Discurso no Senado Federal

COMUNICANDO A CASA QUE A CIDADE DE SÃO LUIS ESTA PRESTES A SER DECLARADA PATRIMONIO HISTORICO DA HUMANIDADE PELA UNESCO, EM RECONHECIMENTO AO PROJETO REVIVER, DE RESTAURAÇÃO DO SEU CENTRO HISTORICO, IMPLANTADO DURANTE A GESTÃO GOVERNAMENTAL DE S.EXA. NO MARANHÃO.

Autor
Epitácio Cafeteira (PPB - Partido Progressista Brasileiro/MA)
Nome completo: Epitácio Cafeteira Afonso Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • COMUNICANDO A CASA QUE A CIDADE DE SÃO LUIS ESTA PRESTES A SER DECLARADA PATRIMONIO HISTORICO DA HUMANIDADE PELA UNESCO, EM RECONHECIMENTO AO PROJETO REVIVER, DE RESTAURAÇÃO DO SEU CENTRO HISTORICO, IMPLANTADO DURANTE A GESTÃO GOVERNAMENTAL DE S.EXA. NO MARANHÃO.
Aparteantes
Bello Parga, Mauro Miranda, Ney Suassuna, Romeu Tuma, Valmir Campelo.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/1997 - Página 13541
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ANUNCIO, TOMBAMENTO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MARANHÃO (MA), PATRIMONIO HISTORICO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO).
  • COMENTARIO, GESTÃO, ORADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO MARANHÃO (MA), PRESERVAÇÃO, RESTAURAÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO, ARQUITETURA, CAPITAL DE ESTADO.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA (PPB-MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cidade de São Luís está prestes a tornar-se Patrimônio da Humanidade. A UNESCO acaba de aprovar o parecer técnico e a nossa querida Capital maranhense já está festejando a indicação.

Quando assumi o Governo do Maranhão, sensibilizei-me com o abandono a que estava relegado o Centro Histórico de São Luís. Tanto que executei um arrojado Projeto de Recuperação da Praia Grande, quando foram restauradas 15 quadras e cerca de 200 imóveis, além de vários monumentos isolados, como a Fábrica Cânhamo, o Convento das Mercês, a Casa da Cidade de São Luís, o Palácio do Governo e seu anexo, e o Museu Histórico.

Foi a minha prova de amor a São Luís. As ruas de paralelepípedos totalmente recuperadas, pedra por pedra, as calçadas de cantaria, paredes, telhas, acabamento. Tudo restaurado, casa por casa, praça por praça, calçada por calçada. Sempre com o esmero com que o poeta cria a sua poesia. Reviver é o poema de amor que me foi possível escrever.

Os erros de uma administração costumam ser órfãos da História; os acertos - bem ao contrário - sempre possuem uma, às vezes mais de uma, paternidade. A recuperação do Centro Histórico de São Luís tem um simbolismo muito especial para mim.

Denominei-o Projeto Reviver porque entendia estar construindo ali ao mesmo tempo uma ponte e uma estrada entre o passado e o presente, mais importantes que as próprias obras de concreto, cimento, pedra e cal. A estrada resgatando o passado e a ponte ligando o presente ao futuro.

Penso que aquele que não consegue preservar o seu passado não sabe sonhar com o futuro.

Na mensagem que escrevi, ao concluir meu governo, fiz um apelo que julgo oportuno registrar.

      "Com otimismo redobrado, espero que os que me sucederem continuem essa obra, que por ser de todos não pertence a ninguém em particular; é a herança de um povo e que deve ser, por isso, perenizada. Está nas mãos das atuais gerações fazer reviver a pujança de nossos avós. A estrada está reaberta, a ponte já soerguida. Que Deus ilumine a todos nesta caminhada."

Lamento registrar que, desde então, o Projeto Reviver não teve continuidade. Levantamentos feitos pelo Conselho Regional de Arquitetura - CREA e confirmados pelo Corpo de Bombeiros de São Luís indicam que há risco de desabamento de outros monumentos históricos. Isso significa que a desejada continuidade que preconizei não se consumou.

A decisão da UNESCO é um reconhecimento ao Projeto Reviver. Do seu Diretor-Geral, Federico Mayor, já havia recebido uma carta em outubro de 1992, felicitando a todos nós pela restauração do Centro Histórico de São Luís.

É com prazer que a transcrevo:

      "Estimado Señor Senador:

      Deseo manifestarle mi admiración por el esfuerzo considerable que emprendió, bajo su gobierno, el Estado de Maranhao, al aprobar, planificar y realizar las obras de restauración del centro histórico de Sao Luís, su capital.

      He podido apreciar en el magnífico libro que ha tenido Usted la deferencia de dedicarme, el alcance de las obras. Se recuperaron diez hectáreas del área urbana y se beneficiaron cerca de doscientos inmuebles de importancia arquitectónica. Se ejecutaron además trabajos de infraestructura que permitieron realzar la belleza de la ciudad. La gran escala de la operación y la brevedad del plazo en que se pasó del proyecto a la finalización del mismo, son um ejemplo y un estímulo a nivel internacional.

      Quiero felicitarlo a Usted por tan feliz iniciativa y, a través suyo, al pueblo del Estado de Maranhao, especialmente a las autoridades, arquitectos, urbanistas, ingenieros, restauradores, paisajistas, técnicos y obreros que hicieron posible el rescate del centro de Sao Luís.

      Gracias, Señor Senador, por haberme enviado "Reviver", libro que en adelante podrá ser consultado para que sirva de guía e inspiración a quienes en el futuro deseen renovar el casco urbano de ciudades de valor histórico y artístico comparables al de la capital de Maranhao.

      Con un atento saludo

      Frederico Mayor"

O Sr. Valmir Campelo - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Concedo o aparte ao nobre Senador Valmir Campelo, com muito prazer.

O Sr. Valmir Campelo - Nobre Senador Epitacio Cafeteira, tive o prazer de receber o Projeto Reviver. Esse projeto mostra o seu governo quando Governador do Maranhão. Já o estive folheando e lendo. Ele é mais do que uma síntese da sua administração; para mim, é um poema de beleza, um poema de recuperação do Maranhão, aquele Estado histórico que todos nós respeitamos e admiramos. A recuperação, a restauração que V. Exª fez em todos os prédios públicos daquele Estado, o trabalho esmerado feito com dedicação e com muito amor é uma tônica reconhecida por todos os maranhenses e por nós brasileiros. Não precisaria citar aqui os prédios, os edifícios recuperados e restaurados no seu governo, mas gostaria apenas de citar aquele que V. Exª ressuscitou: o Convento das Mercês, que é um espetáculo para quem o visita e para quem admira o Maranhão. De forma que não poderia deixar, nesta oportunidade, de registrar o meu contentamento por ter recebido o Projeto Reviver, que fará parte da minha biblioteca, como fonte de consulta e motivo de grande orgulho, pelo fato de ter sido, um dia, seu colega nesta Casa.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Obrigado, Senador Valmir Campelo.

Logo após transcrever a carta do Diretor-Geral da UNESCO, Dr. Federico Mayor, fiz questão de publicar a missiva acima transcrita na contracapa da 2ª edição ilustrada do Reviver, agora bilíngüe, Reviver/Revival. Sobre essa edição, permitam-me evocar o fato de que ela serviu de ponto de referência para que São Luís viesse, afinal, a fazer parte do seleto grupo de cidades, a exemplo de Brasília, Ouro Preto, em Minas Gerais, e Olinda, em Pernambuco, já que era o único material disponível em inglês (a UNESCO só recebe correspondência em inglês ou em francês).

O que eu sentia ao determinar a recuperação do Patrimônio Arquitetônico de São Luís explicitei na mensagem de apresentação do livro Reviver.

Muitos pensam e por isso afirmam haver eu conquistado São Luís e o Maranhão. A realidade é o inverso: não fui eu quem conquistou essa cidade e esse Estado, eu é que fui por ambos conquistado. Não fui eu quem prendeu, eu é que sou a presa. Tudo o que fiz ou venha a fazer terá que ser visto em razão do fato de me haver rendido aos encantos desta cidade e do seu povo e às possibilidades desse Estado. Lá chegando, logo a cidade me considerou filho e me batizou Cafeteira; logo o povo me chamou irmão e eu me senti escravo.

Misturei-me ao povo e me tornei um dos seus. Tentei - e consegui - ser tão maranhense quanto o mais maranhense. Na terra dos poetas faltava-me, todavia, a habilidade de fazer o verso e arrumar as rimas. E mais amava São Luís. A vontade de criar o poema ainda impossível agigantava a minha angústia. A cidade fora pródiga comigo. Dera-me tudo e ainda soubera criar os poemas Isabel e Janaina que logo decorei para recitá-los na dureza dos combates para deles retirar as forças necessárias às vitórias.

Veio, enfim, o Projeto Reviver e, através dele, vislumbrei a possibilidade de escrever e oferecer a São Luís e ao Maranhão os poemas que ainda não havia escrito. E olhei a Praia Grande como quem olha a página em branco. Busquei no amor que em mim sobrava o poema que a inspiração me negava. E fiz reconstruir casa por casa, praça por praça, calçada por calçada, grade por grade, com o cuidado e o esmero com que o poeta cria sua poesia. O Reviver era o poema de amor que, enfim, me era possível escrever. Era o meu soneto, a minha estrofe. E assim, ao verso final, pude enfim sentir, após poeta, o maranhense que sempre quis ser. Rimei amor com labor, saudade com cidade e fiz um poema ao qual intitulei Reviver.

Dedico-o ao povo de São Luís nas pessoas de minha mulher Isabel e minha filha Janaina, que souberam compreender a minha presença mais nas obras do que junto a elas para ser possível concluir o meu poema.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se o reconhecimento ao nosso Governo se faz neste momento, de outra parte estamos entusiasmados com a inserção de São Luís nesse seleto grupo de cidades reconhecidas pela UNESCO. Deixamos aqui o registro de nosso agradecimento ao Diretor-Geral da UNESCO, Federico Mayor, porque temos certeza de que essa iniciativa recebeu dele o apoio indispensável e fundamental.

O Sr. Romeu Tuma - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Romeu Tuma - Senador Epitacio Cafeteira, nesta tarde, V. Exª está sendo homenageado por este Plenário pelo discurso que profere, de onde extraí algumas coisas bonitas, que, se me permitir, vou repeti-las: "Denominei-o Projeto Reviver, porque entendia estar construindo ali, ao mesmo tempo, uma ponte e uma estrada entre o passado e o presente; mais importante que as próprias obras de concreto, cimento, pedra e cal, a estrada, resgatando o passado, e a ponte, ligando o presente ao futuro. Penso que aquele que não consegue preservar o seu passado não sabe sonhar com o futuro." Essa expressão que V. Exª usa no seu pronunciamento revive o Projeto Internacional de Defesa de Patrimônio da Humanidade, controlado pela Unesco. E V. Exª, inserindo São Luís, através desse Projeto, nesse bonito caderno que expressa todo esse Projeto Reviver, deve sentir aquilo que chamamos de satisfação e alegria interior por ter feito alguma coisa em benefício daqueles que, um dia, V. Exª governou. E, para o Brasil, que vê São Luís inserida entre outras cidades brasileiras como Patrimônio da Humanidade, fica a alegria e a satisfação de que há homens no Brasil que sabem cultuar o seu passado, a sua cultura e, o que é importante, a tranqüilidade dos cidadãos que aqui vivem. Parabéns, Senador Epitacio Cafeteira! Que Deus o proteja na sua caminhada!

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Muito obrigado, Senador Romeu Tuma.

O Sr. Ney Suassuna - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Vou ouvir o nobre Senador Ney Suassuna.

O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - A Mesa, evidentemente, terá, como todos os presentes, a satisfação de ouvir as intervenções, mas apenas gostaria de cientificar aos aparteantes e ao orador que dispõem de 3 minutos. É claro que a Mesa terá a tolerância de sempre, contanto que esteja dentro dos limites conhecidos.

O Sr. Ney Suassuna - Meu caro Senador Epitacio Cafeteira, uma mãe, quando vê partir um filho, sempre fica com o coração diminuído e triste pela perda. É claro que nós, da Paraíba - seu Estado natal -, ficamos tristes com a sua partida, mas no coração da mãe não sobrevive só a perda, sobrevive também o orgulho. E nós somos extremamente orgulhosos de ver o filho que foi, mas que não só soube amar outras terras, outro povo, mas soube se dar a esse povo e foi respeitado por esse povo. Então, é com muito orgulho que vemos um paraibano - digo isso porque tenho um orgulho enorme de ser paraibano - brilhando, tão querido e tão amado, e sabendo amar tanto. Por isso vou ouvir as palavras de V. Exª com a maior veneração, porque isto é conjugar o verbo amar: V. Exª ter aqui declarado, em alto e bom som, que não era de lá, mas lá chegou, aprendeu a amar e ajudou esse povo, um povo que o respeita. Portanto, temos orgulho de V. Exª.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Muito obrigado, Senador Ney Suassuna.

O Sr. Mauro Miranda - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Ouço o nobre Senador Mauro Miranda.

O Sr. Mauro Miranda - Senador Epitacio Cafeteira, fico emocionado e queria ter pedido o meu aparte desde o começo, mas as palavras do seu discurso também são palavras muito fortes, de muita paixão por sua terra. Hoje percebi por que V. Exª é um vitorioso na política. Primeiro, foi Prefeito de São Luís, Deputado Federal por várias vezes, Senador, Governador do Estado. Mas percebo hoje que V. Exª encarna o Maranhão no seu todo e a sua paixão especialmente pela cultura dos antepassados daquela terra. Ainda mais com o aparte do Senador Ney Suassuna, mostrando que V. Exª, apesar de ter vindo de fora, encarnou o Maranhão como um todo. O exemplo de V. Exª e o exemplo do Presidente desta Casa, Senador Antonio Carlos Magalhães, ressuscitando a linda Bahia mostram dois grandes homens públicos preocupados com as tradições de nosso País, fazendo reviver os seus centros históricos. Parabéns a V. Exª e saiba que tem em nós um grande admirador do seu trabalho. Parabéns ao povo do Maranhão por ter em V. Exª um grande líder.

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Agradeço o aparte.

O Sr. Bello Parga - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Vou ouvir agora meu colega de Bancada, meu colega de Banco do Brasil, meu colega contemporâneo, o nobre Senador Bello Parga.

O Sr. Bello Parga - Senador Epitacio Cafeteira, neste momento em que V. Exª traz a público a distinção que foi conferida a São Luís, de ordem internacional cultural, de ser considerada Patrimônio Cultural e Histórico da Humanidade, quero me associar a V. Exª no seu júbilo por essa notícia. Em primeiro lugar, porque ambos somos são-luisenses - eu, de nascimento, e V. Exª por adoção, por uma opção familiar e, principalmente, pelo reconhecimento do povo do meu Estado e da Capital, que o elegeu várias vezes Deputado Federal. E digo o povo de São Luís porque a sua base eleitoral sempre foi na Capital. Isso se estendeu para o Estado todo quando o povo maranhense também concedeu a V. Exª naturalidade maranhense, elegendo-o Governador. Quanto a isso não paira dúvida nenhuma de que o povo do Maranhão retribuiu o acendrado amor que V. Exª sempre demonstrou por São Luís e pelo Estado do Maranhão. É inegável também a participação de V. Exª no movimento cultural maranhense que congregou pessoas de várias classes, de várias facções políticas no trabalho de recuperação de uma zona que estava decadente, de uma zona histórica, verdadeiro patrimônio cultural, que era aquela área da Praia Grande, que constitui o mair acervo arquitetônico da época colonial do Brasil. V. Exª soube compreender essa preocupação de ordem cultural e, liderando uma plêiade de maranhenses cultos e amantes da sua terra, recuperou aquela área, trabalho que felizmente não parou, não se encerrou, que continua. E o fruto V. Exª hoje colhe. De maneira que me associo a essa alegria, que é a alegria de todos os maranhenses que tiveram em V. Exª um conterrâneo operoso e compreensivo para os problemas culturais. Meus parabéns!

O SR. EPITACIO CAFETEIRA - Sr. Presidente, vou encerrar, agradecendo as palavras gentis de todos os companheiros do Senado, especialmente do Senador Bello Parga, que, como já disse, foi meu colega e meu companheiro em tantas oportunidades na vida do Maranhão.

Concluo estas palavras, Sr. Presidente, congratulando-me com todos aqueles que tornaram possível esse objetivo e reitero a esperança de que o Reviver possa ter efetivamente a continuidade que sempre desejamos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/1997 - Página 13541