Discurso no Senado Federal

PRESSÕES QUE TERIAM EXERCIDO OS MINISTROS PEDRO MALAN E IRIS REZENDE E PRESIDENTE DO SENADO, SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SOBRE O PRESIDENTE DA CBF, SR. RICARDO TEIXEIRA, PARA EVITAR O REBAIXAMENTO PARA A 2 DIVISÃO DO FLUMINENSE E BRAGANTINO. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE PROJETO DE LEI DE SUA AUTORIA, QUE CRIA O CONGRESSO REVISOR, COM REFERENDO POPULAR. TRANSCRIÇÃO DO ARTIGO INTITULADO 'UM GOLPE DE ESTADO', DE PAULO SANTANA, NO JORNAL ZERO HORA, DE HOJE.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA CONSTITUCIONAL. ESPORTE.:
  • PRESSÕES QUE TERIAM EXERCIDO OS MINISTROS PEDRO MALAN E IRIS REZENDE E PRESIDENTE DO SENADO, SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SOBRE O PRESIDENTE DA CBF, SR. RICARDO TEIXEIRA, PARA EVITAR O REBAIXAMENTO PARA A 2 DIVISÃO DO FLUMINENSE E BRAGANTINO. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE PROJETO DE LEI DE SUA AUTORIA, QUE CRIA O CONGRESSO REVISOR, COM REFERENDO POPULAR. TRANSCRIÇÃO DO ARTIGO INTITULADO 'UM GOLPE DE ESTADO', DE PAULO SANTANA, NO JORNAL ZERO HORA, DE HOJE.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/1997 - Página 12527
Assunto
Outros > REFORMA CONSTITUCIONAL. ESPORTE.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, PAULO SANTANA, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, ZERO HORA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), LOBBY, MINISTRO DE ESTADO, PRESIDENTE, SENADO, ALTERAÇÃO, DECISÃO, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF), PUNIÇÃO, CORRUPÇÃO, CLUBE, FUTEBOL.
  • DEFESA, INCENTIVO, ESPORTE, BRASIL, AUMENTO, PATROCINIO, INICIATIVA PRIVADA.
  • ANUNCIO, DISCURSO, JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, REVISÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, falarei de um projeto de minha autoria a respeito do Congresso Revisor, que está dando margem a tantas polêmicas e, em detrimento dele, já surgiram outros projetos. E tenho que fazer a diferenciação entre o que apresentei e os outros, bem como o seu significado pois, na minha vida pública de quarenta anos, é o mais importante que já apresentei.

Mas, Sr. Presidente, antes porém, gostaria de me referir a uma matéria de um grande colunista do Rio Grande do Sul, que escreve no jornal Zero Hora, pelo qual todo o Rio Grande e muitos pelo Brasil afora têm uma admiração especial, que é Paulo Sant'Ana.

A coluna de Paulo Sant´Ana, no Zero Hora, pauta uma leitura e um debate permanente e constante pela sua competência, pela sua inteligência, pela sua atualidade, pelo seu modo irônico, pela sua fórmula brilhante, mas, ao mesmo tempo, brincalhona de escrever e de relatar os fatos.

Sr. Presidente, sou fã de dois grandes cronistas da atualidade: Luís Fernando Veríssimo e Paulo Sant´Ana - modéstia à parte, os dois do Rio Grande do Sul. Sei que o Presidente Fernando Henrique não gosta muito do Luís Fernando Veríssimo, prefere o pai, que já morreu, porque, na verdade, o pai falava da história do Rio Grande do Sul, e o filho fala da época de FHC, o que não deve deixar o Presidente muito satisfeito.

Em primeiro lugar, quando se lê a coluna de Paulo Sant´Ana intitulada "Um Golpe de Estado", ficamos assustados. Eu que havia lido os jornais do centro do País - e quem os lê, por exemplo o Jornal do Brasil na coluna do Luís Fernando Veríssimo - páginas inteiras me lembravam o tempo do regime militar: "O Exército Garante o Governador de Minas Gerais". Essa é uma situação grave. Com relação ao que aconteceu em Minas Gerais, já se diz que a polícia e a Brigada do Rio de Janeiro e a de São Paulo querem fazer um movimento igual. Quando li a matéria intitulada "Um Golpe de Estado", pensei: o que será que o Sant´Ana está sabendo que eu não sei?

Na verdade, Sr. Presidente, não era um golpe de Estado político. Ele relata aquilo que já conhecemos e que, infelizmente, no Brasil, é tradição, assim como o são as ditaduras, os regimes militares, no futebol, a virada da mesa é algo com que convivemos.

Haverão de estranhar V. Exªs por eu me referir a esse tema. Eu não falaria a esse respeito, embora o assunto seja da maior importância. Acredito que o futebol seja uma das instituições importantes e sérias deste País. Mas, na verdade, não é encarada como tal pelos chamados cartolas.

Segundo Paulo Sant´Ana foi a virada da mesa que garantiu ao Fluminense e ao Bragantino serem elevados, o que mudou a decisão no tocante ao Atlético do Paraná.

Sr. Presidente, não consigo entender por que no futebol brasileiro não temos um grande campeonato, como na França, na Espanha! É que no Brasil as coisas mudam a todo instante. Não há um calendário, não há seriedade no sentido de proporcionar jogos que realmente tenham um permanente atrativo.

Anteontem, quando jogava Grêmio e Flamengo até que havia um bom público. Mas hoje ou amanhã, às 16h, quando jogarão Grêmio e Santos pelo Campeonato dos Campeões do Mundo, praticamente não terá significado.

Então, virada de mesa na Federação de Futebol brasileiro é um fato grave, mas não tão grave. Na minha opinião, não me traria a essa tribuna.

Mas o cronista Paulo Sant´Ana, meu conhecido de longa data, competente, bem informado e responsável, disse que para essa virada da mesa - e todos estão criticando, atirando pedras em cima do Sr. Ricardo Teixeira, Presidente da CBF - teria sofrido uma pressão política de tal ordem que ele, Sant´Ana, de certa forma, entende o Presidente da CBF, porque as pressões foram irresistíveis. Pressão de quem? Do Ministro da Fazenda.

      Ninguém menos do que o Ministro da Fazenda, Pedro Malan, telefonou ao Presidente da CBF, interferindo pelo não-rebaixamento do Fluminense e do Atlético.

O Ministro da Fazenda telefonar para o presidente da CBF para não rebaixar o Fluminense e o Atlético! A troco de quê? O Senador Iris Rezende, Ministro da Justiça, que assumiu recentemente aquela Pasta, também teria telefonado para o presidente da CBF. Tem mais, que o o nosso ilustre Presidente do Senado da República, Senador Antonio Carlos Magalhães, também teria telefonado.

Eis o que diz o Paulo Sant´Ana:

      "Só para dar uma idéia do poder de pressão desenvolvido sobre a CBF, o Presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, telefonou a Ricardo Teixeira, dizendo estar falando em nome do seu cargo" - qual é o cargo? Presidente do Senado - "solicitando objetivamente que o Fluminense e Atlético Paranaense não fossem rebaixados.

      Disse mais o Presidente do Congresso no telefonema: se Ricardo Teixeira exigisse, ele mandava por escrito e assinada a pretensão oficial."

Entrego este artigo de jornal ao Secretário-Geral da Mesa, porque acho que o Presidente Antonio Carlos haverá de dizer algo com relação a isso.

Volto a repetir: conheço Paulo Sant Ána, a sua seriedade, a sua credibilidade; ele não é um jornalista que quer aparecer, ele aparece naturalmente. Isso é informação quente que ele recebeu. Não sei se o Presidente deu o telefonema, mas sei que é o que está se espalhando no Rio de Janeiro. Essa é a versão que está correndo por lá.

Dizem também que o Senador Roberto Requião telefonou. Acho que S.Exa. está no seu direito, já que é Senador da República pelo Estado do Paraná e estando em jogo o rebaixamento do Atlético do Paraná... Até acho que foi um absurdo rebaixar o Atlético do Paraná. Deviam botar na cadeia o presidente que é responsável, mas o clube pagar...

De qualquer maneira, é um direito do Senador Roberto Requião telefonar para quem quiser. Não é o caso do Presidente do Senado, não é o caso do Ministro da Fazenda. Esse é diferente. Porque o telefonema ou não do Senador Roberto Requião não vai exercer pressão alguma no Presidente da CBF. Agora, o Ministro da Fazenda:

- Alô, aqui é o Ministro da Fazenda. Tudo bem?

- Tudo Bem?

- Olha, gostaria de dizer que é do meu interesse que vocês deixassem aí na primeira divisão o Fluminense e o Bragantino. "OK? Aqui é do Ministério da Fazenda, quando quiserem, estou aqui à disposição. Um abraço,

- Um abraço.

Mas por que o Ministro da Fazenda vai dar esse tipo de telefonema? A troco de quê? Qual a razão, se é que deu? Volto a dizer, boto a mão no fogo pela dignidade, pela seriedade do Ministro da Fazenda. Gosto dele. É um homem de bem, é um homem digno. Mas se deu esse telefonema não foi feliz. Ele pode até dizer, não sei se S.Exa. é fluminense. Não, não, sou fluminense. Sei que agora parece que S.Exª é PSDB. Mas S.Exª pode dizer: "sou fluminense. Mas S. Exª é Ministro da Fazenda. Quem dá autorização para os clubes para fazer sorteio, para não fazer sorteio, essa coisa toda, questão da previdência, é o Ministro da Fazenda.

O Senador Roberto Requião telefonou. É um direito de S.Exa. telefonar. Não tenho nada a ver com isso. S.Exª é um Senador, mas também é um cidadão. O que o Senador Roberto Requião pode fazer de bem ou de mal para o Presidente da CBF? Nada. 

Agora, o meu amigo Iris Rezende, Ministro da Justiça, não me parece que futebol seja de importância para S.Exª. Mas, até vou fazer justiça. O Iris telefonou, não telefonou? S.Exª como Ministro da Justiça não pode assustar ninguém, com relação a futebol. Não é como um telefonema do Ministro da Fazenda, um telefonema do Ministro da Fazenda.... Mas quanto ao Ministério da Justiça, tremíamos na época da ditadura. Um telefonema do Ministério da Justiça poderia significar que o nome sairia no Diário Oficial e conseqüentemente uma cassação, mas hoje não temos mais esse problema.

Mas, quanto ao Presidente do Congresso Nacional, qual a razão de S. Exª dar esse telefonema, se é que deu? Poderiam falar que o Presidente Antonio Carlos Magalhães não está presente mas estou falando com um objetivo, porque a coluna do Paulo Sant'Ana hoje está - parece uma piada o que vou dizer - no mundo inteiro, porque o Zero Hora está na Internet e é um dos mais lidos. Parece-me importante - se for o caso - o Presidente do Congresso Nacional chamar a atenção do Presidente da CBF, ou seja lá quem o for, retificando essa informação, que é da maior importância, já que não é uma coluna sem expressividade, mas da maior credibilidade que fez essa publicação.

Então, Sr. Presidente, estou dizendo isso apesar de o Presidente não estar nem na Casa e não o esperei vir, porque se assim proceder não darei a S. Exª a autoridade, a chance, de dar explicações, porque - isso posso pedir a V. Exª - esteja onde estiver, estou pedindo a transcrição nos Anais da coluna do Paulo Sant´Ana para que uma cópia seja enviada a S.Exª, porque isso que está aqui é o que está circulando nas cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e está sendo debatido, analisado. Deram um golpe, coitado do Presidente da CBF que não houve como resistir, porque foram tantas as pressões políticas em cima dele que ele terminou agindo dessa maneira. Se isso foi verdade, é lamentável que o Presidente de uma instituição, como a nossa, faça em nosso nome, até porque não sei se a maioria dos Senadores gostaria de interferir em um assunto dessa natureza.

Não vou misturar o meu estudo sobre o projeto e sobre a lei que é muito importante, porque está havendo muita mistura nessa questão. O meu projeto pede um Congresso Revisor, com plebiscito e referendum, e tenho certeza de que ninguém no Supremo Tribunal Federal ficará contra e que é absolutamente democrático, e um outro projeto que está tramitando. De um lado, um ilustre Líder na Câmara dos Deputados quer que façamos uma emenda normal criando um processo revisor, que não precisaria mais de três quintos mas que por maioria poderia decidir, o que não tem lógica ou compreensão. Esse assunto eu deixarei para a semana que vem e encerro na questão do futebol.

Acredito, Sr. Presidente, que essa é uma questão em que o Brasil tem uma posição importante. Venho do Rio Grande do Sul onde há uma tradição entre Grêmio e Internacional, hoje mais Grêmio do que Internacional mas no passado mais Internacional do que Grêmio. Olhar para o esporte, de um modo geral, era uma grande responsabilidade nossa e quando vemos esse jovem de Santa Catarina ganhar um campeonato mundial entendemos por que em certos países o esporte tem enorme projeção, enquanto que no Brasil apenas alguma. É a falta de presença, de ação e da compenetração na importância do esporte à cultura de um povo.

Emociona-me ver que nas Olimpíadas os que ganham as estrelas de ouro, geralmente, são os estudantes universitários, que passam o tempo todo estudando e treinando nas universidades.

O que, talvez, eu mais inveje nos Estados Unidos, Sr. Presidente, é ver as cidades universitárias, os professores morando com suas famílias dentro das universidades, os alunos internos - falar em internato no Brasil hoje é um absurdo, ninguém leva a sério -, esses moram lá dentro, e ali cada um seguindo sua predileção. Lá quem tem o mínimo de aptidão para o esporte é quase considerado uma figura ilustre, quer dizer, se o estudante não tem dinheiro não tem problema, ele é assumido pela universidade, porque será um grande atleta, será um grande representante.

Percebo que agora as coisas estão começando a mudar, de certa forma, com relação ao empresariado, vejo desde bancos até empresas patrocinando clubes de basquete, clubes de vôlei e até atletas. Acho isso bom. Não digo a mesma coisa com relação à Petrobrás patrocinando o Flamengo, acho meio exagerado, porque não encontro relação entre uma questão e outra. Mas, em tese, acho isso bom.

Acho que aproveitar o Pelé e aproveitar o momento em que o esporte está ganhando realce para nós, ao invés de nos metermos a dar palpite lá onde não temos nada que dar, debater um esporte sério, principalmente o amador, é, realmente, uma questão que valeria a pena.

Agradeço, Sr. Presidente, e quero, mais uma vez dizer que acho que o Sr. Paulo Sant´Ana escreveu o que tinha de escrever e que bom ter cronistas como o Paulo Sant´Ana, que bom ter cronistas como Veríssimo. Às vezes, são as charges, às vezes, são os cronistas mas eles ajudam a retratar a época em que estamos vivendo. Que bom que haja liberdade para que as charges, para que as crônicas possam aparecer, mesmo como as do Veríssimo, que são duras e acres com relação ao nosso Presidente mas são importantes e necessárias.

Era isto, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/1997 - Página 12527