Discurso no Senado Federal

COMENTANDO NOTICIA PUBLICADA NO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO, DE SEXTA-FEIRA PASSADA, SOB O TITULO CREDITO CORRE O MAIOR RISCO NESTES 17 ANOS, SOBRE A INADIMPLENCIA NO CREDITO PESSOAL EM DECORRENCIA DO PLANO REAL.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • COMENTANDO NOTICIA PUBLICADA NO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO, DE SEXTA-FEIRA PASSADA, SOB O TITULO CREDITO CORRE O MAIOR RISCO NESTES 17 ANOS, SOBRE A INADIMPLENCIA NO CREDITO PESSOAL EM DECORRENCIA DO PLANO REAL.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/1997 - Página 13340
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUMENTO, INADIMPLENCIA, MOTIVO, EXCESSO, COBRANÇA, JUROS, PRESTAÇÕES, ABERTURA DE CREDITO, BENS DE CONSUMO, POPULAÇÃO, RESULTADO, ESTABILIDADE, PLANO DE GOVERNO, ECONOMIA, REAL.
  • CRITICA, PLANO, REAL, MOTIVO, CONTINUAÇÃO, INFLAÇÃO, AUMENTO, TARIFAS, PREÇO, GENEROS DE PRIMEIRA NECESSIDADE, PREJUIZO, PODER AQUISITIVO, MAIORIA, POPULAÇÃO CARENTE.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fiz a leitura de uma notícia no jornal O Estado de S. Paulo de sexta-feira passada, intitulada "Crédito corre o maior risco nestes 17 anos", em que se torna clara a idéia de que este risco agora é maior que em anos anteriores.

Fiquei pensando em manifestar-me a respeito porque a matéria tratava da questão do calote. E lembrei-me de que se há calote há também caloteiros. Ocorre que o Plano Real - quando falamos a respeito do Plano Real, parece que somos contrários a ele, e não é verdade - estabilizou a economia, mas deixou a ilusão de que resolveria todos os problemas. Pude constatar que a idéia é a de que o plano, que pode resolver tudo, fez com que muitas pessoas comprassem em prestações a perder de vista, acreditando que não haveria nenhuma inflação, que pagariam sua conta normalmente. Não sentiram o que verdadeiramente estava acontecendo e fizeram suas compras.

Estou falando exatamente daquele trabalhador que precisa comprar seu fogão, sua geladeira, um liquidificador e não tem condições de comprar à vista. Além de poder comprar com uma certa facilidade, pelo que o Plano Real está propondo, encontrou também uma outra facilidade. Uma vez que havia dificuldade de pegar pequenas quantias emprestadas nos bancos, muitas empresas e lojas abriram um crédito para esse trabalhador; a metade desse dinheiro já era gasto naquela loja, porque pegava o empréstimo e comprava seu liquidificador; dava a metade e levava para casa o restante do dinheiro, que seria pago a perder de vista. Uma amarga ilusão. O trabalhador pensava que resolvia seu problema, mas, na verdade, estava criando um grande problema.

E a maioria das empresas, apesar do chororô, todos sabemos, embute seus riscos nos financiamentos que oferecem a perder de vista. Quanto maior o prazo, mais o indivíduo está pagando, sem que perceba que está sendo prejudicado. No início, tem a ilusão de que fez um bom negócio e, depois, constata que não pode pagar no final de um mês e diz: "Bom, daqui a dois meses, vou pagar; mês que vem pago; depois, vou pagar". Ele acumula dívidas e acaba por não pagá-las. Por quê? Porque ele tem que fazer uma opção: ou paga a luz, ou compra o pão, ou paga a prestação do objeto que ele comprou - isso quando ele não cai na desgraça de perder o emprego.

Portanto, vamos percebendo que existe inflação, que há uma perda no poder de compra do trabalhador. Então, é possível que chamemos de caloteiros aqueles que têm grande vontade de pagar, mas não têm condições de fazê-lo.

Então, a política do Plano Real, colocada da forma como está, é boa sob o ponto de vista econômico, mas sob o ponto de vista social é péssima. Sabemos que os juros que estão embutidos são exorbitantes e quem paga é a população, que está comprando cotidianamente alguma coisa, ainda que em pequena quantidade, mas paga alto preço por isso. Ninguém tem nada a ver com tal processo. Dizia-se que o salário do trabalhador inflacionava; os salários estão congelados há três anos, mas a inflação continua a existir; os preços dos gêneros de primeira necessidade estão subindo: a luz, o gás, o transporte e tantas outras coisas mais. Ainda que alguns sejam chamados de caloteiros, gostaria de dizer que embora cheque não seja pipa, haverá muito cheque voando por aí, porque o trabalhador, realmente, não tem condições de pagar. Com cheques sem fundo e carnês atrasados, só resta ao trabalhador reafirmar uma velha frase que é até muito comum no Nordeste: "Sou cabra acostumado a cumprir com meu dever; não sou caloteiro, nem doleiro. Devo, não nego, pagarei quando puder."

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/1997 - Página 13340