Discurso no Senado Federal

65 ANOS DA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932.

Autor
Abdias Nascimento (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RJ)
Nome completo: Abdias do Nascimento
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • 65 ANOS DA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/1997 - Página 13554
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, REVOLUÇÃO, DEFESA, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, HISTORIA, BRASIL.

O SR. ABDIAS NASCIMENTO (PDT-RJ. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sob a proteção de Olorum, inicio este pronunciamento.

A história da luta pela liberdade e a democracia em nosso País registra um sem-número de páginas gloriosas, exemplos de tenacidade, sacrifício e abnegação protagonizados por brasileiros de todas as épocas e de todas as origens. Diferentemente da imagem passiva e conformista que mitos como do "homem cordial" tentam inculcar no povo brasileiro, este coube sempre manifestar os seus anseios e reivindicações por todos os meios necessários, defendendo - até mesmo com o próprio sangue - seus direitos ultrajados.

No dia de hoje comemora-se o 65º aniversário de um movimento que se insere, de pleno direito, entre os belos exemplos da luta do povo brasileiro em defesa dos ideais democráticos. Estou referindo-me à Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada a 09 de julho daquele ano, em protesto contra a demora do Governo Central, instaurado dois anos antes, em implementar a reforma da vida política brasileira e promulgar a nova Constituição.

De início, foram manifestações de protesto, que ganharam pouco a pouco a adesão da população e alvoroçaram os meios universitários, em especial os estudantes da famosa Faculdade de Direito do Largo São Francisco. No dia 23 de maio, uma dessas manifestações culminou com o assassinato a tiros, no centro de São Paulo, de quatro estudantes: Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Américo Camargo de Andrade. As iniciais dos nomes por que eram conhecidos - MMDC, de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo - passaram a denominar uma nova entidade, criada para cuidar, entre outras coisas, do abastecimento e comunicações dos revoltosos. A 09 de julho, começava a revolução.

Foram organizados exércitos de voluntários, recrutados em todas as classes sociais, reunindo operários, aristocratas e intelectuais, que saíam para as frentes de combate contra as tropas federais. Damas da sociedade integravam grupos de assistência e socorro, confeccionavam uniformes e providenciavam alimentação. Os negros paulistas, evidentemente, não recusaram o chamado, movidos pela esperança de que uma nova ordem política lhes pudesse trazer a concretização da sua condição de cidadãos, que a Abolição da Escravatura, ocorrida pouco mais de 40 anos antes, prometera mas não pudera, por si mesma, garantir.

Uma das novidades do movimento foi a participação do rádio, inaugurando sua presença na vida política de nosso País. Lidas por César Ladeira, as crônicas diárias de Rubens Amaral, diretor do jornal O Correio de São Paulo e porta-voz da ação revolucionária, insuflavam os corações generosos daquela juventude disposta a sacrificar a própria vida em defesa de seus ideais.

Queluz, Lorena, Taubaté, Cunha, Guaratinguetá, Silveira, Cruzeiro: as cidades do Vale do Paraíba se encheram de trincheiras, transformadas em pontos estratégicos em que revolucionários e governistas se enfrentavam em combates sangrentos. Cabo do 4º Regimento de Infantaria, participei dessas batalhas, em que pude constatar a bravura de colegas de armas cujos nomes o tempo não pôde apagar: General José Ribamar de Miranda, Capitão Giusepe Amado, Tenente Jacy Iguatemy da Fonseca, Tenente Fleming... Eu mesmo fui ferido, mas consegui me recuperar, ao contrário de tantos outros, que pagaram seu tributo de sangue pela liberdade.

A tomada do Porto de Santos pelas tropas federais cortou aos paulistas o suprimento de armas e munições, bem como o acesso ao Rio de Janeiro. Finalmente, a 29 de setembro, o chefe revolucionário Bertoldo Klinger anunciou o cessar-fogo, pondo fim a três meses de conflito. Mas a derrota militar não significou, absolutamente, uma derrota política. Pelo contrário. Em maio do ano seguinte, realizaram-se eleições para o Congresso, e a Constituinte de 1934 elegeu Getúlio Vargas Presidente da República, encerrando quatro anos de arbítrio. Foi estabelecido o sufrágio secreto e obrigatório e concedido às mulheres o direito de voto, além de promulgadas as leis trabalhistas. A Revolução de 32 fora, por fim, vitoriosa.

Assim, quero conclamar todos os democratas a comemorar comigo esta data tão significativa na História recente deste País, exemplo de determinação e desprendimento de brasileiros para quem a justiça e a liberdade justificavam qualquer sacrifício. Como os de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.

Axé 9 de julho!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/1997 - Página 13554