante de V. Exª, pois não apagamos, de maneira alguma, aquilo que representa o fundamento da nossa vida. Falei em nome do Senador Beni Veras porque S. Exª foi Ministro comigo, dividimos momentos de muita importância no Governo Itamar Franco, e sobre esse assunto até havíamos conversado a respeito. Tenho certeza absoluta que esse é o pensamento do Senador Beni Veras.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço a V. Exª; não tinha nenhuma dúvida nesse sentido, nem por parte de V. Exª nem dos demais Senadores. O Presidente Antonio Carlos, em sua resposta ao ex-Presidente Itamar, afirmou que lamenta, mas o Senhor Fernando Henrique não concorda com sua opinião. Tenho em minhas mãos o referido fax que, em certo trecho, diz assim: "...infelizmente não compartilhado ou endossado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem divirjo". Quer dizer, segundo o nosso Presidente, o Senhor Fernando Henrique Cardoso não concorda com a opinião de que o Governo Itamar Franco seja corrupto.

O Sr. Elcio Alvares - A própria ressalva foi feita pelo Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. PEDRO SIMON - Só que eu entendo que o Sr. Antonio Carlos Magalhães, como Presidente do Congresso, falou em nome do Congresso; mas o Senhor Fernando Henrique Cardoso tem uma amizade pessoal com o Sr. Itamar Franco, tem boca para falar, pode falar...

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - V. Exª tem mais um minuto para ler o meu fax na íntegra.

O SR. PEDRO SIMON - Mas assim V. Exª vai ficar sem discurso. Vou deixá-lo ler o seu fax; não vou tirar o seu discurso.

Entendo que o próprio Senhor Fernando Henrique deve falar e não deve fazê-lo através do seu Líder, que é V. Exª. Ainda se fora, o Líder do Governo na Câmara é o Deputado Luís Eduardo; fazê-lo através do Sr. Antonio Carlos Magalhães é até intromissão, porque S. Exª é Presidente de um outro Poder.

Creio que o Presidente vai falar.

Agora, Sr. Presidente, vou mencionar um fato estranho que a imprensa toda comentou: O Presidente Fernando Henrique passou o fim de semana na Bahia e a bandeira ficou hasteada no Palácio da Alvorada. Em qualquer outro país, todos sabem, estando hasteada a bandeira, o Presidente está presente.

A bandeira estava no Alvorada e o Presidente estava na Bahia. Causou estranheza porque justamente quando houve o pronunciamento do Sr. Antonio Carlos chamando o Senhor Itamar Franco de corrupto, o Senhor Fernando Henrique foi à Bahia.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Permita-me interromper V. Exª, porque agora o seu tempo se esgotou totalmente.

O SR. PEDRO SIMON - Agradeço, Sr. Presidente.

Só quero dizer que, como V. Exª não estava em plenário, estava mais tranqüilo pensando que tinha mais tempo.

Gostaria ainda de esclarecer que, ontem, fiz com o Presidente Antonio Carlos a mesma gentileza que S. Exª fez comigo. Quando o Presidente falou, na semana passada, a sua assessoria telefonou para o meu gabinete dizendo que S. Exª iria falar. Ontem, a minha assessoria telefonou para a assessoria do Presidente dizendo que eu seria o primeiro orador a falar depois da homenagem à Maçonaria.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/1997 - Página 11331