Discurso no Senado Federal

SOLICITANDO A INSERÇÃO EM ATA DE VOTO DE PROFUNDO PESAR PELO FALECIMENTO DO CIENTISTA FRANCES JACQUES-YVES COUSTEAU.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • SOLICITANDO A INSERÇÃO EM ATA DE VOTO DE PROFUNDO PESAR PELO FALECIMENTO DO CIENTISTA FRANCES JACQUES-YVES COUSTEAU.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/1997 - Página 12574
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JACQUES-YVES COUSTEAU, CIENTISTA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, IMPORTANCIA, PESQUISA, DEFESA, MEIO AMBIENTE, ESPECIFICAÇÃO, MAR.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a figura sempre risonha do oceanógrafo, cientista e ambientalista francês Jacques-Ives Cousteau nos transmitia a imagem de um homem de bem com a vida. Ao morrer em Paris na última quarta-feira, aos 87 anos de idade, hoje temos a certeza de que Cousteau era um homem feliz. Tanta placidez no semblante é o resultado de uma aventura bem-sucedida, que começou ainda criança, quando reservava algumas horas do dia para passeios na praia e aprender a nadar. Expulso da escola, depois de quebrar 17 janelas, for parar na Academia Naval da França e, daí, na escola de aviação. Quis o destino que fosse transferido para o serviço marítimo após um acidente. A partir de então, "mergulhou" literalmente no mar para nunca mais afastar-se dele.

      A bordo do barco Calypso, que adquiriu em 1950, começou a explorar os oceanos como um grande descobridor. Passou a conviver com as mais variadas espécies de peixes, algas e a desvendar os mitos e os mistérios do fundo do mar pela primeira vez. No barco, um misto de casa e de laboratório flutuante, iniciou suas primeiras viagens de reconhecimento do mundo oceânico até tornar-se um dos mais importantes ambientalistas, a ponto de decretar que "o futuro da civilização depende da água.

      De câmera em punho, mostrou ao mundo imagens imemoráveis que lhe valeram contratos milionários com os meios de comunicação, a publicação de mais de 40 livros e muitos filmes. Sua série mais famosa, "O Mundo Submarino de Jacques Cousteau," o popularizou de vez. Depois disso, era impossível não identificar a figura de um homem magro, sempre com gorro vermelho na cabeça, a um explorador dos mares, muitas vezes comparado a Júlio Verne. Foi sua a primeira produção de um filme a cores feito em água profunda, ainda em 1951, no Mar Vermelho.

      As águas brasileiras não escaparam também de sua curiosidade. Cousteau aqui esteve várias vezes e se encantou com a Amazônia. "Nem os oceanos juntos guardam tantos segredos", disse ele ao final da mais longa excursão à região, realizada em 1982, após percorrer 6.447 quilômetros do rio Amazonas. "É preciso, urgentemente, promover um simpósio sobre a área", aconselhou Cousteau sem sucesso.

      Foi criticado por alguns ambientalistas, mas eles se renderam ao homem que abriu os oceanos ao mundo. O grupo Greenpeace, por exemplo, divulgou nota após a morte do oceanógrafo, reconhecendo que "graças a ele, o público descobriu a fonte da vida que existe nas profundezas e a necessidade de protegê-la". Jacques Cousteau morreu de ataque cardíaco talvez feliz por ter dedicado a maior parte de sua vida à paixão pelo mar. A Fundação Cousteau resumiu a perda com a expressão "Jacques Cousteau se juntou ao mundo do silêncio", numa alusão a um dos seus mais famosos documentários.

      Exatamente um dia após a morte de Cousteau, o governo do Japão anunciou o leilão de carne de baleia equivalente a 400 animais, uma notícia que certamente chocaria o cientista.

Jacques Ives Cousteau foi também uma das pessoas que estimulou Amir Klink, um dos nossos mais importantes navegadores e exploradores de situações no mar bastante difíceis, pois foi ele quem navegou de Parati à África no seu barco ou da África até o Brasil. Foi também ele que fez a visita à Antártida. Diz Amir Klink, escrevendo especialmente para a Folha hoje, que "neste ano, em minha última viagem à Antártida, carreguei um livro seu. Na península Antártida, fiz um roteiro muito semelhante ao dele, que viajou por lá no verão de 72 e 73. A bordo do legendário Calypso, Cousteau socorreu o primeiro viajante solitário da Antártida, David Lewis, mas teve de interromper a viagem depois que o barco, que era de madeira, chocou-se com um bloco de gelo.

"Calypso", livro de Cousteau sobre o seu barco de pesquisas que, aliás, é o meu preferido, foi capaz de transformar o barco num personagem da cultura oceânica. Sempre o imaginei como um grande navio, mas ele tinha apenas 42m. E, com esse barco e orçamentos reduzidos, Cousteau produziu filmes e técnicas cinematográficas que não foram alcançadas nem por produções mais caras."

Sr. Presidente, Gilles Lapouge correspondente francês de O Estado de S. Paulo diz merecidamente que Cousteau mais do que um cientista foi um verdadeiro poeta do fundo do mar.

Solicito que essa homenagem a Jacques Cousteau seja encaminhada à Fundação Jacques Cousteau e a sua família por meio da Embaixada da França no Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/1997 - Página 12574