Discurso no Senado Federal

OBSERVAÇÕES SOBRE O INCONFORMISMO DE ALGUNS POLITICOS COM O ENCONTRO SIGILOSO ENTRE O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E O SR. PAULO SALIM MALUF. RESTRIÇÕES A FILIAÇÃO DE UM EX-GOVERNADOR BAIANO AO PSDB. NECESSIDADE DE UMA PROFUNDA AUTOCRITICA PARA O RESTABELECIMENTO DOS PRINCIPIOS QUE NORTEARAM AS ORIGENS DO PSDB.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • OBSERVAÇÕES SOBRE O INCONFORMISMO DE ALGUNS POLITICOS COM O ENCONTRO SIGILOSO ENTRE O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E O SR. PAULO SALIM MALUF. RESTRIÇÕES A FILIAÇÃO DE UM EX-GOVERNADOR BAIANO AO PSDB. NECESSIDADE DE UMA PROFUNDA AUTOCRITICA PARA O RESTABELECIMENTO DOS PRINCIPIOS QUE NORTEARAM AS ORIGENS DO PSDB.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/1997 - Página 12305
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • CRITICA, TRATAMENTO, IMPRENSA, VISITA, PAULO SALIM MALUF, POLITICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, DISPUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), PREJUIZO, APOIO, GOVERNO, REPUTAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • ANALISE, PROBLEMA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), NECESSIDADE, RETOMADA, IDEOLOGIA, PROGRAMA, CRITICA, FALTA, CRITERIOS, FILIAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, INGRESSO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA).

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Bernardo Cabral aludiu à ausência de Senadores para, em seus Estados, acompanharem as festas juninas.

Parece coisa tão miúda, Sr. Presidente, tão pequenina, criticar Parlamentares porque vão aos seus Estados para uma festa de grande tradição, entranhada na cultura do Norte e do Nordeste, e por isso merecerem citações depreciativas por parte da Imprensa. Aliás, Sr. Presidente, a política brasileira se caracteriza hoje marcadamente por coisas miúdas, por coisas pequeninas. Estamos assistindo há alguns dias a um tiroteio pela Imprensa. Em primeiro lugar, há políticos inconformados porque o Presidente da República recebeu em palácio o Sr. Paulo Salim Maluf. Talvez o Presidente tenha cometido o erro de tê-lo recebido em sigilo, fora da agenda; deveria tê-lo feito às claras, com transparência. Eu não veria nisso nada de mais. Por que não receber o Sr. Paulo Maluf? Por que não tratar também de política com o Sr. Paulo Maluf? Isso implica uma traição ao PSDB de São Paulo e ao Governador Mário Covas? Não vejo o fato dessa maneira. Do mesmo modo, preocupa-me essa troca de acusações e de farpas, publicamente, entre políticos do meu Partido e do PFL. Cada um se esmera em buscar a frase mais bem construída e mais ferina, num joguinho de vaidades, que apenas prejudica a base de sustentação do Governo no Congresso e, pior ainda, prejudica ainda mais a imagem do Parlamento perante a opinião pública.

A classe política tem sofrido muitas restrições da sociedade, por seus grandes erros. É lamentável que agora, depois de errar tanto, ela também caia na desestima da sociedade por se tornar ridícula, Sr. Presidente. É simplesmente ridículo que políticos movidos por interesses menores apresentem à sociedade esse espetáculo lamentável de trocas de acusações e de insultos por intermédio da imprensa. Lamento que políticos do PSDB tenham entrado nesse jogo.

O PSDB nasceu com o propósito de pelo menos se tornar um Partido diferente no País. Surgiu de uma dissidência do PMDB formada por um grupo inconformado com os descaminhos que aquele Partido experimentava para fundar um Partido com base doutrinária e com uma visão ética da política. Foi assim que o PSDB surgiu e é assim que o PSDB deveria manter-se.

Li o artigo do correligionário dissidente Ciro Gomes a respeito do nosso Partido e concordo com muito do que ele disse. O PSDB, em vez de trocar farpas com o PFL, que, queiramos ou não, bem ou mal é nosso aliado, deveria preocupar-se com seus problemas internos, Sr. Presidente. Em vez de atacar o PFL, deveria fazer força para não se parecer com o partido que antagoniza.

O PSDB, há 10 dias, aumentou quantitativamente e perdeu em qualidade ao admitir um político baiano que não tem nada a ver com o nosso Partido. Em primeiro lugar, ele não é, nunca foi ou pretendeu ser um socialdemocrata; em segundo lugar, é um político que notoriamente, pelo seu comportamento, deveria ter merecido da Direção Nacional do Partido uma avaliação melhor, antes de se permitir o seu ingresso.

Até hoje não me saiu da retina - são passados alguns anos, Sr. Presidente - aquela cena em que eu via esse político, então Governador da Bahia, atropelar deliberadamente o repórter de uma equipe de televisão que lhe fazia perguntas impertinentes. Até hoje tenho gravada essa cena, mas não foi só isso; há outros fatos na biografia desse político que não recomendariam o seu ingresso no PSDB. O seu ingresso não foi um fato isolado; já aconteceram outros. O PSDB não pode ser um convento de noviços, mas também não pode ser aquela outra coisa que prefiro não dizer e no qual parecem querer transformar o Partido. Não sou purista; sei que um Partido não se faz de freiras, mas não pode cair naquela geléia geral de não ter um crivo, de não ter critérios para admissão de novos políticos em seus quadros. Ou então o PSDB vai inchar, vai-se tornar igual a tantos outros. Se assim for, eu me perguntarei por que continuar em um Partido desfigurado, que nada tenha a ver com aquele que eu escolhi.

A ser um Partido que fica brigando por cargos, trombando com o PFL por coisas absolutamente menores, por falta de espaço no Governo, por ciumeiras em relação ao Presidente da República e ainda admitindo políticos como esse que acabo de citar, o PSDB terá deixado de ser o Partido da socialdemocracia brasileira para ser, repito, um Partido igualzinho a tantos outros.

Estranho, por exemplo, Sr. Presidente, por que o PSDB não sai desfraldando a bandeira do parlamentarismo, que é parte do seu programa, está inserida em seu programa. Talvez seja o único Partido que tenha o parlamentarismo como ponto programático. Vemos agora o Deputado Franco Montoro, como voz isolada, que não tem encontrado ressonância no PSDB, cujos parlamentares não o apóiam na sua campanha em favor de um novo plesbicito que leve a uma avaliação da sociedade para a instauração ou não desse sistema de governo.

Sr. Presidente, não vou me estender mais, não quero fazer críticas maiores a meu Partido em público, porque vou levá-las a reuniões internas, mas penso que já é tempo de nós do PSDB fazermos uma profunda autocrítica a fim de sabermos o que podemos e o que devemos fazer para restabelecer aquilo que o PSDB foi em suas origens, para um retorno aos princípios dos quais ele não poderá afastar-se, sob pena de se descaracterizar.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/1997 - Página 12305